quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Marinha do Brasil

Com a proclamação da independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, D. Pedro também estava declarando guerra à metrópole lusitana. Quando o primeiro Governo do Império brasileiro se instalou em outubro de 1822, somente a área de Minas-Rio-São Paulo era completamente leal à causa brasileira. Logo, no Rio de Janeiro, a capitulação das tropas portuguesas não constituiu um grande problema. Ao contrário de outras regiões como Bahia, Maranhão, Pará e Cisplatina, onde houve franca resistência à separação política do Brasil.

Estava claro para o Governo brasileiro, no intuito de estender e consolidar sua autoridade sobre uma nação espalhada ao longo de uma extensa fronteira marítima, que o elemento mais importante naquela situação era o Poder Marítimo. Ou seja, somente ganhando o domínio do mar poderia o Governo expulsar os portugueses, impedir a chegada de reforços de Lisboa, forçar o Norte a submeter-se, e colocar as diversas províncias sob a autoridade imperial.

Com uma percepção nítida do problema, era necessário iniciar o processo de formação da Marinha Imperial. Essa tarefa caiu sobre os ombros do novo Ministro da Marinha, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Luís da Cunha Moreira. Um dos poucos brasileiros que pertencera à Marinha portuguesa. Sua experiência se fundamenta em sua participação durante todas as Guerras Napoleônicas e seu importante desempenho na captura anglo-lusitana de Caiena em 1808.

No porto do Rio de Janeiro, encontravam-se alguns navios da Armada portuguesa que haviam caído sob o controle do Governo Imperial brasileiro. Eram seis naus, três fragatas, duas corvetas e três brigues, porém, dentre as naus, principal navio de linha da época, somente a Martins de Freitas estava em boas condições. A Príncipe Real estava desarmada e as outras eram irreparáveis. Mas, com a ajuda de uma subscrição nacional, o apoio dos marinheiros brasileiros e de muitos portugueses, que se tornaram brasileiros por adoção, criou-se a Esquadra Nacional, composta pela Nau Pedro I, três fragatas, duas corvetas e cinco brigues. O Brasil conseguiu constituir uma Força Naval respeitável, em condições de fazer frente aos portugueses.


Os movimentos a favor da libertação política do Brasil se desenrolavam também no exterior. Em Londres, encontrava-se o General Felisberto Caldeira Brant Pontes, aliado do partido patriótico e amigo de José Bonifácio. Tornou-se, para o novo Governo brasileiro, um agente digno de confiança e capaz de comprar armas, levantar empréstimos, coordenar o recrutamento de estrangeiros e dar imediato aviso do que ocorresse em Portugal. O General Caldeira Brant tinha opiniões firmes e esclarecidas sobre os problemas de estratégia militar, sua passagem pela Real Academia Naval, em Portugal, o levou a adquirir plena consciência da importância do poderio marítimo. A necessidade de uma Armada Imperial que merecesse confiança constituiu um tema ao qual se reportava com freqüência em suas correspondências com o amigo e Ministro José Bonifácio.

Foi convidado pelo Governo brasileiro para comandar a recém-criada Armada brasileira, o Almirante inglês Lord Alexander Thomas Cochrane, o qual trouxe consigo mais quatro oficiais britânicos, dentre os quais João Pascoe Grenfell, que se destacou por prestar imensos e inestimáveis serviços à nossa Pátria.

O Almirante Cochrane assumiu o Comando-em-Chefe da Esquadra Imperial em 21 de março de 1823, quando içou, no mastro da Nau Pedro I, o seu pavilhão de 1º Almirante da Marinha do Brasil. A 1º de abril, partiu do Rio de Janeiro com destino a Salvador levando as ordens do Ministro Cunha Moreira, para que estabelecesse um rigoroso bloqueio, destruindo e tomando todas as forças portuguesas que encontrasse, fazendo o maior dano possível ao inimigo.

O início do bloqueio ao porto de Salvador foi retardado em virtude da vinda de uma Esquadra portuguesa para reforçar a resistência do General Madeira de Mello, comandante das tropas portuguesas estacionadas na Bahia. Ao amanhecer do dia 4 de maio de 1823, as duas esquadras se avistaram em alto-mar e imediatamente a capitânia brasileira desfraldou no mastro do traquete o sinal de Preparar para o combate! Porém, por volta das sete horas da noite baixara um violento temporal impedindo a continuidade do combate, fazendo com que os navios portugueses se recolhessem ao porto de Salvador.

A manutenção do bloqueio ao porto de Salvador foi uma tarefa rude e gloriosa porque inúmeras embarcações tentavam forçar o bloqueio e conseqüentemente eram aprisionadas. Além desse bloqueio, as forças portuguesas sofriam o ataque contínuo dos patriotas baianos do Recôncavo e da ilha de Itaparica na reação contra a resistência do General Madeira de Mello. Desesperançado de qualquer reforço, lutando com dificuldades insuperáveis para abastecimentos, resolveu, a 2 de julho de 1823, abandonar o Brasil embarcando nos navios portugueses e seguir rumo à pátria. Essa fuga foi a primeira grande demonstração do valor da Marinha na independência.


O Capitão-de-Fragata John Taylor, um dos oficiais ingleses que acompanharam o Almirante Cochrane, comandando a Fragata Niterói, recebeu a incumbência de perseguir até as costas da Europa a fugitiva, mas, ainda assim, poderosa esquadra portuguesa, composta de 86 navios, de guerra e onerários, só regressando a 9 de novembro de 1823.

Depois de sua atuação na Bahia, o Almirante Cochrane, com sua famosa capitânia, a Nau Pedro I, apresentou-se na barra do porto de São Luís em 26 de julho de 1823. Fazendo supor que atrás de si, pronta a apoiá-lo, se aproximavam poderosas forças de mar e terra, conseguiu com que dois dias depois o Maranhão já aderisse oficialmente à Independência e ao Império. Após pacificar e integrar o Maranhão, o Almirante Cochrane enviou à Província do Pará o Capitão-Tenente João Pascoe Grenfell, com o Brigue Maranhão, que chegou à barra de Belém no dia 10 de agosto. Após proceder de modo semelhante ao que se realizou no Maranhão, a Junta Governativa reconheceu, em sessão solene, a Independência no dia 15 de agosto.Os portugueses em Montevidéu continuavam a resistir aos interesses do Governo Imperial brasileiro durante 1823. Sofriam um rigoroso bloqueio desde 15 de março, e em meados do ano, as vitórias da Marinha Imperial no Norte do país permitiram que fosse reforçada a flotilha brasileira no Sul. O auge da resistência portuguesa se deu a 21 de outubro, quando navios tremulando a bandeira lusitana, sob o comando de D. Álvaro da Costa, saíram do porto de Montevidéu em ordem de batalha. Seguiu-se um violento combate onde os brasileiros mantiveram-se firmes, comandados pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Antônio Nunes, o que forçou os portugueses a abandonarem a luta e retirarem-se para Montevidéu. A futilidade em prosseguir a resistência estava clara, por isso foram iniciadas as negociações para a rendição portuguesa, o que veio a ocorrer em 18 de novembro de 1823.

No dia 9 de novembro, o Almirante Cochrane tinha chegado ao Rio de Janeiro, onde recebeu, entre outras homenagens e honrarias, o título de Marquês do Maranhão. Escreveu seu nome nos livros de história como um dos maiores nomes da Pátria, no período de nossa Independência; um vulto de legenda dentro da Marinha brasileira, Primeiro Almirante da Imperial Marinha do Brasil, merece juntar-se aos insignes vultos da nossa Independência Política.

Sob seu comando, a Marinha Imperial assegurou o contato entre os núcleos dispersos da população, varreu dos mares as esquadras hostis e, através da ligação entre os centros mais desenvolvidos, propiciou a conjugação dos esforços que nos conduziram à condição de país livre. E mais importante que as ações militares propriamente ditas foi a simples presença das Forças Navais do Império nas províncias do Norte. Tanto que por volta de 1824 todas as tropas portuguesas já se encontravam fora do território brasileiro, e, em 1825, a Independência do Brasil foi reconhecida por Portugal e pelo mundo.

A extraordinária habilidade dos homens que comandaram e tripularam os navios da Esquadra brasileira fez com que essas ações iniciais de combate direto fossem seguidas por patrulhas eficientes que asseguravam o completo domínio do mar para o Brasil e, com isto, evitavam qualquer possibilidade de reforço de tropas portuguesas para o território brasileiro. O alto grau de eficiência de nossos navios foi sentido, também nas negociações de paz, cujas condições preliminares iniciais dos portugueses eram de que cessássemos nossas ações navais. Ou seja, a Marinha de Guerra mostrou-se definitivamente como um fator decisivo para a consolidação da Independência do Brasil.

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