terça-feira, 20 de julho de 2010

Dalai Lama na tarde de 6 de abril de 1999 disse: As mudanças são possíveis.

Todos somos iguais, quanto ao potencial, desejos etc. Portanto, todos queremos o mesmo: uma vida feliz, uma família feliz, uma sociedade feliz. A humanidade pode mudar positivamente através desse desejo, através do indivíduo que cultiva esse desejo. É uma mudança longa, mas é a única forma de mudança possível.

No início deste século, muitas ideologias nasceram e no entanto já morreram. O conceito de paz, de solidariedade se tornou mais forte ao longo deste século. O espírito de não violência, de solidariedade e negociação também cresceu. Vejam o exemplo da África do Sul!

Também cresceram os sinais de espiritualidade. No início do século, as pessoas apenas se abrigavam em uma crença religiosa. Agora, neste final de século, com a incorporação de hábitos e métodos da ciência, as pessoas aprenderam a observar, analisar. Ciência e religião se aproximaram. Um exemplo: a física quântica tem várias similaridades com os conceitos budistas.

Também o poder de destruição do homem hoje é muito grande, e isso faz crescer o desejo de paz. Antes da Segunda Guerra, quando as nações declaravam guerra e se mobilizavam, chamando a população para se alistar, não havia questionamentos. Já no Vietnã e a partir de então não há esse comportamento. Muitos se opõem às guerras.

Do ponto de vista da ecologia, no início deste século não se conhecia nada sobre ecologia. A preocupação com o meio ambiente era algo reservado a especialistas. Agora, a consciência ecológica cresceu muito.

O mesmo aconteceu com os conceitos de direitos humanos e auto-determinação das nações, que atualmente gozam de aceitação universal.

Todas essas mudanças são indicações positivas que nos levam a crer que o próximo século será melhor, mais pacífico. Isso também significa que teremos que pensar mais holisticamente e nos esforçarmos mais.

Hoje, graças à tecnologia e à economia moderna, o mundo está ficando menor e mais interdependente, especialmente quanto ao meio ambiente e à economia. Em termos modernos, nações e continentes são tremendamente interdependentes. É impossível pensar em termos de uma nação independente.

Considerando isso, o conceito de separação entre "nós" e "eles" não mais existe. Meu interesse e os interesses dos outros são interdependentes, o interesse deles é o meu e vice-versa.

Por isso temos que pensar globalmente, pensar em uma responsabilidade global. Conceitos como Oriente e Ocidente, Norte e Sul não mais se aplicam. Especialmente no campo da ecologia e do meio ambiente não podemos pensar como nações isoladas, temos que fazer esforços coletivos de preservação.

Por isso, fico feliz de ver esta cidade limpa, pura e bem conservada. É muito bom isso. Quando estive no Rio de Janeiro em 1992 não havia a preocupação com a limpeza, e havia um problema muito sério de meninos de rua.

Outro problema sério para o Brasil é a questão da Amazônia. Um dano na Amazônia afeta não afeta só o Brasil, mas todo o mundo.

Os problemas ecológicos não são isolados. Temos que analisá-los e fazer esforços coletivos a nível global, nações ricas e pobres. Porque em todo lugar, está o mesmo ser humano, e é a mesma Terra.

Outro problema sério é a discrepância existente entre o hemisfério Norte e Sul, a diferença econômica. Mesmo nos Estados Unidos, há uma grande diferença entre ricos e pobres. O número de pobres cresce, e também cresce a concentração de bilionários. Essas diferenças econômicas graves são uma fonte de problemas como a criminalidade urbana.

É fundamental que encontremos solução para elas. Imagine se na Índia e na China, com cerca de dois bilhões de habitantes, houvesse um nível de vida dos países do Norte. Cada pessoa teria um carro. Isso é impossível. Seria um desastre ecológico. Portanto, chegou o momento de se pensar na humanidade e seus problemas como únicos, comuns a todos.

O que é o tempo — Agora vamos agora analisar a perspectiva do tempo. O tempo de fato existe, e nós existimos no tempo. Mas se investigamos onde está tempo, não o achamos. Portanto, não é absoluto, é relativo.

O passado, bom ou mau, se foi. O futuro é que importa, mas o futuro depende do presente. O agora é que faz a diferença para o futuro.

Mas onde está o presente? Também não o consigo achar. Só posso ver o passado e o futuro, não posso achar o presente. Um segundo, um milésimo de segundo, onde está? Mas sem o presente, onde estão o passado e o futuro? Isso nos leva a crer que o presente deve existir. Mas não o achamos.

Em toda a parte, em todos os países as respectivas populações se acreditam o centro do mundo. No Tibete, se acreditava que nosso país era o centro do mundo, porque foi onde floresceu o Dharma. Mas os chineses também acreditam o mesmo em relação ao seu país. E no México, me contaram que a cultura tradicional dos povos nativos diz que ali é o centro do mundo.

De maneira similar, para os moradores desta cidade ela é o centro do mundo. Os que estão aqui na Ópera de Arame acreditam que ela é o centro do mundo. E este ser humano acredita que ele é o centro do mundo.

É lógico que as coisas sejam assim. O mundo é conhecido a partir do ponto de vista do observador. É a partir do seu eu que determina onde ficam o Norte, Leste, Oeste, Sul. Essas determinações são feitas a partir do eu. Mas não podemos achar o eu! Se dissermos que é o corpo, o eu vai dizer "não, esse é o meu corpo". Se dissermos que é o cérebro, o eu vai dizer "não, esse é o meu cérebro".

Mas se também se disse quer o eu não existe, também se estará errado. Porque o eu está aí, já que vemos, percebemos, temos sensações. Temos, então, que ver o conceito budista de existência interdependente.

Como essas coisa estão aí, e não conseguimos encontrá-las? Para entender isso, temos que pensar no conceito de surgir interdependente, que é um conceito que se assemelha aos desenvolvidos pela física quântica.

Muitos cientistas não gostam de usar a palavra realidade, porque realidade pressupõe algo absoluto, e não há nada absoluto. É por isso também que algumas filosofias nascidas na Índia dizem que as coisas estão aí mas não podem ser encontradas, elas existem apenas através da cognição.

O objetivo desse encontro foi podermos nos tornar pessoas melhores, com um coração mais caloroso. Meramente utilizar nosso potencial humano para encontrar prazeres sensoriais não iria nos diferenciar muito dos animais. O que pode nos diferenciar é nossa consciência, o potencial que ela contém e como podemos usar esse recurso pra adquirir um senso de paz e tranqüilidade duradouros.

Primeiramente, nosso objetivo foi ver como ganhar mais tranqüilidade interior, como ter uma mente mais relaxada, descontraída, como eliminar os problemas criados pelo homem ou ao menos reduzi-los.

Com relação aos problemas com que temos que conviver, como a velhice, doença e morte, cabe nos preparamos e aceitarmos para que possamos atravessar esses momentos. Por isso, é preciso ter tranqüilidade mental.

Uma perspectiva holística é muito adequada para isso. De modo geral, não vemos que os problemas têm uma infinidade de causa e condições. Geralmente consideramos que têm uma única causa e nos concentramos nela.

Mas uma abordagem holística é mais eficiente e está ligada à idéia de interdependência. É importante, portanto, que nosso foco de visão seja amplo. A educação e a pesquisa científica podem abrir nossa cabeça, desde que não estreitemos nosso campo de visão como alguns cientistas que deixam de ver o todo.

A autoconfiança também é importante, não a autoconfiança cega e excessiva, mas uma autoconfiança baseada na compaixão. Essa pode os levar a ter força interior. Então, podemos ter um cérebro movido por uma visão holística baseado em um coração caloroso. E um cérebro investigativo baseado em um coração caloroso é a melhor forma de encontrar a paz.



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