Rio de Janeiro, 1971. O roqueiro Serguei encontra com sua ex-namorada Janis Joplin, em frente ao hotel Copacabana Palace, no qual ela estava hospedada, e os dois caminham até a Rua Prado Júnior, onde ele se apresentaria na boate Holiday com a atriz Darlene Glória. De repente, Janis se ajoelha na calçada e grita: "Have a pen?". Em seguida, ela desenha sobre o zíper da calça dele um coração com a frase: "Serguei and Janis Joplin - love". Depois de sua morte, Serguei procurou a velha calça listrada de azul e branco quando, então, ouviu da mãe: "Aquela toda rabiscada? Dei para os pobres".
Sérgio Augusto Bustamante, 66 anos, conheceu a fama quando o compacto Alucinações de Serguei estourou nas rádios, em 1965. Desde então, gravou dez discos, o último em 1991, pela BMG, após elogiada apresentação no festival Rock in Rio II. Oito anos depois, Serguei volta à cena este mês com o lançamento da biografia Serguei - O Anjo Maldito, de João Henrique Schiller. E planeja lançar em janeiro seu primeiro CD, Rota 66, com participações de Evandro Mesquita e Roberto Frejat.
Filho de um executivo da IBM, Domingos Bustamante, e da dona de casa Heloísa, Serguei nasceu no Rio e foi criado com os mimos de filho único. "Aos 12 anos, disse a meu pai que queria morar nos Estados Unidos, pois não suportava viver num país do terceiro mundo", conta. Foi morar com a avó materna, Lia Anderson, em Long Island, Nova York, onde participou de festivais estudantis. De volta ao Brasil, em 1955, trabalhou no Banco Boavista, de onde foi despedido. "Ficava amarradão andando de elevador para baixo e para cima." Foi, então, para a aviação, onde trabalhou como comissário de bordo na Loyd Aéreo, Cruzeiro do Sul, PanAir e Varig. "Depois de servir passageiros, íamos para a cauda do avião e eu imitava a Dalva de Oliveira e o Elvis Presley", lembra. Na Varig, teve sua segunda demissão. "Estava em Madri e era folga. Pus um perucão maravilhoso e fui dançar. Depois de beber, pulei em cima da mesa onde estava a atriz Gina Lolobrigida, puxei-a pelos quadris, dançamos e tomamos um banho de sangria", diverte-se. Na saída, bêbado, brigou com o dono da boate. "Quando cheguei ao Rio, tinha um relatório na mesa do chefe", conta.
De volta aos Estados Unidos‚ em 1963, ele morou no Village, em Nova York, e cantou em bares. Com suas performances, roupas extravagantes e o rebolado, agradava ao público. "Pouco estudei música", diz. "Mas canto, grito, pulo e requebro." Nessa época, conheceu Janis Joplin, freqüentou a casa de Jim Morrison, líder do The Doors, foi a Woodstock e viu Jimi Hendrix. "Éramos movidos a incensos e Jack Daniel's", conta.
Quando o pai adoeceu, em 1973, Serguei voltou ao Brasil. A família mudou-se para Saquarema, na Região dos Lagos, Rio, onde o roqueiro vive. "Fiquei com ele até o fim", conta. "Lia para ele, fazia sua barba." Há quatro anos, perdeu a mãe. Hoje, não tem rotina, fora os 45 abdominais diários. "Sou vaidoso. Fui um dos primeiros a usar interlace nos cabelos no Brasil", diz ele, bissexual assumido.
Ele vive num apartamento de paredes pretas. Faz shows no Norte e no Nordeste. "Num mês razoável, ganho de R$ 3 mil a R$ 4 mil ", conta. O único rendimento certo são os dois salários mínimos que recebe do INSS como autônomo. Serguei ostenta o título de artista oficial do grupo de motoqueiros Hell's Angels no Brasil. Sua discografia é distribuída para integrantes do Hell's no mundo. Na única vez em que andou de moto, porém, caiu e ficou uma semana no hospital, com um coágulo na cabeça.
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