sábado, 18 de setembro de 2010

Carinhosos


"Meu coração..."

Poucos brasileiros, mesmo que os menos ilustrados, não saberão completar o verso acima. É certo que nenhuma canção esteja tão penetrada em nosso repertório popular quanto Carinhoso: Um sentimentalismo simples nas confissões de um eu devoto através da letra de João de barro, casado à deleitosa melodia de um choro jazzístico de Pixinguinha, e as mais de 200 interpretações gravadas da canção - os nomes vão dos vocais remotos de Dalva de Oliveira aos sons vanguardistas de Hermeto Pascoal - renderam a Carinhoso uma perpetuidade unânime e vezes o título de perfeita canção brasileira.


A Bravo!, conceituada revista de cultura, elegeu-a a mais essencial das canções populares do Brasil e a descreveu como "letra original e música ousada". A música, concebida pelo flautista Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, em 1917, só foi gravada 11 anos depois - em versão instrumental - pois o compositor por muito tempo se sentiu envergonhado de apresentar um choro de duas partes, quando o admissível era de três; e a tão notória letra de Braguinha, como era conhecido João de barro, só surgiu em 1936, a pedido de uma atriz que a interpretaria no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.


Nada disso tornou a canção famosa. Nada, senão a insistida - por parte dos autores - gravação de Orlando Silva, que, assim como outros cantores, também hesitava em relação a Carinhoso e não abriu mão de gravar a valsa Rosa, também de autoria de Pixinguinha e que despertava maior preferência de seus intérpretes. Contra todas as desesperanças, o disco com as duas canções lançado em maio de 1937 pela Victor não só fez jus à originalidade e ao talento do compositor e do letrista, como alavancou a carreira do cantor e obteve êxito inédito em rádio e vendas.

Mesmo que minhas preferências procurem pelos variados gêneros da música brasileira e que esse seja um país tão diversificado que o termo "eclético" nunca encontra totalidade denotativa; se houvesse de dar a uma canção o nome de Brasil, essa seria Carinhoso.

Por Igor Falconieri.

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