terça-feira, 27 de abril de 2010

Pasquim entrevista Madame Satã [trechos]

Pasquim - Eu ouvi dizer que você matou um com um soco.

Satã - Não, eu fui acusado de ter matado o falecido compositor Geraldo Pereira com um soco. Mas o caso foi o seguinte: eu entrei no Capela e estava sentado tomando um chope. Ele chegou com uma amante dele (ainda vive essa mulher), pediu dois chopes e sentou ao meu lado. Aí tomou uns goles do chope dele e cismou que eu tinha que tomar o chope dele e ele tinha que tomar o meu. Ele pegou o meu copo e eu disse pra ele: "olha, esse copo é meu. Aí ele achou que aquele copo era dele e não era o meu. Então eu peguei meu copo e levei pra minha mesa. Aí ele levantou e chamou pra briga. Disse uma porção de desaforos, uma porção de palavras obicênias (sic), eu não sei nem dizer essas coisas. Aí eu perdi a paciência, dei um soco nele, que caiu com a cabeça no meio-fio e morreu. Mas ele morreu por desleixo do médico, porque ele foi pra assistência vivo.

Pasquim - Quem é que te deu esse apelido de Madame Satã?

Satã - Esse apelido de Madame Satã ganhei em 1938, no "Bloco Caçador de Veados", depois passou para "Caçador da Floresta" e morreu com esse nome. Depois nasceu como "Turunas de Monte Alegre".

Pasquim - Mas você era caçado ou caçador?

Satã - Eu era caçador.

Pasquim - Mas conta a história do apelido.

Satã - Bem, havia o baile de carnaval e o concurso. Então eu me exibi com a fantasia de "Madame Satã" no Teatro República e ganhei o primeiro lugar. Ganhei um tapete de mesa e um rádio Emerson, feito um balezinho, ele abria do lado, assim, feito uma portinha. O último ano que eu desfilei foi em 41. Eu estava preso, mas anulei um processo e vim passar o carnaval na rua. Desfilei com "A Dama de Vermelho".

Pasquim - O que que você acha do Clóvis Bornay?

Satã - Eu vou te explicar uma coisa: eu não tenho o que dizer dessas bichas velhas, não.

Pasquim - ainda agora nós estávamos conversando sobre Osvaldo Nunes. É verdade que ele briga bem?

Satã - Eu conheci o Osvaldo Nunes, mas ele não era cantor ainda. Mas eu não acho que ele brigue bem, não. De quando em quando eu fico sabendo dos escândalos que eles fazem por aí. Eu acho que do jeito que eles brigam não é briga, é escândalo.

Pasquim - Você disse que foi amigo do Francisco Alves. O que que você achava dele?

Satã - O Chico Alves pra mim foi uma grande pessoa, não só como cantor, mas também como companheiro de farra e como amigo.

Pasquim - E Noel Rosa, era bom sujeito?

Satã - Noel Rosa já desceu de Vila Isabel como um bom sujeito, pelo menos como cantor e como companheiro.

Pasquim - Você conheceu a Araci de Almeida?

Satã - Araci de Almeida eu conheci menina, ainda, quando ela começou a gravar as músicas de Noel Rosa. Pra mim foi uma grande amiga e uma grande companheira. Era o meu tipo, o tipo assim que quando se queimava já viu, né.

Pasquim - Quando Nelson Cavaquinho foi da polícia, ele nunca te prendeu, não?

Satã - Nunca. Nelson Cavaquinho é muito meu amigo, sempre foi.

Pasquim - Mas ele não era civil.

Satã - Mas era muito meu amigo.

Pasquim - E esses compositores: Wilson Batista, Ismael Silva e tal, você conheceu?

Satã - Wilson Batista eu tive uma briga com ele muito grande quando ele desceu lá do morro com aquela disputa com Noel Rosa. Foi outra briga que eu tive. Foi ali na Galeria Cruzeiro, ele saiu correndo por ali. Foi quando ele tirou aquele samba "Rapaz Folgado", pro Noel.

Pasquim - E o Ismael Silva?

Satã - Ismael Silva preto? Ele estava sempre ali na Lapa. Era um bom sujeito só que quando bebia muito ficava chato.

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