sexta-feira, 12 de junho de 2009

Fale com Almodóvar.

Wallace Andrioli Guedes: Não é qualquer filme que pode ser chamado de obra-prima. Mas esse "Fale com Ela" com certeza pode (e deve). Mesmo com todas as críticas positivas que vinha recebendo, com o Globo de Ouro de filme estrangeiro e com as 2 indicações ao Oscar, e mesmo tendo gostado muito de "Tudo Sobre Minha Mãe", não acreditava muito nesse novo trabalho de Pedro Almodóvar. Não sei dizer o porquê, mas "Fale com Ela" simplesmente não me empolgava. Tanto que o filme ficou mais de 1 mês em cartaz em minha cidade, e não fui assisti-lo. Saiu dos cinemas, e senti um pouco de culpa, como cinéfilo. E aí essa obra-prima voltou a ser exibida. Me sentia na obrigação de vê-la, e é lógico que dessa vez não deixei essa oportunidade escapar. E posso dizer, com toda sinceridade, que "Fale com Ela" é um dos melhores filmes "não norte-americano" que já assisti em minha vida, se não for o melhor. É também a melhor obra de Almodóvar, sem sombra de dúvidas , e uma das maiores realizações do cinema europeu. A Espanha está de parabéns. Ou melhor, Almodóvar está de parabéns, a Espanha não! É impossível saber o que deu na cabeça dos espanhóis para não indicar esse filme ao Oscar. Azar deles, que vão ficar sem a estatueta, já que o escolhido pelo país , "Los Lunes al Sol", foi esquecido pela Academia. A estória gira em torno de dois homens , Benigno (Javier Cámara), um enfermeiro, e Marco Zulonga (Darío Grandinetti), um jornalista. A princípio, essas duas pessoas não têm nada a ver uma com a outra, mas quando a toureira profissional, e namorada de Marco, Lydia (Rosario Flores) entra em coma após ser ferida na arena, os destinos desses dois homens irão se cruzar. Benigno cuida de uma jovem (Leonor Watling), também em coma, chamada Alicia, e é completamente apaixonado por ela. Por isso, a trata como se estivesse "normal", como se ela ouvisse-o e entendesse-o. Ao ver Marco em situação parecida, o enfermeiro passa a incentivá-lo a fazer o mesmo, a falar com ela. Daí o título do filme. A trama parece simples, mas não é. Ao que vai se desenvolvendo, vai ganhando contornos inesperados, bem ao estilo de Almodóvar. E esse cineasta mostra mais uma vez todo seu talento e competência ao conduzir brilhantemente a estória, nunca apelando para clichês e nunca se tornando previsível. Pedro também volta a mostrar uma incrível capacidade para dirigir atores. A dupla central tem uma química impressionante. Rosario Flores aparece com uma personagem imponente, mas ao mesmo tempo frágil (como pode ser constatado na cena da cobra na cozinha de sua casa). Leonor Watling é de uma beleza e pureza invejável. Há ainda a sempre competente Geraldine Chaplin (filha de Charles Chaplin) e a belíssima participação de Caetano Veloso. Resumindo, "Fale com Ela" é um filme imperdível, uma realização genial, uma verdadeira obra-prima. Recomendável para todos, fãs e não-fãs de Pedro Almodóvar. Afinal, quem não gostar do filme em si, ao menos poderá curtir um delicioso curta-metragem mudo, que Pedro insere de forma brilhante no filme.



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