sábado, 18 de setembro de 2010

Síntese do Dia: Egoísmo

O egoísmo tem a sua fonte no orgulho preso que está a um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade. De nenhum modo Deus criou o homem egoísta e orgulhoso; criou-o simples e ignorante; foi o homem que se fez egoísta e orgulhoso exagerando o instinto que Deus lhe deu para a sua conservação.

Os homens não podem ser felizes se não vivem em paz, quer dizer, se não estão animados de um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocos. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; mas supõem a abnegação; ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; portanto, com seus vícios nada de verdadeira fraternidade, partindo, da igualdade e da liberdade, porque o egoísta e o orgulhoso querem tudo para eles.

Destruir o egoísmo e o orgulho é coisa impossível, dir-se-á, porque esses vícios são inerentes à espécie humana. Se isso fora assim, seria necessário desesperar de todo o progresso moral; no entanto, quando se considera a pessoa em suas diferentes idades, não 
se pode desconhecer um progresso evidente: portanto, se ela progrediu, pode progredir ainda. Se, pois, o egoísmo e o orgulho estivessem nas condições necessárias à Humanidade, como as de se nutrir para viver, não haveria exceções; o ponto essencial é, pois, chegar a fazer a exceção passar ao estado de regra; para isso, antes de tudo, trata-se de destruir as causas que produzem e sustentam o mal.

A principal dessas causas se liga, evidentemente, à falsa idéia que o homem faz de sua natureza, de seu passado e de seu futuro. Não sabendo de onde vem, se crê mais do que não o é; não sabendo para onde vai, concentra todo o seu pensamento sobre a vida terrestre; ele a vê tão agradável quanto possível; quer todas as satisfações, todos os gozos: é porque caminha, sem escrúpulos, sobre o seu vizinho, se este lhe faz obstáculo; mas, para isso, é necessário que ele domine; a igualdade daria a outros direitos que quer ter sozinho; a fraternidade lhe imporia sacrifícios que estariam em detrimento de seu bem-estar; a liberdade, ele a quer para si, e não a concede, aos outros, senão quando ela não leve nenhum prejuízo às suas prerrogativas. Tendo cada um as mesmas pretensões, disso resultam conflitos perpétuos, que fazem pagar bem caro alguns dos gozos que venham a se proporcionar.


Um comentário:

Raymundo Luiz Lopes disse...

Maravilha, valeu!!

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