segunda-feira, 27 de julho de 2009

O pau do Neville na dama

Depois da exibição de seu filme A Dama do Lotação na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, o cineasta Neville D’Almeida aproveitou o debate com a atriz Maria Lucia Dahl, o jornalista Rodrigo Fonseca e o curador da mostra, Hernani Heffner, para soltar o verbo. Contestando logo a primeira fala de Maria Lucia, que atribuiu à censura da ditadura o fim dos filmes políticos do Cinema Novo e a ascensão da pornochanchada, Neville foi enfático:


- O Cinema Novo não foi prejudicado pela ditadura militar. Ao contrário, ele prosperou na ditadura, que financiou, através da Embrafilme, todos aqueles filmes. E, que eu saiba, nenhum cineasta foi forçado a se exilar.

Exibida numa cópia 35 mm em péssimas condições, cheia de riscos e desbotada, ainda assim A Dama do Lotação agradou bastante à platéia que lotou o auditório da Caixa. Vale lembrar que o filme, de 1978, fez cerca de 6,5 milhões de espectadores nas salas de exibição - mais que o festejado Se eu fosse você 2 fez 30 anos depois. De fato, é uma das adaptações mais felizes da obra de Nelson Rodrigues para o cinema, além de contar com a nudez de uma exuberante Sonia Braga no auge da beleza e da fama (basta ver foto ao lado…).

Provocada por Heffner, que perguntou se o cinema brasileiro atual não está muito recatado, Maria Lucia Dahl, que atuou em alguns filmes eróticos hoje clássicos, como Giselle, de 1982, disse que o erotismo nas telas dos anos 70 foi uma forma de expor a hipocrisia da sociedade da época:

- As pessoas fingiam que os casamentos eram perfeitos, que todos eram felizes e fiéis. O mundo mudou, e hoje as coisas são feitas de forma mais transparente, então os filmes não têm mais nada novo a mostrar. Em termos de erotismo tudo já foi dito.


Neville voltou a discordar, aproveitando o gancho para atacar o que chamou, ironicamente, de “Cinema Mauricinho“. A expressão vem se somar a outras que criticam as nossas produções contemporâneas, como “Cinema Novinho” e “Cosmética da Fome”:


- O cinema que triunfou no Brasil é careta, não mostra nada, é um Cinema Mauricinho, que só se preocupa em agradar o público e tentar adivinhar o seu gosto. Esta é uma pretensão ridícula. São filmes bonitinhos, mas que não dizem nada, não mostram nada. E são totalmente feitos com o dinheiro do contribuinte, ninguém mais coloca a mão no bolso! Além disso, os cineastas que conseguem filmar são sempre os mesmos, um grupo de bem nascidos. Vivemos nas trevas da hipocrisia! Eu acho que hoje as novelas da televisão estão melhores que os filmes brasileiros!

Apesar de estar sem filmar longas desde Navalha na Carne, de 1997, Neville afirmou fazer essa crítica não por ressentimento, mas por amor ao cinema brasileiro. Lembrando que conheceu dois extremos em sua carreira - fez alguns dos filmes brasileiros mais assistidos de todos os tempos, mas fez também alguns filmes que nunca foram vistos, proibidos pela Censura - Neville acredita que vivemos um momento maravilhoso.

- Pela primeira vez em 10 mil anos, hoje qualquer pessoa pode chegar em casa e fazer seu próprio filme, sobre sua família, seus desejos, seus sonhos, seus traumas. Imaginem se o Glauber Rocha tivesse uma câmera digital nas mãos! Era tudo que ele precisava. O digital vai provocar uma revolução na produção e na exibição. As telas se multiplicam nos celulares e nos computadores. Essa revolução vai resgatar a paixão pelo cinema brasileiro e acabar com esses diretores que acham que só eles podem e sabem fazer filmes, e que o cinema brasileiro é deles.

Neville está preparando uma mostra com os 80 curtas e micro-metragens que fez nos últimos cinco anos. A mostra vai se chamar “Neville sem Lei”, porque o cineasta não usou nenhuma lei de incentivo. Ele acha que o modelo atual de fomento deve ser aprimorado.

- Já temos uma estrutura de produção montada e funcionando, mal ou bem são feitos 80 filmes por ano. O problema a ser atacado agora é a distribuição e a exibição. O BNDES devia financiar a construção de cinemas em municípios que não têm nenhuma sala. E tem que haver mais compromisso. Hoje, tem diretor que pensa: “O dinheiro é do contribuinte mesmo, então estou me lixando se o filme só vai ficar uma semana em cartaz”. Claro, ele já ganhou o dele! O que não pode é alguém assim fazer um filme de 3 milhões que não dá nenhum retorno e no ano seguinte voltar e pedir mais 5 milhões para fazer outro!

O toque sutil do Clash

Embora o punk rock britânico seja geralmente associado apenas ao Sex Pistols, tão importantes quanto estes na definição e difusão do estilo foi a banda The Clash, menos baseada em atitude e mais baseada em conteúdo que seus companheiros de alfinetes no nariz. Enquanto os Sex Pistols pregavam anarquia pura e simples, o Clash mostrava em suas letras críticas sociais sutis e algum esquerdismo. Enquanto os Sex Pistols era apenas uma banda de rebeldes, o Clash era uma banda de rebeldes com uma causa. Musicalmente falando, o Clash foi capaz de evoluir bastante no decorrer de sua carreira, inclusive se aventurando em sonoridades diferentes do punk rock, flertando com o pop, reggae, ska e blues, abrindo caminho para a new wave.

A influência de novas sonoridades, principalmente o reggae, ficaria clara no terceiro LP, London Calling (curiosamente um LP duplo que foi vendido ao preço de LP simples, fato inédito até então). London Calling (que também mostrou muitas influências de rock and roll e blues, o que o levou a ser muito aceito nos Estados Unidos) foi o maior sucesso comercial da banda. Em meio a reclamações de que lançar um LP duplo não era atitude condizente com uma banda que se dizia punk, foi gravado Sandinista!, um LP triplo (vendido ao preço de um LP duplo). O experimentalismo foi ainda mais longe, incluindo instrumentos de sopro e eletrônicos. Enquanto a popularidade da banda crescia a nível mundial os fãs ingleses passavam a abandoná-los e a banda conseqüentemente passava a se apresentar mais na América.

Conversa Indireta: Ivete e Rosa

No ano em que se comemorou meio século da Bossa Nova, não seria mais “fácil” gravar um disco só com clássicos do movimento?


Eu ouço Bossa Nova todos os dias, meu preto! Não preciso esperar a Bossa Nova fazer cinqüenta anos para comemorar porque é um movimento que sempre fez parte de minha vida musical. Minha ligação mais forte é com João Gilberto e Tom Jobim. Eu fiz o Amorosa” (2004), do qual gosto muito e, modéstia à parte, acho primoroso, que é um disco de Bossa Nova para qualquer época. É um trabalho audacioso porque foi uma homenagem ao “Amoroso” (1977), de João Gilberto.

Até quando você acha que vai fazer sucesso? E se um dia ele acabar, o que você vai fazer?

Sei, não. Se acabar? Acaba, não! Sou um touro para trabalhar e o meu trabalho é regado a amor e satisfação. E isso eu tenho de sobra!

Você e João Gilberto têm se conversado?

A última vez que conversei com ele foi quando eu estava indo para fazer o Carnegie Hall, em 2006, depois de quase 15 anos sem nos falarmos. Ele me ligou querendo saber o endereço de um maestro com quem gostaria de ter contato e me desejou boa sorte. Sei que ele acompanha meu trabalho porque temos uma amiga em comum. Sempre mando um disco para ele.

Logo que você despontou no mercado fonográfico, houve quem desejasse que você passasse a cantar música popular brasileira. Mas você resistiu e continuou com o axé. Você acha que fez a escolha certa?

Mas eu canto música popular brasileira, e das boas. Sou da Bahia, sou filha do trio elétrico e tenho muito do que me orgulhar. Somos um povo de muita personalidade e força, e eu assino embaixo quando o assunto é música baiana, axé music!

A música lhe deu essa alegria, em algum momento ela a deixou ou você quis deixá-la e fazer outra coisa?

A música nunca me decepcionou! Alguns momentos a carreira foram muito difíceis, muitas lágrimas e lutas... Hoje eu tenho a certeza de que escolhi o caminho mais difícil e ao mesmo tempo certo que é fazer música de qualidade.

Você sente que tem liberdade para fazer tudo o que você quiser sem ser perturbada?

Depende do que você diz com “ser perturbada”. O assédio não me incomoda e acho que as pessoas entendem… É o seguinte: quando você vai para a rua querendo ser notado e ovacionado, você vai e tem que se preparar para isso. As pessoas me conhecem e não é nenhum incômodo o assédio pra cima de mim. Eu tenho noção dos limites do meu ir e vir em determinadas circunstâncias. E existem várias maneiras de chegar a esses lugares e ter privacidade, mesmo [que seja] uma privacidade vigiada. Não pode ter tudo também. Toda essa coisa é uma renúncia. Eu e umas amigas minhas estávamos conversando e elas disseram: “Coitada de Ivete, não pode nem ir ao supermercado”. Eu disse: “É, coitada de mim, não posso nem ir ao supermercado, não posso ir à feira, só posso ir ao supermercado em Nova York…” Ah, coitada de mim? Coitada de quem tem que ir ao supermercado todo dia…


Qual seu tamanho, Rosinha?


(risos) Tenho 1,53 metros de altura... Não sei, não saberia responder a essa pergunta sua... Sei apenas que sou uma missionária da música. Meu tamanho exato quem sabe é Deus!

O que você faz quando não é a Ivete superstar?

Mas eu não sou duas coisas. Eu sou uma só. Sou a "Ivete Superstar" que acorda, escova os dentes, toca violão, vai ao cinema, faz show, dá risada. Tudo junto. Se separar, a gente pira.

Você é imensa!

Ô, meu preto... Tudo isso é um presente que ganhei nessa encarnação. Pedi para vir cantando e estou tentando cumprir minha missão da melhor maneira possível. Estou num momento muito feliz da minha carreira, não tenho mais necessidade de provar mais nada a ninguém, nem a mim mesma. Sou perfeccionista, chego a ser “cricri”. Penso sempre em fazer o melhor. E o melhor ainda é fazer a música com o coração.

Você atualmente é tão famosa que sofre assédio não apenas da mídia e de fãs, mas também dos próprios artistas. Tem hora que isso cansa? Você tem alguma vontade de ser anônima em alguns momentos?

Canso, não. Adoro ser famosa e me sinto "a tal", quando alguém chega e diz que gosta de mim e da música que faço. Adoro de verdade. É massa demais ser famoso!

Do you like a Rolling Stones?




Mick Jagger (voz e guitarra): Seu nome de batismo é Michael Phillip Jagger, nascido em 26 de julho de 1943. Quanto tinha 5 anos, conheceu seu futuro parceiro, Keith Richards, enquanto estudavam juntos.Anos mais tarde, os dois se reencontraram em uma estação de trem e foi aí que teve início o trabalho da famosa dupla. Na época, Jagger cursava economia em Londres.Quando surgiu no mundo musical, em 1962, o líder da banda já mostrou que era o oposto da imagem dos Beatles John Lennon e Paul McCartney. O astro tem sete filhos. A mais velha é Karis Jagger, de seu relacionamento com Marsha A. Hunt. A segunda é Jade, de seu casamento com Bianca Jagger, a bela nicaraguense com que curtiu a ferveção dos anos 70. O cantor é autor de frases célebres como: "eu nunca saio com donas-de-casa. Nunca saí e nunca sairei", em 1977.

Keith Richards (voz, vocal e guitarra): Parceiro de Jagger desde o início, em 1962, já brigou várias vezes com o cantor, mas até hoje continua na banda. Foi o último Stone a gravar um trabalho sozinho, o disco Talk is Cheap, em 1988.Seu envolvimento com as drogas e bebidas é famoso, e desde criança Richards têm problemas de comportamento. Chegou a ser expulso da escola em 1959, em Londres.O guitarrista é conhecido por ser o bad-boy da banda, mas ninguém pode reclamar de seus dedilhos na guitarra. Suas histórias são sempre as mais excêntricas. Há quem diga que na década de 70 ele trocou todo o seu sangue, mas não comprovações.


Ron Wood (vocal e guitarra): Foi o último a entrar para os Stones. Gosta de mexer com artes plásticas quando não está com o grupo. Wood tocava com o Creation e logo depois entrou na banda Jeff Beck Group, que tinha ninguém menos que o então desconhecido Rod Stewart nos vocais. Depois, os dois resolveram sair da banda e se juntaram ao Small Faces, que depois virou apenas Faces.E foi depois disso que passou a fazer parte dos Rolling Stones, com a saída de Mick Taylor, em 1974. Ele tocou com a banda por anos sem ser considerado literalmente integrante do grupo, o que aconteceu apenas em 1995. Mick Jagger nunca escondeu que não considerava Wood a melhor pessoa para os Stones, mas Keith Richards sempre apoiou o guitarrista, de quem é muito amigo.


Charlie Watts (bateria): O mais discreto e elegante dos Stones tem uma banda de jazz, chamada Charlie Watts Tentet. Sua história com os Rolling Stones é curiosa. Em 1960, ele entrou para uma banda chamada Blues Incorporated, que mais tarde contratou o cantor Mick Jagger e os guitarristas Brian Jones e Keith Richards.Mas os shows eram muito puxados, e Watts resolveu abandonar o grupo e voltar para seu trabalho em uma empresa de publicidade. Até que em 1962 os integrantes de sua antiga banda tinham se transformado nos The Rolling Stones, e o convenceram a voltar a tocar no grupo, onde ele está até hoje.Em junho de 2004, o roqueiro sofreu um susto ao ser diagnosticado com um câncer na garganta. Watts foi submetido a uma radioterapia e hoje o câncer recuou.



A aritmética da Emília [Monteiro Lobato]


— São os ALGARISMOS! — berrou Emília, batendo palmas e já de pé no seu tijolo, ao ver entrar na frente o 1, e atrás dele o 2, o 3, o 4, o 5, o 6, o 7, o 8, o 9. Bravos! Bravos! Viva a macacada numérica!

Os Algarismos entraram vestidinhos de roupas de acrobata e perfilaram-se em ordem, com um gracioso cumprimento dirigido ao respeitável público. O Visconde então explicou:

— Estes senhores são os célebres ALGARISMOS ARÁBICOS, com certeza inventados pelos tais árabes que andam montados em camelos, com um capuz branco na cabeça. A especialidade deles é serem grandes malabaristas. Pintam o sete uns com os outros, combinam-se de todos os jeitos formando NÚMEROS, e são essas combinações que constituem a ARITMÉTICA.

— Que graça! — exclamou a Emília. — Quer dizer então que a tal Aritmética não passa de reinações dos Algarismos?

— Exatamente! — confirmou o Visconde. — Mas os homens não dizem assim. Dizem que a Aritmética é um dos gomos duma grande laranja azeda de nome Matemática. Os outros gomos chamam-se Álgebra, Geometria, Astronomia. Olhem como os Algarismos são bonitinhos. O que entrou na frente, o puxa-fila, é justamente o pai de todos — o Senhor 1.

— Por que pai de todos? — perguntou Narizinho.

— Porque se não fosse ele os outros não existiriam. Sem 1, por exemplo, não pode haver 2, que é 1 mais 1; nem 3, que é 1 mais 1 mais 1 — e assim por diante.

— Nesse caso, os outros Algarismos são feixes de Uns! - berrou
a boneca pondo as mãozinhas na cintura.

— Está certo — concordou o Visconde. — Os Algarismos são varas. O 1 é uma varinha de pé. O 2 é um feixe de duas varinhas; o 3 é um feixe de três varinhas — e assim por diante.

Narizinho, muito atenta a tudo, notou a ausência de alguma coisa. Por fim gritou:
— Está faltando um Algarismo, Visconde! Não vejo o Zero!



Anime-se: Tom and Jerry

Os meninos de 2 a 5 anos que vêem desenhos animados violentos ou esportes de contato na televisão têm mais probabilidade de ficar mais agressivos ou desobedientes quando mais velhos, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira pela revista médica Pediatrics.

"Descobrimos que quanto mais violenta é a televisão vista por meninos pré-escolares, é mais provável que tenham comportamento anti-social, como agir agressivamente, desobedecer ordens e se meter em confusões na idade escolar", afirmou Dimitri Christakis, principal autor do estudo. "Os desenhos animados são os principais culpados", acrescentou.

"A maioria dos pais acha que os desenhos animados não são ameaçadores para seus filhos porque, afinal, não são reais e são divertidos. Mas a verdade é que as crianças pré-escolares não distinguem entre a fantasia e a realidade de maneira que o fazem as crianças mais velhas e os adultos. Para eles tudo é bem real".

"Precisamente porque a violência dos desenhos animados visa a ser divertida e mostra a violência sem conseqüências reais - mesmo que as pessoas explodam pelos ares, fiquem chamuscados um segundo e depois voltem à normalidade - transmite mensagens errôneas sobre os efeitos da violência no mundo real", explica Christakis.

Os meninos pequenos parecem ser os mais sensíveis a este tipo de influência. Nem as meninas menores que vêem programas violentos nem os meninos que foram expostos a programas não-violentos ou educativos mostraram a mesma agressividade mais adiante em sua vida, segundo os pesquisadores do hospital para crianças de Seattle (Washington, noroeste).

Os cientistas usaram dados de um estudo que durou 40 anos e que acompanhou 8 mil famílias americanas, os tipos de programa que eram vistos por 184 meninos e 146 meninas, entre as idades de 2 e 5 anos, e que comportamento exibiam mais tarde.


W.S.: CARTA ABERTA A JOHN ASHBERY, Waly Salomão.

A memória é uma ilha de edição - um qualquer
passante diz, em um estilo nonchalant,
e imediatamente apaga a tecla e também
o sentido do que queria dizer....

Esgotado o eu, resta o espanto do mundo não ser
levado junto de roldão.
Onde e como armazenar a cor de cada instante?
Que traço reter da translúcida aurora?
Incinerar o lenho seco das amizades esturricadas?
O perfume, acaso, daquela rosa desbotada?...

A vida não é uma tela e jamais adquire
o significado estrito
que se deseja imprimir nela.
Tampouco é uma estória em que cada minúcia
encerra uma moral.
Ela é recheada de locais de desova, presuntos,
liquidações, queimas de arquivos,
divisões de capturas,
apagamentos de trechos, sumiços de originais,
grupos de extermínios e fotogramas estourados.
Que importa se as cinzas restam frias
ou se ainda ardem quentes
se não é selecionada urna alguma adequada,
seja grega seja bárbara,
para depositá-las?...

Antes que o amanhã desabe aqui,
ainda hoje será esquecido o que traz
a marca d'água d'hoje.

Hienas aguardam na tocaia da moita enquanto
os cães de fila do tempo fazem um arquipélago
de fiapos do terno da memória.
Ilhotas. Imagens em farrapos dos dias findos.
Numerosas crateras ozonais.
Os laços de família tornados lapsos.
Oco e cárie e cava e prótese,
assim o mundo vai parindo o defunto
de sua sinopse.
Sem nenhuma explosão final....
Nulla dies sine linea. Nenhum dia sem um traço.
Um, sem nome e com vontade aguada,
ergue este lema como uma barragem
anti-entropia....
E os dias sucedem-se e é firmada a intenção
de transmudar todo veneno e ferrugem
em pedaço do paraíso. Ou vice-versa.
Ao prazer do bel-prazer,
como quem aperta um botão da mesa
de uma ilha de edição
e um deus irrompe afinal para resgatar o humano fardo....
Corrigindo:
o humano fado.

Frases: Voltaire; Fotos: Voltaire Fraga.


"A infância tem as suas maneiras próprias de ver, pensar e sentir. Nada mais insensato que pretender substituí-las pelas nossas."




"A perfeição da própria conduta consiste em manter cada um a sua dignidade sem prejudicar a liberdade alheia."


"Se Deus não existisse, teria sido preciso inventá-lo."









"A guerra é o maior dos crimes, mas não existe agressor que não disfarce seu crime com pretexto de justiça."

"A falsa ciência gera ateus; a verdadeira ciência leva os homens a se curvar diante da divindade."


"Chama-se tirano o rei que não conhece outras leis senão os seus caprichos."


"Mais vale arriscar-se a salvar um culpado do que a condenar um inocente."






"É no coração das mulheres que se reúnem todas as contradições."

Mini-Curso de Bateria para Meg White

Antes de começarmos o curso, vamos explicar de que maneira é composta a bateria para aí sim dar prosseguimento aos estudos, exercícios e técnicas principais.

Ela é formada da união de vários instrumentos: O BUMBO, A CAIXA, CHIMBAL, PRATO, SURDO E OS TONS. Para tocar bateria utilizamos as BAQUETAS que devem ser de um tamanho médio (5A) para um iniciante.


As baquetas fazem o contato entre nosso corpo (mãos) e a bateria, de forma que devemos prestar muita atenção neste item pois desse contato resultará uma boa execução musical. Devemos segurar a baqueta entre a 1ª e a 2ª parte dela, imaginado que devemos dividi-la visualmente em 3 partes iguais. A maioria das baquetas são feitas de madeira, com ponta de madeira ou de nylon.


Baquetas com ponta de madeira: possui um som mais "aveludado" ao tocar nas peças da bateria e principalmente nos pratos.

Baquetas com ponta de nylon: a característica destas baquetas é o timbre mais aberto destacando os agudos de cada peça. Para entender melhor, toque o prato de condução com a ponta de nylon e depois toque o mesmo prato com uma baqueta com ponta de madeira - você perceberá a diferença de timbre do mesmo prato.

Vassourinhas: Muito usada no jazz, a vassourinha é usada de uma forma diferente na bateria. Para extrairmos um som com elas, na maioria das vezes fazemos movimentos circulares na pele da caixa. Pode ser tocada com se fosse uma baqueta comum, com a característica de um timbre muito suave.

Baquetas com ponta de feltro: Usada por percussionistas de música clássica para tocar o tímpano (instrumento de percussão usado em orquestra sinfônica). Os bateristas usam muito este tipo de baqueta para extrair um som mais encorpado do prato sem o contato áspero da baqueta com o metal e sim o contato do feltro com o metal. O resultado é um som suave, fazendo o prato vibrar muito sem que se perceba os movimentos que estamos fazendo para emitirmos o som.


Pratos: Há 2 tipos de pratos que podemos chamar de base:
· Condução (ride) - onde conduzimos a música.
Nele também podemos usar a Cúpula (bell ride).
· Ataque (crash) - usado para início do tema, um acento na música ou final de um fill (que é a "uma virada" nos tons e tambores, terminando no prato de ataque.
Como os pratos da bateria são também peças extremamente delicadas, cuidado no transporte. Ao tocar nos pratos mais finos, a intensidade com que se toca deve ser menor pois ele soará perfeitamente com um simples toque com a baqueta.

Tambor: Depois do bumbo, é a peça mais grave da batera. Faz a ligação dos toms para o bumbo. A afinação do tambor é médio-grave ou grave.
Para deixá-lo com estas características mantenha a pele do tambor levemente solta. A pele resposta deve estar mais apertada do que a pele de ataque. Ao afinar dê o mesmo número de volta em todos os parafusos.
Para checar a afinação da peça, toque a pele levemente com a chave de afinar perto de cada parafuso (aproximadamente 2 cm, do aro para a pele) e perceba se todos os parafusos estão dando o mesmo harmônico. Se estiverem tudo igual, ótimo! Você deverá tocar a peça com a baqueta para sentir se é realmente esse o som que você quer. Se quiser um som mais grave (soltar mais os parafusos) ou mais agudo (apertar mais os parafusos).

Tom-Tom: É onde damos o "colorido" extra no ritmo que estamos tocando. Basicamente as baterias vem com 2 toms.
Eles são afinados da seguinte maneira:
Tom 1 (menor) - som mais agudo.
Tom 2 (médio) - som mais médio.
Ao afinar dê o mesmo número de volta em todos os parafusos. Para checar a afinação da peça, toque a pele levemente com a chave de afinar perto de cada parafuso (aproximadamente 2 cm, do aro para a pele) e perceba se todos os parafusos estão dando o mesmo harmônico. Se estiverem tudo igual, ótimo!
Você deverá tocar a peça com a baqueta para sentir se é realmente esse o som que você quer. Se quiser um som mais grave (soltar mais os parafusos) ou mais agudo (apertar mais os parafusos).

Caixa/aro: Usada em combinação com o bumbo na execução de quase todos os ritmos o som dela é na maioria das vezes seco e médio-grave.
É nela que treinamos a maior parte das técnicas das mãos. Ao afinar dê o mesmo número de volta.

Bumbo: É a peça mais grave da bateria. Tem um som forte, geralmente mais abafado que as outras peças da bateria - exceto no jazz, bossa-nova, e ritmos mais "excêntricos", que costumam deixá-lo sem o abafador ou pouco abafado.
Ao afinar dê o mesmo número de volta em todos os parafusos. Para um som mais grave, deixe a pele onde o pedal toca mais solta que a da frente. Para abafar o bumbo, é aconselhável colocar uma espuma que toque ambas as peles.

Chimbal: Usamos o chimbal para fazermos a condução na música. Seu som é agudo e é formado por dois pratos que se tocam no momento que acionamos o pedal da máquina de chimbal com o pé.

Pedal de bumbo: Preso na base do bumbo, é com ele que tocamos o bumbo. Como se trata de uma peça mecânica, sempre que possível faça uma limpeza no pedal, removendo toda a poeira e lubrificando (sem exageros) todas as partes que necessitam desta manutenção. A mola do pedal não deve estar nem muito solta (pois o pedal irá demorar para voltar ao seu ponto de repouso) e nem muito esticada( pois ele ficará muito pesado para ser acionado, dificultando os toque mais rápidos).

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A alma soul do Roberto


Apesar de fazer parte da turma, Erasmo - que já trabalhava para ajudar a mãe - aparecia menos no ponto. Roberto e Erasmo teriam se conhecido quando Roberto estava precisando da letra da música "Hound Dog" e alguém lembrou que um outro componente da turma colecionava tudo sobre Elvis Presley. Era o Erasmo.


Roberto e Erasmo logo perceberam que apesar de suas diferenças - Erasmo nascido no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, sempre foi fuçador, trabalhando desde cedo para ter suas coisas, enquanto Roberto, mais sonhador, é de cidade pequena do interior, com uma familia cuja a situação financeira era menos apertada - tinham grande afinidade musical. Uma forte amizade logo se formou. Com tanta gente interessada em música, não demorou muito para se formar um grupo vocal. Organizada e liderada por Erasmo, a banda era formada por Erasmo, Edson, China, e Arlênio, mas contava com freqüentes participações de Roberto. O grupo se chamava The Snack’s. Mais tarde, com a entrada de Tim Maia, o grupo mudaria de nome, passando a se chamar The Sputiniks.

Foi através de um contato de Erasmo que The Sputiniks estreariam na televisão carioca, participando do "Clube do Rock", um quadro de 15 minutos dentro do programa "Meio Dia", de Jaci Campos, na TV Tupi. O quadro, apresentado por Carlos Imperial, tinha como objetivo apresentar apenas artistas que tocavam o que chamavam de "o ritmo do momento." Logo, a voz forte de Tim Maia sobressaiu e passou a ser a atração principal da banda. Apresentações seguidas levariam a um convite para gravar um compacto. Pelo selo Mocambo, lançam “Para Sempre” / “Namorado” seguido depois por “Calipso Rock” / “Mustafá”, ambos de 78rpm.

Conta a história que, após o ensaio do The Sputiniks, em uma segunda visita do conjunto ao "Clube do Rock", Roberto Carlos comentara com Carlos Imperial que ele sabia imitar Elvis Presley. Imperial, interessado, aprova sua interpretação e lhe dá um momento solo no programa. Tim Maia, vendo Roberto querendo aparecer mais do que os outros, expulsa-o do grupo. Não importa: Roberto Carlos cantando "Tutti Frutti" e "Teddy Bear" tinha grande aprovação do público. Ele passa então a comparecer regularmente ao programa, já sendo apresentado por Imperial como o Elvis brasileiro.

Detalhes de Roberto Carlos


"Manias e superstições sempre nortearam sua vida. "No início da carreira, quando visitou uma fábrica de automóveis, deu duas voltas no prédio porque queria sair pela porta por onde entrou", lembra Marcos Lázaro, 63 anos, empresário do cantor entre 1963 e 1987. Jamais usou a expressão "fita demo" (gravações em estúdios caseiros), preferindo "fita amo", conta Charlles Nogueira, empresário do Rei até o ano passado. O verbo "morrer" para ele não existe, prefere "terminar". "É uma questão de atitude: Roberto atrai coisas boas com palavras e gestos positivos", explica Nogueira".


"A música Apocalipse bateu o recorde de execuções em um só dia, com 3.608, das 7 da manhã às 7 da noite. Para se ter uma idéia da grandiosidade destes números, as dez músicas do LP de 1983, somadas, alcançaram 5.981 execuções."

"Está no Guiness: Roberto Carlos é o cantor brasileiro que mais ganhou discos de Ouro, (21), Platina, (20) e Duplo de Platina, (20), num total de 61. Cada disco de Ouro equivale a 100 mil cópias vendidas, o de Platina a 250 mil e Duplo de Platina a 500 mil."

"Até hoje, esse é um dos mistérios mais bem guardados no meio artístico. Foi uma fatalidade. Aos 6 anos, o menino pobre de Cachoeiro saiu de casa para ir à festa de São Pedro, padroeiro de sua cidade natal. O barulho das ruas impediu que ouvisse o apito da locomotiva. Foi atropelado por um trem em marcha a ré, teve ossos da perna esquerda esmagados e a amputação parcial foi inevitável. Por seis anos, caminhou com o auxílio de muletas e só aos 12 recebeu a primeira prótese. Donato d'Angelo foi quem conseguiu interná-lo na Santa Casa de Misericórdia do Rio e, lá, fez a operação reparadora definitiva. Não dá detalhes sobre ela. "É algo que diz respeito a médico e paciente", alega".

A alma funk do Roberto

O funk carioca é um tipo de música eletrônica originado nas favelas do Rio de Janeiro, derivado do Miami Bass, devido à sua batida rápida e aos vocais graves. No Rio, o funk carioca é chamado simplesmente de funk, apesar de ser um gênero diferente do funk original, dos Estados Unidos.


Na década de 70 surgiram as primeiras equipes de som no Rio de Janeiro, como a Soul Grand Prix tocando Soul e Funk, liderada por Ademir de Barros e Big Boy que promoviam bailes, inclusive, no badaladíssimo Canecão.

Com a ampliação do acesso à freqüência FM, a partir da década de 80, o funk no Rio começou a ser influenciado por um novo ritmo da Flórida, o Miami Bass, que trazia músicas mais erotizadas e batidas mais rápidas. Só a FM O Dia dedica grande espaço em sua grade horária para os falsos sucessos feitos no ritmo funk, um dos mais famosos é a regravação de uma música de Raul Seixas: o "Rock das Aranhas" que vira hit e se junta a ele outras músicas feitas com muito humor e sem muito apelo político como adaptações de músicas do funk norte-americano e gravações de cantores latinos como Stevie B, Corell DJ, entre outros MC's. Dentre os raps que marcam o período mais politizado (mas sem perder o humor) no funk é o "Rap do Acari" que abordava o tema da famosa Roubauto, feira de peças de carro roubadas pelas cidade - a feira muito eclética era sinônimo da precariedade do acesso dos pobres da periferia e outros marginalizados à bens de consumo.

Ao longo da nacionalização do funk, os bailes, até então, realizados nos clubes dos bairros das periferias da capital e região metropolitana, expandiu-se para eventos em céu aberto, nas ruas, onde as equipes rivais se enfrentavam disputando quem tinha a aparelhagem mais potente, mais traficantes, o grupo mais fiel e o melhor DJ. Neste meio surge o DJ Malboro, um dos vários protagonistas do movimento funk.

Com o tempo, o funk ganha grande apelo dos marginalizados e se afirma como a voz da periferia, cujas letras cantadas pelos MCs, enfatizavam às reivindicações populares pelo combate da violência policial nas comunidades carentes dos morros cariocas. As músicas tratavam o cotidiano dos freqüentadores: abordavam a violência e a pobreza das favelas.




As cidades invisíveis [Ítalo Calvino]

As cidades e a memória – 1


Partindo dali e caminhando por três dias em direção ao levante, encontra-se Diomira, cidade com sessenta cúpulas de prata, estátuas de bronze de todos os deuses, ruas lajeadas de estanho, um teatro de cristal, um galo de ouro que canta todas as manhãs no alto de uma torre. Todas essas belezas o viajante já conhece por tê-las visto em outras cidades. Mas a peculiaridade desta é que quem chega numa noite de setembro, quando os dias se tornam mais curtos e as lâmpadas multicoloridas se acendem juntas nas portas das tabernas, e de um terraço ouve-se a voz de uma mulher que grita: uh!, é levado a invejar aqueles que imaginam ter vivido uma noite igual a esta e que na ocasião se sentiram felizes.

As cidades e a memória – 2

O homem que cavalga longamente por terrenos selváticos sente o desejo de uma cidade. Finalmente, chega a Isidora, cidade onde os palácios têm escadas em caracol incrustadas de caracóis marinhos, onde se fabricam à perfeição binóculos e violinos, onde quando um estrangeiro está incerto entre duas mulheres sempre encontra uma terceira, onde as brigas de galo se degeneram em lutas sanguinosas entre os apostadores. Ele pensava em todas essas coisas quando desejava uma cidade. Isidora, portanto, é a cidade de seus sonhos: com uma diferença. A cidade sonhada o possuía jovem; em Isidora, chega em idade avançada. Na praça, há o murinho dos velhos que vêem a juventude passar; ele está sentado ao lado deles. Os desejos agora são recordações.

As cidades e o desejo – 1

Da cidade de Dorotéia, pode-se falar de duas maneiras: dizer que quatro torres de alumínio erguem-se de suas muralhas flanqueando sete portas com pontes levadiças que transpõem o fosso cuja água verde alimenta quatro canais que atravessam a cidade e a dividem em nove bairros, cada qual com trezentas casas e setecentas chaminés; e, levando-se em conta que as moças núbeis de um bairro se casam com jovens dos outros bairros e que as suas famílias trocam as mercadorias exclusivas que possuem: bergamotas, ovas de esturjão, astrolábios, ametistas, fazer cálculos a partir desses dados até obter todas as informações a respeito da cidade no passado no presente no futuro; ou então dizer, como fez o cameleiro que me conduziu até ali: "Cheguei aqui na minha juventude, uma manhã; muita gente caminhava rapidamente pelas ruas em direção ao mercado, as mulheres tinham lindos dentes e olhavam nos olhos, três soldados tocavam clarim num palco, em todos os lugares ali em torno rodas giravam e desfraldavam-se escritas coloridas. Antes disso, não conhecia nada além do deserto e das trilhas das caravanas. Aquela manhã em Dorotéia senti que não havia bem que não pudesse esperar da vida. Nos anos seguintes meus olhos voltaram a contemplar as extensões do deserto e as trilhas das caravanas; mas agora sei que esta é apenas uma das muitas estradas que naquela manhã se abriam para mim em Dorotéia".


As cidades e a memória – 3


Inutilmente, magnânimo Kublai, tentarei descrever a cidade de Zaíra dos altos bastiões. Poderia falar de quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, da circunferência dos arcos dos pórticos, de quais lâminas de zinco são recobertos os tetos; mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado: a distância do solo até um lampião e os pés pendentes de um usurpador enforcado; o fio esticado do lampião à balaustrada em frente e os festões que empavesavam o percurso do cortejo nupcial da rainha; a altura daquela balaustrada e o salto do adúltero que foge de madrugada; a inclinação de um canal que escoa a água das chuvas e o passo majestoso de um gato que se introduz numa janela; a linha de tiro da canhoneira que surge inesperadamente atrás do cabo e a bomba que destrói o canal; os rasgos nas redes de pesca e os três velhos remendando as redes que, sentados no molhe, contam pela milésima vez a história da canhoneira do usurpador, que dizem ser o filho ilegítimo da rainha, abandonado de cueiro ali sobre o molhe. A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.

As cidades e o desejo – 2

A três dias de distância, caminhando em direção ao sul, encontra-se Anastácia, cidade banhada por canais concêntricos e sobrevoada por pipas. Eu deveria enumerar as mercadorias que aqui se compram a preços vantajosos: ágata ônix crisópraso e outras variedades de calcedônia; deveria louvar a carne do faisão dourado que aqui se cozinha na lenha seca da cerejeira e se salpica com muito orégano; falar das mulheres que vi tomar banho no tanque de um jardim e que às vezes convidam - diz-se - o viajante a despir-se com elas e persegui-las dentro da água. Mas com essas notícias não falaria da verdadeira essência da cidade: porque, enquanto a descrição de Anastácia desperta uma série de desejos que deverão ser reprimidos, quem se encontra uma manhã no centro de Anastácia será circundado por desejos que se despertam simultaneamente. A cidade aparece como um todo no qual nenhum desejo é desperdiçado e do qual você faz parte, e, uma vez que aqui se goza tudo o que não se goza em outros lugares, não resta nada além de residir nesse desejo e se satisfazer. Anastácia, cidade enganosa, tem um poder, que às vezes se diz maligno e outras vezes benigno: se você trabalha oito horas por dia como minerador de ágatas ônix crisóprasos, a fadiga que dá forma aos seus desejos toma dos desejos a sua forma, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo.


Música na veia do pequeno Zunga

Zunga foi o apelido que Roberto recebeu ainda na infância. Era uma criança normal e alegre, que adorava descer de bicicleta a ladeira perto de sua casa, empinar pipa e jogar futebol. Com seis anos, Roberto foi matriculado no colégio de freiras Jesus Cristo Rei. Tempos depois, na Jovem Guarda, sua segunda professora do Cristo Rei, Irmã Fausta, lhe daria o medalhão que até hoje não tira do pescoço.

Roberto Carlos era uma criança calma e sonhadora, que passava horas ouvindo rádio, demonstrando muito interesse em música, aprendendo violão e piano - a princípio com sua mãe e, depois, no Conservatório Musical de Cachoeiro.


Sua paixão era a música. Seu primeiro ídolo era Bob Nelson, que cantava músicas country em português. Roberto gostava de cantar suas músicas.

Roberto tinha nove anos quando, sua mãe, lhe sugeriu cantar na Rádio Cachoeiro de Itapemirim, prefixo ZYL-9, no programa matinal infantil de Jair Teixeira. Na primeira vez em que se apresentou, cantou o bolero Amor y más amor, sucesso na voz de Fernando Borel. Roberto continuou comparecendo ao auditório da rádio todos os domingos.

Roberto Carlos cantava e impressionava a todos com sua afinação e talento natural para a música. Assim, ainda na infância, a paixão pela música já estava em seu coração. Seus pais gostariam que ele fosse médico, mas em nenhum momento deixaram de incentivar a vocação do filho.

Roberto havia escolhido a música.



INRI CRISTO ESTÁ AQUI!

O Senhor já se apaixonou?


INRI CRISTO: “Eu sou apaixonado até hoje, tenho uma paixão muito maior que vós jamais sentireis por quem quer que seja, uma paixão que um homem jamais sentirá por uma mulher ou que uma mulher jamais sentirá por um homem. Sou apaixonado pelo meu PAI, pela grande causa dEle, pelo Reino dEle, do qual sou o Mentor Regente. Sou apaixonado sim, minha paixão é tão grande que não há espaço para sentimentos pequenos, tacanhos, mesquinhos, para coisinhas tolas que limitam o ser humano a uma existência medíocre. Enfim, é uma grande e indissolúvel paixão. E só porque sou verdadeiramente apaixonado pelo meu PAI, que é o SENHOR do amor e da vida, é que vos posso transmitir a paixão que tenho por Ele, pois só os apaixonados podem transmitir paixão”.

Por que o Senhor nasceu no Brasil e não na Palestina ou em Roma?


INRI CRISTO: “DEUS é quem escolhe onde o Filho dEle reencarna. Ele escolheu o Novo Mundo, a Terra de Santa Cruz, cujo nome oficial é Brasil. Há dois mil anos, quando caminhava em direção ao Calvário, Ele me mostrou o terrível destino reservado à humanidade e também a herança desta nova terra, grande, de natureza exuberante, onde existe fartura. Está previsto na Bíblia que eu iria reaparecer no Novo Mundo ('Vi um novo céu e uma nova terra...' – Apocalipse c.21 v.1 e 2). O Novo Mundo são as Américas (do Sul, Central e do Norte). Desde criança ouvi dizerem que 'DEUS é brasileiro'. Na verdade DEUS é universal mas o Filho dEle reencarnou no Brasil. Até outubro do ano 2000 vivi nesta terra como apátrida. Mas depois de sobrepujar um processo de falsidade ideológica que se arrastou na Justiça Federal por quinze anos, as autoridades terrestres, através de um venerando acórdão expedido pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, reconheceram oficialmente minha identidade e concederam-me todos os documentos nos quais consta INRI CRISTO, desvencilhando-me da desconfortável condição de apátrida. INRI é meu novo nome, que custou o preço do sangue na cruz, e CRISTO, oriundo do grego, significa 'o ungido', no singular, que é minha condição desde o jejum em 1979”.


Por que seu nome é INRI e não Jesus?

INRI CRISTO: “Eu mesmo disse ao discípulo João que voltaria com um nome novo ('Ao que vencer... escreverei sobre ele o nome de meu DEUS... e também o meu novo nome ' – Apocalipse c.3 v.12). INRI é o nome que paguei com meu sangue na cruz, o nome que Pilatos escreveu acima de minha cabeça quando eu agonizava na cruz, quando cuspiam em meu rosto, quando me humilhavam, quando se cumpriam as Escrituras. INRI é o nome que custou o preço do sangue. Significa, do latim, Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum, traduzindo: Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Como poderia voltar com o nome de Jesus se atualmente milhares de pecadores se chamam assim, entre os quais assassinos, bandidos, alcoólatras, traficantes...? Pilatos ordenou que se escrevesse este nome no momento da crucificação por inspiração divina. Quando fustigado pelos sacerdotes: 'Não escrevas Jesus Nazareno Rei dos Judeus, mas o que ele disse: Eu sou o Rei dos Judeus’ , se Pilatos não estivesse obedecendo à vontade de DEUS, ter-lhes-ia cedido. Mas, ao contrário, respondeu-lhes categoricamente: 'O que escrevi, escrevi ' (João c.19 v.21 e 22). E ainda quando ele disse-me: 'Não sabes que tenho poder para te crucificar ou te libertar?', respondi-lhe: 'Nenhum poder terias sobre mim se não te fosse dado do alto' (João c.19 v.10 e 11). Tudo estava nos planos da Divina Providência. Agora que estou de volta assumi meu novo nome, INRI CRISTO, oficialmente reconhecido pelas autoridades terrestres”.

Por que o Senhor passa uma imagem de autoritário se a humanidade espera um Cristo manso?


INRI CRISTO: “A humanidade espera um Cristo manso pois foi assim que venderam minha imagem aos ingênuos. Na verdade, eu era e sou autoritário porque meu PAI é autoritário. Sou o mesmo que disse: 'Geração de víboras, quanto tempo ainda terei que ficar entre vós! ' (Mateus c.23 v.13 a 36 e c.17 v.17), e também: 'Não atireis as pérolas aos porcos e não deis aos cães o que é santo, não suceda que eles, calcando-as com os pés, se voltem contra vós ' (Mateus c.7 v.6). Só posso ser manso se me permitem ser manso. Quando estou diante dos humildes, dos simples, dos reverentes, diante destes mostro minha face de Cordeiro de DEUS (João c.1 v.29). A estes ensino, instruo, oriento. Todavia, quando estou diante dos hipócritas, dos fariseus fanáticos, dos blasfemadores, eu os chicoteio com palavras como chicoteei os vendilhões do templo em Jerusalém (Mateus c.21 v.12 e 13). Há dois mil anos, a única vez que fui manso em público, que não usei da autoridade de Leão de Judá (Apocalipse c.5 v.5), me crucificaram”.

Como o mundo inteiro lhe entenderá?


INRI CRISTO: “Quando chegar o dia do SENHOR, todos verão o meu rosto e ouvirão minha voz ('Todo olho o verá ' – Apocalipse c.1 v.7). A humanidade estará sintonizada vibrando na mesma onda, no mesmo pensamento, e todos entenderão minha mensagem através do coração, independente de serem asiáticos, africanos ou australianos. Meu PAI dará o dom de compreender a todos os povos de todas as línguas, porque a linguagem do coração transcende as fronteiras de etnia, língua, religião; é a única linguagem universal inerente aos seres humanos”.


Sobre amizade


Como se sabe, a amizade foi tematizada por Platão, para quem o conhecimento teria como pressuposto o diálogo entre amigos. Na verdade, a reflexão platônica sobre a amizade se dá num contexto da relação entre eros (sexualidade) e philia (amizade). No âmbito de uma erótica que se dava sobretudo na relação com os rapazes (páidekon = pederastia), a philia pode ser percebida como uma estratégia do filósofo grego para sublimar e tornar mais aceitáveis as relações entre os homens. A philia platônica parecia ter o sentido de um “uso correto” de eros.


Na introdução do diálogo platônico Lísis, o qual constitui-se numa reflexão sobre a essência da amizade, Francisco de Oliveira afirma ser possível encontrar o esclarecimento da doutrina sobre a philia em três diálogos: Lísis, O Banquete e Fedro. Em sua opinião, mesmo considerando seu caráter aporético, é sobretudo no Lísis que Platão mais se aproxima da definição do conceito.

De acordo com Ortega (1999), a concepção de amizade platônica é, dentre as concepções existentes na Antigüidade (platônica, aristotélica, epicúrea, estóica), a única que concebe a relação entre eros e philia.

Em Aristóteles, epicuristas e estóicos, assim como em toda a história da amizade após Platão, eros e philia aparecem dissociados. É a inversão desta história que Foucault, como veremos, pretende inverter, uma vez que sua reabilitação da antiga estilística da existência, pressupõe a recuperação de eros para a dinâmica da amizade.

Em Aristóteles, a amizade foi tematizada em termos de excelência moral, estabelecendo relação com a felicidade, com o ideal grego da “vida boa” (eudaimonia). A problematização aristotélica esteve, assim, empenhada em decifrar os elementos de uma amizade perfeita (teleia philia), a qual não deixa de assumir um papel regulativo:


“A amizade perfeita é a existente entre as pessoas boas e semelhantes em termos de excelência moral; neste caso cada uma das pessoas quer bem à outra de maneira idêntica, porque a outra pessoa é boa, e elas são boas em si mesmas. Então as pessoas que querem bem aos seus amigos por causa deles são amigas no sentido mais amplo, pois querem bem por causa da própria natureza dos amigos, e não por acidente; logo, sua amizade durará enquanto estas pessoas forem boas, e ser bom é uma coisa duradoura” (p. 156).


Para Aristóteles, a amizade seria uma forma privilegiada de ter consciência de si próprio, já que a contemplação das ações boas de si são dificultadas por não haver um distanciamento necessário. Assim, seria preciso então contemplar a ação do outro, para ter consciência de si próprio e do próprio conhecimento.
O amigo, com quem se dá a convivência, a comunhão de interesses e a afinidade intelectual, seria um outro eu.




ROBERTO CARLOS PRECISA DE UM TONY BLAIR

Por Paulo Cesar de Araújo

5 de Abril de 2007 - No inicio dos anos 70, Roberto Carlos gravou um de seus grandes sucessos, "Eu quero apenas", mais conhecida como "Um milhão de amigos", que em um dos versos diz: "Eu quero crer na paz do futuro/ eu quero ter um quintal sem muro". Decorridas mais de três décadas do lançamento desta música podemos dizer que este futuro já chegou. Portanto, já é possível constatar que, infelizmente, aquele ideário do artista não foi alcançado: a paz não vigora em nosso mundo como também não vivemos em quintais sem muros. Ao contrário, ao longo desses anos acentuaram-se muros e cercas em torno de propriedades privadas, até mesmo em prédios residenciais nas grandes cidades. Mas o mais irônico é que coube a Roberto Carlos reivindicar a forma mais radical que se conhece de propriedade privada; não apenas aquela sobre os meios de produção, um imóvel ou um automóvel, mas a propriedade privada de sua história - e em torno da qual ele tenta erguer um muro para protegê-la da "invasão" alheia.


Durante recente entrevista coletiva no navio Costa Furtuna, o cantor foi mais uma vez enfático ao reclamar do livro "Roberto Carlos em Detalhes". "A minha história é um patrimônio meu, quem escreveu este livro se apropriou deste meu patrimônio e usou este patrimônio em seu próprio beneficio". Em outra coletiva, no fim do ano passado, um jornalista ponderou que a sua produção musical é redimensionada no livro. "E daí?", rebateu o artista. "Você gostaria que alguém escrevesse a sua história, quando você quer escrever a sua própria história? Me responde! Você gostaria?".

Creio que este é o principal motivo que levou Roberto Carlos a abrir um processo contra mim e a Editora Planeta. Supostas ofensas à honra ou invasão de privacidade são apenas pretextos para pedir e, por enquanto, conseguir na Justiça a proibição do livro. No próprio texto do processo cível o advogado do cantor reclama por seu cliente não estar obtendo "qualquer participação nos lucros provenientes da vendagem do livro". Reclama também da perda de "lucros futuros" pelo fato de a obra tirar o ineditismo da biografia que um dia o cantor pretende escrever. Por isso, Roberto Carlos não quer simplesmente corrigir esta ou aquela passagem que considere ofensiva ou equivocada no livro; o que ele quer é proibir que alguém escreva sobre sua história - o que, além da tentativa de reivindicar reserva de mercado, é uma flagrante ameaça à liberdade de expressão.

Imagine que alguém como o presidente Lula também reivindicasse que a sua história é patrimônio exclusivo seu, e que caberia a ele escrevê-la como e quando quisesse. Nenhum historiador poderia contar a história de um dos oito filhos de dona Eurídice, o retirante nordestino que se tornou líder metalúrgico e, mais tarde, presidente da República. Pois para Roberto Carlos é um usurpador da história alheia quem escreveu a sua trajetória de menino pobre, que também saiu do interior do Brasil e, contra todas as adversidades, se consagrou como o "rei" da nossa música popular. Segundo esta lógica, são usurpadores da história alheia biógrafos como Peter Gay, que escreveu a biografia não-autorizada de Sigmund Freud; Howard Sounes que escreveu a biografia não-autorizada de Bob Dylan; Wendy Goldman Rohm que escreveu a biografia não-autorizada de Bill Gates; Michael Braun, que escreveu a biografia não-autorizada dos Beatles. E todos deveriam ser processados por roubar o que não lhes pertencia. Porém, para todos esses casos prevaleceu a idéia de que escreveram sobre figuras públicas cujas histórias pertencem à coletividade e são, portanto, de interesse geral.


A rigor, uma história de vida não existe isoladamente, mas em relação com outras histórias. E se valer para cada um o direito privado sobre sua história, ninguém poderá escrever uma autobiografia sem pedir permissão a outros. Para Roberto Carlos narrar sua história (entendida como patrimônio particular) teria que pedir permissão aos herdeiros de Carlos Imperial, no momento em que sua história cruzar com a dele; ou aos herdeiros de Tim Maia, pela mesma razão. Sim, porque a partir do momento em que saiu para o mundo, interagiu com outras pessoas, com as quais trabalhou, criou, brigou, amou, a história de Roberto Carlos faz parte de uma história coletiva. E no caso específico dele não dá nem para separar história púbica de história privada porque ambas estão entrelaçadas em sua obra musical. Ele é um artista autobiográfico, pois canta o que vive e o que sente. Como analisar, por exemplo, uma canção como "Lady Laura" sem falar da relação do artista com sua mãe (vida privada); ou uma canção como "Amigo", sem falar de sua amizade com Erasmo Carlos (também vida privada); ou as muitas canções de amor que ele também ofereceu publicamente para as esposas Nice, Myrian Rios e Maria Rita?


O contraditório é que ao entrar na Justiça para defender a "posse" de sua história, o artista relegou a segundo plano outro importante patrimônio: a sua imagem pública. Ao longo da carreira, Roberto Carlos se esforçou para construir sua imagem com bastante esmero, evitando, sempre que possível, se envolver em polêmicas musicais, políticas ou religiosas. Entretanto, a boa fama e respeitabilidade que adquiriu vêm sofrendo sério abalo justamente por sua decisão de pedir a proibição de um livro que, na opinião unânime de críticos e fãs, engrandece a sua vida e a sua arte. Nas últimas semanas, editoriais de jornais, artigos em revistas, blogs, enfim, grande parte dos formadores de opinião tem direcionado duras críticas ao cantor. O escritor Ruy Castro, por exemplo, afirmou que com sua atitude Roberto Carlos "se revelou um ser humano menor". O colunista Nirlando Beirão também escreveu que "com o gesto judicial grosseiro e rude, o que o rei fez foi de fato rasgar a sua biografia". E em editorial titulado "Quando a censura triunfa", o Jornal do Brasil enfatizou que "disso o rei não precisava".

Observadas as distintas naturezas das "monarquias", recorde-se que a rainha da Inglaterra passou por momento semelhante em setembro de 1997, logo após a morte da princesa Diana - que a família real considerava excluída de suas hostes. Como ilustra o filme "A Rainha", de Stephen Frears, a hesitação de Elizabeth II em fazer um pronunciamento público pela morte da princesa fez dela alvo de severas críticas da imprensa. Foi então que o primeiro-ministro Tony Blair ligou para a rainha, leu para ela o que diziam os jornais, mostrou-lhe o quanto a monarquia estava na contramão da opinião pública, e acabou convencendo-a do grave erro que cometia. Era a modernidade alertando a tradição. Neste momento talvez falte ao rei Roberto Carlos um Tony Blair, alguém com acesso direto a ele, de visão abrangente e moderna, que pudesse convencê-lo de que os tempos são outros, que a sociedade não tolera mais este tipo de censura.

Powered By Blogger