terça-feira, 17 de agosto de 2010

A pelada do mês: Cléo Pires.


"Não botei silicone. Existe esse boato. Nós, mulheres, mestruamos. Então, a gente fica mais inchadinha. Inclusive no ensaio do Bob (Wolfensonn, fotógrafo) eu menstruei. Comparada com a foto da (revista) 'Trip', que eu fiz no ano passado, estou mais inchadinha, com uns quilinhos a mais."

"Tive apenas 4 dias para fazer os dois ensaios. Se eu tivesse tido um pouco mais de tempo eu teria intensificado a yoga.”

“Os dois ensaios foram muito divertidos de serem feitos. Os fotógrafos eram engraçados e eu não precisei de nenhum artifício para ficar à vontade."

"Eu sou eu, as decisões são pessoais. A minha mãe é uma mulher que eu admiro, ela tem uma personalidade forte assim como a minha avó, mãe dela, e a minha avó, mãe do Orlando. Minha mãe não me incentivou, mas também não tomou nenhuma postura contrária. Ela falou: ‘você está feliz? Então eu também estou.”

"Eu era um monstro, bem feia quando era menina. Atualmente tem dias que me acho linda, mas tem outros que me acho só 'ok'."

"Amo tatuagem. gosto de marcar na pele". A tatuagem da coxa tem a ver comigo porque fala sobre essa história de querer se transformar. Eu já tive vontade de fazer essa tatuagem real, mas como é muito grande, deixei quieto. Quem sabe um dia mais pra frente.”


As últimas palavras [protestantes] de Baden Powell.



De onde vem o lado afro dos afro-sambas?

Baden Powell: Já está na veia. Afro é todo o Brasil. Está dentro da gente. Eu e Vinicius gostávamos. Nessa época eu estava estudando os cantos gregorianos, os modos litúrgicos. Fazia composições em cima deles, quando estudava com Guerra Peixe (arranjador e regente do LP "Os Afro-Sambas", de 66). Os cantos africanos são idênticos aos gregorianos, é impressionante. Não sei por que é assim, parei de estudar isso. Porque sou evangélico agora. Os caras pensam que fizemos música para macumba, candomblé. Não tem nada disso, não. É coisa de cultura.

Qual era sua religião na época?

Baden Powell: Não, não tem nada a ver. Podia ser o que fosse. Vinicius era ateu. Não precisa ficar embaixo da macumba para poder tocar violão. Tem é que estudar, não pense que vai tomar duas garrafas de cerveja e sair tocando violão. Não vai acontecer nada. Sempre tive uma simpatia por aquele negócio de macumba, candomblé. Como todo católico, né? Daí nasceram os cantos que comecei a fazer com berimbau.
Fiz um exame com Guerra Peixe com um canto gregoriano, vi que parecia um canto de sereia do mar. Aí virou "Canto de Iemanjá". É uma imagem que existe no Japão, na China, há mais de 10 mil anos. Afro-samba é um tipo de música que existe no Brasil, como o samba lento, o samba-canção, o samba de Carnaval, o samba-choro, o samba-lamento... Esse último é ligado ao afro-samba, que tem aquela escuridão do afro, o lamento. Ficou esse estigma, mas nossos afro-sambas não inventaram nada. Agora estou fazendo um outro estudo sobre cantos gregorianos, para uma série de músicas evangélicas.

Aí entra o afro de algum jeito também? Sua religião não gosta muito disso.

Baden Powell: Tem de entrar. Eu não tenho religião.

Você disse que era evangélico.

Baden Powell: Sou evangélico. Minha religião é Cristo. A briga dos evangélicos é com o candomblé mesmo, não com a música. Você pode tocar o que quiser.

Por que você virou evangélico?

Baden Powell: Por quê? Sabe por que eu fiquei evangélico? Porque quis saber demais. Assim como fui à procura dos afros, continuei querendo a sabedoria. Quando cheguei lá num ponto de sabedoria, vi que esse negócio de candomblé é uma grande mentira. Aí parei.

Você gravaria os afro-sambas hoje em dia?

Baden Powell: Gravo. Só alguns não posso gravar, né? O "Samba da Bênção", por exemplo. Não digo mais saravá. Posso tocar o "Samba da Bênção", mas não falo saravá, porque é um louvor a satanás.
Critica quem o faz?

Baden Powell: Não, meu filho. Não critico, não. Isso é uma questão de sabedoria. Não posso louvar, mas posso falar sobre o caso e tudo. Está entendido? "Berimbau" e "Consolação" são afro-sambas, posso fazer. "Canto de Iemanjá", não, estaria contribuindo para uma coisa errada. A música, se existe, ela existe, não tem problema. Posso tocar no violão, mas não é o caso. Não é proibido, interditado, nada disso. Posso até falar muito bem, mas não louvo.
Você conhece as gravações dos afro-sambas por Paulo Bellinati e Mônica Salmaso?

Baden Powell: Conheço. Muito bom, muito bom. Eles exaltaram, isso aí faz parte da literatura brasileira. Não pertenço à religião deles, isso é uma coisa separada. O que não pode é dividir, ser isso aqui e ir também na macumba.

Qual é seu ritmo atual de composição?

Baden Powell: Tenho composto pouco e gravado pouco. Não estou me situando para que lado vai a música. Esse negócio de fundo de quintal está esquisito. Como compositor, conheço muito bem meu país. Nada me surpreende, mas é uma pena. O CD que foi feito aqui, com meus filhos (em 95, pela Cid), me deixou uma espinha atravessada na garganta. Não gostei, não está bom. Erraram a capa. É mal gravado, malfeito, mal dirigido, mal tudo. Aí fui ao Japão e gravei outro para lavar a alma.

Por que você está gravando discos com seus filhos?

Baden Powell: Porque é minha obrigação ensinar os bichinhos a engatinhar, né? Tocam bem, merecem.

Você trabalhou pouco com Tom Jobim e João Gilberto.

Baden Powell: Sim. Nem tinha como. Tom Jobim era compositor, eu também. João Gilberto é violonista, eu também. Trabalhei muito com Tom em bastidores, na casa dele, escrevendo arranjos. Amizade, tive muita. Sou amigo do João. Ele dificilmente sai, falamos umas duas vezes por ano. Tenho muito poucos amigos músicos. Minha atividade é um pouco solitária.

Houve períodos com parceiros definidos, como Vinicius e Paulo César Pinheiro.

Baden Powell: Sim. A gente precisa de letras. O compositor sabe a música que é para ser instrumental e a que é para ser cantada. Quando é para ser cantada, a gente procura um letrista que seja parceiro e amigo, que tenha uma grande intimidade. Senão, não sai legal.

NÃO RECOMENDO: ALEXEI BUENO.

Trecho do livro “Uma história da poesia brasileira”, de Alexei Bueno, em que o autor destrata moralmente a poesia de Bruno Tolentino.

Após um rumoroso processo pela publicação de um livro inteiramente plagiado, em 1957, Infinito Sul – cujo título era de Sílvio Castro e os poemas de Celina Ferreira, Walmir Ayala, Afonso Félix de Souza e outros – e a publicação de Anulação e outros reparos, em 1963, o poeta carioca Bruno Tolentino (1940-2007) se afastou por três décadas do Brasil, retornando em 1993. A sua volta marcou a entrada na cena literária nacional do maior mitômano nela aparecido pelo menos desde a chegada de Antônio Botto, o poeta português, muito amigo de Fernando Pessoa, que aqui desembarcou nos anos de 1950, casado, apesar dele mesmo se intitular “o primeiro paneleiro oficial de Portugal”, e distribuindo elogios bombásticos sobre a sua obra, assinados pelos maiores autores universais da época, mas todos escritos por ele mesmo. Em pouquíssimo tempo Tolentino declarou em público que fora casado com a filha de Bertrand Russell (que deveria ter idade para ser sua avó), com a neta de Rilke, com a neta de René Char, além de ter sido astrólogo em Los Angeles por doze anos, ter vivido uma década em Alexandria, ter trabalhado como genealogista na Inglaterra, ter sido secretário pessoal de Auden, ter dado aulas por onze anos na Universidade de Oxford, e finalmente, isso um pouco depois, ter sido encarcerado por tráfico de drogas na Ilha do Diabo, para nem falar da sua origem na alta aristocracia, na sua mansão familiar e suas preceptoras inglesas, tendo nascido, na verdade, na mais banal classe média tijucana, filho de militar, e tendo vivido a adolescência num pequeno apartamento do mesmo bairro e em Niterói. Só na terra onde foi escrito “O homem que sabia javanês” tal conjunto de afirmações seria deglutido naturalmente como o foi, inclusive pela grande imprensa. A mitomania em si não desqualifica qualquer artista, mesmo um homem de gênio como o cineasta Mário Peixoto tinha fortes traços mitômanos, e isso tudo serve apenas como um índice da impossibilidade de se conhecer a biografia de um indivíduo que, somados os eventos pública e notoriamente por ele narrados, deveria ter perto de trezentos anos de idade. Após manter uma ruidosa polêmica com os concretistas, justamente num dos melhores aspectos deles, a tradução de poesia, reestreou com As horas de Katharina, em 1994. Com Os sapos de ontem, de 1995, atacando novamente os concretistas paulistas, se revelou um satírico interessante. Os deuses de hoje, do mesmo ano, compunha-se de poemas políticos, justificados por uma falsíssima luta sua contra a ditadura militar – mais um falso exilado – e não alcançou maior repercussão. Seguiram-se A balada do cárcere, em 1996, O mundo como Idéia, de 2002, e A imitação do amanhecer, de 2006, escrito em pretensos alexandrinos que nunca o foram. Toda a poesia de Bruno Tolentino é vazada numa musicalidade característica, dominada por uma espécie de vício do enjambement que chega a criar poemas quase inteiros sem que uma oração termine no final de um verso. Essa espécie de “realejo de enjambements”, monocórdio ao extremo, perpassa por quase tudo o que escreveu, lançando mão de uma técnica bastante defeituosa: versos de pé-quebrado, especialmente pelo uso e abuso de ectlipses, elisões romanas e inúmeras rimas consoantes que não o são. Vez por outra, em meio dessa grafomania versificatória tediosa e obsessiva, espécie de música de feira, surge um grande momento lírico, que não salva o essencial vazio de fundo que domina o conjunto, sem se falar da total inadequação entre um periódico coloquialismo e o tom geralmente elevado do verso. A sua poesia, na verdade, e qualquer leitor médio o percebe, é conduzida pelas rimas e pelo ritmo, e não o contrário, como qualquer poesia digna desse nome. Verdadeiro personagem de romance, com um talento verbal e histriônico espantoso, mas de repertório curto, um dos fatos mais interessantes da sua imponderável biografia é ter voltado para o Brasil dizendo-se exilado da ditadura militar e trazendo mesmo um livro sobre o assunto, após o fracasso do qual terminou seus dias – há quem diga que não morreu, quem garanta que ele está vivo – venerado pela mais rançosa extrema direita nacional.

Vista cansada, Otto Lara Resende.



Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre,
Foto: Evgen Bavcar
pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

É em momentos depois de ter sonhado, e. e. Cummings.

É em momentos depois de ter sonhado
com o raro entretenimento dos teus olhos,
quando (ficando aquém da ilusão) tenho pensado

na tua singular boca que o meu coração tornou sábio;
em momentos quando a cristalina escuridão sustenta

a verdadeira aparição do teu sorrir
(foi por entre lágrimas sempre) e o silêncio molda
essa estranheza que ainda há pouco como minha pude sentir;

momentos quando os meus outrora mais ilustres braços
estão cheios de encantamento, quando o meu peito
usa a intolerante luminosidade do teu regaço:

um agudo momento mais branco do que os outros

- voltando da terrível mentira do sono
vejo as rosas do dia crescerem recônditas.

Link de Enciclopédia: Satanismo.

O termo Satanismo sugere várias interpretações. Desde a Idade Média, é usado para designar as crenças do período pré-Cristão ou as religiões não cristãs, como a Wicca. Há ainda conotações contemporâneas associando o satanismo a uma filosofia, adoração ao Diabo etc.

Fundamentalmente, o Satanismo é um estilo de vida de aplicação prática. Sua essência baseia-se na idéia de que cada ser humano, em sua individualidade, é uma divindade; capaz de alcançar altos níveis de evolução, desde que não esteja preso a nenhum dogma religioso que subtraia seus reais valores primitivos. Portanto, cada indivíduo tem a liberdade espiritual e filosófica de criar e desenvolver seus critérios, sendo ele seu próprio sacerdote, salvador e deus. Neste caso, o Satanismo não está associado à adoração ao Demônio ou oposição ao Cristianismo.

Luciferanismo

O Luciferanismo pode ser considerado uma derivação da filosofia empregada no Satanismo. Seus seguidores não cultuam Lúcifer (Lúcifer é visto como um Anjo, e não como a personificação do mal no cristianismo), mas o vêem como uma referência para alcançar a Iluminação Espiritual. Sendo que a origem de seu nome significa Portador da Luz.

Satanismo Gótico

Neste caso, o termo Gótico é sinônimo de Medieval. Esta variação faz parte apenas das lendas criadas na Idade Média pela Igreja Católica para atemorizar os cristãos e servir de acusação nos processos inquisitórios. O caso das Bruxas de Salém em 1692, é um exemplo. Nesta variação lendária do Satanismo, seus adeptos sacrificavam crianças e animais em rituais de magia destrutiva.

Dabblers Satânicos

Está principalmente associada aos modismos adolescentes. Seus adeptos ensaiam rituais esporádicos de magia utilizando-se do sacrifício de pequenos animais. É essencialmente uma forma de anticristianismo, onde os Dabblers (aficionados) adoram o demônio conhecido no cristianismo e se camuflam sob uma condição que julgam satânica. Igualmente chamado de Devil Worshippers (Adoradores do Demônio), também está associado a delinqüentes que alegam cometer os crimes motivados por Satã.

Satanismo Religioso

É a forma mais difundida de Satanismo. Possui dogmas e a bíblia satânica. Também abriga aspectos místicos e cerimoniais, como batizado e casamento, que o caracterizam como uma religião. Porém, não há uma divindade cultuada nem conceitos sobre céu e inferno, bem e mal ou deus e diabo. A Church of Satan e o Temple of Set são exemplos do satanismo religioso.

Anton LaVey e a Igreja de Satã

Anton Szandor LaVey nasceu na cidade de Chicago, em 11 de abril de 1930. Esta é uma das poucas informações coerentes sobre sua vida. De resto, há um grande conflito em sua biografia. LaVey teria recebido ensinamentos ocultistas de sua avó cigana. Ainda teria viajado para a Alemanha ao lado de um tio, e trabalhado em circos, cabarés e até mesmo na Polícia de San Francisco. LaVey também teria vivido romances com as atrizes Marilyn Monroe e Jayne Mansfield.

Em 30 de abril de 1966, foi fundada a Igreja de Satã (Church of Satan) por Anton LaVey. Apesar de já haver grupos como o Hell Fire Club e o Abbey of Thelema, que cultivavam uma linha semelhante, a Igreja de Satã foi a primeira organização reconhecida como religião dedicada às filosofias satânicas, e considerada a precursora do satanismo moderno. É provável que o nome Church of Satan tenha sido adotado como uma forma de causar um impacto polêmico e chamar a atenção da imprensa. As "Missas Satânicas", que eram paródias das missas cristãs, possivelmente foram criadas com o mesmo objetivo. Portanto, seriam apenas recursos publicitários empregados por LaVey.

Assim, a Igreja de Satã recebeu uma atenção muito grande por parte da sociedade e da imprensa americana, logo atingindo uma notoriedade mundial. LaVey passou a ser considerado o Papa Negro e sua esposa Diane Hegarty, foi nomeada Suma Sacerdotisa.

Em 1º de fevereiro de 1967, ocorreu em San Francisco a cerimônia de casamento entre John Raymond, jornalista político, com Judith Case, filha de um conhecido advogado de Nova York. Apesar de não ser o primeiro casamento satânico realizado por Anton LaVey, a fama de John e Judith serem de famílias abastadas, despertou grande interesse e a cerimônia tornou-se um evento amplamente coberto pela imprensa.

Em maio do mesmo ano, LaVey conduziu o batismo de sua filha de três anos, Zeena. Foi o primeiro batismo satânico da história. Zeena vestia um manto vermelho e usava um medalhão com a imagem de Baphomet, enquanto seu pai recitava uma invocação que futuramente foi incluída no livro Satanic Rituals.

Em 1969, a Igreja já contava com 10 mil adeptos em todo o mundo. Anton LaVey publicou The Satanic Bible, que se tornaria a principal referência do Satanismo. Ainda seguiram-se The Compleat Witch em 1970 (posteriormente revisto e editado como The Satanic Witch) e em 1972, The Satanic Rituals.

A Igreja desenvolvia sua estrutura e hierarquia nas décadas de 70 e 80. Em 1984, Anton LaVey separa-se de Diane e sua filha Zeena ocupa a posição de Suma Sacerdotisa. Nesse período, as Missas Negras e outras cerimônias deixam de ser realizadas devido a intolerância de grupos cristãos. Anton LaVey passa a administrá-la apenas através do Boletim Oficial The Cloven Hoof. Em 1988, este informativo foi extinto e algumas publicações independentes tornaram-se a forma de interagir os adeptos em diversas partes do mundo. Ainda houve um grupo que se desligou da Igreja e formou o Temple of Set (relativo à divindade egípcia Set). Anton LaVey faleceu em outubro de 1997 devido a um edema pulmonar. Atualmente, a Igreja é presidida por Peter Gilmore.

Baphomet, Pentagrama e a Cruz Invertida

Em meio às diversas polêmicas que compõem o tema do satanismo, alguns pontos não ficam totalmente esclarecidos. Por exemplo, a representação de uma cabra com corpo humano encontrada nos cultos do satanismo religioso é denominada Baphomet, que já era conhecida desde os tempos pré-cristãos. Portanto, não possui nenhuma relação com o demônio conhecido no cristianismo. Para os satanistas, Baphomet é uma energia da natureza que os motiva a conseguir seus objetivos. Neste caso, a cabra com corpo humano e asas simboliza força, fertilidade e liberdade, características muito valorizadas pelos povos pagãos.

O pentagrama é um símbolo encontrado originalmente nas culturas pré-cristãs com diversos significados. No caso do satanismo religioso, é utilizado com duas pontas voltadas para cima, simbolizando a face de Baphomet.

A origem da cruz invertida nos remete a São Pedro, que não se julgava digno de morrer como Jesus e pediu para ser crucificado de cabeça para baixo. Este símbolo é encontrado na Basílica do Vaticano, no trono ocupado pelo Papa, etc. Porém, a Cruz invertida também foi adotada por grupos que se intitulam satanistas ou anticristãos.


Celso Masson comenta OK COMPUTER, Radiohead.

O rock está se recuperando das bordoadas que tem levado da música eletrônica. Nos últimos tempos, o som feito por computadores virou uma coqueluche mundial, com novos grupos do gênero quebrando recordes de vendagem. A vingança roqueira apareceu através de um excelente disco, OK Computer, o terceiro do grupo Radiohead, de Oxford, Inglaterra. Lançado no Brasil no início d 1997, o CD ganhou a cotação "excelente" da revista Rolling Stone, a bíblia do rock, e agitou o mercado.

Numa decisão pouco habitual por parte dos executivos da indústria fonográfica, a gravadora do grupo concordou em lançar, como prévia do CD, uma faixa de seis minutos e meio de duração, cheia de alternâncias de ritmo e sem refrão algum. Fora dos padrões radiofônicos, a música, Paranoid Android, foi recebida com entusiasmo.

OK Computer, disco que traz no título uma ironia à atual febre eletrônica na música, é uma daquelas obras-primas que custam a aparecer no rock. Por ter saído justamente numa época em que o gênero cambaleava e por conter munição suficiente para enfrentar a hegemonia da dance music, ele é ainda mais importante.
Sem a ambição de tornar-se um estouro de vendas no mundo todo, e sem falar besteiras em nome do marketing, como fez o guitarrista do grupo Oasis, o Radiohead sabe que gravou um CD pouco convencional. Ainda assim, ele é capaz de agradar logo à primeira audição. "A reação unânime a esse disco é algo especial.

O Radiohead está mudando a costumeira aceitação a certos tipos de música", disse um diretor da gravadora Parlophone à revista Billboard. Ele se refere ao resgate de coisas que já existiram no rock mas andavam fora de moda, como a idéia de "álbum conceitual" ou o termo "art rock", atualmente vistos com desdém.

Surpresas -- O que há de tão especial em OK Computer para reabilitar aquilo que já havia sido enterrado no cemitério do rock é a maneira criativa como o Radiohead reprocessa suas influências -- pouco óbvias, diga-se. Incorporando a sofisticação dos arranjos que se ouvem nos discos do grupo King Crimson, a narrativa épica das trilhas sonoras de Ennio Morricone e a densidade orquestral das sinfonias do polonês Penderecki, o Radiohead não padece da falta de idéias próprias.
Pelo contrário, assume que um caminho viável para o rock é beneficiar-se de contribuições oriundas de outros estilos. O líder do grupo, Thom Yorke, costuma dizer que colocou instrumentos de corda no CD porque não se conformava com a idéia de esse tipo de sonoridade ser usada de forma imutável desde que os Beatles gravaram Eleanor Rigby, nos anos 60.

Ao propor novas soluções sonoras para o rock, o Radiohead traz o gênero de volta ao palco das experimentações, rompendo com a crueza que sobrevivia mesmo à derrocada do som grunge. É algo novo, não uma volta ao passado.

Uma prova de que o Radiohead olha para o futuro está na faixa Climbing Up the Walls, em que o acompanhamento é feito por uma combinação de ruídos. Em vez de torturar o ouvinte, esse recurso torna a música mais envolvente. Com melodias que entusiasmam e arranjos que guardam surpresas a cada faixa, OK Computer é o grande disco de rock dos últimos tempos.

Música + máquina vai parar na cabeça via palma da mão, Lucas Santtana.

A música é uma necessidade humana e existencial? Ecos dos nossos antepassados? Um calmante para o cotidiano feroz e barulhento das grandes cidades?, ou uma compulsividade atrelada à tecnologia? Me arrisco a dizer que tudo ao mesmo tempo e muito mais.

Seja no carnaval, no elevador, na sala de espera do dentista, na tv, no carro, na academia, no cinema, na bicicleta, na corrida, no bar, e toda hora e sempre, sua presença é tão onipresente que entendo quando o poeta Antônio Cícero reclama da falta de um pouco mais de silêncio.

Mas mesmo “todo silêncio é grávido de som”, como pregou John Cage. O compositor Erik Satie, já no século 19, considerava os sons ambientes que estão a nossa volta como música.
A questão que se coloca nos dias de hoje é que nunca foi tão fácil e barato (para não dizer de graça) o acesso à música e à portabilidade em relação a ela. Até bem pouco tempo não era possível carregar todos os cds da sua casa dentro de um bolso. E com isso nunca se ouviu tanta, e todo tipo, de música no mundo.

A audição hoje em dia é feita sobretudo em aparelhos portáteis e móveis como o celular e o ipod. As pessoas agora ouvem música dentro de suas cabeças.

O que antes era fácil para a indústria fonográfica, hoje se tornou mais complexo. Não basta apenas por os meninos para ver televisão e gastar sua mesada na loja de Cds do shopping(até porque essas lojas estão acabando) consumindo o que dizem ser o artista ou banda do momento.

Agora todos eles sabem de cor todos os códigos da cultura digital, e para quem convive ou conhece qualquer adolescente hoje em dia, sabe que o conhecimento musical deles explodiu. Nem precisamos ir tão longe, pense na quantidade de artistas e estilos que você teve acesso nos últimos anos e quanto tempo demoraria para isso acontecer se dependêssemos apenas de lojas e discos.

As músicas que nos seduzem agora não precisam mais ser hits de mercado, elas estão cotidianamente passando de blog em blog, email em email, msn para msn, twitter a twitter, e vão invariavelmente desaguar num aparelho na palma da mão.

Uma música para ser um hit só precisa ser boa. E rodar e rodar e rodar dentro da sua cabeça e do seu coração.

Os médicos reclamam que tantas horas com fones no ouvido causam danos a audição. Mas assim como o ar que respiramos, a comida que comemos e o trânsito que fazemos, nós também somos produto das merdas que criamos. E não desfrutamos apenas do lado negativo disso não é mesmo?

Felizmente a música não vive só de merda. Muito pelo contrário, com o acesso fácil, a deusa roda o mundo.

Hoje é comum ouvir o grupo Buraka Som sistema tocar Kuduro (música eletrônica angolana) em qualquer boate de Lisboa; ouvir Hiplife (mistura de Highlife e Hip hop), espécie de Dance hall africano, no Canadá ou Reino Unido. O Afrobeat da banda Nomo, composta por jazzistas brancos do Michigan-u.s.a, ou baixar os mp3 da gravadora alemã Man recordings, especializada em funk carioca.

Hoje o som chega primeiro que a imagem, que a indústria, que o marketing. É só um amigo dar um copy e paste e é você que irá decidir sozinho se aquela música vai para o trono do seu itunes ou para a lixeira.

Hoje é assim, máquinas fazem cópias, fones nos ouvidos, música fazendo a cabeça e a imaginação indo longe.....

Ou como diz uma letra minha:

“Get out of hand
it’s all mixed up
free copy machine
count me in
go go go go go
who can say which way”

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Reconheça: Zimbo Trio.

O mais longevo conjunto instrumental brasileiro é também uma admirável máquina instrumental jazzística. Formado por Amilton Godoy (piano), Luiz Chaves (contrabaixo) e Rubens Barsotti (bateria) em 1964, durante a fase áurea dos trios instrumentais de bossa nova (da qual fizeram parte também o Tamba Trio, o Jongo Trio e outros), o Zimbo Trio sempre manteve a mesma formação ao longo de quase quatro décadas de atuação. A carreira do grupo deslanchou em 1965, quando se tornou o conjunto oficial do programa O Fino da Bossa, da TV Record, acompanhando cantores e cantoras que estavam despontando naquela época, como Elis Regina.

De lá para cá, o Zimbo recebeu um sem-número de prêmios, gravou a trilha sonora de diversos filmes, e realizou turnês por todos os continentes. Além de Elis, o grupo tocou também com Elizeth Cardoso, Hector Costita, Sebastião Tapajós, Leila Pinheiro, Leny Andrade, Heraldo do Monte e Lee Konitz, entre outros. O maestro e compositor Cyro Pereira (hoje na Orquestra Jazz Sinfônica) escreveu o Concertino para o Zimbo Trio, onde o trio é acompanhado por orquestra sinfônica. Os integrantes do Zimbo também fundaram (em 1973) e dirigem até hoje uma bem-sucedida escola de música, o Centro Livre de Aprendizagem Musical (CLAM), responsável pela formação de não poucos talentos da música brasileira vocal e instrumental, entre os quais a pianista Eliane Elias.

A música do Zimbo Trio, baseada na bossa nova e na MPB, possui uma forte conotação jazzística, principalmente no que concerne à improvisação e às inter-relações que os três instrumentos estabelecem entre si. O piano de Godoy improvisa com admirável desenvoltura e riqueza harmônica. O contrabaixo de Chaves proporciona uma base harmônica segura, e ocasionalmente se faz eloqüente e cantante, tocado com arco. A bateria de Barsotti fornece uma base rítmica precisa e com acentos às vezes surpreendentes.

Autor de uma extensa discografia (mais de 40 títulos), o grupo influenciou várias gerações de músicos brasileiros. Pode-se dizer que o Zimbo Trio está na origem daquilo que se pode denominar o "jazz brasileiro" moderno (ou, mais precisamente, a música popular brasileira contemporânea instrumental). Discos como Zimbo interpreta Milton Nascimento, de 1986, Zimbo Trio, de 1992, ou Aquarela do Brasil, de 1993 - para citar apenas alguns exemplos - contêm interpretações jazzísticas maiúsculas, que fazem pensar em McCoy Tyner (o pianista de John Coltrane), nos trios de Bill Evans, no Modern Jazz Quartet.

Quatro das 21,2 mil ruas da capital concentram 3,4% das mortes.

Em apenas quatro das 21,2 mil ruas de Salvador aconteceram 3,4% dos 736 assassinatos catalogados entre fevereiro e junho deste ano, de acordo com dados internos da Secretaria da Segurança Pública (SSP) conseguidos com exclusividade por A TARDE. A Rua de Nova Constituinte, em Periperi, lidera o ranking das mais violentas com nove dos 131 homicídios ocorridos em todo o subúrbio ferroviário naquele período.

A Avenida General San Martin (seis assassinatos), Gal Costa (cinco) e o Viaduto dos Motoristas (cinco) ocupam, respectivamente, os segundo, terceiro e quarto lugares no ranking. As vítimas são, em geral, negros, com idades entre 20 e 35 anos, moradoras da própria comunidade ou regiões próximas onde ocorreram os assassinatos. As localidades, em geral, carecem de direitos básicos a serem assegurados ao cidadão como saneamento básico, posto de saúde e escolas públicas.

Para se ter uma ideia, levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Censo 2000/ IBGE), feito para o governo do Estado e Prefeitura do Salvador, publicado em 2010, indica que 31,41% dos chefes de família de Nova Constituinte ganham de meio a um salário mínimo. Com população de 11,2 mil, a região não tem escolas de ensino básico e 36% dos domiciliados estudaram de quatro a sete anos.

Na avaliação do delegado Nivaldo Dórea, que atuou durante oito anos como titular da 5ª CP (Delegacia de Periperi) e hoje é delegado adjunto, a disputa por pontos de tráfico de drogas é determinante para o alto índice de homicídios na localidade. “São vários grupos tentando tomar os pontos uns dos outros. Na verdade são marginais se matando entre si”, ponderou. Ele admite que Nova Constituinte é uma localidade com maiores índices de criminalidade. O delegado Antônio Carlos Santos Magalhães, que assumiu a titularidade da unidade em 23 de junho último, diz que vai concentrar o foco no combate aos assassinatos. “A gente tem que acabar com essa sensação de impunidade”, comentou.


INTERNET DE PAPEL, Julio Medaglia.

Há pouco tempo, eu estava hospedado num resort em Ilhéus, onde faria uma conferência a um grupo de empresários de uma multinacional. Rodeado de simpatia, comidas e quitutes baianos, tendo pela frente as mais belas paisagens, tinha a sensação que o paraíso era aqui na Terra. Tranquilamente refestelado numa rede, ouço à distância uma gravação de um adagio barroco executado por uma clarineta. Aquela simples melodia, que sonorizava discretamente o ambiente, começou a me perturbar. Cheguei a ficar arrepiado. Passou-se algum tempo, eu diria meio a um minuto, até que eu me situasse e compreendesse o motivo daquele incômodo, daquele alvoroço emocional. Lembrei-me, primeiro, que aquela música era uma ária de uma ópera de Händel, depois, que eu a havia tocado ao violino quando tinha 15, 16 anos, numa de minhas primeiras apresentações públicas no bairro onde vivia. A igreja da Lapa paulistana havia adquirido um magnífico órgão de tubos e o padre permitiu que eu solasse algumas melodias na missa das 11 de domingo. A emoção foi enorme. Orgulhosamente eu desfilava com o violino pela nave da igreja e tinha a impressão que todos iam me aplaudir e que, a partir de então, poderia namorar qualquer menina do bairro...

Mas, o curioso dessa historieta, não é o fato de essa sensação ter ficado armazenada, sem que eu soubesse, por mais de 50 anos nas profundezas de minha alma, sensação essa despertada no momento e da maneira mais inusitados. O interessante, é aquele filete sonoro penetrar nos meus ouvidos, sem que eu o identificasse de imediato, chegar à minha alma, provocar um rebuliço emocional e só depois de algum tempo eu me dar conta do motivo. Ou seja, ocorreu uma relação direta, um diálogo do som com minha emoção e só mais tarde com a razão. É o inexplicável feitiço do som.

É fácil, portanto, compreender por quê não se tem notícias de uma civilização que não tenha cultivado a música. Sabe-se que o som, nas mais longínquas sociedades era usado para comunicação. Inicialmente através do simples uso da voz, depois percutindo objetos uns nos outros, em seguida esticando uma pele de animal num cilindro de madeira para criar um tambor, assoprando num tubo, aprendendo a manipular uma corda vibrando e assim por diante. Compreendendo esse poder mágico do som, imaginou-se que, através dele, pessoas poderiam ser influenciadas. Assim, ele passou a ter "utilidade". Com sua ajuda, motivou-se o ser humano ao trabalho, à guerra, ao amor pátrio, à religiosidade, à sensualidade, ao humor, a compreender uma narração dramática e assim por diante. Ainda hoje, em sociedades primitivas, a música é usada como objeto de utilidade comunitária. O músico brasileiro Egberto Gismonti fez, certa vez, uma experiência com nossos índios. Instalou-se no seio de uma tribo para conhecer sua música e costumes, afim de utilizá-los em um de seus projetos composicionais. Para estabelecer um dialogo com a comunidade, Egberto levou sua trupe, montou seus instrumentos eletrônicos numa taba e mostrou suas composições. Quando uma delas provocou interesse especial nos índios, eles se aproximaram dos instrumentistas e, tentando entendê-la, perguntavam insistentemente: "pra que serve isso aí?..."

Ainda nos dias atuais, mesmo em sociedades as mais civilizadas a música é muitas vezes associada à uma situação - como trilha sonora de um filme ou novela de TV, numa solenidade religiosa ou cívica - embora seja consumida, na maioria das vezes, como mero entretenimento auditivo.

Em sua historia, a organização dos sons em forma de música passou por várias transformações estruturais e diversas maneiras de relação com o ouvinte. Gostaria de citar três momentos e fatos, que considero os mais significativos, curiosamente todos tendo como epicentro a Itália. O primeiro deles, talvez o mais importante, se deu no séc. XI quando o ser humano, que tinha as composições musicais armazenadas em sua mente e as passava boca-a-boca a outras pessoas, se deu conta que elas poderiam ser colocadas num papel. Identificando uma lógica matemática nas figuras rítmicas e melódicas das canções, o monge Guido D'Arezzo criou figuras gráficas - notas, ritmos, claves, pentagramas, sinais, nomenclaturas - que as representavam em detalhe. Pela primeira vez a música sai da mente humana e se transforma num objeto palpável, fora dela. Assim, o compositor tendo as idéias materializadas diante de si, semelhante a um escultor ao manipular a argila, podia trabalhar nelas, transformá-las, desenvolve-las, corrigi-las, substituí-las, ampliá-las, guardá-las, retomá-las em outra época e assim por diante. Isso provocou uma incrível evolução técnica e artística na criação musical que não cessou até os dias atuais.

Com a leitura e execução dos símbolos sonoros, muitos músicos podiam também conhecer uma obra e executá-la imediata e conjuntamente. E mais. A composição pode ser enviada a intérpretes distantes, a outros países, sem que alguém precisasse ir lá cantarolar uma melodia no ouvido de um músico. Com isso, as idéias musicais se disseminaram com facilidade e rapidez por todo o continente europeu e pelo mundo sem a presença do autor. Uma verdadeira internet de papel...

Com isso, as composições se tornaram perenes pois ficavam documentadas. Quase tudo que se compôs antes da transformação da música em símbolos gráficos morreu. O que se criou a partir daí, permanece até os dias de hoje. Outra contribuição importante desse fato foi que, com isso, os autores saíram do anonimato, já que seus nomes vinham grafados ao lado de suas criações. Ou seja. No início do segundo milênio, nasce a figura do compositor. A escrita musical se transformou numa espécie de "planta" da música. Tão completa ela é em informações que os compositores passaram a analisar esse verdadeiro "DNA da composição" alheia para se auto-aperfeiçoarem, evoluírem, aprenderem novas técnicas ou não repetir o que outro já haviam feito antes. Bach mandava buscar partituras de Vivaldi, as transcrevia de várias maneiras a exaustão para assimilar o vigor da música instrumental dos italianos. Ainda hoje nos grande conservatórios do mundo e os melhores professores usam essa investigação da escrita como o melhor método de composição.
A mesma iluminada Itália foi o berço de outro fenômeno, que mudou a historia das artes, este de natureza estética, exatamente no período de passagem da chamada Idade Média para a Idade Moderna: a Renascença (séc. XIV ao XVI). Aí, em consequência dessa evolução das técnicas composicionais, o ser humano começou a contemplar a música independentemente de suas "funções". Ela deixava de ter apenas "utilidade" e passava a ser ouvida por sua beleza. Isso mesmo. Nesse momento foi descoberta a "música pura". Melhor dizendo, foi inventada a "beleza".

Como a maior parte da música mais elaborada era financiada pela igreja católica - aliás, data desse período a cisão entre uma chamada "música erudita" e "música popular" - os compositores eram requisitados para compor obras musicais para os ritos religiosos. As partes fixas da missa, por exemplo, que tinham textos que se repetiam em todas as solenidades (kyrie, gloria, credo, sanctus, benedictus e agnus dei), eram musicadas pelos compositores.

Com a evolução da cristalinidade e desenvoltura das vozes superpostas, que perfaziam harmonias e contrapontos belíssimos, a música começa a atrair cada vez mais os fieis às igrejas. Só que a Santa Sé passou a ter "ciúmes" do sucesso dos autores. Tinha ela a sensação que as pessoas iam a igreja para curtir o delírio sonoro, psicodélico, daquelas criações de Palestrina, Gesualdo ou Monteverdi e não para rezar. Depois de algum tempo chegaram a censurar os autores, obrigando-os a compor uma música "homofônica" - só de acordes sucessivos com textos paralelos em todas as vozes - para que os fieis se concentrassem no conteúdo das palavras da mensagem religiosa. Mas foi em vão. A A beleza musical disseminou-se por todo o Continente Europeu, em igrejas ou não, e o feitiço sonoro, independente de uma possível ligação com uma idéia extra-musical, triunfou - aliás, até hoje...

Um outro fenômeno ocorrido logo depois da Renascença, na mesma península, mudou mais uma vez o conceito de música. Foi o advento da música instrumental. Toda a beleza da expressão musical renascentista - religiosa ou profana - era essencialmente vocal. Os primitivos instrumentos que existiam até então e que eram proibidos de entrar nas igrejas, eram usados apenas para apoiar os efeitos vocais e, não raro, simplesmente dobrá-los. Em função da mesma evolução técnica, era desejo dos autores sofisticar mais os efeitos sonoros. A partir do séc. XVII até meados do séc. XVIII, no chamado período barroco, a música instrumental ganhou independência e linguagem própria. A música deixava de ser idealizada e interpretada pelo ser humano (sua própria voz) mas, criada em sua mente e executada por um instrumento artificialmente construído (a partir de então também nas igrejas).

O brilho instrumental a todos encantou. Construíram-se novos instrumentos de cordas, sopros e percussão. A agilidade do fraseado musical se desenvolveu de tal maneira que surgiu um verdadeiro virtuosismo de execução que seduzia as pessoas por seu malabarismo ao instrumento. A música deixava de ser feita apenas pelo timbre vocal mas por dezenas de instrumentos, de cores sonoras diversas. É claro que continuou-se compondo para vozes. A voz chegou a se destacar como solista em meio ao conjunto instrumental. Criou-se até uma dramaturgia sonora, a ópera, onde a voz se destaca. Mas a voz passou a ser considerada um "instrumento" a parte, com sua linguagem própria.

A partir do séc. XIX, no romantismo, com a utilização da música como veículo de expressão das emoções individuais, o virtuosismo instrumental foi cada vez mais solicitado. O solista, querendo exibir seus dotes, sua personalidade musical em público, elevou essa instrumentalidade ao máximo, às vezes ao nível de um espetáculo quase circense. Nesse período todos os instrumentos que conhecemos hoje evoluíram tecnicamente, criou-se o piano e a paleta sonora da música ocidental ficou rica e multicolorida, inclusive com a estruturação da orquestra sinfônica, que nos deu obras primas.

Na primeira metade do séc. XX explodiram todos os conceitos musicais existentes, criando-se mais "ismos" estilísticos em 50 anos que em 500 anteriores. E foi nesse deslumbrante séc. XX que um quarto elemento associou-se à prática musical: a gravação e veiculação eletrônica da música.

Se o símbolo gráfico impresso dispensava a presença do autor na execução musical, o registro sonoro e sua veiculação eletrônica, passaram a dispensar a presença também do interprete. E foi essa tecnologia moderna que conseguiu transformar aquele "feitiço sonoro" em impulsos eletrônicos, me transportar da tranqüilidade de um moderno resort para 50 anos atrás à pequena igreja da Lapa, sem perder a capacidade arrebatadora daquela simples melodia. Ainda bem que Händel, há 300 anos atrás, fez uso de uma moderna pena de ganso para registrá-la numa lâmina de linho, permitindo que aquele Largo sonorizasse o paradisíaco mar da Bahia e provocasse tumultos no coração de um desprevenido maestro...

Aspas para Seu Rocha [Saúde pra ti, meu velho!]


“Aí, rapaz, eu já com a roupa suada mermo, no mermo pique que a gente veio, voltou, que descemos, subimos ladeira, eu de cá, longe vi a água, chega tava brilhando, eu vi de cá: “Vou tomar um banho.” O outro disse: “Num vou levar defunto nas costa, não.” Eu peguei e meti o pé, fui pra dentro da água, cheguei mais no meio, a água por aqui assim, e aí baixei, bebi da água e lavei o rosto... eu sei que quando eu saí daí, rapaz, que eu olhei assim, o mundo tava assim todo vermelho. Aí, passei por cima da ponte, passei debaixo dos pé de braúna, e logo que chegou do outro lado da cancela, escureceu o mundo todo. Adormeci.”




“Eu me sinto até um pouco acabrunhado, quando to dentro do ônibus, que entra um cego pedindo esmola, como se não pode trabalhar... aquilo me revolta, rapaz, eu penso assim, porque, imagine, aqui tinha um bocado de cego, e esses cego foi tudo contra mim, eu trabalhava pra Odebrecht, eu fazia aquelas vassourona, aquelas de asfalto, de todo tipo, eles estiveram aqui, mandaram o engenheiro aqui pra medir, que queria levantar um prédio aqui, iam fazer uma moradia pra mim e eu ia pagando eles, mas eu achei que podia ter uma diretoria, peguei uma advogada, chamei pra ser sócia... eu morava lá no Retiro... eu sei que essa advogada foi lá falar com eles e eles disseram que eu não dava pra tomar conta não porque eu sou cego...”

“Rapaz, eu num tenho nada pra dizer sobre essa parte... porque de qualquer maneira, queira que não queira, tem que ir. Só num quero morrer, mas se Deus quiser eu mais um tempo aqui, to aqui, mas se me chamar, o que é que eu vou fazer?”

O suingue de Henri Salvador [1917 - 2008].



Você disse à imprensa brasileira: "O Brasil está ligado à minha vida e tem a melhor música do mundo". Qual sua relação com a música brasileira?

Henri Salvador - Para mim, é a melhor música não somente porque tem muitos talentos mas porque eles são vanguardistas, se arriscam musicalmente e harmonicamente. Jobim foi muito, muito longe e a maior parte dos compositores são surpreendentes, fazem grandes achados musicais. O maior, porque é o maior, eu o chamo de Deus, é Jobim. Ele é sempre surpreendente. É pura pesquisa musical.

Qual a importância que a música brasileira teve em sua carreira?

Henri Salvador - Foi muito importante. Para compor, por exemplo. Componho mais facilmente no ritmo da bossa nova, ele inspira melodias.

E qual a importância do jazz na sua vida?

Henri Salvador - O jazz foi importante no início. Eu admirava os grandes como Count Basie e Duke Ellington. Havia um compositor americano que eu adorava, Cole Porter. Para mim, era um melodista maravilhoso. O jazz foi muito importante no início, depois mergulhei na música brasileira, que é inovadora. No Brasil, há sempre alguém que chega e faz coisas novas. É um país muito rico. E existem músicos que se aproximam de Chopin. Tem um pianista que me deixou abismado num disco.

Que cantores marcaram seu estilo, suas interpretações?

Henri Salvador - Minhas composições são uma mistura de tudo, de jazz, de bossa nova e da canção francesa também. Meu ídolo no "music hall" era Maurice Chevalier. Ele pegava uma canção sem importância e fazia uma obra-prima. Tecnicamente, eu me inspirei em Frank Sinatra e Nat King Cole para a respiração, a dicção e a escolha das canções. Eles estavam na vanguarda. Foram os melhores cantores dos melhores compositores, com as melhores orquestras. Sinatra dizia que, quando se canta, é melhor cantar uma canção boa que uma ruim; uma canção ruim é ruim para toda a eternidade.

Não seria um exagero dizer que você é o "inventor" da bossa nova?

Henri Salvador - Não sou o inventor. Foi Jobim quem inventou a bossa nova.

No início, foi João Gilberto quem inventou a batida do violão e uma nova maneira de cantar que foi batizada de bossa nova. Ele gravou um disco com Elizeth Cardoso e Tom Jobim, no qual tocava violão em duas faixas, de maneira totalmente nova.

Henri Salvador - Verdade? Não sabia.

A imprensa francesa repete muito essa história que atribui a você a invenção da bossa nova. Isso o incomoda?

Henri Salvador - Eles estão errados. Não posso me atribuir esse fato, não fui eu. Não gosto que digam que sou o inventor da bossa nova. Não sou capaz, sou apenas um pequeno compositor comparado a Jobim. É um exagero, sou um pequeno melodista da canção francesa. Jobim é um gigante. Fiquei contente quando fui ao Brasil no ano passado, ao ver que o aeroporto do Rio se chama Jobim. Nunca isso aconteceria na França... Mas tive um choque ao ouvir um saxofonista que tocava mas era uma ... merda. O aeroporto se chama Jobim e não se põe alguém que saiba tocar bem para executar as belas músicas de Jobim. Isso me deixou triste.

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