quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Nietzsche disse: “Eu só acreditaria num Deus que soubesse dançar.”

A Dança [Matisse]

O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO

Antes de examinarmos o caos das práticas cúlticas correntes e o princípio regulador do culto de Deus, precisamos primeiro definir culto. “Culto religioso é aquele pelo qual adereçamo-nos a Deus, como um Deus de infinita perfeição; professamos uma inteira sujeição e devoção a Ele como o nosso Deus; colocamos nossa confiança Nele para o suprimento de todas as nossas necessidades; e atribuímos a Ele aquele louvor e glória que Lhe é devido, como nosso principal bem, o mais abundante benfeitor, e o nosso único quinhão e felicidade”.

O PRINCÍPIO REGULADOR E OS INSTRUMENTOS MUSICAIS NO CULTO
PÚBLICO

Agora que a base escriturística do princípio regulador do culto foi estabelecida claramente, vamos analisar uma prática cúltica comum hoje e ver se tem autorização (base) bíblica. Lembre-se, não é suficiente que uma prática não seja proibida pela Escritura. Deve haver uma sanção (i. e., prova bíblica) para toda prática de adoração na igreja.

O uso de instrumentos musicais no culto público hoje é quase universal. Pianos e órgãos têm sido usados por gerações para preparar o estado de espírito “adequado” durante o serviço de adoração e têm sido usados para acompanhar os cânticos de hinos. Hoje muitas igrejas têm adotado o uso de bandas completas, com guitarras eletrônicas, baixos, órgãos, cornetas e baterias. Bandas de rock, pop e estilos sertanejos são usadas como ferramentas de crescimento de igrejas. Livros de crescimento de igreja argumentam que ter uma boa banda com música ritmada e cânticos de adoração atrairão visitantes e proporcionarão pessoas a voltarem. Embora instrumentos musicais sejam ferramentas poderosas no arsenal de manipulação emocional, será que a Palavra de Deus autoriza o seu uso em culto público na era da Nova Aliança? Um estudo do uso de instrumentos musicais na Bíblia revela que o uso de instrumentos musicais está conectado com o sistema sacrificial e é um aspecto da Lei Cerimonial. Um breve exame do uso de instrumentos musicais na Bíblia provará esta afirmação.

A INVENÇÃO DA MÚSICA

Adão e Eva, que adoraram a Deus antes da queda, usaram apenas suas vozes em louvor a Jeová. Esta afirmação é provada pelo fato de que instrumentos musicais não foram inventados até oito gerações. “Ada deu a luz a Jabal: este foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gados. O nome de seu irmão era Jubal: este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta” (Gen. 4: 20-21).

“Jubal foi o ‘pai’ de todos que tocam harpa e flauta. Sem levar em conta que estes instrumentos eram ainda muito primitivos. Entretanto, estes instrumentos foram refinados grandemente mais tarde. Jubal foi o primeiro a empregar instrumentos musicais com o fim de produzir música”. Deus registra que a linhagem caída de Caim tomou iniciativa no desenvolvimento da cultura: Jabal: agricultura; Jubal: música; Tubal-Caim: metalúrgica.

PRAZER PESSOAL

Existem exemplos na Bíblia de instrumentos musicais sendo usados com o propósito de prazer pessoal ou entretenimento. Depois de Labão ter alcançado Jacó, o qual tinha fugido a noite, ele disse, “Por que fugistes ocultamente, e me lograste, e nada me fizestes saber, para que eu te despedisse com alegria, e com cânticos, e com tamboril e harpa?” (Gn. 31: 27). Jó refere-se ao uso de música para o propósito de entretenimento familiar: “Deixam correr suas crianças como a um rebanho, e seus filhos saltam de alegria; cantam com tamborim e harpa e alegram-se ao som da flauta” (Jó 21: 11-12). Música também foi usada para acompanhar banquetes com bebidas e festas, muito parecido com hoje em dia.

“A harpa e lira, tamboris e flautas e vinhos há nos seus banquetes” (Is. 5: 12; cf. 24: 8-9; Amós: 6: 5-6). Estes exemplos obviamente não se referem ao culto público.

Construções

A construção civil é um segmento representativo na economia brasileira, respondendo por cerca de 10% do PIB. Devido ao grande déficit habitacional e de infra-estrutura do país, é também um mercado muito promissor, que reage com vigor em épocas de crescimento interno. Nessas ocasiões, toda a cadeia produtiva do setor é beneficiada e isso se reverte em uma maior qualificação de materiais e processos, o que está intimamente relacionado ao uso mais intensivo de produtos químicos.

Tais insumos permitem maior desempenho e durabilidade dos materiais, garantem a homogeneidade de seu aspecto final e ajudam a evitar desperdícios nos processos de produção.


Clambering men in big bad boots
Dug up my den, dug up my roots
Treated us like plasticine town
They built us up and knocked us down
From Meccano to Legoland
Here they come with a brick in their hand
Men with heads filled up with sandIt's build
It's build a house where we can stay
Add a new bit everydayIt's build a road for us to cross
Build us lots and lots and lots and lots and lots
Whistling men in yellow vans
They came and drew us diagrams
Showed us how it all worked it out
And wrote it down in case of doubt
Slow, slow, quick, quick, quick
It's wall to wall and brick to brick
They work so fast it makes you sickIt's build
It's build a house where we can stay
Add a new bit everyday
It's build a road for us to cross
Build us lots and lots and lots and lots and lots
It's build
Down with sticks and up with bricks
In with boots and up with roots
It's in with suits and new recruitsIt's build

Construção

Um grito pula no ar como foguete.
Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.
O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.
O sorveteiro corta a rua.
E o vento brinca nos bigodes do construtor.

(Carlos Drummond de Andrade)

O amor de Hermeto e Aline.

Quando vocês assumiram o relacionamento publicamente, a imprensa chegou a especular muita coisa, até sobre a continuidade da sua carreira. Já deu para superar aquele momento?

Hermeto: Ficamos chateados sim naquela época. Você não deve nem se lembrar porque é muito jovem, mas chegaram a me apelidar de Chacrinha há muito tempo. Mas nunca tive medo de criar no palco, que é o mais forte dessa música universal. As pessoas que vão aos nossos shows são os maiores músicos e estamos evoluindo muito. Mas você sabe que em todas as áreas tem pessoas que gostam de aparecer. Se você pegar esses críticos de televisão, de dez tem dois que fazem teatro. E tem jornalista que pega um cara que está revolucionando e acha que pode aparecer. Além da Aline ser uma moça nova, a coisa da percepção musical que ela tem assusta muita gente. A gente se preparou muito e está feliz com o trabalho. Estou fazendo coisas hoje que não fazia nos outros shows. Aposto que você nunca me viu tocando cavaquinho, viola, trompete. Para as pessoas a gente fala que tem que aproveitar. É bom ter uma polêmica, mas para nós o maior acontecimento é no palco. A nossa resposta está no palco. E acho que se machucaram com isso.

Aline Morena pede a vez...

Aline: Com certeza absoluta! Jamais vou querer me comparar com a experiência ou o resultado da carreira do Hermeto ou da banda. Eu inclusive já questionei o Hermeto sobre isso, essa versatilidade. Cada um tem um jeito, uma forma, cada músico pode oferecer uma coisa. Modéstia à parte, tenho uma voz privilegiada e esse jeito para dançar como percussionista é inerente a mim.

Você falou o que tem aprendido com o Hermeto. Mas o que você acha que tem conseguido passar para ele?

Aline: Olha que eu não sou muito modesta! (risos). Mas em primeiro lugar é que o Hermeto está dez anos mais novo do que quando o conheci.

Hermeto intervém: “Estou mais barrigudo! (risos)”

Aline Morena continua:

(risos) Ele está cheio de idéias, compondo como nunca, me ajudando na parte de produção... estamos fazendo um site cheio de informações. O google hoje traz 330 mil resultados sobre o Hermeto, mas a maioria vem com informações incompletas ou erradas. E estamos preocupados com isso.

...Hermeto pede a palavra mais uma vez:

Ela não pára! Mas tudo isso que está acontecendo com a gente é por causa da música. Se ela não tivesse essa musicalidade, não é que eu não iria querer nada com a Aline, mas não teria paciência. Esse trabalho de cantar e tocar os instrumentos é incrível porque tenho uma banda com oito músicos e a gente consegue parecer uma banda com o duo. Escrevo para ela dançar uma divisão com voz, mão e pé. E olha que a gente não é de ensaiar. O processo de criação da gente é intenso, andamos para frente. Somos o oposto das pessoas de mente preguiçosa, que ficam naquele mesmo negócio de sempre, sacudindo a cabeça lendo o jornal.
Aline falou do uso da internet como ferramenta de informação para o público e você já deu declarações defendendo a pirataria. No fundo, é tudo democratização da informação?

Hermeto: Isso causou um agito muito grande uma vez. Eu estava em casa quando uma colega sua da rádio CBN me colocou vivo para todo o Brasil totalmente danada de assustada porque não acreditava que eu fosse a favor da pirataria. Ela dizia `Hermeto é perigoso você fazer uma declaração dessa´. Mas expliquei que estava falando dos meus discos que o público não tem acesso. Às vezes tenho que esperar três anos para gravar um novo trabalho e com 70 anos não dá mais para aguardar tanto tempo. Aí essa coisa começou a me incomodar porque eu chegava nos shows, o pessoal vinha falar comigo e quando eu via estava dando autógrafo em discos de 1945! Foi quando falei que a pirataria para os meus discos estava liberada. E se não conseguir, me ligue que dou um jeito (risos). Mas só para os meus! O problema é que tem gente que desvirtua o que eu falo. Teve uma vez que mudaram a intenção do que eu tinha falado sobre o Caetano Veloso e foram dizer que chamei ele de algum nome...

Nunca houve pressão de gravadora?

Hermeto: Pergunta para as gravadoras quanto me pagam de direito autoral para ver se vale a pena eu ficar me preocupando com isso! Por ano, me chega um recibo de 100 reais. Quero que todo mundo compre meu disco. E isso vai se espalhando, quem tiver meus discos ai em Natal, tira uma copiazinha e dá para o cara. As gravadoras, principalmente as grandes, continuam roubando a gente.

RAP - NAS QUEBRADAS DAS TRADIÇÕES, Célia Maria Antonacci Ramos

Hip hop é um meio alternativo de produção e comunicação cultural contemporâneo surgido no Bronx, New York, nos anos 70, especialmente entre os afro-descendentes, que e rapidamente se espalhou pelas Américas e Europa. Esse meio popular de comunicação é o resultado da agregação estética de outras expressões comunicativas. Teatro de corpo, de som, de palavra e, ainda, de tecnologia, o hip hop expressa tradições africanas com imagens-mitos e técnicas do aqui e agora.
O rap é a sua expressão musical e combina sofisticadas técnicas de reprodução sonora da era tecnológica com manifestações vocais urbanas. É uma simbiose das culturas ancestrais de comunicação oral, muito presente ainda nos países da África negra e em periferias das grandes cidades com o Hight tech contemporâneo da sociedade informatizada.

Hoje, não só o rap é o ritmo do hip hop, mas também o jazz, a salsa, o calipso, o mambo, o samba. Da mesma forma, esses ritmos estão sendo influenciados pelo ritmo break do hip hop. Como explica Christian Béthune, em seu livro “Le Rap: une esthétique hors de la loi”, jazz e rap são musicalidades afro-americanas e seus ritmos se misturam num processo não de continuidade, mas de osmose.

Desde a década de 70, a música popular vem sendo um porta-voz que estabelece as relações entre os diferentes sujeitos que integram a sociedade. O hip hop, especialmente em sua expressão vocal, música, dá continuidade a muitas manifestações de protesto que tinham na música seu aliado.

Como enfatiza Christian Béthune, a sonoridade dos vocábulos, a telecopagem das palavras e a liberdade em si abrem perspectivas estéticas propiciadas por essa nova forma de cultura, de expressão estética cultural. No rap, a palavra reencontra o prazer de ser simplesmente pronunciada, falada sem censura. O rap é um epifenômeno de expressão urbana a partir de condições econômicas e sociais vivenciadas pelas novas populações excluídas e agregadas às grandes cidades, que discrimina e agride os diferentes, sem posses, sem acesso às mídias dominantes, sem posição social ou política de destaque.

A encenação do hip hop é dessa forma um rito de união de diferentes povos que habitam os espaços de exclusão das grandes cidades. Organiza-se como performance teatral, que em torno do grafite, da dança e do rap integra a diversidade social e, hoje, representa a identidade dos habitantes das periferias.
Das origens ao Brasil

De origem jamaicana, essa manifestação comportamental surgiu entre os jovens descendentes da África negra que habitavam as montanhas da Jamaica e cultuavam, desde os anos 30, o então imperador etíope Haile Selassié, conhecido como RAS TAFARI MAKONNEN, deus sol. Interpretando esse deus soberano como um profeta bíblico, esses jovens sonhavam com o Zion negro, que se eclipsaria sobre a dominância branca e lhes permitiria voltar para a África Natal.

Familiarizado com os sons nativos de seu país, Kool Herc começou a tocar no Clube Hevalo e no Executive Playhouse, no Bronx, em New York, e logo introduziu novas formas de musicalidade ao regae, dando origem ao rap. Ao invés de simplesmente tocar as trilhas existentes, Kool Herc, que era um grande colecionador de discos de vinil, começou a pesquisar trilhas antigas e tocá-las de maneira inversa, quebrada, estendendo o som até parecer uma nova trilha. scratching foi como ficou conhecido esse som e DJ (disc jockey) o músico que comanda esse som. Além disso, Kool Herc convidava seu amigo Coke La Rock como seu mestre de cerimônias - MC, que introduzia e comentava as trilhas sonoras que falavam da violência e da situação política das favelas, além de outros assuntos de interesse da comunidade, como sexo e drogas. Segundo Nelson George, autor do livro Hip Hop America, La Rock não era muito eloqüente em seus slogans, mantinha-se mais numa balada jamaicana, mas acabou criando algumas frases que se tornaram slogans do hip hop, tais como: “Ya rock and ya don’t stop”, Rock on my mellow!”, “To the beat y’all!”.¹ Essas frases, pronunciadas seguindo as quebras do som do vinil invertido, deram origem à telecopagem das palavras, poesia e estética da poesia do Rap.

Com o sucesso de suas apresentações, Kool Herc levou seus concertos para as ruas, em cima de pickups, e introduziu no Bronx a tradição das festas de rua jamaicanas, organizadas em torno de competições sem violência.

Assim, nascido na Jamaica e logo migrado para os USA, o rap introduziu uma nova forma de expressão musical, que logo se internacionalizou.

Entretanto, para melhor entendermos a hibridização cultural que esse movimento artístico fez aflorar em nossa contemporaneidade, resta aqui destacar o afro-descendente Afrika Bambaataa, que também cresceu no Bronx e, em 1974, fundou a Zulu Nation, grupo que se mantém atuante até os dias de hoje, quase 30 anos depois. Em sua adolescência, Bambaataa era colecionador de discos e, freqüentando os shows de Kool Herc, percebeu que seus discos eram os mesmos que Herc tocava em seus shows. Bambaataa passou a ser, ele também, um DJ que animava festas à moda de Herc. Ainda que Afrika Bambaataa tenha começado com os mesmos discos, logo introduziu em suas performances trilhas Africanas, Caribenhas e D.C. go-go, dando às suas apresentações um caráter multiétnico. Com isso, Afrika Bambaataa passou a agregar adolescentes de todas essas nações que viviam no Bronx e eram rivais por suas diferentes nacionalidades. Desde 1974, integram a Zulu Nation DJs, vocalistas, grafiteiros e break performáticos, adolescentes de muitas nacionalidades, que atuam no urbano através de suas expressões artísticas performáticas e vão sempre introduzindo seus ritmos no rap.

Em sua recente visita ao Brasil, setembro de 2002, quando de uma entrevista na “Casa de Cultura Criança Esperança”, no Jardim Angela, SãoPaulo, Afrika Bambaataa disse que “à medida que o hip hop foi viajando com a Zulu Nation ao redor do mundo, outros ritmos foram sendo incorporados”. Exemplo disso é o universo do jazz e do soul. Seus ritmos podem ser considerados como ascendentes diretos do rap. jazz, soul e rap e todos os ritmos oriundos das musicalidades afro-descendentes. Como blackthought, ragtime, blues, funk, gospel, samba e salsa são ritmos que se enriquecem mutuamente e são interpelantes da cultura dominante.

Aqui vale lembrar que nos USA, bem como em todos os outros países latinos americanos, a expressão musical dos afro-descendentes vem constituindo uma coisa indissociável não só de todos os ritmos nascidos no continente americano, mas também da raiz de toda a manifestação cultural original desses países. São músicas criadas pelos povos de origem africana e traduzem o elemento crucial da cultura africana, sua oralidade. A exemplo da Zulu Nation, muitos outros jovens das periferias das grandes cidades viram na dança, nos grafites e, especialmente na música, trilha e letra, uma nova forma de expressar seu inconformismo, suas críticas, sua estética.

Segundo André Luis Martins, o break foi encenado no Brasil, nos anos 70, com o grupo funk & Cia, grupo soul, que lançou nas ruas de São Paulo a arte de dançar e novos estilos de robótica, pop e break. O ponto de referência eram as escadarias do Teatro Municipal. Logo o grupo começou a procurar lugares abrigados da chuva, e as estações de metrô Tiradentes e São Bento passaram a ser os pontos escolhidos para os encontros. Mas as danças de rua e o rap foram percebidos aqui no Brasil mais a partir dos anos 80, quando as revistas e os discos sobre o movimento hip hop nos USA começaram a circular e outras foram editadas aqui no Brasil e vendidas especialmente na Rua 23 de maio, em São Paulo. Os pioneiros do movimento foram Nelson Triunfo, Thaíde & DJ Hum, MC/DJ Jack, os Metralhas, Racionais MCs, Jabaquara Breaks e os Gêmeos. Logo outros grupos passaram a se integrar ao movimento hip hop. Com a primeira vinda de Afrika Bombaataa ao Brasil, em 1983, o hip hop nacional começou a se organizar em torno de gangs e eventos.
Rap, música e poesia

Ainda que seja difícil pensar rap sem a dança break, elemento quase que inseparável nessa linguagem contemporânea - o rap é uma expressão também do corpo, como em toda a música e cultura africana -, este ensaio se restringe à análise do rap na sua expressão musical.

Pensar musicalmente o rap significa, em primeiro lugar, pensá-lo como música de ruptura dos padões acadêmicos institucionalizados a partir de modelos eurocêntricos estabelecidos desde os tempos gregos e que se estabeleceu como música erudita. Música de procedência popular e de influência africana - como já mencionado anteriormente -, a exemplo da música pop, o rap é executado em compasso quaternário, sendo que não há preocupação de melodia nos versos. A musicalidade está na linha rítmica dos versos declamados, quase todos sincopados. A harmonia demorou algum tempo para começar a aparecer no rap, e até nos dias de hoje pouco é usada. A intenção harmônica é função do baixo e da melodia executada pelo sintetizador. Com forte influência da música Funk, anos 70, (George Clinton, Porliment, Funkadelia e The Meeters), há no rap a presença de bateria com caixa no tempo dois e do bumbo, que bate sempre junto com o baixo, criando o chamado “groove” ou “gingado” .

Ainda que sem preocupações acadêmicas, e principalmente pela negação dessas fórmulas prontas, a contribuição do rap na música contemporânea acontece na inovação tanto de sua forma quanto do seu conteúdo - na sua oralidade e tecnicidade como formas inseparáveis. O rap caracteriza uma nova forma de comunicação. Como diz Christian Béthune, “da mesma forma que o rap reorganiza o som, o rap reinventa as palavras e faz um jogo entre oralidade e escritura, utilizando uma estratégia poética que reelabora a idéia de que uma linguagem exclui a outra, que oralidade e a escrita são linguagens irreconciliáveis.”

No rap, os versos se diversificam e são classificados por alguns rappers em nove estilos - cronista, intelectual, romântico, livre, rua, raga, radical, festa, gospel - , mostrando, assim, já nas letras mesmo de suas músicas toda a multiplicidade.

E, ainda, nas palavras de Christian Béthune, “esse sincretismo cultural, que Permite expressar estéticas milenares enraizadas nas manifestações orais e seu desbobramento com os complexos sonoros eletrônicos constitui uma nova forma de comunicação de dimensão planetária onde se expõe estilos de vida, de concepção de mundo, de profissão e, especialmente de subjetividade.

Ao executar novos procedimentos musicais que rompem com a harmonia prévia do disco já gravado, em lhe modificando para criar um novo, o DJ não está produzindo música no sentido clássico convencional, isto é, a partir de uma escala musical harmonicamente concebida onde se produz frases musicais e peças musicais. Ao romper com a tradição do texto-teia das sete notas que se encadeiam em harmonia melódica, o rapper produz a não música, já que não há mais escala sonora, frase musical ou melodia. Entretanto, é nesse processo mesmo de criar a não-música que os DJs criam novos sons, sons sem escala, sem notas, sem harmonia ou melodia, mas carregados de significados simbólicos, de modernidade de cultura e de comunicação.

Assim, atendendo às necessidades comunicativas, especialmente de protesto de cada comunidade periférica, esse estilo, hoje já globalizado, é traduzido nas possibilidades técnicas e nos anseios localizados. Percebe-se, nesse processo, o que Massimo Canevacci denominou o processo Glocal, conflito entre global e local, ou seja, “processo de unificação cultural - um conjunto serial de fluxos universalizantes – e pressões antropofágicas ‘periféricas’ que descontextualizam, remastigam, regeneram.”4 Isto é, um mesmo texto é produzido ou lido em muitas localidades ao mesmo tempo, mas lido e produzido a partir de seus códigos, com os referenciais próprios de cada cultura que o recebe e/ ou refaz.

NEM TANTO TANQUE, TAMPOUCO PALANQUE [Demerval Buarque]

Para a tristeza de uns tantos tontos por aí, eu não morri, nem desisti. E se não morri decidi matar as mulheres do século XXI, as mulheres independentes, auto-sustentáveis, essa espécie perniciosa que prolifera de uns tempos pra cá, miniaturas de Leila Diniz, recrutas frustradas de Marta Suplicy, imitações nefastas de Pagu, dessas que existem hoje, que negam o tanque, exigem palanque. Ora, sejamos sensatos, nem tanto tanque, tampouco palanque.

E Reich para entrar para a História perdeu horas infindáveis de sua vida ouvindo e aconselhando mulheres que já apresentavam os primeiros sintomas desta anomalia que é a independência, o fracassado teor auto-sustentável que essas racionais mulheres insistem sustentar. Gaiarsa, na mesma linha de Reich, se vendo desesperado com o desespero destas, assina embaixo soluções descabidas que vão desde sugestões de relacionamentos abertos até um adultério aqui ou ali de vez em quando. Tempo gasto a toa porque não foram capazes, nem ao menos tiveram coragem de admitir que a ascensão da mulher independente é a morte da mulher original.

Talvez essa frouxidão se dê pelo susto de ver umas poucas mulheres revoltadas queimando sutiãs em praça pública. Decerto, um rompimento. Agora, elas, as auto-sustentáveis, são obrigadas e se vêem atordoadas a arcar com as conseqüências de tal escolha. O que chamo de mulher original é a mulher que não existe mais – e tende mesmo a inexistir por um longo tempo, assim me parece –, as donas de casa, aquelas que cuidam do lar, dos filhos, dos imprescindíveis afazeres de casa. Essa, sim, morreu.Temos visto surgir aos montes um bando irrequieto de mulheres trabalhando, pensando por si só, auto-sustentável ao ponto de passar meses e até anos sem se apaixonar. Mas nada é fruto do acaso, é fruto mesmo dessa nova realidade que se configura, porque a partir do momento em que a mulher tomou pra si o mínimo de questionamento sobre as coisas do mundo e sobre a sua própria existência e papel na vida social, ocorreu uma radical transformação que se revela na recente incapacidade de amar, porque simplesmente questionar e amar são territórios que não se tocam, e o primeiro ao suprimir o segundo, inevitavelmente traz à tona mulheres desconfiadas, avessas a relações que ultrapassem meses de duração, irritadas facilmente com qualquer ato demasiado doce ou demasiado grosseiro por parte do homem. É um olho aberto, o outro também.

O pior de tudo é que mais do que uma proliferação de mulheres que olham torto para dentro da cozinha, é a proliferação do ideal de mulher independente que afeta até mesmo mulheres que eram genuinamente originais. Fiquei estarrecido ao tomar um táxi dia desses e já dentro do carro olhei para o lado e vi que quem me conduzia era uma mulher. Não estou dizendo que mulher seja incapaz de dirigir carros – embora eu veja incompatibilidades naturais entre mulher e volante, pois ainda acho que mulher cai bem no banco ao lado –, apenas não sou obrigado a aceitar ver com naturalidade uma mulher dirigindo um táxi. Não me recusei a aceitar a condução porque estava muito atrasado e por sentir-me envergonhado de expressar minha indignação. Pedras que outrora jogavam em Madalenas, tendem a machucar ferozmente qualquer um que atente a esta novíssima e fracassada verdade.

Porque é simples o motivo de tanta angústia nas mulheres, é parte de seu gene ser uma mulher original (lavar, passar, cozinhar, arrumar a casa, assistir tv etc), é uma vontade reprimida que escandaliza de variadas formas a cada tentativa desiludida de ser mulher independente e ao mesmo tempo feliz. Fiquem sabendo: amar e pensar não tocam a mesma música. E como já disse em outras palavras antes, mais do que pensar, muito pior do que pensar, as mulheres hoje rebaixam sua existência a uma ostensiva defesa, defendem-se de toda arbitrariedade masculina, encaram de frente uma voz mais alta, desprezam muitas vezes sua moral em função de demonstrar sua infame independência mantendo relações supostamente amorosas e sexuais, a céu aberto, com uma variedade peculiar de homens.

Nem Reich, nem Gaiarsa, nem Márcia Goldschmidt. É dada a hora do retorno imprescindível, a volta da originalidade da alma feminina. Tentativas, repito, há. Algumas forçam a feminilidade com suas roupas grosseiras e apelativas, ou mesmo no perfume que usam, não mais aquele suave odor, mais além porque exterminam o estoque de perfumes masculinos das prateleiras, talvez para dar a impressão, a certeza, a nós, homens, de que trabalham.

Somos atropelados todos os dias pelas carrascas chefas de setor, pelas esquizofrênicas gerentes de banco, pelas ignorantes e mal-amadas parlamentares. Oro todas as noites para não ter que suportar no dia seguinte as pré-menstruadas, que hoje, porque trabalham, se auto-sustentam, não têm direito e nem se dão ao direito de descanso num período tão delicado. E não pode faltar a visceral arrogância das intelectuais, estas, porque pensam, questionam, me parece, as mais concretamente afetadas do século XXI, sempre escrevendo tratados de dores e frustrações infindáveis.

Por tudo isso, isolado, faço cá minha campanha em favor da mulher original, aquela que não tem porque se preocupar com contas a pagar, que não precisa cuidar de planilhas, gráficos, periódicos, leis, ou responder inquéritos, escrever teses, participar de assembléias ou reuniões semanais de auto-ajuda e muito menos mexer com altas tecnologias, dirigir táxi e, meu deus, pasmem, dirigir ônibus.

É preciso cuidar que as novas gerações não sofram a carga absoluta destas fortalecidas frustradas. Não se pode comprometer tantos seres em formação por causa de um mal resolvido aspecto da atual vida social. Cabe às mulheres se darem à dura lida de lavar os pratos, enxugá-los, lavar calças jeans à mão, deixarem de lado a “chapinha” e pegarem firme o ferro elétrico, saber dos acontecidos da novela da tarde, desejar filhos e dedicarem-se a eles e ao seu marido, numa devoção nunca antes feita nem vista porque se trata, obviamente, de uma emergência, pois, repito, esta incapacidade de amar, de entregar-se inteira – e não essa metade absurda e sem cheiro – a um pretendente amor só poderá ser superada quando Amélias (antítese de piriguete) e Emílias (síntese de mulher original) entrarem em cena num triunfal retorno, de corpo e alma, apoiadas às costas do encantado príncipe, montados os dois num inesquecível cavalo branco.

Breve análise de Auto-Ajuda


Em certa medida, a auto-ajuda acabou assumindo um papel que cabia à religião. "Como a religião já não molda os comportamentos no mundo ocidental, as pessoas estão buscando apoio para suas inquietações na auto-ajuda", afirma o frei Antônio Moser, diretor-presidente da editora católica Vozes, que dedica 10% de seu catálogo aos livros do gênero. A expansão da auto-ajuda se deve, ainda, à popularização da psicologia. Em seus primórdios, os autores equilibravam-se entre o discurso místico e teorias calcadas no controle da mente. A auto-ajuda também dá continuidade a uma tradição que remonta às origens da filosofia – aquela que reflete sobre a natureza da "boa vida" e os caminhos que levam a ela.

Com alguma licença se poderia dizer que Sócrates e Platão já faziam auto-ajuda ao discutir o que era uma existência feliz. O escritor suíço Alain de Botton ressalta de maneira bem-humorada a semelhança entre os grandes pensadores do passado e os atuais gurus de auto-ajuda no livro As Consolações da Filosofia, que encaixa as teorias de Sêneca, Epicuro e Nietzsche no formato dos manuais de conduta.

Entre todos os motivos que levam os brasileiros a procurar um livro de auto-ajuda, o mais forte é a demanda por conhecimento. Uma pesquisa sobre os hábitos de leitura patrocinada no ano passado pelas principais entidades do mercado editorial mostra que a maioria dos brasileiros, ao contrário dos franceses, por exemplo, não visita uma livraria em busca de um livro que os entretenha. O público nacional deseja antes de tudo livros que lhe tragam informações úteis para o trabalho e a vida prática. A mesma pesquisa revela que o típico leitor do gênero cursou o ensino médio ou a faculdade (muitas vezes incompleta) e é quase sempre um assalariado pertencente às classes B e C, com rendimento familiar na faixa dos 500 aos 3.000 reais. Ou seja: são pessoas em busca de ascensão social. Num país em que a qualidade do ensino nem sempre é das melhores, uma parcela desse público encontra nos livros uma forma de preencher suas lacunas de formação. Isso explica inclusive as vendas expressivas de obras que a rigor não são de auto-ajuda, mas cumprem um papel de enriquecer o repertório de seus leitores. Aí incluem-se desde manuais de etiqueta até antologias na linha de Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século e Os 100 Livros que Mais Influenciaram a Humanidade. Muita gente os consulta em busca de informações para trocar idéias com o chefe ou para não fazer feio numa reunião social.

Em nenhuma área a necessidade de reciclar conhecimentos é tão visível quanto no mundo dos negócios. Na era da globalização, fazem sucesso os autores que ensinam como se adaptar às reviravoltas no ambiente corporativo. Dois deles se tornaram referência: os americanos Stephen Covey e Spencer Johnson. No final dos anos 80, Covey lançou Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, livro que ficou por anos a fio nas listas de best-sellers americanas e cujo conteúdo ainda hoje está em voga nos cursos de capacitação para executivos de grandes empresas. Johnson, por sua vez, escreveu Quem Mexeu no Meu Queijo?, uma parábola sobre dois ratinhos e dois duendes que disputam um naco de queijo num labirinto – a moral da história é que os profissionais que souberem antecipar-se às mudanças levarão vantagem sobre os concorrentes. Hoje, Johnson presta consultoria a 10.000 empresas, entre as quais multinacionais do porte da Shell e da IBM. "Eu me empolguei tanto com o Queijo que, no ano passado, distribuí exemplares a 600 dos meus executivos", diz Manoel Amorim, diretor-geral da Telefônica em São Paulo.

O sorriso de Ahmadinejad

"Fabricaram uma lenda sob o nome de 'massacre dos judeus', e dão mais importância a isso do que a Deus, à religião e aos profetas" afirmou o presidente do Irã Ahmadinejad durante um discurso realizado na cidade de Zahedan.

Hitler diz: "A natureza é cruel; então também estamos destinados a ser cruéis. Ao enviar a flor da juventude alemã para a chuva de metais da guerra sem o menor remorso pelo precioso sangue deles que está sendo derramado, eu deveria ter o direito de eliminar milhões de uma raça inferior que se multiplica como verme. "

Ahmadinejad, um ex-membro da Guarda Revolucionária - conhecida por exercer um forte controle ideológico no Irã - foi eleito presidente em junho passado, sob preocupações da comunidade internacional de que a sua posição de extrema-direita poderia minar as negociações da comunidade européia com o país, na tentativa de interromper o programa nuclear iraniano.

Hitler diz: "Toda propaganda tem que ser popular e acomodar-se à compreensão do menos inteligente dentre aqueles que pretende atingir."

Sua hostilidade contra o Estado de Israel veio à tona em outubro passado, quando resgatou a idéia do aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica do Irã, e parafraseou sua descrição de Israel como "um tumor canceroso que deve ser erradicado". Suas palavras despertaram a reprovação da comunidade internacional e levaram Israel a ameaçar iniciar os trâmites para pedir a expulsão do Irã da ONU.

"Se vocês cometeram este grande crime [o Holocausto], então por que obrigam os oprimidos palestinos a pagar o preço? São vocês que devem assumir a responsabilidade", disse Ahmadinejad, em alusão ao Ocidente.

Hitler diz: "Hoje acredito que estou agindo de acordo com a vontade do Criador Todo-Poderoso: - ao defender-me contra os judeus, estou lutando pelo trabalho do Senhor. "

"Esta é nossa proposta: entreguem uma parte de sua própria terra na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá ou no Alasca, onde os judeus possam estabelecer seu país", insistiu. Ahmadinejad já havia feito essa mesma proposta na semana passada, durante a cúpula da Organização da Conferência Islâmica, realizada na Arábia Saudita.

Hitler diz: "Desmoralizar o inimigo surpreendendo-o, aterrorizando-o, sabotando-o, assassinando-o. Esta é a guerra do futuro.”


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O astrônomo do Papa afirma: “Os ETs existem e são nossos irmãos”

A recente agitação na Comunidade Ufológica Mundial em torno das declarações do padre jesuíta José Gabriel Funes, diretor do Observatório do Vaticano, não é o primeiro sinal de que a Santa Sé reconhece a seriedade da questão ufológica, a ponto de ter alguns de seus integrantes, direta ou indiretamente, fazendo afirmações que sinalizam claramente um profundo entendimento da questão. Isto já vem acontecendo há alguns anos. Religiosos de vários segmentos da Igreja Católica, às vezes falando oficialmente, em outras apenas emitindo opiniões pessoais, têm se manifestado com certa freqüência sobre a vida extraterrestre e, mais especificamente, os discos voadores.

Um deles – e o mais notório de todos – é o monsenhor Corrado Balducci, considerado por seus pares “um religioso diferente”. Ele era amigo íntimo do papa João Paulo II, respeitado e admirado em todo o mundo católico e em outras searas, e nos anos 90 causou muita surpresa no meio ufológico quando começou a freqüentar congressos sobre o tema na Itália e outros países, fazendo afirmações que geraram espanto na ala conservadora da Igreja. No Simpósio Mundial de Ufologia de San Marino, em 1999, por exemplo, Balducci admitiu que é “real a possibilidade de que outras criaturas inteligentes vivam na imensidão do espaço”. Para ele, a existência de ETs seria um sinal inequívoco da glória de Deus. Até aqui, tudo bem para nós, ufólogos. Mas, um monsenhor fazer tal afirmação é algo significativo. E ele foi mais longe. No Simpósio Internacional de Exobiologia e Ufologia da Calábria, em 2005, Balducci declarou à Revista UFO que “a igreja reconhece plenamente que não estamos sozinhos no universo e defende um procedimento de investigação dos objetos voadores não identificados”. Mais claro, impossível.

Mesmo quem conhece o religioso e está habituado a vê-lo em eventos ufológicos, se assustou com a contundência de suas declarações na Calábria. “Que o universo é cheio de vida, não há nada mais óbvio do que isso. Que estejamos sendo observados por seres pertencentes a civilizações mais avançadas, idem. A questão está em entender o que querem aqui nossos misteriosos – e curiosos – visitantes”. Balducci, mesmo após o falecimento de João Paulo II e sob a administração de Bento XVI, de quem não é próximo, tem se manifestado livremente em conclaves em que se discutem os discos voadores. E o simples fato de que não é desautorizado ou censurado pela Santa Sé é um sinal de que, de alguma forma, o que ele fala é pensamento corrente ou aceito pela Igreja Católica.


Reconheça: Altamiro Carrilho


Altamiro Carrilho nasceu na cidade de Santo Antonio de Pádua (RJ), em 21 de dezembro de 1924. Por influência da família de sua mãe, aos cinco anos de idade brincava com uma flauta de bambu, feita por ele. Aos onze anos, já integrava a Banda Lira Árion, tocando tarol.


Em 1940 mudou-se com a família para Niterói (RJ), onde trabalhava como farmacêutico e à noite estudava música com o seu amigo e incentivador Joaquim Fernandes, flautista amador.

Altamiro não perdia nenhum programa dos grandes flautistas da época, Dante Santoro e Benedito Lacerda. Com uma flauta de segunda mão, inscreveu-se no programa de calouros de Ari Barroso, conquistando o primeiro lugar. Ainda muito moço, pela sua incrível facilidade de improvisar, com seu estilo muito pessoal e cheio de bossa, foi convidado a integrar conjuntos famosos como os de César Moreno, Canhoto e Rogério Guimarães.

Estreou em disco em 1943, participando da gravação de um 78 rpm de Moreira da Silva, na Odeon. Em 1949, gravou o seu primeiro disco, na Star, "Flauteando na Chacrinha". Formou seu primeiro conjunto em 1950, para tocar na Rádio Guanabara, onde permaneceu até maio de 1951, quando foi convidado a integrar o Regional do Canhoto, substituindo Benedito Lacerda. Em 1955, formou a Bandinha de Altamiro Carrilho, quando gravou o seu maxixe Rio Antigo que fez grande sucesso, chegando a vender 960.000 cópias em apenas seis meses! De 1956 a 1958, a bandinha ganhou grande prestígio e popularidade com o seu programa Em Tempo de Música na TV Tupi.

Tornou-se conhecido internacionalmente na década de 60, quando apresentou-se em diversos países, dentre eles: Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Egito, México, Estados Unidos e União Soviética. "Um dos maiores e mais afinados solistas do mundo" foi o elogio que Altamiro Carrilho recebeu de Boris Trisno, quando esteve na União Soviética por três meses. O sucesso no exterior foi tanto, que chegou a ficar um ano no México, onde foi passar uma temporada de apenas vinte dias. A partir da década de 1970, tornou-se um dos flautistas mais requisitados, como solista e como acompanhante.

Em novembro de 1972 apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o Concerto em Sol de Mozart, sendo muito elogiado pela crítica especializada. Foi convidado pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre para participar de um programa de Concertos onde, sob a regência do Maestro Julio Medaglia, executou o ConcertoNº2 em Ré Maior KV 314 de Mozart, tendo a idéia de colocar nas cadências pequenos trechos de músicas de grandes compositores populares brasileiros, tais como Pixinguinha e Ernesto Nazareth. Tal fato causou enorme impacto no público e principalmente nos membros da orquestra, sendo aplaudido de pé durante dez minutos. Em 1987, Altamiro Carrilho acompanhou Elizete Cardoso em sua tournée pelo Japão.

Seu disco "Clássicos em Choro" foi premiado com o Troféu Villa-Lobos, como melhor disco instrumental, tendo recebido também Disco de Ouro pelo seu trabalho "Clássicos em Choros Nº 2". Ganhou o Prêmio Sharp de 1997 como melhor CD instrumental, com o seu "Flauta Maravilhosa". Recebeu em 1998, das mãos do então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, uma Comenda especial, a Ordem do Mérito Cultural, em reconhecimento ao seu talento e sua incansável luta em prol da Música Brasileira. Ganhou o Titulo de Cidadão Carioca concedido pela Câmara dos Deputados. Em 2003, Altamiro recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Cultural da Magistratura pelos serviços prestados à cultura brasileira.

Compositor de versatilidade extraordinária, compôs cerca de 200 músicas dos mais variados ritmos e estilos. Com 60 anos de carreira, tem mais de 100 gravações em discos, fitas e CDs.

Atualmente apresenta-se com seu conjunto de choro por diversas cidades brasileiras, em um show alegre e descontraído, em que conta algumas histórias da música popular brasileira, também incluindo em seu repertório arranjos de música clássica em ritmos brasileiros. Apresenta-se ainda, com orquestras sinfônicas por todo o território nacional e internacional, exercitando assim o seu lado erudito.

É um gênio vivo e um grande exemplo de perseverança, amor pelo instrumento e à música – dom de Deus, que lhe permite transmitir ao público: alegria e amor.


Revisando Levi-Strauss


No início do "Prólogo" a Saudades do Brasil o senhor se refere a uma memória olfativa das expedições pelo interior. De que outros odores o senhor se lembra?


"Como se sabe, na época em que fui para o Brasil [1935], viajávamos de navio, não havia aviões, e os navios eram também cargueiros, e faziam muitas escalas [o navio em que veio Lévi-Strauss partiu de Marselha e fez escala em Barcelona, Cádiz, Argel, Casablanca e Dakar antes de aportar em Santos]. Nunca me esquecerei que, ao chegar — estávamos em alto mar havia dezenove dias, acho — e a primeira percepção que tivemos do Novo Mundo — ainda não se podia ver a costa — foi um cheiro. Um cheiro difícil de descrever, porque as associações são fáceis demais: cheiro de tabaco, cheiro de pimenta... enfim, tudo isso está ligado ao Novo Mundo, não sei se é exatamente isso. Mas é sem dúvida uma das dimensões da natureza brasileira, que não é apenas visual, ou tátil, é também olfativa". 

E quais seriam esses "odores do Brasil"? 

"Há muitos outros odores, que emergem ao acaso. Lembro-me, por exemplo, que depois dos Nambikwara, estávamos indo na direção do Madeira, e ainda não era a floresta amazônica, era mais o campo, uma espécie de floresta seca, e de repente, montado no cavalo, vi no solo um campo de abacaxis selvagens. Bastava inclinar-se bem baixo, sem desmontar, para arrancar os frutos e comê-los. É uma das sensações gustativas e olfativas que ficaram porque não era como o abacaxi que conhecemos, era um abacaxi com um cheiro de framboesa absolutamente extraordinário. Há muitos e muitos outros cheiros, mencionei esse apenas como um exemplo... há ainda o cheiro do fumo, cheiro de fumo de rolo em toda parte. Aliás, era o que eu fumava, em folhas de milho, que davam ao tabaco um sabor e um cheiro muito muito particulares, que também ficou. Há também a pinga..." 

O senhor gostava de pinga? 

"Ah, sim, gostava muito! E me lembro também, da fabricação, uma vez por semana, da rapadura, nas fazendas do interior, para o consumo dos peões, de seus filhos e de suas famílias, isso também tinha um cheiro e um gosto muito especiais". 

Durante as expedições, o senhor comia como os brasileiros, como a população regional? 

"Na verdade, não havia população regional... enfim, havia, durante algum tempo, e depois, mais ninguém. Tínhamos feito grandes provisões: arroz e feijão, claro, e algo que chamavam de bolachas, que também constituem uma lembrança bem clara... ficavam duras como pedra… E também caçávamos..." 

O fato de o Brasil ser, desde o século XVI, uma destinação, digamos, privilegiada pelos franceses, fazia alguma diferença? 

"De certo modo, senti uma espécie de sensação de segurança, sabendo... É claro que eu não sabia de nada disso muito antes de ir para o Brasil, aprendi tudo isso nos meses que precederam minha partida, já que os nomes de Thevet, Léry, evidentemente, não constavam do programa de licenciatura em Filosofia. Assim, foi depois... Mas, eu dizia, uma sensação de segurança, por saber que meus passos seguiam os passos de grandes ancestrais. E a sensação é duradoura, porque há uns trinta anos, minha mulher e eu compramos uma casa no campo e depois de a comprarmos, descobrimos que se encontra a uns poucos quilômetros da casa onde nasceu Jean de Léry." 

O Brasil era, então, de certo modo, mais próximo do que outras regiões… 

"Sim, muito mais, certamente… além do mais, com a quantidade de palavras de origem tupi que passaram para o francês…"


Destemido Hélio Santos!

Por que o senhor acredita que discutir a família negra é o ponto central para o desenvolvimento do Brasil?

Tenho dito que o negro, longe de ser um problema, é parte importante da solução. O que consolida a democracia brasileira e dá sustentabilidade ao desenvolvimento aqui é a inclusão qualificada do povo negro. O Brasil do futuro depende do destino da família negra.


Geralmente quando se fala em políticas públicas na área de educação para a comunidade negra se pensa somente no jovem da universidade pública. Como pode ser avaliado os talentos negros nas universidades privadas?

Todos sabem dessa sina: como o negro frequenta a escola pública, sucateada e sem qualidade, apresenta dificuldades para ir para a universidade pública, mais competitiva e reservada às elites. Sendo assim, acaba indo para a universidade privada, nem sempre dotada de qualidade. Como a maioria negra universitária está nessa escola, tenho proposto que o estado brasileiro desenvolva um efetivo e eficaz sistema de financiamento aos nossos estudantes. Ou seja, a adoção de uma política de ação afirmativa nessa direção. Diante do racismo presente no Brasil e das dificuldades para um negro ascender no poder, na política ou em qualquer outra esfera de comando.


Qual o maior obstáculo de uma liderança negra para chegar e permanecer nos espaços em que ele não é maioria?

Por incrível que possa parecer à primeira vista, o maior problema é essa liderança continuar a ser efetivamente voltada para os interesses da população negra, o que muitas vezes não acontece. Muitas são as armadilhas e muitos, gostosamente, se comprazem na posição do “já cheguei”; na verdade uma rendição. Na academia, por exemplo, há intelectuais negros. Todavia, nem todos são negros intelectuais. Isto é, nem todos têm como foco pensar e deslindar a centopeia de duas cabeças que vem a ser a questão negra no Brasil: complexa, dissimulada e inercial.




Viadagem: um entendimento

Existe ex-gay? Ex-homossexual? Ex-heterossexual? Ex-viado? Essa é a pergunta primordial para muitos. E a resposta é simples. Pode existir sim, porém, a explicação é complexa e deve ser estudada e compreendida ao pé da letra. Leia tudo com atenção!


O principal problema do ex-gay é que, a maioria das pessoas que se dizem serem ex-gays, ex-viado, ex-homossexuais, etc, são pessoas que encaram a homossexualidade como uma doença, perversão ou, no mínimo, um pecado divino que o homem jamais poderia praticar. Em outras palavras, a maioria dos ex-gays assumidos publicamente se dizem “curados” deste mal. E isso é um problema grave pois a homossexualidade não é pecado. Homossexualidade não é um mal. Não é castigo divino e muito menos uma perversão sexual. A homossexualidade é apenas uma das várias vertentes da sexualidade humana. Isto é, a homossexualidade é algo natural, aceitável e que deve ser praticado por todos aqueles que sentem tais desejos.

Neste caso, reprimir a homossexualidade é negar parte de si mesmo. E muita gente, por estar infiltrado dentro de alguma religião onde ela é – erroneamente – condenada, passa por diversas crises e angústias desnecessárias. Muitas delas se “convertem” e acabam comprando a idéia de que a homossexualidade é uma doença, se livrando deste mal, casando-se com alguém do sexo oposto, tendo filhos e, em muitos casos, tendo uma vida insatisfatória.

Este é um ponto. Outro ponto é a variável da sexualidade humana. Conceitos como homossexual, bissexual ou heterossexual foram criados para classificarmos a orientação sexual. Mas ela não é fixa, rígida ou invariável. Ela pode ser mutável. E muito. Por exemplo, hoje um homem casado com uma mulher pode se sentir atraído por outros homens. Assim como sua esposa pode se sentir atraída por outras mulheres em determinado momento de sua vida. Se isso acontecer e um dos dois assumir uma identidade homossexual, podemos dizer que eles agora são “ex-heterossexuais”.

O mesmo vale o inverso. Um homossexual pode, em determinado momento de sua vida, se sentir atraído por alguém do sexo oposto naturalmente, isto é, sem ter nenhum conflito com a condeção histórica e religiosa da homossexualidade lhe perturbando a mente. E assim se considerar um “ex-homossexual”. Sem achar que isso foi uma cura, uma conversão ou uma reviravolta a “vida normal”. Afinal, a homossexualidade hoje em dia também entra dentro do padrão da normalidade.

Neste ponto de vista, ex-gays e ex-heterossexuais, assim como ex-ex-gays e ex-ex-heterossexuais, também podem existir como identidade criada. Mas também não podem permanecer rígidas. Por exemplo, um ex-gay, que agora é heterossexual, não pode dizer que jamais sentirá novamente desejos sexuais por pessoas do mesmo sexo. Muitos acreditam que não. Se ele já provou algum dia terá no mínimo uma tendência bissexual. O mesmo acontece com um ex-hétero. O que se sabe é que a orientação, por si só, pode ou não ser mudada ao longo da vida. E se ela for mudada, a mudança partirá do íntimo de cada um, isto é, de dentro para fora (e não por terceiros). Existe também aqueles em que a orientação nunca mudará. São pessoas que nascem, crescem e morrem apenas com uma única orientação sexual durante toda a sua vida, sendo totalmente homossexual, heterossexual ou bissexual.

Então, quando se fala de ex-gays, deve-se ter em mente que muitos deles, ao aparecerem na mídia, aparecem com um discurso que envolve pecado e condenação. Isto é, eles aparecem e dizem que deixaram a homossexualidade como se abandonassem um vício de drogas. Como se isso fosse realmente uma doença. E isso é errado.

A homossexualidade na visão da psicologia, medicina, psiquiatria e várias ciências não enquadradas dentro da área da saúde, como a sociologia ou antropologia, entre muitas outras, sabem que ela não é e nunca será uma doença. Sendo apenas mais uma das expressões naturais e sadias da sexualidade humana.

Mesmo porque, alguém já viu alguma reportagem sobre “ex-heterossexuais“? Alguém já viu um ex-heterossexual assumido? Não existem em reportagens (embora existam muitos na vida real, veja como exemplo eu ou os mais de 2 milhões da parada lgbt de São Paulo). Porque a heterossexualidade, historicamente, não foi e ainda é condenada por religiosos como a homossexualidade é. Isso é um ponto importante que todos, inclusive jornalistas que preparam estas matérias de “ex-gays” precisam entender ao criar reportagens que só dividem ainda mais as opiniões da população leiga ao invés de mostrar a realidade: o preconceito (que eles mesmos ajudam a proliferar).

Para concluir, ex-gays, ex-homossexuais, ex-viados ou como vocês preferem, existem sim, mas com todas estas ressalvas. Assim como existem ex-heterossexuais que, infelizmente, são esquecidos na mídia. Mais informações entre em contato, visitem o site do meu livro ou deixem suas opiniões por aqui mesmo.




A punga resiste!, Sérgio Ferretti.

Em volta de uma grande roda, homens negros tocam tambores, entoam canções em homenagem a santos católicos, desfiam casos de amor e provocam outros cantadores. No meio, mulheres trocam passos miúdos e rodopiam para um lado e para outro com suas saias coloridas. Ao compasso das melodias, de gritos e palmas, dão umbigadas e convidam outras dançarinas, que cumprimentam os tocadores e também se exibem em círculos.

É assim que os grupos de tambor-de-crioula se apresentam em festas e terreiros de São Luís, no Maranhão. A brincadeira, que no passado foi perseguida e estigmatizada como “vestígio da escravidão”, resistiu, espalhou-se por todo o estado e nos últimos anos chegou a diferentes cidades do país e até mesmo ao exterior.

Dizem que São Luís é uma cidade “que dorme ao som dos tambores”. Mas como sua elite se pretende “branca”, muitos não sabem distinguir que sons são esses. Até hoje existe confusão entre o tambor de Mina e o tambor-de-crioula. O primeiro é o nome mais comum para designar a religião afro-maranhense. O termo Mina vem do Forte de El Mina (ou São Jorge da Mina), antigo empório português de escravos na Costa da Mina, atual República de Gana. Por ser um elemento importante nesse culto religioso, o tambor foi incorporado ao nome da prática. Como as outras religiões afro-brasileiras, o tambor de Mina é caracterizado pela presença do transe ou possessão de entidades espirituais sobre as dançantes, em sua maioria mulheres.O tambor-de-crioula, por sua vez, é uma dança popular. Incorpora alguns elementos católicos e da religiosidade afro-brasileira, mas não inclui obrigatoriamente o transe ou possessão. Freqüentemente é realizada como forma de pagamento de promessas a São Benedito (santo negro) e a outros protetores católicos ou entidades cultuadas nos terreiros. Nessas ocasiões, as mulheres carregam nos braços ou na cabeça a imagem do santo de devoção. Mas, normalmente, a dança é puro divertimento.

Trazido pelos escravos de diversas regiões da África – como Guiné, Costa da Mina, Congo e Angola – que desembarcaram em terras maranhenses entre os séculos XVIII e XIX, por um longo tempo o tambor-de-crioula foi proibido pelas autoridades. Mesmo depois de acabada a escravidão, as diversões populares continuaram controladas pela polícia, à qual se devia pedir licença e pagar taxas para a realização dos festejos. Na sociedade maranhense, prevalecia o preconceito. Jornais locais registravam inúmeras reclamações contra os divertimentos de negros. Só em 1938 é que Mário de Andrade faz a primeira documentação sobre a dança, em sua Missão de Pesquisas Folclóricas, registrando manifestações populares do Norte e do Nordeste do Brasil.

Danças que incluem a umbigada (denominada semba em Angola) se disseminaram em várias partes do país, em variações como lundu, baiano, coco, samba e jongo. Mas o isolamento geográfico do Grão-Pará e Maranhão desde os tempos coloniais resultou nas características peculiares do tambor-de-crioula. O ponto forte é mesmo a umbigada – ou punga – momento em que as coreiras (nome dado às dançarinas) se encontram, fazem saudações aos brincantes e chamam uma substituta para entrar na roda. Três tambores formam o conjunto conhecido como parelha, confeccionados com madeira de mangue, sororó, pau d’arco, angelim ou faveira. Para não sair do tom, o tronco deve ser cortado em períodos de lua minguante e recoberto com couro, de preferência de cavalo ou boi. Depois, é necessário atá-lo com cravelhas e amarrá-lo com corda ou couro. Os instrumentos são afinados no calor do fogo. Vem daí o dito popular preconceituoso: “O tambor-de-crioula é afinado a fogo, tocado a murro e dançado a coice”.

Os homens comandam os toques e puxam os cantos. Quem está de fora às vezes não entende as letras e acha que se trata de alguma língua africana. “Mistura-se um canto plangente, uma toada monótona, em que se repetem por horas e horas as mesmas palavras sem nexo”, escreveu Ozimo Carvalho em 1957, em texto comemorativo do bicentenário do município de Viana. Ele estava enganado. Como nas canções das sociedades ditas primitivas, as palavras são mais importantes do que a melodia, que é construída em cima delas. São difíceis de entender porque pronunciadas com um sotaque todo próprio, cheio de regionalismos e termos arcaicos. “Beiro bera má”, ou simplesmente “berô”, tem o sentido de “correu na beira do mar”. “Poierô” é levantou poeira. “Sou boiadô”, sou boiadeiro. Banzeiro é onda alta. Catraio, barco pequeno. Cofo, cesto. Paidégua, grande. E assim por diante...

Há cânticos de auto-apresentação e saudação (Eu sou filho da pelaja, / eu nasci no pelejá /Quando tu não souber, / me chama pra te ensiná), auto-elogio (Eu nunca cantei na festa / pra outro fama me vencê / E porque eu sei vencê / canto até o sol raiá), referência e homenagem a santos e outras entidades sobrenaturais (Meu São Benedito eu sou seu escravo / se´u morrer nos seus pés /eu sei que serei salvo), sátiras e descrições de fatos cotidianos (Alô quem mandou arriá bandeira/ (...) Quem mandou arriá, nesse brinquedo de tambor/ Quem mandou arriá, eu sou mais meu batalhão), recordações amorosas (Eu já fui no seu jardim/ chorei couro, eu já sei como ele é / chorei couro, eu não quero ser chamado / chorei couro, de foguete de mulher), desafios entre cantadores e despedidas (Vou cantar mais tu Felipe / até o dia rompê / se tu apanhar não esquece / que pra mim tu foi perdê).
Embora essas características estejam presentes em quase todos os grupos, o tambor-de-crioula apresenta variações, especialmente no interior. Em cada região há um ritmo diferente de toada, um modo peculiar de tocar, dançar ou se vestir. Boa parte das composições tem relações sutis com o bumba-meu-boi, a música popular e o samba de carnaval. Mas os cantadores e tocadores não se deixam levar tanto pelas influências externas. O melhor tocador é aquele que segue a forma mais tradicional, fiel às antigas raízes. E para cantar bem deve manter a voz muito compreensível e potente, mais alta que a percussão.

Enquanto em São Luís pessoas mais novas, sobretudo as meninas, participam das apresentações, nas cidades interioranas as dançantes são todas mulheres mais velhas. Em lugares do interior, ao lado da dança das coreiras, alguns homens executam pernadas ou rasteiras, também chamadas de pungas de macho, para derrubar companheiros ao chão. É por isso que alguns chegam a comparar a brincadeira com a capoeira. Em outros grupos, os homens fazem movimentos de corpo acompanhando a dança, e no Vale do Itapecuru, em certas ocasiões o tambor-de-crioula é realizado no cemitério, em homenagem a um morto. Tanto nas áreas rurais como na capital, a população negra e de baixa renda continua a predominar nas danças e nos toques, embora, nos últimos anos, mais pessoas brancas e com maior poder aquisitivo venham entrando na roda.

Só em São Luís funcionam atualmente cerca de 80 grupos cadastrados em órgãos oficiais. Cada um conta com 20, 30 ou até mais brincantes, entre homens, mulheres e crianças. No interior, também são muitos os praticantes. Sem data fixa, suas apresentações acontecem durante o ano inteiro, inclusive no período junino e no carnaval.

Tem gente que até hoje não vê o tambor-de-crioula com bons olhos. Fruto, ainda, do velho preconceito e da perseguição à cultura afro-brasileira. Ainda assim, essa genuína manifestação maranhense vem conquistando cidades do Brasil e do mundo, levada por músicos, artistas, estudantes, jornais, revistas e órgãos públicos. Principalmente depois que foi reconhecido pelo Iphan, em junho de 2007, como patrimônio imaterial brasileiro.

Os pianistas.

Lindo e terrível, O Pianista é um filme redentor. O diretor Roman Polanski se redime com sua Polônia natal, voltando a filmar lá pela primeira vez em mais de 40 anos, e com sua infância e adolescência, já que ele mesmo viveu em um gueto polonês durante a guerra. A indústria do cinema se redime, indicando O Pianista a sete categorias do Oscar, incluindo filme, diretor e ator para Adrien Brody (embora Polanski corra o risco de ser preso caso decida ir aos Estados Unidos participar da cerimônia). Os nazistas se redimem, na figura do oficial alemão que ajuda o pianista judeu. Os judeus se redimem através da resistência e da morte heróica. Parece uma mensagem de esperança, mas para isso é preciso superar o horror que vem antes. Será que um final feliz é realmente tranqüilizante, será que basta? O roteiro é baseado na autobiografia de Wladyslaw Szpilman, que já era reconhecido como pianista quando o exército de Hitler invadiu a Polônia. O filme mostra desde as primeiras bombas sobre Varsóvia, em 1939, até o fim da Segunda Guerra. Nesse período, Szpilman é obrigado a morar com sua família no gueto, consegue escapar de ir para um campo de concentração e volta ao gueto. Ele colabora com o movimento que culminaria com o levante armado no gueto de Varsóvia, em 1943, quando os judeus resistiram por 20 dias até serem massacrados pelo exército alemão.Szpilman assistiu aos combates da janela do apartamento onde estava escondido, protegido por amigos poloneses (a pena para poloneses que ajudassem judeus era o enforcamento). Com o acirramento da guerra, o pianista é obrigado a abandonar os esconderijos e sobrevive, faminto e doente, no que sobrou de Varsóvia. Numa das mais belas cenas do filme, Szpilman entra em uma rua deserta, com prédios em escombros dos dois lados. A câmera se afasta e o homem vai ficando cada vez menor perto das ruínas. É isso que acontece com o personagem: a sobrevivência em condições cada vez mais miseráveis o degrada e desumaniza.Ele se torna humano novamente ao tocar piano para um oficial alemão. O militar o descobriu em um dos prédios abandonados que lhe servia de abrigo. Ao ouvi-lo executar uma balada de Chopin, o alemão não só poupa a vida do judeu como passa a ajudá-lo, levando comida e cedendo seu casaco. Com o fim da guerra, Hosenfeld, o oficial, tenta conseguir socorro de Szpilman, que não consegue localizá-lo a tempo. Hosenfeld termina em um campo para prisioneiros de guerra na então União Soviética. (Seus diários foram encontrados e acrescentados a edições recentes do livro de Szpilman).
Wladyslaw Szpilman escreveu seu relato logo após o fim da guerra, mas o livro foi então censurado pelo governo comunista da Polônia. Foi lançado em 1999, quando seu filho encontrou os originais, e republicou a obra, que foi traduzida para o inglês e imediatamente conquistou Polanski. O pianista morreu, aos 88 anos, em 2000.Polanski fez um filme que, assim como o livro, tem um tom sóbrio (provavelmente o mais sóbrio de sua carreira), sem dramatizar demais o que já é suficientemente dramático. A beleza da fotografia, das imagens cinzentas e meio desbotadas, quase passa despercebida diante do peso da história que é contada. Algumas frases de efeito ajudam a explicar esse clima: "Não corra, ande", diz o guarda que deixa o pianista fugir do trem que o levaria para o campo de Treblinka. Ou, ao fim da guerra, quando ele sai do esconderijo vestido no casaco do oficial alemão: "Por que então está vestindo esse casaco?". "Porque estou com frio". O ator Adrien Brody empresta a Szpilman um olhar melancólico e perdido, em que as emoções não podem fazer muito barulho para não serem descobertas.Se a dignidade e a generosidade do alemão Hosenfeld podem ser uma redenção, os judeus que colaboraram com o regime nazista, montando uma polícia para vigiar o gueto com métodos às vezes piores que os da Gestapo, são o outro lado da moeda. O filme também denuncia a corrupção entre alguns dos que diziam ajudar os judeus fugitivos. É a surda força dos vermes, em contraponto aos grandes sonhos dos homens (para citar Cecília Meireles).Então, podemos voltar à questão inicial, sobre o quanto de esperança e otimismo sobra dessas redenções. Acredito que muito pouco, tanto que essas histórias continuam sendo contadas, sobrevivendo a seus protagonistas e autores. Não só a mancha continua lá como o mundo parece caminhar para outra guerra e as intolerâncias crescem. Entre a morte heróica e o colaboracionismo inescrupuloso, a sobrevivência honesta é a exceção. O que sobra é o cinema de Polanski e a música de Chopin. A arte.
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