Tudo aquilo que quisermos mudar nas crianças, devemos primeiro examinar se não é algo que é melhor mudar em nós mesmos, como por exemplo, nosso entusiasmo pedagógico. Talvez devêssemos dirigir esse entusiasmo pedagógico para nós mesmos. Talvez estejamos entendendo mal a necessidade pedagógica, porque ela nos recorda, de modo incômodo, que de qualquer maneira somos crianças e precisamos muitíssimo da educação.
Em todo caso, essa dúvida me parece bastante adequada, se nossa pretensão for educar as crianças para que sejam "personalidades". A personalidade já existe em germe na criança, mas só se desenvolverá aos poucos por meio da vida e no decurso da vida. Sem determinação, inteireza e maturidade não há personalidade. Essas três qualidades características não podem ser algo próprio da criança, pois por meio delas a criança perderia sua infantilidade. A criança se tornaria uma imitação de adulto, desnatural e precoce. Mas a educação moderna já produziu tais monstros. Isso ocorre naqueles casos em que os pais colocam verdadeiro fanatismo no esforço de dar aos filhos "o melhor" de si próprios e de "Viver exclusivamente para eles".
Esse ideal, apregoado tão freqüentemente, é empecilho enorme para o desenvolvimento dos pais, e faz com que os pais imponham aos filhos o que eles próprios consideram "o melhor" para si. Mas isso que chamam de melhor consiste na realidade em algo que os pais negligenciaram em grau extremo em si mesmos. Os filhos são estimulados para aquelas realizações que os pais jamais conseguiram; a eles são impostas as ambições que os pais nunca realizaram. Tais métodos e ideais produzem monstruosidades na educação. Ninguém pode educar para a personalidade se não tiver personalidade. E não é a criança, mas sim o adulto quem pode atingir a personalidade como o fruto amadurecido pelo esforço da vida orientada para esse fim. Atingir a personalidade não é tarefa insignificante, mas o melhor desenvolvimento possível da totalidade de um indivíduo determinado.
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