quarta-feira, 20 de março de 2013

Antonio Zambujo, Guia [2010].


A choradeira dos fados sempre me soou um exagero – como atuações teatrais. Grata surpresa ter conhecido a voz, a melancolia na medida certa, do Antonio Zambujo. Se sei como tive acesso ao bom moço português? Não sei. Lembro bem que, assim que passei a escutá-lo, soube, de link em link, da declaração do Caetano Veloso: Quero ouvir muito, mais vezes, mais fundo. No caso do Zambujo, muito mais ainda. É a língua portuguesa. É a história do fado. É o fato de eu ter sempre só gostado de cantoras de fado, nunca verdadeiramente de cantores.” 



Sem mesmo ter lido nada a respeito, encontrei no estilo do Zambujo a entonação acertada que há na interpretação do Chet Baker. Algum tempo depois, em busca incessante por mais e mais deste achado, o vi em entrevista confirmar a impressão que tive. Nunca tinha escutado, de verdade, fados. Assim como americano associa futebol a Pelé, sempre ouvi dizer de Amália Rodrigues se o assunto era fado. Ainda é assim hoje. Escutar, sem cansaço, o disco do Zambujo não me levou aos grandes intérpretes da música lusitana. Até então me basto com as canções de “Guia”.



Classe média decadente para sentir gostinho de alguma sofisticação, nos anos 80, tinha por costume encher a estante de casa com whisky [de Chivas Regal a Ballantines] e assinar, sem ler, a revista Seleções [tradução para a americana Readers Digest].



Lá em casa, por curto período, recebíamos tal artefato mensalmente. Ainda criança, já achava aquilo enfadonho. Adolescente, tentei ler algo e achei realmente enfadonho. Hoje, passo a vista, de longe, e afirmo, veemente: Enfadonho”. Diferente do que soa aos meus ouvidos a voz do Zambujo. 



Todas as resenhas sobre a obra de Antonio Zambujo, unânimes, citam a tal renovação no fado a partir deste cantor. Informação que pouco acrescentou influência sobre mim. Música portuguesa, desde minha televisiva infância, era programas de auditório vibrantes ao som de Roberto Leal. Diferente disso, somente Mamonas Assassinas a parodiar o moço loiro. Dado a gostar profundamente de música brasileira, quando ouvi versões de Zambujo para nosso cancioneiro, defendi, como um Policarpo Quaresma, as canções da nossa gente.


Quando mostrei Zambujo a Neila [Minha], ela, de cara, gostou. Se cito Zambujo, pouco barulho isso causa nas rodas de conversa. Uma pena. Neila apresentou Zambujo aos ouvidos de amigas e recebeu destas a alcunha taxativa: “Classuda.” Carlene [minha irmã] tem uma lista interminável de mortos que lhe soam bem aos ouvidos a ponto de sofrer o desejo, que jamais se realizará, de presenciar The Doors, Janis Joplin, Nat King Cole. Fico triste porque Chet Baker já não está no meio de nós. Pelos vivos, tenho pouca simpatia. Só Zambujo me tiraria de casa.

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