O vibrafonista norte-americano Bobby Hutcherson em ação: compositor inspiradoAo lado do genial pianista de avant-garde jazz Cecil Taylor, a atração de jazz mais interessante do festival Tim no final desse mês é o vibrafonista norte-americano Bobby Hutcherson. Apesar de uma carreira coerente e sólida no mundo do jazz, vários discos importantes, Hutcherson vem como convidado do organista Joey De Francesco, que é cheio de técnica, tudo certinho, limpinho, como manda o figurino do jazz atual, que tecnicamente "evolui" quase para o esporte, uma ginástica tecnicista e clean. Não é exatamente minha xícara de chá o jazz atual...Bobby Hutcherson começou como sideman em discos de músicos que na linguagem jazzística procuravam novos horizontes, música livre. Dois encontros que colocam o vibrafone de Hutcherson entre as cabeças do chamado "new thing", mais tarde post-bob, free jazz, etc: o pianista Andrew Hill e o saxofonista Eric Dolphy. Em 1964, Bobby empresta seu talento a um disco que se equivale no cinema ao Acossado, de Godard - o divisor de águas Out To Lunch, de Eric Dolphy.
Em 1964, empresta seu talento para o disco Out To Lunch, de Eric Dolphy. No ano seguinte grava seu primeiro disco, Dialogue, pelo selo Blue Note, tendo Andrew Hill como braço direito e grandes músicos como o trompetista Freddie Hubbard e o saxofonista Sam Rivers, um dos meus favoritos.
Em 1964, empresta seu talento para o disco Out To Lunch, de Eric Dolphy. No ano seguinte grava seu primeiro disco, Dialogue, pelo selo Blue Note, tendo Andrew Hill como braço direito e grandes músicos como o trompetista Freddie Hubbard e o saxofonista Sam Rivers, um dos meus favoritos.
Hutcherson tem forte base nos conceitos do free jazz, mas é um compositor inspirado em temas doces como seu grande clássico Little B´s Poem que anos depois teve versão com letra do organista Doug Carn e sua mulher, a diva soul jazz Jean Carn. Bobby tem trânsito livre no lirismo e no abstracionismo assim como o saxofonista Jackie McLean, ou mesmo o famoso Freddie Hubbard que gravou obras mais densas e outras mais comerciais.
Seguiu nos anos 60 e 70 gravando grandes discos como Oblique (67), Total Eclipse (68) e Montara (75), usando efeitos no vibrafone, flertando com a música latina e o soul, e participando de discos antológicos como os do saxofonista Harold Land para o selo Mainstream, nunca lançados em CD.
Bobby Hutcherson é dos jazzistas que optaram pelo caminho verdadeiramente artístico, quase sempre interpretando seus próprios temas e idéias, e não a enésima versão de Body and Soul ou Stella by Starlight. É triste perceber que freqüentando os parcos espetáculos de jazz no Brasil, o público dito jazzófilo (terrível isso, jazzófilo) tem grande conivência com essa obviedade que assola mesmo os músicos brasileiros dedicados ao gênero. Nos poucos lugares que existem para se tocar jazz, a regra é interpretar as manjadas, as mesmas. Ninguém quer ouvir o novo, o autoral. É muita preguiça mental, não?
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