quarta-feira, 23 de junho de 2010

Endymion, John Keats (trecho).


Tradução: Augusto de Campos.


O que é belo há de ser eternamente

Uma alegria, e há de seguir presente.

Não morre; onde quer que a vida breve

Nos leve, há de nos dar um sono leve,

Cheio de sonhos e de calmo alento.

Assim, cabe tecer cada momento

Nessa grinalda que nos entretece

À terra, apesar da pouca messe

De nobres naturezas, das agruras,

Das nossas tristes aflições escuras,

Das duras dores. Sim, ainda que rara,

Alguma forma de beleza aclara

As névoas da alma. O sol e a lua estão

Luzindo e há sempre uma árvore onde vão

Sombrear-se as ovelhas; cravos, cachos

De uvas num mundo verde; riachos

Que refrescam, e o bálsamo da aragem

Que ameniza o calor; musgo, folhagem,

Campos, aromas, flores, grãos, sementes,

E a grandeza do fim que aos imponentes

Mortos pensamos recobrir de glória,

E os contos encantados na memória:

Fonte sem fim dessa imortal bebida

Que vem do céus e alenta a nossa vida.




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