sexta-feira, 12 de março de 2010

O Habitat de Dona Canô

Ela acorda cedo, por volta das 6 da manhã, toma café com leite e suco. Meio-dia é o único horário em que se alimenta de algo sólido, comida de verdade. E aí não faz restrições. Como de tudo, mas bem pouquinho, diz. No cardápio, sempre recheado de frutos do mar e moquecas, não faltam azeite de dendê, leite de coco e o que mais fizer parte do tempero. Moqueca de arraia com feijão de leite é uma de suas combinações preferidas. À noite, só sopa e café. E para que mais?, aproveita a pergunta como resposta a Rodrigo, que reclama que ela come muito pouco. Ao fim do jornal das 8 da noite na TV, Dona Canô vai dormir. Massagem e fisioterapia fazem parte da sua rotina. Os filhos acham que devo fazer e eu faço, fala, obediente e resignada.

Sobre sua cama, coberta por lençol impecável, tem sempre algo para ler. O tipo de leitura não importa. Leio jornal, revista, livro, história, poesia. Gosto muito de poesia, diz, e conta orgulhosa que sua filha Mabel apelido de Maria Isabel é professora e escritora de histórias infantis e poesia. De todos os oito, Mabel foi a única que completou o terceiro grau. Caetano chegou a cursar filosofia, mas não quis tirar o diploma, afirma. Entretanto, isso nunca foi motivo de preocupação nem para Dona Canô nem para José Telles Velloso, o Zeca, seu companheiro por 53 anos, que era funcionário da Companhia de Correios e Telégrafos No dia em que os filhos chegavam e diziam que não queriam estudar mais, que preferiam trabalhar, a decisão era aceita e respeitada. Cada um fez o que quis e hoje todos são felizes, diz.

Bela lição de uma mãe que veio de origem muito humilde, mas teve acesso a teatro, música e poesia; estudou em escola particular; aprendeu a falar francês e a tocar piano. Tudo porque foi criada na casa de uma família rica da região. Assim, arte e cultura permeavam o dia-a-dia da família Velloso. A própria Dona Canô costumava cantar para todos e sempre disse que a música é a melhor coisa do mundo. Sob tal infl uência os oito filhos aprenderam a tocar instrumentos. Os dois famosos não são os únicos que seguiram ligados à arte: Nicinha também toca piano na igreja e Rodrigo faz tecelagem.

Se perguntada sobre sua fama, Dona Canô garante que não entende. Apenas fiquei conhecida por causa de meus dois filhos que nunca se esqueceram de onde vieram nem da mãe que têm, diz. Cumpri o meu dever, soube criar meus filhos, todos são os mesmos da época em que eram crianças, fala, ressaltando que Nicinha, Clara Maria, Maria Isabel, Rodrigo, Roberto, Caetano, Maria Bethânia e Irene não deram trabalho. E conclui que talvez, pelo fato de ter criado bem os filhos, tenha sido recompensada por uma vida tão boa.

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