Você disse à imprensa brasileira: "O Brasil está ligado à minha vida e tem a melhor música do mundo". Qual sua relação com a música brasileira?
Henri Salvador - Para mim, é a melhor música não somente porque tem muitos talentos mas porque eles são vanguardistas, se arriscam musicalmente e harmonicamente. Jobim foi muito, muito longe e a maior parte dos compositores são surpreendentes, fazem grandes achados musicais. O maior, porque é o maior, eu o chamo de Deus, é Jobim. Ele é sempre surpreendente. É pura pesquisa musical.
Qual a importância que a música brasileira teve em sua carreira?
Henri Salvador - Foi muito importante. Para compor, por exemplo. Componho mais facilmente no ritmo da bossa nova, ele inspira melodias.
E qual a importância do jazz na sua vida?
Henri Salvador - O jazz foi importante no início. Eu admirava os grandes como Count Basie e Duke Ellington. Havia um compositor americano que eu adorava, Cole Porter. Para mim, era um melodista maravilhoso. O jazz foi muito importante no início, depois mergulhei na música brasileira, que é inovadora. No Brasil, há sempre alguém que chega e faz coisas novas. É um país muito rico. E existem músicos que se aproximam de Chopin. Tem um pianista que me deixou abismado num disco.
Que cantores marcaram seu estilo, suas interpretações?
Henri Salvador - Minhas composições são uma mistura de tudo, de jazz, de bossa nova e da canção francesa também. Meu ídolo no "music hall" era Maurice Chevalier. Ele pegava uma canção sem importância e fazia uma obra-prima. Tecnicamente, eu me inspirei em Frank Sinatra e Nat King Cole para a respiração, a dicção e a escolha das canções. Eles estavam na vanguarda. Foram os melhores cantores dos melhores compositores, com as melhores orquestras. Sinatra dizia que, quando se canta, é melhor cantar uma canção boa que uma ruim; uma canção ruim é ruim para toda a eternidade.
Não seria um exagero dizer que você é o "inventor" da bossa nova?
Henri Salvador - Não sou o inventor. Foi Jobim quem inventou a bossa nova.
No início, foi João Gilberto quem inventou a batida do violão e uma nova maneira de cantar que foi batizada de bossa nova. Ele gravou um disco com Elizeth Cardoso e Tom Jobim, no qual tocava violão em duas faixas, de maneira totalmente nova.
Henri Salvador - Verdade? Não sabia.
A imprensa francesa repete muito essa história que atribui a você a invenção da bossa nova. Isso o incomoda?
Henri Salvador - Eles estão errados. Não posso me atribuir esse fato, não fui eu. Não gosto que digam que sou o inventor da bossa nova. Não sou capaz, sou apenas um pequeno compositor comparado a Jobim. É um exagero, sou um pequeno melodista da canção francesa. Jobim é um gigante. Fiquei contente quando fui ao Brasil no ano passado, ao ver que o aeroporto do Rio se chama Jobim. Nunca isso aconteceria na França... Mas tive um choque ao ouvir um saxofonista que tocava mas era uma ... merda. O aeroporto se chama Jobim e não se põe alguém que saiba tocar bem para executar as belas músicas de Jobim. Isso me deixou triste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário