segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Elke!



Por que decidiu sair em defesa do filho da Zuzu Angel?

Não o conheci, mas fiquei de saco cheio quando vi um cartaz no Aeroporto Santos Dumont com uma foto dele como procurado, quando todos já sabiam que ele estava morto. Rasguei o cartaz, foi meu lado russo que baixou naquela hora, o russo não é politicamente correto. Fui movida pela paixão, faria de novo.

Era uma ativista política?

Sou extremamente política, mas não sou ativista e nunca fui. Não dá certo. Sou anarquista. Há governo, sou contra. Os governos não resolvem, o ideal tem que estar no coração. Meu coração diz que preciso pagar bem as pessoas, não preciso ser de esquerda ou de direita. Nenhuma esquerda resolveu o problema do povo. Sou contra bandeiras, sou a favor de boas maneiras. Todo mundo que segurou bandeira, acabou traindo. Veja nosso Lula, traiu a bandeira. O poder não corrompe, revela.

Você esteve presa na ditadura. Foi torturada?

Fiquei seis dias presa e tomei tapa na cara, mas sou como galo: não recuo, não. Fui para o interrogatório com a cara pintada de verde e com batom vermelho todo borrado, enfrentei. Fiquei presa com uma contrabandista e duas reféns. Uma de 12 e outra de 15 anos, que estavam lá havia quase seis meses, usadas pela polícia para atrair o pai delas. Tudo muito desumano. Tive que mentir que conhecia o filho da Zuzu, porque senão não teria como explicar aquela minha atitude. Saí porque a Zuzu arranjou o delegado que me tirou de lá.

Isso lhe deixou algum trauma?

Claro que não! Se meu pai passou seis anos na Sibéria e não ficou traumatizado, foi torturado e fazia chacota... Imagina se eu ia ter problemas por causa de seis diazinhos no Dops! Saí de lá e segui minha vida, só que apátrida.

Como isso aconteceu?

Entrei na prisão cidadã brasileira naturalizada e saí de lá apátrida. Eles tomaram meus documentos. Não é um documento que vai me dizer quem eu sou, eu sou brasileiríssima e pronto. Eu já havia votado uma vez. Nessa situação, viajei duas vezes com passaporte amarelo da ONU para apátridas. Isso é sério, porque nem todos querem receber uma pessoa assim, geralmente são perseguidos políticos ou com problemas com o fisco.

Como está a sua situação agora?

Tenho passaporte alemão há cerca de dez anos, é bem mais confortável. Poderia ter pedido anistia, mas seria pedir desculpas, reconhecer erros que não cometi.

Muitas pessoas criticam seu estilo de se vestir. Como surgiu?

Um dia (por volta dos 18 anos) eu acordei de manhã, fui no meu armário e vi que só usava preto. Eu pensei: “Nada disso”. Peguei uma calça e rasguei toda, botei uma meia roxa, enchi a cara de batom, desgrenhei o cabelo e fui para a rua. Levei porrada (de pessoas que se incomodaram com sua aparência). Meu dente entrou pelo lábio, tenho a marca até hoje. Fui parar no (hospital) Miguel Couto. Mas pior foi tomar cuspida na cara, como aconteceu em Ipanema. É difícil ser a primeira, a ousar, a usar esse visual. Atualmente não assusto mais, mas tem gente que acha que sou travesti. Agrado as minorias. Inclusive sou madrinha dos presidiários.
Não é um personagem?

Não, eu sempre fui assim. Não sei ser de outro jeito. Tudo na minha vida, na minha carreira foi acontecendo. Não escolhi nada, fui escolhida. Não programei nada e até hoje ainda não sei o que quero ser quando crescer. Foi meu primeiro marido que disse que eu seria modelo. Ele descobriu que o Guilherme Guimarães (costureiro) ia fazer um desfile e me levou até a casa dele. No elevador, pensei em voltar, mas bateu curiosidade. E deu certo. Experimentei uma roupa e ele só marcou o dia do desfile. Dois anos depois, em 1972, fui para o Chacrinha e, no mesmo ano, fiz meu primeiro filme e minha primeira peça.

Você está fora da tevê. É uma opção?

Ando só borboleteando, mas não é uma opção minha. É que não tem aparecido nada mesmo. Opção minha foi deixar de ser jurada. Jurado é uma coisa muito ultrapassada. Não tenho problemas em ficar velha, mas ultrapassada nunca. Mas tenho projetos de comandar umprograma de entrevistas.

Qual foi seu último trabalho na tevê?

Faz doze anos, era um programa no SBT chamado Elke, que eu fazia na mesma época do júri (do programa Silvio Santos). Forças ocultas o tiraram do ar, ninguém me deu explicações, mas tenho duas hipóteses. Quando eu dava 3, 4 de ibope, estava bom. Quando subiu para picos de 15, tiraram do ar. Não sei qual o problema deles com ibope. Mas a verdade é que o programa saiu do ar no dia seguinte que coloquei um casamento gay no ar.

Como foi trabalhar com Silvio Santos?

Ele é a pior pessoa do mundo, coitadinho! Tem gente que é tão pobre, que só tem dinheiro. Eu nunca briguei com ele, mas um homem que compara Cristo a Collor de Melo, meu amor... Acho que respeito é bom. Eu consegui ser respeitada por ele, mas foi difícil. Nunca tive muito contato com ele. Ele não é da mesma enfermaria que eu. Não lido bem com falta de respeito. Contato mesmo tive com o Chacrinha. Não voltaria a trabalhar com o Silvio, já paguei meu carma. Uma vez ele me chamou e disse para eu parar de dar dez aos calouros, que estava ficando sem graça. Respondi: “Olha, meu filho, eu não sou covarde, não vou chutar cachorro morto, vou ajudar. Mas, é claro, se você quer que eu dê zero, dois, é só chamar o presidente fulano de tal, o governador fulano de tal”.

Por que não teve filhos?

Fiz três abortos. Sempre soube que não tinha talento para isso, que não saberia educar uma criança. Parir é fácil, mas educar é difícil. Setenta por cento da mulheres que têm filhos não deviam. Sou completamente consciente do passo que posso dar. Eu nunca quis segurar homem. Sempre disse: “Quer ter filhos? Vai ter com outra”. Não estou aqui para interferir no carma de ninguém.

Foi casada várias vezes. Foi uma mulher de muitos amores?

Me casei oito vezes e sou amiga de todos os meus ex. Menos de um psicopata. Ele era perigoso. Falava que ia a um lugar e, quando chegava, ele já estava. Um dia acordei de madrugada e ele estava sentado na poltrona vestido de Elke. Um horror, parece que queria roubar minha alma. Mas os outros foram maravilhosos. O melhor da vida não é viver, é conviver.

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