O coordenador do curso de medicina da UFBA declarou que...
Tom Zé - Fale devagar que eu ouço mal.
O curso de medicina da UFBA teve um resultado ruim no Enade. O coordenador do curso, Antônio Dantas, atribuiu isso ao "baixo QI" dos baianos. O que o senhor acha disso?
Tom Zé - (às gargalhadas) Que maravilha. E ele não é baiano, não?
É baiano.
Tom Zé - Essa declaração não merece nem...é uma coisa inocente, completamente sem base em coisa nenhuma. Nenhuma população de nenhum canto do Brasil pode ser avaliado como (tendo) baixo QI. O que acontece é que em alguns momentos alguns grupos são particularmente influenciados pela filosofia do niilismo americano que tá na televisão e aí aparecem esses fenômenos. Mas aí pode aparecer na Bahia, em qualquer lugar; isso é bobagem.
Ele também disse que o baiano só toca o berimbau porque tem um corda só; se tivesse mais de uma, não conseguiria tocar. O senhor ao que parece toca outros instrumentos além do berimbau, não?
Tom Zé - (risos) É...naturalmente. Não é só isso. Primeiro que o berimbau que compõe uma....tá gravando?
Sim, estamos.
Tom Zé - Deixa eu dizer editado pra você botar aí: o berimbau faz parte de uma cultura que enriquece a Bahia e o fato dele ter uma corda só é um dado complicador que fala bem dos que tocam esse instrumento ao invés de falar mal. É uma exigência maior de sensibilidade para tocar o berimbau, é uma exigência maior de sensibilidade e adequação. Precisa compreender qual é a função dele dentro da mítica da capoeira porque o berimbau tem uma microtonalidade especialmente difícil para pessoas educadas na escala diatônica ocidental. O berimbau é uma coisa muito mais complexa do que essa coisa de uma corda só. A riqueza timbrística dele e a funcionalidade dele...o berimbau não foi feito para tocar música ocidental, foi feito para outra concepção de mundo. É isso que se precisa compreender.
Há um certo preconceito ao dizer isso, que o baiano toca o berimbau só porque tem uma corda?
Tom Zé - Não, tem uma falta de entendimento da delicadeza da matéria (risos).
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