sexta-feira, 30 de julho de 2010

Malena, Giuseppe Tornatore.


O texto é ótimo, mas imagens são ainda melhores. O início do filme de Tornatore, os primeiros dez minutos são extraordinários, sensacionais. Vemos um caminhão rodando nas pequenas ruas de uma cidadezinha da Sicília, Castelcutò, anunciando que Il Duce faria um discurso à nação às 17 horas, e pedindo a todos que liguem seus rádios. Só depois entra a voz em off do narrador dizendo aquelas duas belas frases, e vemos o protagonista, Renato Amoroso (Giuseppe Sulfaro, um garotinho em seu primeiro trabalho no cinema, excelente), ganhando sua bicicleta, e depois correndo com ela até um grupo de garotos reunidos perto do mar.
Entrecortadas com essas cenas, vemos rapidíssimas tomadas, em close, de uma mulher que se veste. Há uma rapidíssima tomada dos pés descalços da mulher, com meias de nylon; depois outra rapidíssima, também em close, da mulher acertando a meia na liga; depois outra, igualmente rapidíssima e em close, da mão da mulher desligando o rádio. Renato está sendo admitido na confraria dos garotos, e os garotos estão esperando um grande acontecimento – estão esperando Malèna sair de casa e caminhar até o centrinho de Castelcutò.

E então a vemos pela primeira vez de corpo inteiro. Mamma mia, e que corpo, e que rosto, que monumento – Michelangelo gostaria de ter esculpido um rosto assim, um corpo assim. Parla, Bellucci!

Malèna caminha, os meninos olham; close rapidíssimo da saia de Malèna, para vermos a pequena protuberância da fivela da liga que segura a meia de nylon. Renato olha para baixo, a câmara mostra a calça curta de Renato e o pauzinho dele fica duro.

Os meninos correm por um atalho, para ver Malèna de novo, “a mais bela bunda de Castelcutò”, como diz um deles. A câmara mostra em close o rosto de Renato – mostrará diversas vezes, ao longo de todo o filme –, e percebemos que o que para os outros meninos é farra, é folia, para nosso protagonista é coisa séria. Renato está perdidamente apaixonado por Malèna, a mulher mais bela de Castelcutò, tão bela, tão espantosamente bela, que todos param e se viram para vê-la, os homens babando de desejo, as mulheres babando de inveja, ódio.

Malèna é casada com Nino Scordia (Gaetano Aronica), um rapaz que, pouco após o casamento, é recrutado pelo exército e enviado para a guerra no Norte da África – o espectador sequer o vê nesse início de filme. O pai de Malèna, o professor Bonsignore (Pietro Notarianni, ótimo, num papel pequeno mas importante), dá aula de Latim, e é surdo. Na classe de Renato, um garoto mais gaiato ergue o braço, como se fosse pedir licença para ir ao banheiro, e diz:

- “Professor, posso comer sua filha?”

E o pobre e surdo professor: – “Vá, mas não demore” – e a classe estoura na gargalhada.

Renato segue os passos de Malèna sempre que pode; até mata aula para segui-la de longe. Depois vai se arriscando mais, vai se aproximando mais e mais da casa dela, acaba por observá-la através de buracos nas janelas. Só pensa nela; vai atrás do disco com a canção que ouviu através da janela da casa dela, “Ma l’amore no”; sonha acordado com ela; masturba-se mil vezes pensando nela.

Sérgio Vaz.

A noite dos desesperados, Sidney Pollack.


Aproveitando esta quente e tediosa tarde de domingo em casa para atualizar o blog. Acabei de ver A NOITE DOS DESESPERADOS (1969), um dos trabalhos mais elogiados de Sydney Pollack. Na época da morte do cineasta, em maio do ano passado, peguei para ver alguns filmes dele. Mas de lá pra cá acabei vendo apenas dois – NOSSO AMOR DE ONTEM (1973) e TRÊS DIAS DO CONDOR (1975), ambos com Robert Redford. O tempo acaba não me permitindo ver os filmes que eu gostaria. A não ser que eu os priorize, seja mais disciplinado do que já sou. Mas aí aparecem outros interesses, filmes que furam a fila das prioridades. E é até bom que seja assim, com o fator acaso contribuindo para a descoberta e até a revisão de filmes.

Acabei me decepcionando um pouco com A NOITE DOS DESESPERADOS. Não que o filme não tenha a carga de pessimismo que pretende e que não seja memorável. Mas um dos problemas dos filmes de Pollack é a frieza com que ele trata seus personagens. Pode até ser que ele goste deles, mas do lado de cá da tela, não sinto isso. Por isso que a conclusão do filme até causou em mim certa indiferença. Depois de ver um monte de gente se matando para ganhar um prêmio numa maratona maluca de dança a gente fica cansado também.

Na trama, que se passa nos Estados Unidos da época da Grande Depressão, um grupo de pessoas participa de um concurso de dança, que na verdade é uma prova de resistência, onde o casal vencedor, o que aguentar ficar em pé até o final, ganhará um prêmio de 1.500 dólares. A obstinação dos competidores torna tudo muito dramático, já que passam-se dias e eles, privados de sono e com os pés inchados, teimam em ficar até o fim para ganhar o prêmio. Entre os nomes mais conhecidos do filme estão os de Jane Fonda e Susannah York.

Vendo o filme, me lembrei das provas de resistência de edições passadas do Big Brother. Provas que geralmente duram menos de 24 horas e já garantem uma boa repercussão na audiência. Assim como os espectadores do reality show - no qual eu não me excluo - tanto no filme como na vida, as pessoas precisam ver o sofrimento alheio para perceberem que estão em situação melhor, ou pelo menos, mais confortável.

Ailton Monteiro.

Antes do Amanhecer, Richard Linklater.

A tarefa de argumentar ou propor uma discussão sobre a complexidade de relacionamentos amorosos é árdua – refletir esse contexto na tela de cinema é algo que exige uma condução narrativa refinada e adequada. De forma extremamente eficaz, o diretor e co-roteirista, Richard Linklater consegue essa proeza e realiza um dos filmes mais importantes do cinema americano da década de 90.

Essa temática, assim como o cinema em seu todo, é um reflexo (projeção) de nossos anseios, desejos, sentimentos e dúvidas.

Portanto, o que torna “Antes do Amanhecer” um exemplar distinto dessa gama, é a abordagem estabelecida pelo roteiro de Linklater e Kim Krizan – que optam por fugir de convencionalismos do gênero e constroem, meticulosamente, a situação real entre duas pessoas que, gradualmente, se apaixonam.

Uma das virtudes do longa reside no alto teor de cumplicidade que se estabelece entre espectador e tela – a ausência de trilha sonora, os diálogos triviais, o não uso de artifícios dramáticos e as longas tomadas com o casal de atores, contribuem para o realismo da situação; quase como que estivéssemos testemunhando, em tempo real, a germinação do amor entre duas pessoas.

Linklater não apenas estabelece essa conexão entre as personagens e o espectador, como enriquece seu roteiro inserindo uma série de diálogos, interessantíssimos, sobre filosofia, religião, sociedade e relacionamento humano. Diálogos, estes que não se apresentam apenas como caprichos fora de contexto, mas que exercem papel fundamental para que possamos conhecer e nos interessar pelo casal de indivíduos que estamos acompanhando ao decorrer dos 90 minutos da fita.

Certamente que a escolha dos atores foi imprescindível para a eficácia da obra – a verossimilhança – alcançada através da naturalidade, nuances e entrega aos papéis – conferem um carisma encantador ao casal, ou seja, não só eles estão se apaixonando, mas nós por eles. E, ao constatar, em seus minutos finais, a melancolia e frieza que os locais tão marcantes para os dois no transpassar da narrativa, adquirem, comprova essa afirmação.

E como já afirmou o mestre Woddy Allen na última fala de seu “Noivo neurótico, noiva nervosa”: “Um cara vai ao psiquiatra e diz: ‘Doutor, meu irmão é louco. Ele acha que é um frango.’ O doutor diz: ‘Por que não o convence?’ O cara diz: ‘É, mas eu preciso dos ovos.’ Bem, acho que é o que acho dos relacionamentos hoje. São totalmente irracionais, loucos e absurdos. Mas continuamos neles porque a maioria de nós precisa dos ovos.”

Lucas Marques.


Assassinos por natureza, Oliver Stone.

Oliver Stone é um cineasta que abraça seus projetos com paixão e fúria. Muita gente aponta o gosto pela polêmica como uma das características inatas ao diretor norte-americano, mas esse detalhe é conseqüência, e não causa, da maneira como ele aborda um projeto de longa-metragem. A atitude de Stone é muito rara em Hollywood, e talvez por isso ele seja identificado, atualmente, como um diretores mais autorais que surgiram nos EUA desde a geração Spielberg-Scorsese-Coppola. Se há algum filme que tenha a cara de Oliver Stone, que resuma e classifique seu estilo bombástico e apaixonado, este filme é “Assassinos Por Natureza” (Natural Born Killers, EUA, 1994).

A saga do casal de assassinos em série Mickey (Woody Harrelson) e Mallory (Juliette Lewis) foi lançada em 1994, abrindo um enorme rastro de polêmica. O filme era irresponsável? Glorificava dois seres desprezíveis que o protagonizavam? Incentivava pessoas a matar? Esse tipo de discussão, como se sabe, não é de todo inédita em Hollywood. Filmes diversos, de “Taxi Driver” a “
Clube da Luta”, enfrentam periodicamente acusações semelhantes. Não é coincidência que esses filmes tenham muito em comum. Todos denunciam os valores distorcidos que formam a base moral da vida nas grandes metrópoles, a partir da segunda metade do século XX.

O filme de Oliver Stone trata do tema da violência urbana com uma dose cavalar de ironia, o que faz pensar de imediato que os acusadores do longa-metragem são cegos, mau humorados ou simplesmente burros. Não, Oliver Stone não glorifica a violência em momento algum. Ele critica, do seu modo radical e hiperativo, a obsessão muito norte-americana sobre serial killers, bem como o mundo das celebridades instantâneas geradas por uma mídia faminta por escândalos, cozinhando os dois temas em uma só história que, nas entrelinhas, não passa de uma história de amor temperada com muito sangue.

A história de Mickey e Mallory foi escrita pelo cineasta
Quentin Tarantino, quando ele ainda era balconista de locadora. Ela foi vendida a Stone, que a distorceu, amplificou e reescreveu sucessivamente, junto com David Veloz e Richard Rutowski, até criar esse incrível híbrido de gêneros, que Tarantino condenou. “Assassinos Por Natureza” é um caldeirão de linguagens cinematográficas e narrativas. O filme usa imagens capturadas em 35mm (formato profissional), Super 8 (amador), preto-e-branco, videotape (TV) e até mesmo animação, desenho animado mesmo, em duas dimensões. Do ponto de vista narrativo, também não tem um formato fixo, preferindo saltitar entre diversos tipos de narração: trechos de telejornais, reportagens de TV, documentários rústicos, ficção clássica séria e até sitcoms mordazes(séries da TV norte-americana).

A narrativa é hiperativa, e também não tem uma ordem cronológica definida; vai e volta no tempo sem muita ordem. O trabalho hercúleo de Oliver Stone foi organizar essa grande bagunça, algo que ele conseguiu fazer com muita habilidade e um senso de humor negro absolutamente impagável. Vemos a infância de Mallory como se fosse uma série de TV, com músicas alegres e flores sobre a mes ade jantar, enquanto ela sofre abusos e maltratos por um pai abjeto. Depois vemos o sádico assassinato dele por Mickey. Assistimos à dupla enveredar pelas poeirentas estradas do deserto norte-americano, matando por diversão, e fazendo questão de assumir os crimes. Eles querem fama.

A cobertura bombástica da imprensa sensacionalista (personificada pelo repórter Wayne Gale, numa bela interpretação de Robert Downey Jr) transforma a dupla em celebridades. De repente, os adolescentes dos EUA querem ser Mickey e Mallory. Camisetas com fotos dos dois viram sucesso de vendas. Fãs-clubes são formados. “Assassinato em massa é ruim, mas se eu tivesse que ser uma assassina em massa, queria ser Mickey e Mallory”, diz uma jovem entusiasmada à TV, mostrando como funciona o culto tresloucado a esse tipo de celebridade. Ela não quer ser Mallory; quer ser Mickey e Mallory, como se os dois fossem uma única entidade cool. É isso: no filme de Oliver Stone, assassinato é cool.

Óbvio que ele não está falando sério, mas o longa-metragem tem uma mensagem – e o público a entendeu. Nenhum jovem com distúrbios mentais saiu matando gente nas ruas por causa do longa de Oliver Stone. O filme tem grandes atuações (Juliette Lewis, com sua doçura perversa, é o maior destaque). Tem também uma edição alucinada de Brian Berdan e Hank Corwin, que dá um ritmo vertiginoso ao filme e faz seus 121 minutos parecerem apenas 30; e uma direção de fotografia genial de Robert Richardson, que garante uma unidade formal impecável, mesmo sabendo-se que o cineasta experimentou diferentes formatos de película para registrar a ação. Isso sem falar na trilha sonora soberba de Trent Reznor, que alterna momentos de candura (Leonard Cohen) e agressividade (Rage Against the Machine).

“Assassinos Por Natureza” não é um filme normal. Não é diversão descerebrada; tem uma mensagem social. Oliver Stone quer que o público entenda a mensagem, e age como uma espécie de boxeador do cinema: ele esmurra a cabeça do espectador, com suas imagens impactantes, até enfiar a mensagem cérebro adentro, por bem ou por mal. Se há problemas nesse estilo, há também uma quantidade fenomenal de boas idéias. A maior parte dos diretores acredita que a boa direção deve ser invisível, como um árbitro de futebol, e que o grande filme é absorvido naturalmente pela platéia, sem chamar a atenção para a sua técnica. Nesse sentido, Oliver Stone pode ser considerado um mau diretor, porque ele torce e distorce a narrativa até o limite. Mas tem domínio absoluto daquilo que faz, e isso é inegável.

Rodrigo Carreiro.

Romeu e Julieta, Baz Luhrmann.


JULIETA: Oh Romeu, Romeu! Por que és Romeu? Renega teu pai e recusa teu nome; Ou, se não quiseres, jura-me somente que me amas, e não mais serei uma Capuleto.

ROMEU [à parte]: Continuarei a ouvi-la ou devo falar-lhe agora?

JULIETA: Somente teu nome é meu inimigo. Tu és tu mesmo, sejas ou não um Montecchio. Que é um Montecchio? Não é mão, nem pé, nem braço, nem rosto. Oh! Sê qualquer outro nome pertencente a um homem. Que há em um nome? O que chamamos rosa, com qualquer outro nome exalaria o mesmo perfume.Assim, Romeu, se Romeu não se chamasse, conservaria essa cara perfeição que possui sem o rótulo. Romeu, despoja-te de teu nome; E pelo teu nome, que não faz parte de ti, toma-me toda inteira!

ROMEU: Tomo-te a palavra. Chama-me somente Amor e serei de novo batizado. Daqui em diante jamais serei Romeu.

Wiliam Shakespeare




O último tango em Paris, Bernardo Bertolucci.

Filmes proibidos pela censura costumam ser lembrados muito mais pela polêmica que causaram que por suas qualidades artísticas. Assim, para as novas gerações, é possível que "O último tango em Paris" resuma-se à famosa cena da manteiga, comentadíssima à época em que brasileiros sortudos voltavam das férias do exterior e contavam aos demais que, realmente, Marlon Brando usava um tablete de manteiga para fazer coisas impensáveis com Maria Schneider. E Bertolucci, cineasta preocupado em desvendar alguns cantos escondidos da alma humana, ficou famoso como suposto pornógrafo iconoclasta e chique, embalando sacanagens proibidas ao som da trilha "caliente" de Gato Barbieri.

Recentemente, a Folha de S.Paulo publicou uma entrevista (seguida de matéria bastante reacionária) com Maria Schneider, em que a atriz atribui os vários problemas de sua vida pessoal - basicamente: drogas demais e gordura demais - à sua inocência perdida durante as filmagens de "O último tango". Não quero - nem tenho informações suficientes - para entrar no mérito da questão, mas o simples fato da atriz ressaltar, mais uma vez, os aspectos sexuais do filme certamente contribui para reforçar essa falsa imagem de "O último tango em Paris" como um filme erótico. Tá na hora de colocar as coisas nos seus devidos lugares (e nem precisa manteiga).

"O último tango em Paris" não é um filme erótico. É, como todos os filmes intimistas de Bertolucci, uma tentativa de falar abertamente sobre coisas que a sociedade prefere ver trancadas a sete chaves. Dois desconhecidos encontram-se num apartamento vazio e, sem dizerem os nomes, conversam, transam, brigam e procuram um sentido para suas vidas. Ele (Marlon Brando, em atuação digna de 20 Oscars) está em crise porque a mulher acaba de cometer suicídio, sem deixar qualquer explicação. Ela (Maria Schneider, limitada, mas convincente) está em crise porque não sabe se o futuro que deseja para si é um casamento com um jovem cineasta. Para ele, o mundo acabou; para ela, está começando. Para ele, as coisas perderam o sentido; para ela, os sentidos ainda são muito complicados. Entre estes dois seres tão diferentes, há apenas uma ponte: o sexo.

Apenas um débil mental não percebe que as cenas "polêmicas" filmadas por Bertolucci, bastante explícitas para a época, são fundamentais para que o espectador compreenda o tipo de relacionamento possível para aquele casal tão improvável. E poucos lembram o que Marlon Brando fala durante a cena da manteiga: "Vou falar-lhe de segredos de famíla, essa sagrada instituição que pretende incutir virtude em selvagens. Repita o que vou dizer: sagrada família, teto de bons cidadãos. Diga! As crianças são torturadas até mentirem. A vontade é esmagada pela repressão. A liberdade é assassinada pelo egoísmo. Família, porra de família!" É como se um professor, que não acreditasse mais em nada do que ensinou a vida inteira, tentasse dar uma última aula - verdadeira, desesperada e muito dolorida. E à aluna, subjugada, só restasse perder toda a inocência. Inocentes podem ser felizes, é claro, mas não em filmes como este. Inocentes têm nome, sobrenome, RG, CPF e família constituída. Os personagens de "O último tango" não têm nem um nome um para o outro.

A cena em que Brando fala com o cadáver de sua esposa no velório, alternando momentos de raiva, desorientação e, finalmente, terrível reconciliação consigo mesmo, merece estar em qualquer antologia dos grandes momentos da arte interpretativa deste século. Ele também foi gigante em "O poderoso chefão" e "Apocalypse now", mas aqui sua força nasce das entranhas de um personagem esmagado, sem qualquer glamour ou simpatia. Brando vai para o trono ou não vai? Claro que vai, junto com Bertolucci, que não poupa nem seus colegas cineastas, pintando o retrato patético de um diretor "genial", que pensa estar fazendo uma revolução a cada plano rodado. Do roteiro à montagem, passando pelos eficientes movimentos de câmara (marca registrada de Bertolucci) e pela trilha - pop mas sempre dramática - tudo está a serviço de uma visão de mundo sombria, mas assustadoramente realista.

Carlos Gerbase.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dalai Lama na tarde de 6 de abril de 1999 disse: As mudanças são possíveis.

Todos somos iguais, quanto ao potencial, desejos etc. Portanto, todos queremos o mesmo: uma vida feliz, uma família feliz, uma sociedade feliz. A humanidade pode mudar positivamente através desse desejo, através do indivíduo que cultiva esse desejo. É uma mudança longa, mas é a única forma de mudança possível.

No início deste século, muitas ideologias nasceram e no entanto já morreram. O conceito de paz, de solidariedade se tornou mais forte ao longo deste século. O espírito de não violência, de solidariedade e negociação também cresceu. Vejam o exemplo da África do Sul!

Também cresceram os sinais de espiritualidade. No início do século, as pessoas apenas se abrigavam em uma crença religiosa. Agora, neste final de século, com a incorporação de hábitos e métodos da ciência, as pessoas aprenderam a observar, analisar. Ciência e religião se aproximaram. Um exemplo: a física quântica tem várias similaridades com os conceitos budistas.

Também o poder de destruição do homem hoje é muito grande, e isso faz crescer o desejo de paz. Antes da Segunda Guerra, quando as nações declaravam guerra e se mobilizavam, chamando a população para se alistar, não havia questionamentos. Já no Vietnã e a partir de então não há esse comportamento. Muitos se opõem às guerras.

Do ponto de vista da ecologia, no início deste século não se conhecia nada sobre ecologia. A preocupação com o meio ambiente era algo reservado a especialistas. Agora, a consciência ecológica cresceu muito.

O mesmo aconteceu com os conceitos de direitos humanos e auto-determinação das nações, que atualmente gozam de aceitação universal.

Todas essas mudanças são indicações positivas que nos levam a crer que o próximo século será melhor, mais pacífico. Isso também significa que teremos que pensar mais holisticamente e nos esforçarmos mais.

Hoje, graças à tecnologia e à economia moderna, o mundo está ficando menor e mais interdependente, especialmente quanto ao meio ambiente e à economia. Em termos modernos, nações e continentes são tremendamente interdependentes. É impossível pensar em termos de uma nação independente.

Considerando isso, o conceito de separação entre "nós" e "eles" não mais existe. Meu interesse e os interesses dos outros são interdependentes, o interesse deles é o meu e vice-versa.

Por isso temos que pensar globalmente, pensar em uma responsabilidade global. Conceitos como Oriente e Ocidente, Norte e Sul não mais se aplicam. Especialmente no campo da ecologia e do meio ambiente não podemos pensar como nações isoladas, temos que fazer esforços coletivos de preservação.

Por isso, fico feliz de ver esta cidade limpa, pura e bem conservada. É muito bom isso. Quando estive no Rio de Janeiro em 1992 não havia a preocupação com a limpeza, e havia um problema muito sério de meninos de rua.

Outro problema sério para o Brasil é a questão da Amazônia. Um dano na Amazônia afeta não afeta só o Brasil, mas todo o mundo.

Os problemas ecológicos não são isolados. Temos que analisá-los e fazer esforços coletivos a nível global, nações ricas e pobres. Porque em todo lugar, está o mesmo ser humano, e é a mesma Terra.

Outro problema sério é a discrepância existente entre o hemisfério Norte e Sul, a diferença econômica. Mesmo nos Estados Unidos, há uma grande diferença entre ricos e pobres. O número de pobres cresce, e também cresce a concentração de bilionários. Essas diferenças econômicas graves são uma fonte de problemas como a criminalidade urbana.

É fundamental que encontremos solução para elas. Imagine se na Índia e na China, com cerca de dois bilhões de habitantes, houvesse um nível de vida dos países do Norte. Cada pessoa teria um carro. Isso é impossível. Seria um desastre ecológico. Portanto, chegou o momento de se pensar na humanidade e seus problemas como únicos, comuns a todos.

O que é o tempo — Agora vamos agora analisar a perspectiva do tempo. O tempo de fato existe, e nós existimos no tempo. Mas se investigamos onde está tempo, não o achamos. Portanto, não é absoluto, é relativo.

O passado, bom ou mau, se foi. O futuro é que importa, mas o futuro depende do presente. O agora é que faz a diferença para o futuro.

Mas onde está o presente? Também não o consigo achar. Só posso ver o passado e o futuro, não posso achar o presente. Um segundo, um milésimo de segundo, onde está? Mas sem o presente, onde estão o passado e o futuro? Isso nos leva a crer que o presente deve existir. Mas não o achamos.

Em toda a parte, em todos os países as respectivas populações se acreditam o centro do mundo. No Tibete, se acreditava que nosso país era o centro do mundo, porque foi onde floresceu o Dharma. Mas os chineses também acreditam o mesmo em relação ao seu país. E no México, me contaram que a cultura tradicional dos povos nativos diz que ali é o centro do mundo.

De maneira similar, para os moradores desta cidade ela é o centro do mundo. Os que estão aqui na Ópera de Arame acreditam que ela é o centro do mundo. E este ser humano acredita que ele é o centro do mundo.

É lógico que as coisas sejam assim. O mundo é conhecido a partir do ponto de vista do observador. É a partir do seu eu que determina onde ficam o Norte, Leste, Oeste, Sul. Essas determinações são feitas a partir do eu. Mas não podemos achar o eu! Se dissermos que é o corpo, o eu vai dizer "não, esse é o meu corpo". Se dissermos que é o cérebro, o eu vai dizer "não, esse é o meu cérebro".

Mas se também se disse quer o eu não existe, também se estará errado. Porque o eu está aí, já que vemos, percebemos, temos sensações. Temos, então, que ver o conceito budista de existência interdependente.

Como essas coisa estão aí, e não conseguimos encontrá-las? Para entender isso, temos que pensar no conceito de surgir interdependente, que é um conceito que se assemelha aos desenvolvidos pela física quântica.

Muitos cientistas não gostam de usar a palavra realidade, porque realidade pressupõe algo absoluto, e não há nada absoluto. É por isso também que algumas filosofias nascidas na Índia dizem que as coisas estão aí mas não podem ser encontradas, elas existem apenas através da cognição.

O objetivo desse encontro foi podermos nos tornar pessoas melhores, com um coração mais caloroso. Meramente utilizar nosso potencial humano para encontrar prazeres sensoriais não iria nos diferenciar muito dos animais. O que pode nos diferenciar é nossa consciência, o potencial que ela contém e como podemos usar esse recurso pra adquirir um senso de paz e tranqüilidade duradouros.

Primeiramente, nosso objetivo foi ver como ganhar mais tranqüilidade interior, como ter uma mente mais relaxada, descontraída, como eliminar os problemas criados pelo homem ou ao menos reduzi-los.

Com relação aos problemas com que temos que conviver, como a velhice, doença e morte, cabe nos preparamos e aceitarmos para que possamos atravessar esses momentos. Por isso, é preciso ter tranqüilidade mental.

Uma perspectiva holística é muito adequada para isso. De modo geral, não vemos que os problemas têm uma infinidade de causa e condições. Geralmente consideramos que têm uma única causa e nos concentramos nela.

Mas uma abordagem holística é mais eficiente e está ligada à idéia de interdependência. É importante, portanto, que nosso foco de visão seja amplo. A educação e a pesquisa científica podem abrir nossa cabeça, desde que não estreitemos nosso campo de visão como alguns cientistas que deixam de ver o todo.

A autoconfiança também é importante, não a autoconfiança cega e excessiva, mas uma autoconfiança baseada na compaixão. Essa pode os levar a ter força interior. Então, podemos ter um cérebro movido por uma visão holística baseado em um coração caloroso. E um cérebro investigativo baseado em um coração caloroso é a melhor forma de encontrar a paz.



Lar desfeito, Luis Fernando Veríssimo

José e Maria estavam casados há vinte anos e eram muito felizes um com o outro. Tão felizes que um dia, na mesa, a filha mais velha reclamou:

- Vocês nunca brigam?

José e Maria se entreolharam. José respondeu:

- Não, minha filha. Sua mãe e eu não brigamos.

- Nunca brigaram? – quis saber Vítor, o filho do meio.

- Claro que já brigamos, mas sempre fazemos as pazes.

- Na verdade, brigas, mesmo, nunca tivemos. Desentendimentos, como todo mundo. Mas sempre nos demos muito bem...

- Coisa mais chata – disse Venancinho, o menor.

Vera, a filha mais velha, tinha uma amiga, Nora, que a deixava fascinada com suas histórias de casa. Os pais de Nora viviam brigando. Era um drama. Nora contava tudo pra Vera. Ás vezes chorava. Vera consolava a amiga. Mas no fundo tinha uma certa inveja. Nora era infeliz. Devia ser bacana ser infeliz assim. O sonho de Vera era ter um problema em casa para poder ser revoltada como Nora. Ter olheiras como Nora.

Vítor, o filho do meio, freqüentava muito a casa de Sérgio, seu melhor amigo. Os pais de Sérgio estavam separados. O pai de Sérgio tinha um dia certo para sair com ele. Domingo. Iam ao parque de diversões, ao cinema, ao futebol. O pai de Sérgio namorava uma moça de teatro. E a mãe de Sérgio recebia visitas de um senhor muito camarada que sempre trazia presentes para Sérgio. O sonho de Vítor era ser irmão de Sérgio.

Venancinho, o filho menor, também tinha amigos com problemas em casa. A mãe de Haroldo tinha uma filha de 11 anos que podia tocar o Danúbio Azul espremendo uma mão na axila, o que deixava a mãe do Haroldo louca. A mãe do Haroldo gritava muito com o marido.

Bacana.

- Eu não agüento mais esta situação – disse Vera, na mesa dramática.

- Que situação, minha filha?

- Essa felicidade de vocês!

- Vocês pelo menos deviam ter cuidado de não fazer isso na nossa frente – disse Vítor.

- Mas nós não fazemos nada!

- Exatamente.

Venancinho batia com o talher na mesa e reivindicava:

- Briga. Briga. Briga.

José e Maria concordavam que aquilo não podia continuar. Precisavam pensar nas crianças. Antes de mais nada, nas crianças. Manteriam uma fachada de desacordo, ódio e desconfiança na frente deles, para esconder a harmonia. Não seria fácil. Inventariam coisas. Trocariam acusações fictícias e insultos. Tudo para não traumatizar os filhos.

- Víbora não – gritou Maria, começando a erguer-se do seu lugar na mesa com a faca serrilhada na mão. José também ergueu-se e empurrou a cadeira.

- Víbora sim! Vem que eu te arrebento.

Maria avançou. Vera agarrou-se a seu braço.

- Mamãe. Não!

Vítor segurou seu pai. Venancinho, que estava de boca aberta e olhos arregalados desde o começo da discussão - a pior até então -, achou melhor pular da cadeira e procurar um canto neutro da sala de jantar.

Depois daquela cena, nada mais havia a fazer. O casal teria que se separar. Os advogados cuidariam de tudo. Eles não podiam mais se enxergar.

Agora era Nora que consolava Vera. Os pais eram assim mesmo. Ela tinha experiência. A família era uma instituição podre. Sozinha, na frente do espelho, Vera imitava a boca de desdém de Nora.

- Podre. Tudo podre.

E esfregava os olhos, para que ficassem vermelhos. Ainda não tinha olheiras, mas elas viriam com o tempo. Ela seria amarga e agressiva. A pálida filha de um lar desfeito. Um pouco de pó-de-arroz talvez ajudasse.

Vítor e Venancinho saíam aos domingos com o pai. Uma vez foram ao Maracanã junto com o Sérgio e a namorada do pai do Sérgio, a moça do teatro. O pai de Sérgio perguntou se José não gostaria de conhecer uma amiga de sua namorada. Assim poderiam fazer mais programas juntos. José disse que achava que não. Precisava de mais tempo para se acostumar com sua nova situação. Sabe como é.

Maria não tinha namorado. Mas no mínimo duas vezes por semana desaparecia de casa, depois voltava menos nervosa. Os filhos tinham certeza de que ela ia se encontrar com um homem.

- Eles desconfiam de alguma coisa? - perguntou José.

- Acho que não – respondeu Maria.

Estavam os dois no motel onde se encontravam, no mínimo duas vezes por semana, escondidos.

- Será que fizemos o certo?

- Acho que sim. As crianças agora não se sentem mais deslocadas no meio dos amigos. Fizemos o que tinha de ser feito.

- Será que algum dia vamos poder viver juntos outra vez?

- Quando as crianças saírem de casa. Aí então estaremos livres das convenções sociais. Não precisaremos manter as aparências. Me beija.

Jack Kerouac aos pedaços.

"Assim, na América, quando o sol se põe, eu me sento no velho e arruinado cais do rio olhando os longos, longos céus acima de Nova Jersey, e consigo sentir toda aquela terra crua e rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão, até a costa oeste, e a estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando naquela imensidão, e em Iowa eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar, e você não sabe que Deus é a Ursa Maior? A estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, reluzindo pela última vez antes da chegada da noite completa, que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia, e ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, além dos desamparados andrajos da velhice. Penso então em Dean Moriarty, penso no velho Dean Moriarty, o pai que jamais encontramos, penso em Dean Moriarty."

"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."

"Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira,mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas."



Reconheça: Flávio Venturini.

Flávio Venturini nasceu em Belo Horizonte, em 23 de julho de 1949. Descobriu a música aos 3 anos de idade. Aos 15 anos começou sua formação musical. Acordeon foi o seu primeiro instrumento. Logo depois ganhou de seu pai um piano, e assim começou seus estudos na Fundação de Educação Artística" de Belo Horizonte, onde estudou percepção musical e piano.

Participou de vários festivais de inverno nos anos 60/70. Neste período estudou composição e arranjos com mestres como Walter Smetak, Ernest Widmer, Bruno Kiefer, Ailton Escobar, Cláudia Cimbleris e Rogério Duprat.

Paralelamente, manteve movimentação ativa no caldeirão cultural de Belo Horizonte. Nos anos 70, além de ter tocado em bailes ( grupos The Shines,Os Turbulentos e Crisalis ), participou de vários festivais, entre eles o Festival Estudantil da Canção, Festival Universitário de Belo Horizonte (2° lugar ), e Festival Internacional da Canção de 1970 ( FIC ) no Rio de Janeiro.

Neste período já fazia parte do grupo dos novos compositores mineiros, e com eles fez alguns shows. "Fio da navalha" era o nome dado a estes shows que reuniu além de Flávio, Lô Borges, Beto Guedes, Tavinho Moura, Toninho Horta, Vermelho, Zé Eduardo, e outros, que mais tarde estariam juntos outra vez no ‘Clube da esquina’.

Em 1974 convidado a gravar com Sá e Guarabira, por indicação de Milton Nascimento, acabou integrando "O Terço’, grupo carioca, na época radicado em São Paulo, para onde se mudou. No O Terço se destacou como compositor, gravando dois discos "Criaturas da noite" em 1974 ( vendeu mais de 100 mil cópia ), e "Casa encantada"em 1975, ambos com arranjos do maestro Rogério Duprat.

Em 1977 deixa o Terço. Neste mesmo ano grava com Beto Guedes o LP "A página do relâmpago elétrico’. E ainda, neste mesmo período, sua música "1974’é coreografada pelo argentino Oscar Araiz, para o Royal Balet do Canadá, e apresentada em tounê pelo Canadá e Estados Unidos.
Em 1978 participa do Clube da Esquina II, histórico disco de Milton Nascimento, no qual foi gravada a música ‘Nascente’. Participou como músico em outras faixas também.

Participou da turnê de lançamento do disco ‘Clube da esquina II’, com participação especial junto com Beto Guedes. Em 1979 foi convidado pela EMI/ODEON para gravar. Funda com Vermelho a banda 14BIS, com a qual gravou 8 discos, com muito sucesso.

Participou em 1982 do disco e do espetáculo ‘Missa dos quilombos’, de Milton Nascimento e Fernando Brant, Pedro Tierra e Dom Pedro Casaldaligá. Durante sua participação no 14Bis começa sua carreira solo com o disco ‘Nascente’ em 1982, e ‘O Andarilho’em 1985.

Neste período faz curso de música para cinema no Núcleo de Animação da Embrafilme, no Rio de Janeiro, promovido pelo ‘National Film Board’do Canadá. E compõem três trilhas de filmes premiados: ‘Quando os morcegos se calam’ , ‘Viagem de ônibus’ ( de Daniel Schorr ) e ‘Instinto animal" ( Léa Zagury ).

Compôs também trilhas para ‘Aleluia Gretchen’( longa de Silvio Back ), ‘Impresso a bala’( curta de Ricardo Favilla ) , ‘O escravo’ ( vídeo de Luis Viana ) e Hilda Furacão ( peça teatral de Roberto Drummond ).

Em 1988 sai do 14Bis, e continua carreira solo. Em 89 participa com grande destaque do Free Jazz Festival, com trabalho instrumental. Em91 faz show no Circo Voador com Toninho Horta, que na época foi gravado e lançado em 1997 no selo Dubas.

Neste período faz shows com Lô Borges, Toninho Horta e Zé Renato. Participa do show-encontro histórico ‘Minas em Concerto’ com Beto Guedes, Wagner Tiso, Lô e Toninho.

Em 1990 grava o seu 3.o disco solo ‘Cidade Veloz’, no selo Chorus/ Som Livre. Em 1992 participa do Rio Show Festival, quando gravou ‘Flávio Venturini ao vivo’.

Neste ano ainda fez turnê pelos Estados Unidos e Canadá. Na Europa, em Santiago de Compostela, participa das comemorações dos 500 anos do descobrimento das Américas com o espetáculo ‘Missa dos quilombos’.

Em 1994 grava o disco ‘Noites com sol’ ( Velas ), primeiro disco de ouro de sua carreira solo.

Em 1996 grava o Cd ‘Beija-flor’, também pela gravadora Velas. E participa do Heineken Concerts, como convidado do grupo UAKTI.

Em 1998 assina contrato com a gravadora EMI/ODEON, na qual gravou seu sétimo CD, chamado TREM AZUL uma releitura da obra dos compositores mineiros de sua geração.

Em 1999 completa 50 anos e realiza um grande show no antigo Metropolitan/RJ (atual Claro Hall) com lotação esgotada.

Em 2003 promove um encontro no palco com o amigo Guilherme Arantes, no Rio de Janeiro, no antigo Metropolitan. Esse encontro ainda rendeu outros shows, e continua acontecendo até os dias de hoje. O roteiro concentra so grandes hits desses dois tecladistas hitmakers.

Ainda este ano funda a gravadora independente TRILHOS.ARTE, onde lança novos talentos como Aggeu Marques e Mauricio Oliveira. Relançou também em sua nova empresa seus famosos Cds ´Noites com Sol´e ´Beija-flor´e o cd de músicas inéditas 'Porque não tínhamos bicicleta', já em 2004.

Neste CD as músicas ´Pra Lembrar de Nós´, ´Céu de Santo Amaro´ e ´Prenda Minha´ foram incluídas nas novelas da Rede Globo.

Em 2004 duas composições suas viram Hits das rádios FMs em todo Brasil: ´Fênix´ em parceira com Jorge Vercilo, gravada por este. E ´Mais uma Vez´, parceria com Renato Russo, gravada quando fazia parte do 14 Bis, e agora relançada em disco da EMI, na voz de Renato Russo, possível através da recuperação de uma gravação que deixou antes de morrer.

Com o disco ´Por que Não Tínhamos Bicicleta´ Flávio Venturini percorre com sucesso todo o país com shows nas principais casas como DirecTv Hall, Canecão, Palácio das Artes e Teatro Castro Alves.

Em 2005 lança pela TRILHOS uma coletânea chamada `Luz Viva´, incluindo músicas dos CDs que possui em catálogo, e ainda uma faixa bônus do CD ´Porque não tínhamos bicicleta´ lançado com exclusividade no Japão ´Ser tudo o que eu quis´ e o tema de Natal ´Aquela Estrela´.

No final de 2006 sai com seu mais recente CD de inéditas, chamado ´Canção sem Fim´, pela Trilhos. Para 2007 o compositor e cantor Flávio Venturini prepara-se para correr todo o Brasil mostrando seu novo trabalho.

Intervalo Comercial: Identidade, Fernando Meirelles.

Paulo Moura (1932 – 2010)

Paulo Gonçalves de Moura nasceu na cidade de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, no dia 17 de fevereiro de 1933. Músico popular e erudito, jazzman, compositor, maestro e arranjador, orientador de grandes músicos brasileiros, professor no Brasil e no exterior, este eclético clarinetista e saxofonista já tocava desde cedo, com o pai, Pedro Gonçalves de Moura, mestre da banda de sua cidade natal.

Aos nove, Paulo começou a estudar o piano e com treze já estava tocando na banda do pai dele em festas e bailes. Mudou para o Rio junto com a família; aos dezoito anos começou os estudos na Faculdade Nacional de Música.

Completando o curso, continuou estudando teoria, harmonia e contraponto com o mestre Paulo Silva. Ele também estudou harmonia, contraponto e fuga com o maestro Guerra Peixe. Do lado da música popular, ele teve lições de arranjo com os maestros Moacir Santos e Cipó.Formou-se pela Escola Nacional de Música aos dezessete anos e foi contratado como primeiro clarinetista da Orquestra do Teatro Nacional, função que ocupa por dezessete anos. Durante esse período grava inúmeros discos e viaja com Ari Barroso para o México e URSS e lá regeu a Orquestra Sinfônica de Moscou.

Apaixonado por jazz, Paulo Moura forma uma das primeiras bandas do país. Grava com Baden Powell e na efervescência da bossa nova trabalha com Sérgio Mendes. Entre o Carnigie Hall e o Beco das Garrafas grava com inúmeros monstros sagrados da música americana e da MPB.Depois de formar seu conjunto em 1968 e gravar 5 ábuns recria em 1971 nova orquestra de jazz, representando o Brasil no Festival de Arte Negra da Nigéria e consolidando sua carreira na Europa e EUA.
Em 76 grava a sua obra-prima, o LP "Confusão Urbana, Suburbana e Rural", que o levou, famoso, para o Japão, onde foi capa de revista e tocou durante 2 meses.

Em 1981 grava o histórico "ConSertão" com Arthur Moreira Lima, formando com o pianista e o violonista Turíbio Santos um trio. Apresenta-se como solista do conjunto que lança o nosso choro no Lincoln Center de New York. Participou do Festival de Música de Guadalupe, tendo criado a primeira orquestra de saxofones. Foi também solista das Orquestras Sinfônicas Brasileira e do Estado de São Paulo.

Em 1985 participou do Festival Brazil em Antibes Juan-les-Pins (França) com um trio de "Chorinho" e em seguida do show que inaugurou o intercâmbio Brasil - França, no teatro Zenith em Paris, com sua banda de gafieira.

Em 1996, ele re-arranjou a música e tocou clarineta e saxes no espetáculo "Pixinguinha e os Os Batutas" no Teatro Carlos Gomes. Um grupo de choro cheio de estrelas, Os Batutas leva o nome do grupo seminal de Pixinguinha e foi formado por Jorge Simas (violão), Márcio (cavaquinho), Jorginho (pandeiro), Jovi (percussão), Marçal (percussão), Zé da Velha (trombone) e Joel do Nascimento (bandolim).

O espetáculo foi gravado ao vivo e lançado no ano seguinte pela Velas. Ganhou o Prêmio Sharp de Brasil para Melhor CD Instrumental e Melhor Grupo Instrumental de 1997. Em 1996, ele recebeu o Prêmio Sharp como Melhor Instrumentista Popular.

Quatro anos depois, ele foi premiado com um Grammy pelo Melhor Álbum de Regional Brasileiro por Pixinguinha e o primeiro Grammy Latino pelo álbum Tempos Felizes que foi gravado no início de 2001. Sendo hoje um músico consagrado em todo o mundo, Paulo Moura é sempre convidado a participar de festivais e eventos na Europa e nos Estados Unidos.

Notícia do Dia: Livro infantil com tema homossexual.

O conto infantil “Ser Diferente é Bom”, da autoria de Sônia Pessoa, vai ser apresentado no dia 7 de Março, às 15h30, na Livraria Bertrand, em Caldas da Rainha (Centro Comercial Vivaci).

Neste livro especialmente dirigido às crianças, a autora aborda os temas da diversidade cultural, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da adoção de crianças por casais Homossexuais.

Sônia Pessoa tem 38 anos, é formada em Comunicação Social e trabalhou 12 anos no Jornal Público.

No prefácio da obra, a psicóloga Gabriela Moita comenta que “estamos perante um livro que responde a uma absoluta necessidade no vazio do panorama editorial português. Sendo um livro seguramente gerador de alguma polêmica (porque o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da adoção de crianças por casais Homossexuais ainda o é), é um livro que contribuirá para a promoção da paz, ao ter como tema transversal a inclusão e por ser num primeiro nível dirigido a crianças”.

De acordo com a psicóloga, “a socialização das nossas crianças não pode mais continuar a ser feita pela observação de um único padrão de funcionamento de vida e, no entanto, os filmes que lhes são dirigidos e grande parte da literatura infantil, bem como do mundo dos jogos e dos brinquedos, são muito uniformes no que diz respeito à estrutura dos núcleos familiares que oferecem. Os tempos mudaram: os estilos de vida são cada vez mais diversificados e nesse sentido há que educar as nossas crianças para a realidade de um mundo composto de diversidade, tal como ele é, e não continuar a escamotear na educação grande parte da realidade — ou porque não nos é atraente, ou porque se considera que ocultando se evita que aquela passe a ser uma escolha possível”.

A autora centra a história em duas famílias, uma constituída por um casal formado por duas pessoas de sexo diferente entre si (heterossexual) e outra constituída por um casal formado por duas pessoas do mesmo sexo (Homossexual).

Na trama, o menino Pedro conhece Maria nos primeiros dias de aula. Quando Maria revela que tem dois pais, a história passa a se desenrolar de forma leve, tudo para estimular os pequenos a aceitarem as mais variadas formações familiares. Em determinada passagem, o livro equipara uma família hétera a uma Gay.

Pretende-se contribuir para “o desfazer do preconceito que conduz à homofobia”. “Não são apenas os direitos sexuais que aqui são tratados mas os direitos humanos em geral”, descreve Gabriela Moita.

“Sendo este livro destinado a crianças, ele é também para um público adulto, quer para pensar, quer como recurso para estar ao lado das crianças quando falar sobre o mundo”, sustenta a psicóloga.


O “Corpo Fechado” e as armas de fogo.

Uma das mais curiosas relações do homem com as armas de fogo é justamente o paradoxo que logo depois de seu aparecimento se tentou minimizar ou mesmo anular o efeito destruidor de seus projéteis.
As primeiras armas foram contemporâneas das armaduras medievais e estas últimas pouco puderam fazer para proteger seus usuários, pois apesar do paulatino reforço em sua chapa para aguentar os disparos dos iniciais arcabuzes (armas com peso ao redor de 5 kg e com calibre que podia chegar aos 2 cm), em breve não resistiriam a perfuração causada por um projétil do mosquete. O brutal mosquete foi sucessor do menor arcabuz, geralmente era uma arma de 10/12 kg de peso, com calibre em torno de uma polegada -2,5 cm- e dizem que foi introduzida na Espanha no final do século XVI, devido ao peso tinha de usar como auxílio para a pontaria uma forquilha. Os soldados que a usavam ficariam eternamente famosos com o romance “os Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas.
Malogrando-se as tentativas de se evitar os ferimentos e mortes no plano físico, partiu-se em seguida para o plano etéreo, e se apelou para magia, e é deste assunto que falaremos.Existem muitas crendices populares sobre armas, como por exemplo na França, que em meados dos séculos XVIII e XIX acreditava-se que havia “balas encantadas” que perseguiam o alvo até abatê-lo. Dentre as nacionais, como as que dizem que a depender do alvo a arma perdia a capacidade de atingir com precisão ou mesmo disparar, como atirar numa caçada contra um animal encantado que na verdade podia ser um dos seres elementais das nossas florestas como o curupira, a caipora, o mapinguari, desgraçaria ou mesmo causaria a morte do caçador. Atirar contra fantasmas, contra lobisomens e mulas sem cabeça, dentre outras criaturas fantásticas que habitavam as florestas e os sertões místicos etc. Atirar contra um “murundu” (cupinzeiro) estragaria a precisão da arma. Dentre muitas outras superstições se enquadram as crenças (principalmente no nordeste do Brasil) do “corpo fechado”, que era invulnerável aos ferimentos de facas e armas de fogo, ou capaz de enganar ou desnortear o perseguidor ou assassino através de fórmulas mágicas, patuás ou “breves”. Um dos mais célebres portadores de “corpo fechado“ foi o cangaceiro Lampião, que teria sobrevivido a diversos ferimentos de arma de fogo.

Conseguia-se o corpo fechado de várias maneiras, a mais comum era com o uso de uma poderosa e secreta oração que podia ter vários efeitos: impedia que a arma do adversário disparasse, causando negas de percussão, ou caíam as balas alguns metros após deixar o cano, ou a depender da força da magia saía água do interior do cano!! Evitavam que o inimigo visse com clareza o possuidor da “mandinga” (o famoso “envultamento”), embaralhando a sua visão causando tonturas ou alucinações.

Meu querido avô me contava dentre as várias e coloridas estórias que ouvi dos mais velhos na minha meninice, quase todas indo do período final do Séc. XIX até a “República Velha”, sobre um cidadão que se metamorfoseava - aos olhos do observador apenas, diga-se de passagem - em um pé de pimenta. Outro caso que ilustra bem este tipo de mandinga me foi contado pelo “seu” Anísio, um descendente direto de escravos que foi trabalhador agregado da fazenda de meu avô, que um cruel e famoso pistoleiro do norte de Minas Gerais estava sendo perseguido por um camarada disposto a vingar-se. Numa estrada deserta os dois oponentes se encontraram a la Western spaghetti, quando a carabina “papo amarelo” foi empunhada pelo vingador, seus olhos são obscurecidos por uma nuvem negra, não morrendo este por pouco, em outro encontro quase fatídico desta vez numa vila, o assassino é protegido por um grupo de crianças que saídas do nada fazem barreira contra as balas da 44, enquanto o maléfico vai embora rindo. A magia se quebra quando o “vingador” encontra na casa da amante do pistoleiro uma peça de sua roupa, e com ela amarrada à boca do “rifle” finalmente acerta-o, matando-o, o cadáver do assassino ficou encostado numa árvore, morreu de pé, tendo seus dedos sido quebrados para se poder retirar o revólver...

Outra maneira de se conseguir o corpo fechado é usando um patoá, patuá (ou “breve”) palavra certamente derivada dos dialetos franceses “patois” (cuja pronúncia é mesmo patoá), é em síntese um amuleto em forma de saquinho que contém uma oração, ossos, cordões bentos, ou outro sortilégio. É carregado junto ao corpo, ou nas vestes do portador. Este também permite “envultar” das diversas maneiras já elencadas acima ou fazer armas falharem. Sobre isso meu avô contava que na Serra do Vitorino (Bahia), lá por volta de 1920, dentro de uma vendinha começou uma confusão, três elementos empurram um outro para fora do boteco, e em seguida já no terreiro descarregam suas “rabo de égua” (grandes garruchas de percussão) contra ele, de dentro da fumaceira da pólvora negra saiu o camarada ileso!! Este “dito cujo” em seguida arranjou confusão com um “caboclo cabo verde” (mulato de cabelo liso, mestiço de índio) e armou para matá-lo, quedou-se acocorado dentro do ranchinho de pau-a-pique do caboclo próximo a porta dos fundos, mas o branco de sua camisa destacou-se num dos buracos do barro denunciando-o, e foi ali que a boca da garrucha do índio, que o havia visto a distância por causa disto, foi colocada, de um tiro a queima-roupa nas costas o infeliz desabou mas não morreu de imediato, levado a vila lá resistiu por algumas horas. Morria... A vela era colocada nas suas mãos e num gemido gutural e medonho retornava do mundo dos mortos com muito sofrimento, chamado para atender o caso meu bisavô Teófilo Carvalho (o sangrador da vila, fazia sangria, abria abscessos etc, numa época difícil onde não haviam médicos formados por perto).

- Seu Tiófilo, tira o que está em meu bolso esquerdo, ele não me deixa ir...

- Olha aí, vai confiar nestas porcarias, pois foi bem no lugar do patuá que a bala entrou.Logo que retiraram o patuá o camarada deu um gemido medonho e foi-se embora para de onde não se volta...

Colocaram como de praxe a moeda na boca do defunto (simpatia para que o seu assassino não pudesse ir longe, por causa dos pés inchados ou ficasse andando em círculos, certamente isso encontra eco nos antigos ritos gregos mortuários de pagar a travessia do rio Aqueronte ao barqueiro do Hades: Caronte, adaptado para os costumes patriarcais e violentos do nordeste e Brasil agrário). O caboclo assistiu do mato as exéquias do valentão, esperou o sepultamento, retirou a moeda do cadáver, e como diz o povo caiu “na arca do mundo”...

Podia-se ainda conseguir o corpo fechado quando se usava imagens ou objetos sagrados inseridos na própria carne (pequenas imagens de santos por exemplo), assim fez um camarada que encomendou a outro que ia a Roma, uma “lasca do santo lenho” (a santa cruz original), o outro não achando lhe deu uma lasca de madeira qualquer, com o que ele passou a barbarizar com atitudes de valentão, o compadre espertalhão ficou curioso com tais façanhas feitas com um reles pedaço de pau, e esclarecido o engodo acabou a fé do suposto recente valentão, que voltou a ser “mofino” (covarde).

Deve-se esclarecer que o corpo fechado ainda podia ser obtido pelos rituais da Umbanda e do Candomblé (os “catimbozeiros” das caatingas), por simpatias, e além de proteger contra armas de fogo e brancas servia ainda pra adivinhar emboscadas, proteger contra mordidas de animais hidrófobos ou venenosos, mau olhado, bruxarias, evitar coices e amansar animais bravos... Mas em nenhum dos casos podia-se atravessar rios ou cercas de arame farpado, pois nessa situação ficavam vulneráveis aos tiros dos inimigos...

NÃO RECOMENDO: Paixão de Varanda, Caio Araújo.



Curta-Metragem Cult cheio de circunvoluções abstrato-sensitivas de alta definição experimental em busca da essência de uma manifestação artística envolta de signos ambivalentes atemporais que, decerto, trata da brevidade, in loco, da vida. Ou não.
Powered By Blogger