segunda-feira, 27 de julho de 2009

A aritmética da Emília [Monteiro Lobato]


— São os ALGARISMOS! — berrou Emília, batendo palmas e já de pé no seu tijolo, ao ver entrar na frente o 1, e atrás dele o 2, o 3, o 4, o 5, o 6, o 7, o 8, o 9. Bravos! Bravos! Viva a macacada numérica!

Os Algarismos entraram vestidinhos de roupas de acrobata e perfilaram-se em ordem, com um gracioso cumprimento dirigido ao respeitável público. O Visconde então explicou:

— Estes senhores são os célebres ALGARISMOS ARÁBICOS, com certeza inventados pelos tais árabes que andam montados em camelos, com um capuz branco na cabeça. A especialidade deles é serem grandes malabaristas. Pintam o sete uns com os outros, combinam-se de todos os jeitos formando NÚMEROS, e são essas combinações que constituem a ARITMÉTICA.

— Que graça! — exclamou a Emília. — Quer dizer então que a tal Aritmética não passa de reinações dos Algarismos?

— Exatamente! — confirmou o Visconde. — Mas os homens não dizem assim. Dizem que a Aritmética é um dos gomos duma grande laranja azeda de nome Matemática. Os outros gomos chamam-se Álgebra, Geometria, Astronomia. Olhem como os Algarismos são bonitinhos. O que entrou na frente, o puxa-fila, é justamente o pai de todos — o Senhor 1.

— Por que pai de todos? — perguntou Narizinho.

— Porque se não fosse ele os outros não existiriam. Sem 1, por exemplo, não pode haver 2, que é 1 mais 1; nem 3, que é 1 mais 1 mais 1 — e assim por diante.

— Nesse caso, os outros Algarismos são feixes de Uns! - berrou
a boneca pondo as mãozinhas na cintura.

— Está certo — concordou o Visconde. — Os Algarismos são varas. O 1 é uma varinha de pé. O 2 é um feixe de duas varinhas; o 3 é um feixe de três varinhas — e assim por diante.

Narizinho, muito atenta a tudo, notou a ausência de alguma coisa. Por fim gritou:
— Está faltando um Algarismo, Visconde! Não vejo o Zero!



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