Carmen D’Alessio é uma lenda viva da vida noturna nova-iorquina. No final dos anos 70, esteve à frente das mais badaladas festas da cidade no Studio 54, a boate mais famosa do mundo, onde celebridades como Andy Warhol, Liza Minelli e Bianca Jagger sacudiam na pista ao som de disco music. A boate de Steve Rubell e Ian Schrager deu início à era das superdiscotecas. Abriu as portas em 26 de abril de 1977 num antigo teatro na rua 54, mas perdeu o brilho em 1980, quando os proprietários foram presos por sonegação de impostos, até fechar em definitivo em 1985. “Eram noites inesquecíveis”, lembra o empresário carioca Ricardo Amaral, que freqüentou o Studio nos tempos áureos.
A começar pela inauguração. Naquela noite, o artista plástico Andy Warhol e o fotógrafo das estrelas Francesco Scavullo estavam entre as três mil pessoas que chacoalharam na pista. Do lado de fora, uma multidão acotovelava-se atrás da temível corda de veludo vermelho, na porta, sem conseguir entrar. O roqueiro Mick Jagger voltou para casa e o cantor Frank Sinatra fez a badalação na sua limusine. No Studio 54, Carmen desenvolveu uma receita para boas festas: “Misturava gente da alta sociedade, modelos, artistas, gays e anônimos no mesmo lugar”, conta ela, que esteve no Brasil para uma festa do amigo Ricardo Amaral, no Rio de Janeiro. “Carmen transformou a promoter de clube noturno numa figura glamourosa”, afirma ele.
Peruana, Carmen chegou em Nova York aos 18 anos, em 1965. Trabalhou na ONU e, como relações públicas, nas lojas de Yves Saint Laurent e Valentino. Assim, conheceu o jet-set internacional, público que conferia charme e glamour dos freqüentadores do Studio 54. Com o sucesso da discoteca, ela ilustrou a capa da revista Newsweek e ganhou um perfil na Interview, de Andy Warhol, com o título de Oh, Carmen Miranda, Move Over (Oh, Carmen Miranda, saia daí). “Sempre fui alegre e apaixonada pela vida”, conta ela, que foi casada quatro vezes e está solteira há cinco anos.
As festas organizadas por Carmen fizeram história registrada em livros, filmes, exposições de fotos e documentários. O primeiro grande evento foi o aniversário de Bianca Jagger, em 1977, que entrou na boate montada num cavalo branco. Na festa do estilista italiano Giorgio Armani, ela trouxe de Monte Carlo um grupo de travestis. “Não queria que a festa ficasse careta”, diz Carmen. Ricardo Amaral conta que uma vez foi à discoteca com Pelé. O DJ o reconheceu e focou o spotlight no jogador. A pista parou. “E ele foi aplaudidíssimo”, lembra Ricardo. Para a amiga Paloma Picasso, Carmen fechou a boate para 100 pessoas, gastou US$ 40 mil na produção e chamou Liza Minelli para cantar.
Liza, aliás, era habitué da casa. Ela, Andy Warhol, o escritor norte-americano Truman Capote e os estilistas Halston e Calvin Klein costumavam freqüentar a sala vip da boate, segundo Carmem, onde rolava disco music e, claro, muita droga. “O Steve gostava de oferecer a melhor cocaína aos seus convidados”, conta. Uma imensa lua, em neon, aspirando pó de uma colher pendurada no teto, aliás, era um dos símbolos da casa. Na pista, fumava-se maconha à vontade. “Mas não era nada negativo”, conta Carmen, que, aos 54 anos, continua na noite, mas de forma light. Promoter de um restaurante e um clube noturno em Manhattan, ela hoje prefere um bom jantar ao lado dos amigos Calvin Klein e Carolina Herrera a varar a madrugada numa pista de dança. “Para viver na noite tem de ter pique, ser jovem”, resume.
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