sábado, 14 de setembro de 2013

Pelada da vez: Nanda Costa




“Escolhi Cuba pelo ineditismo, um país quente. Já conhecia e quis essa ideia. Lá nada é fácil, tinha dificuldade para comer. Quando fomos jantar, caiu uma chuva que alagou tudo... Quando a gente chegava para fazer as fotos, não falávamos que era a 'Playboy'. Eu olhava os cenários e decidia, 'quero essa escada'. Foi uma coisa mais ousada, com fotos nas ruas e em uma barbearia. O mais legal de Cuba é que não tem internet, celular... No máximo chamavam os vizinhos para ver. A polícia até nos parou em uma das fotos, minha sorte é que o policial já tinha visto a novela ('Salve Jorge') e me reconheceu. Aí pediu para tirar uma foto comigo depois que tirasse a farda” 







quarta-feira, 20 de março de 2013

Antonio Zambujo, Guia [2010].


A choradeira dos fados sempre me soou um exagero – como atuações teatrais. Grata surpresa ter conhecido a voz, a melancolia na medida certa, do Antonio Zambujo. Se sei como tive acesso ao bom moço português? Não sei. Lembro bem que, assim que passei a escutá-lo, soube, de link em link, da declaração do Caetano Veloso: Quero ouvir muito, mais vezes, mais fundo. No caso do Zambujo, muito mais ainda. É a língua portuguesa. É a história do fado. É o fato de eu ter sempre só gostado de cantoras de fado, nunca verdadeiramente de cantores.” 



Sem mesmo ter lido nada a respeito, encontrei no estilo do Zambujo a entonação acertada que há na interpretação do Chet Baker. Algum tempo depois, em busca incessante por mais e mais deste achado, o vi em entrevista confirmar a impressão que tive. Nunca tinha escutado, de verdade, fados. Assim como americano associa futebol a Pelé, sempre ouvi dizer de Amália Rodrigues se o assunto era fado. Ainda é assim hoje. Escutar, sem cansaço, o disco do Zambujo não me levou aos grandes intérpretes da música lusitana. Até então me basto com as canções de “Guia”.



Classe média decadente para sentir gostinho de alguma sofisticação, nos anos 80, tinha por costume encher a estante de casa com whisky [de Chivas Regal a Ballantines] e assinar, sem ler, a revista Seleções [tradução para a americana Readers Digest].



Lá em casa, por curto período, recebíamos tal artefato mensalmente. Ainda criança, já achava aquilo enfadonho. Adolescente, tentei ler algo e achei realmente enfadonho. Hoje, passo a vista, de longe, e afirmo, veemente: Enfadonho”. Diferente do que soa aos meus ouvidos a voz do Zambujo. 



Todas as resenhas sobre a obra de Antonio Zambujo, unânimes, citam a tal renovação no fado a partir deste cantor. Informação que pouco acrescentou influência sobre mim. Música portuguesa, desde minha televisiva infância, era programas de auditório vibrantes ao som de Roberto Leal. Diferente disso, somente Mamonas Assassinas a parodiar o moço loiro. Dado a gostar profundamente de música brasileira, quando ouvi versões de Zambujo para nosso cancioneiro, defendi, como um Policarpo Quaresma, as canções da nossa gente.


Quando mostrei Zambujo a Neila [Minha], ela, de cara, gostou. Se cito Zambujo, pouco barulho isso causa nas rodas de conversa. Uma pena. Neila apresentou Zambujo aos ouvidos de amigas e recebeu destas a alcunha taxativa: “Classuda.” Carlene [minha irmã] tem uma lista interminável de mortos que lhe soam bem aos ouvidos a ponto de sofrer o desejo, que jamais se realizará, de presenciar The Doors, Janis Joplin, Nat King Cole. Fico triste porque Chet Baker já não está no meio de nós. Pelos vivos, tenho pouca simpatia. Só Zambujo me tiraria de casa.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Hitler em Viena [Voltaire Schilling]


Em 1907, um jovem provinciano recém-chegado a Viena, vindo de Linz, inscreveu-se para o concurso de admissão na Escola de Belas-Artes da Schillerplatz. Adolf Hitler, então com 18 anos, desembarcara na capital austríaca com vários rolos de desenho embaixo do braço e com uma enorme esperança de se ver no futuro um artista consagrado. O resultado foi-lhe um choque. "Com pouca inventiva" e "insuficiente experiência de desenho" disseram. No ano seguinte, em 1908, renovaram-lhe a frustração.

Começava ali o que ele, no Mein Kampf (Minha Luta), chamaria de "os cinco anos mais tristes da minha vida". Mas não foram tão infelizes assim. Viena antes da Guerra de 1914 era uma das cidades mais fascinantes da Europa. Na Ringstrasse, a avenida-anel que a envolvia, podia admirar-se as belíssimas construções, privadas ou públicas, tais como a Ópera, a Universidade, o Parlamento ou aRathaus, erguidas em estilos diversos, do barroco, ao neorenascentista. Os cafés de Viena eram envolventes redemoinhos de idéias e modas. Como pode-se ver na aquarela de Reinhold Volker do Griensteidl Café, sede da Jung Wien, que era freqüentada por escritores, artistas, estudantes, e um número diverso e impreciso de curiosos que vinham usufruir do convívio com aquela gente talentosa, disfarçando a presença lendo jornais.

Neles, não era difícil deparar-se com o poeta Hugo von Hofmannsthal, que compunha os libretos de Richard Strauss, com Stefan Zweig, ou com o teatrólogo Arthur Schnitzel, o favorito de Sigmund Freud, e mesmo, eventualmente, com o próprio dr. Freud. Além deles, mantendo a tradição de ser a cidade mais musical de toda a Europa, Viena orgulhava-se do grande Gustav Mahler, dos compositores vanguardistas Arnold Schöenberg e Alban Berg, e dos pintores Gustav Klimt e Oskar Kokoschka, voltados a enaltecer o sensorialismo e o psiquismo tão em moda naqueles tempos.

O esticismo dos vienenses era quase doentio (é de F. Wickhoff, o historiador da arte, o conceito de Kunstwissenschaft, o conhecimento pela arte). O culto à opera, às belas-letras e à música em geral era generalizado. Num conhecido ensaio, o psicanalista Bruno Bettelheim atribuiu aquilo tudo a uma espécie de fuga coletiva da decadência. Por detrás dos ouropéis da capital austríaca, sentia-se a inapelável decomposição do Império dos Habsburgo, abalado por toda a ordem de agravos. Desde a Revolução de 1848, e mais ainda depois da derrota perante a Prússia em 1866, ninguém mais duvidava do seu fim próximo.

Perambulando embevecido pela cidade, o jovem Hitler também percebeu que aquilo não iria durar muito. O império era "uma vaso rachado". Ao lado da bonomia e da tolerância da elite refinada, grassava entre as massas um profundo sentimento de ódio racial e étnico. Os austro-alemães, ainda que majoritários em cargos e postos, sentiam-se ameaçados, pois a progressão do avanço democrático reduzia-lhes o controle sobre as instituições políticas. As minorias nacionais, e suas dez línguas reconhecidas, que compunham aquela colcha de retalhos étnica que era o Império Austro-húngaro - para Hitler, um gigantesco mosaico incestuoso -, batiam os alemães em cinco por um. O futuro, segundo os racistas, era-lhes adverso. Seus líderes maiores, Karl Lueger, o prefeito social-cristão da cidade, e Georg Schönerer, o chefe dos pangermanistas anti-semitas, foram os inspiradores diretos de Hitler, a quem imitou inclusive na adoção do tratamento de Führer (líder), e o cumprimento "Heil" (salve!).

De tanto freqüentar o Burgteather (Hitler disse que assistiu "Tristão e Isolda" de Wagner mais de 30 vezes!) veio-lhe, depois, a idéia de levar a estética wagneriana à política, com a organização de atordoantes desfiles embandeirados, com fanfarras e címbalos ao fundo, à luz das tochas, que ele incorporou à liturgia nazista. A cruz suástica, ele tomou da revista racista Ostara, que era vendida na esquina da Felberstrasse, onde ele tinha um quarto alugado. Quando decidiu-se enfim ir para a Alemanha e tentar a vida em Munique, em 1912, Hitler carregava na algibeira de pintor pobre e de arquiteto imaginário o explosivo arsenal ideológico e cenográfico da sua revolução do rancor.


Powered By Blogger