sexta-feira, 12 de junho de 2009

Bate-se Macumba!

O surgimento da macumba urbana está ligado ao processo de industrialização do país, que opera um ritmo cada vez mais rápido. Esta indústria permanece limitada até a Primeira Guerra Mundial, mas as guerras obrigam os brasileiros a criar indústrias para aquilo que antes era importado, o que faz com que cada vez mais mão-de-obra saia do campo. A industrialização poderia ter oferecido ao negro um meio de vida e um canal de ascensão social, mas foram batidos pela concorrência econômica do branco pobre e do imigrante. Os negros Formaram uma espécie de subproletariado e o desenvolvimento da urbanização, que destruiu os antigos valores tradicionais sem lhes proporcionar um novo sistema de valores em substituição, para eles se traduziu apenas numa intensificação do processo de desagregação social. Pode-se dizer que a cidade teve dois efeitos sucessivos sobre os negros, à medida do seu desenvolvimento, que correspondem a um momento de desintegração, no princípio; depois, de reintegração, quando eles puderam afinal introduzir-se no sistema de classes, particularmente por intermédio das empresas de construção e das indústrias mecânicas.



Se a estrutura social do Brasil rural se alterou após a supressão da escravidão, o dualismo colonial continuou a existir. Mudando os proprietários, a pirâmide de camadas e de estatutos sociais não apresentou grande mudança em relação ao passado no conjunto do país. Nas cidades em formação, o isolamento e a mobilidade dos trabalhadores assalariados impediam os negros de conservar suas crenças e seus cultos. A estrutura social continuava a ação desagregadora do regime escravocrata. Para o negro, sobrava apenas a magia: magia ofensiva contra o branco, magia curativa para os enfermos. Além dos fatores citados acima, também a mistura de negros, caboclos e brancos nos mesmos bairros permitiram a manutenção da magia como arma individual ou como substituto da medicina, mas não permitiram a organização de cultos africanos institucionalizados. Para o autor, a memória coletiva não podia funcionar por falta de grupos estruturados. Houve uma desagregação das crenças e dos ritos.



A macumba é a expressão daquilo em que se tornam as religiões africanas no período de perda dos valores tradicionais; o espiritismo de Umbanda, ao contrário, reflete o momento da reorganização em novas bases, de acordo com os novos sentimentos dos negros proletarizados, daquilo que a macumba ainda deixou de subsistir da África nativa.

A macumba preserva tradições africanas, mas não possui uma eficácia no que se refere à inserção social do grupo de libertos. A umbanda, por sua vez, é uma reorganização social, uma religião institucional, que possibilita a inserção social, mantendo algumas tradições africanas, mesmo que sincretizadas e ressignificadas.


Ressaltamos a questão da inserção social, pois dentro de uma leitura banto a religião encontra-se inserida na vida cotidiana, não havendo diferenciação entre as esferas. Portanto, para o autor, a macumba é a principio a introdução de certos orixás e de ritos iorubas na cabula. É uma solidariedade, que não é de classe, mas da miséria, das dificuldades de adaptação ao mundo novo, do desamparo. Além deste primeiro sincretismo, juntou-se também o catolicismo popular e, depois, o kardecismo. A macumba nasce desta fusão, refletindo o mínimo de unidade cultural necessária à solidariedade dos homens, em face de um mundo que não lhes traz senão insegurança, desordem e mobilidade. Ela é o reflexo da cidade em transição, no qual os antigos valores desapareceram sem que os substituíssem aos valores do mundo. A macumba acaba perdendo todo caráter religioso, para terminar em espetáculos ou se prolongar em pura magia.

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