terça-feira, 16 de novembro de 2010

Meu poema de chuva, Ildásio Tavares [1940-2010]


Meu poema não visita a antologia
Dos momentos que a chuva salpicou
Nem se curva ao tip-top na janela
Onde sem mais querer
A chuva semissente se instalou, —
Ele se esgueira, calmo e contemplado,
Até a intimidade sem recursos da gota mais minúscula,
E em uniliquescência permanece;
E assim, as palavras feitas chuva
Se escorrem lá pra baixo da ladeira e
São sorvidas sem serem pressentidas
Pela terra,
Pelo lago,
Ou pelas tradicionais bocas de lobo.


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