quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

‘Nollywood’ conquista a África.

Um acadêmico africano está bebendo café em um aeroporto de Gana quando percebe o filme nigeriano exibido em uma das telas do saguão. “Uma palhaçada! Um crime! Essas imagens imbecis nunca deveriam ser exibidas nesse país. Elas estão envenenando nossa cultura”, ele protesta. É difícil evitar os filmes nigerianos na África. Os ônibus públicos os exibem, assim como os restaurantes e hotéis. Nollywood, como o setor cinematográfico é conhecido produz cerca de 50 longas-metragens toda semana, fazendo dela a segunda indústria cinematográfica mais prolífica do mundo, atrás apenas de Bollywood, a gigantesca indústria indiana.

Comenta-se que Lagos, a capital nigeriana dos negócios, produziu mais filmes do que as estrelas que estão no céu. As ruas estão lotadas de equipes cinematográficas realizando filmagens. Apenas o governo emprega mais gente que o setor cinematográfico. Filmes nigerianos são tão populares no exterior quanto no país. Rebeldes da Costa do Marfim interrompem suas lutas nas florestas quando os carregamentos de DVDs nigerianos chegam. Mães na Zâmbia afirmam que suas crianças crescem aprendendo a falar com os sotaques da TV nigeriana. Quando o presidente de Serra Leoa convidou Genevieve Nnaji, uma estrela televisiva de Lagos, para se juntar à sua campanha, ele atraiu um público recorde aos seus comícios. Milhões de africanos assistem a filmes nigerianos todos os dias, um número muito maior do que os que assistem a filmes norte-americanos. E ainda assim, os africanos têm opiniões conflitantes com relação a Nollywood.

Entre as elites africanas, a hostilidade é comum. Jean Rouch, que promove a arte indígena no Níger, comparou Nollywood ao vírus da AIDS. Críticos culturais reclamam de “cenas macabras repletas de bruxaria” nos filmes. Os mais alarmistas descrevem os diretores e produtores como sacerdotes de vodu que enfeitiçam platéias em outros países. Eles reclamam da “nigerianização” da África, preocupados com a possibilidade de que todo o continente passe a “estalar os dedos como os nigerianos”. Os governos também têm seus momentos de hostilidade, e vários deles passaram a adotar medidas protecionistas, incluindo taxas astronômicas de produção. Em julho, Gana passou a cobrar mil dólares dos atores visitantes e US$ 5 mil de produtores e diretores. A República Democrática do Congo tentou banir os filmes nigerianos. Cinco décadas após a maior parte da África declarar independência, as elites do continente temem uma nova colonização, dessa vez, vinda de dentro. ”Os nigerianos devorarão tudo o que temos”, diz um ex-membro do governo de Gana.

Os magnatas de Nollywood não tentam negar sua influência sobre o continente – apenas a encaram como algo positivo. “Damos desenvolvimento e conhecimento à África”, diz Ernest Obi, chefe do sindicato dos atores de Lagos, durante um intervalo nos testes de elenco de uma legião de garotas adolescentes vestidas com roupas de baile. “Ensinamos coisas às pessoas. Se nos chamam de mestres colonialistas, é uma pena”.


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