sexta-feira, 19 de março de 2010

Trechinho: Monstros e Medos [Tatiana Belinky]


"- Como assim? - espantaram-se os irmãozinhos.

- Simples! É que cada cabecinha é bem diferente da outra, mesmo de irmãos gêmeos. E cada uma entende a história do seu jeito particular!

As crianças pegaram os livros escolhidos e saíram da biblioteca, dispostas a ler cada um do seu jeito.

- Mas eu gostaria de ouvir uma história, agora mesmo - disse a Luli. - Uma história nova!

- Eu também - falou o Dudi.

E não é que neste mesmo instante, surgido não se sabe de onde, apareceu na frente dos dois um personagem misterioso, difícil de descrever: parecia homem e parecia mulher, parecia velho e parecia jovem, não era bonito nem era feio, não era...

- Quem é o senhor? - perguntou Dudi.

- Quem é a senhora? - perguntou Luli.

- Vocês sabiam que o livro é um objeto mágico? - disse a bibliotecária, entregando um livro a cada criança que escolhera um título para levar para casa.

- Mágico, é? Como assim? - perguntou o Dudi.

- Mágico, de que jeito? - ecoou a Luli, sua irmã gêmea.

- Mágico, sim! Mágico, porque é maior por dentro do que por fora; é um objeto pequeno, leve, que você pode carregar e levar de um lado para outro; e no entanto, dentro dele, entre as duas capas, cabe um mundão de coisas, de todos os feitios e tamanhos: casas, castelos, navios, aviões, e até dinossauros, tão grandes!

- É mesmo - concordou o Dudi -, cabem até monstros!

- E coisas de meter medo! - acrescentou a Luli.

- E tem mais - disse a bibliotecária. - O livro é mais mágico ainda porque ele, o mesmo livro, é tantos livros quantos os seus leitores!

- Não se espantem - respondeu o personagem, com uma voz estranha, mas agradável. - Eu sou... bem, eu sou a, ou o, "Atemporal". E posso contar histórias de todo tipo! Querem ouvir uma agora? Então, sentem-se aqui na grama, na minha frente, e ouçam esta história que é, digamos, nem velha nem nova, mas, como eu, "atemporal". Atenção, vou começar!

E começou:

- Não foi no tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça, nem no tempo em que os bichos falavam, nem no tempo do onça... e nem nos antípodas que andam de cabeça para baixo no globo terrestre, nem no mundo da lua, nem em algum lugar muito distante, nem muito exótico, nem muito estrambótico. Foi no nosso próprio tempo, no nosso próprio mundo, e até quase no nosso próprio país.

Vejam que eu disse "quase". Quase, porque o local da minha história se encontra perdido no meio do mar-oceano, em uma ilha tão pequena que nem figura no mapa-múndi do atlas escolar e não é encontrável nem pela internet...

Um país que é pouco maior que o estádio do Maracanã, e é chamado Microlândia: o Reino da Microlândia, uma monarquia, sim, com palácios, castelo, rei, principal herdeiro, princesa casadoira e tudo...

Dudi e Luli se entreolharam meio desconfiados. Mas o personagem Atemporal continuou:

- Pode parecer um conto de fadas, mas não é. Não existem fadas no Reino da Microlândia.
Bem, mas não era isso que eu queria contar a vocês. Agora, prestem atenção... Lembrem-se de que eu, o Atemporal, posso contar qualquer coisa, porque tenho, entre outras vantagens, o dom da ubiqüidade!


E continuou..."




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