José Bezerra da Silva nasceu em Recife (PE), a 9 de março de 1938. Foi para o Rio de Janeiro aos 15 anos fugindo da fome e apenas com a roupa do corpo. Fez a viagem num navio que carregava açúcar.
Passou então a trabalhar na construção civil como pintor de paredes e tinha como endereço a obra no centro da cidade, onde exercia sua profissão. Foi nessa época, lá pelos idos de 1949, que enamorou-se de uma "dona" e foi morar com ela no morro do Cantagalo (zona sul do Rio).
Iniciado na música pelo coco de Jackson do Pandeiro, começou, em 1950, sua carreira como ritmista na Rádio Clube —tocava tamborim, surdo e instrumentos de percussão em geral. Suas primeiras composições, "O Preguiçoso" e "Meu Veneno", foram gravadas por Jackson. Seu primeiro disco —um compacto— foi gravado, em 1969, pela Copacabana. Bezerra da Silva estudou violão clássico por oito anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da TV Globo. É um dos poucos partideiros que lê música.
Como ele próprio explicava, sua ligação com o mundo musical se deu por causa do "medo da fome". Dizia também que a única saída que tinha era "lutar por dias melhores", pois "tinha dias que trabalhava e não comia". Não se cansava de afirmar que saiu do ramo da construção civil porque achava que algum dia iria "virar uma escada, um tijolo, um saco de cimento".
Suas músicas são quase sempre de outros compositores ou então de parcerias que ele cultivou por muitos anos. Seus parceiros eram poetas dos morros como 1000tinho, Barbeirinho do Jacaré, Baianinho, Em Cima da Hora, Embratel do Pandeiro, Trambique, Zé Dedão, Popular P., Pedro Butina, Simão PQD, Wilsinho Saravá, Rubens da Mangueira, Pinga, Dunga da Coroa, Jorge Laureano, Adelzo Nilto, Edson Show e uma imensa lista de outros ilustres desconhecidos que Bezerra fazia questão de divulgar em seus discos.
Nas letras dos sambas desses compositores se expressam os conflitos sociais de uma população marginalizada. Tudo através de uma ótica bem humorada, mas também áspera. São letras com palavras afiadas, de gente que tem uma visão sociológica amadora, porém lutadora e inconformada.
Antigamente, Bezerra não gostava que o chamassem de pagodeiro. Dizia que "quando a música é feita por pobre, analfabeto ou crioulo, eles dizem que é pagode. Eu não aceito isso!".
Quando questionado a respeito do novo pessoal do pagode, afirmava que "o Sol nasceu pra todos, todos os colegas são bons. Cada um tratando de si. Eu acredito que o meio está pra todo mundo. Graças a Deus, muitos colegas estão fazendo sucesso. Um sambista carrega a bandeira do samba".
Perguntado certa vez se achava que brancos não sabiam fazer samba respondeu: "isso é uma mentira, uma discriminação boba. Tudo depende da veia poética do sujeito. Você já imaginou se Deus deixasse eu fazer eu do jeito que quero, com a cuca que tenho? Eu seria verde, todo bonito. Ninguém ia ser igual a mim. Eu seria um sucesso, o cabelo de ouro, ia ser tudo comigo. Mas me fizeram um crioulo esquisito. Essa história de que branco não faz samba é mentira. E também tem crioulo que não faz samba. Artista nasce em qualquer lugar".
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