quinta-feira, 27 de maio de 2010

EU NÃO RECOMENDO: COLETIVO MUITO BARULHO POR NADA

por nada mesmo...

In Memoriam: Bezerra da Silva.

José Bezerra da Silva nasceu em Recife (PE), a 9 de março de 1938. Foi para o Rio de Janeiro aos 15 anos fugindo da fome e apenas com a roupa do corpo. Fez a viagem num navio que carregava açúcar.

Passou então a trabalhar na construção civil como pintor de paredes e tinha como endereço a obra no centro da cidade, onde exercia sua profissão. Foi nessa época, lá pelos idos de 1949, que enamorou-se de uma "dona" e foi morar com ela no morro do Cantagalo (zona sul do Rio).

Iniciado na música pelo coco de Jackson do Pandeiro, começou, em 1950, sua carreira como ritmista na Rádio Clube —tocava tamborim, surdo e instrumentos de percussão em geral. Suas primeiras composições, "O Preguiçoso" e "Meu Veneno", foram gravadas por Jackson. Seu primeiro disco —um compacto— foi gravado, em 1969, pela Copacabana. Bezerra da Silva estudou violão clássico por oito anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da TV Globo. É um dos poucos partideiros que lê música.

Como ele próprio explicava, sua ligação com o mundo musical se deu por causa do "medo da fome". Dizia também que a única saída que tinha era "lutar por dias melhores", pois "tinha dias que trabalhava e não comia". Não se cansava de afirmar que saiu do ramo da construção civil porque achava que algum dia iria "virar uma escada, um tijolo, um saco de cimento".

Suas músicas são quase sempre de outros compositores ou então de parcerias que ele cultivou por muitos anos. Seus parceiros eram poetas dos morros como 1000tinho, Barbeirinho do Jacaré, Baianinho, Em Cima da Hora, Embratel do Pandeiro, Trambique, Zé Dedão, Popular P., Pedro Butina, Simão PQD, Wilsinho Saravá, Rubens da Mangueira, Pinga, Dunga da Coroa, Jorge Laureano, Adelzo Nilto, Edson Show e uma imensa lista de outros ilustres desconhecidos que Bezerra fazia questão de divulgar em seus discos.
Nas letras dos sambas desses compositores se expressam os conflitos sociais de uma população marginalizada. Tudo através de uma ótica bem humorada, mas também áspera. São letras com palavras afiadas, de gente que tem uma visão sociológica amadora, porém lutadora e inconformada.

Antigamente, Bezerra não gostava que o chamassem de pagodeiro. Dizia que "quando a música é feita por pobre, analfabeto ou crioulo, eles dizem que é pagode. Eu não aceito isso!".

Quando questionado a respeito do novo pessoal do pagode, afirmava que "o Sol nasceu pra todos, todos os colegas são bons. Cada um tratando de si. Eu acredito que o meio está pra todo mundo. Graças a Deus, muitos colegas estão fazendo sucesso. Um sambista carrega a bandeira do samba".

Perguntado certa vez se achava que brancos não sabiam fazer samba respondeu: "isso é uma mentira, uma discriminação boba. Tudo depende da veia poética do sujeito. Você já imaginou se Deus deixasse eu fazer eu do jeito que quero, com a cuca que tenho? Eu seria verde, todo bonito. Ninguém ia ser igual a mim. Eu seria um sucesso, o cabelo de ouro, ia ser tudo comigo. Mas me fizeram um crioulo esquisito. Essa história de que branco não faz samba é mentira. E também tem crioulo que não faz samba. Artista nasce em qualquer lugar".

Los hermanos da Cidade da Bahia!



“O feitiço é vivo, e começa pela cozinha. Você se alimenta de comidas sagradas. O acarajé é comida de Iansã, que é um orixá-fêmea dos ventos e das chuvas. O caruru é amalá de Xangô. (…) Depois tem arvoredos que são a morada de encantados. (…) Tem sol, tem pescadores, tem o diabo… que não é bem diabo, é Exu, o diabo do candomblé que é de uma travessura diferente da dos outros diabos e, sendo bem tratado, torna-se um amigo inesquecível”.



Como se forma a juventude rebelde?



Como se forma a juventude rebelde? James Dean definitivamente retratava o pensamento, costume e personalidade do jovem revolucionário dos anos 50. É um ícone, incondicionalmente. Juventude Transviada é um foco definitivo sobre fissura cultural entre jovens e velhos: destrói as aparências familiares, determina os comportamentos juvenis delinqüentes, rompe com o conservadorismo familiar. Dirigido por Nicholas Ray, que enfatiza aspectos psicológicos e sociológicos da juventude, é um filme cicatrizante. A contextualização de evidenciar a narrativa do filme em um único dia captura a essência do que é ser jovem: nota-se, evidentemente, no personagem de James Dean - um exímio vivant que não se preocupa com o dia seguinte. A rebeldia é também sinônimo da carência juvenil em três focos: Jim Stark (James Dean) foi detido por embriaguez, Judy (Natalie Wood) por ter brigado com o pai, e Plato (Sal Mineo) por ter atirado em cães. Ambos se amparam, são aliados do destino rumo à dissolução da carência afetiva de uma vida imersa no desastre familiar. Jovens são desajustados? São também ansiosos por amparo, por atenção. E a rebeldia pode ser uma consequência da ausência de atenção familiar. O filme desnuda relações conturbadas de pais com filhos, mas serve também de um alerta: todo ser humano necessita de carinho incondicional. São personificações reais de problemas do desajuste familiar? Pais nulos versus filhos abandonados? A revolta, o desajuste e o delírio transgressor não se justificam - mas pode ser a maneira que o ser justifica a sua própria amargura de não ser compreendido sentimentalmente. O personagem de James Dean desconstrói as falsas aparências com sua vitalidade sexual, seu comportamento questionador e sua virilidade sincera. Mas, há uma fragilidade que embala sua transgressão, e isso fica evidenciado em diversos momentos. E o filme vai mais fundo nas feridas, pois demonstra os maus hábitos da juventude rebelde dos anos 50. O belo trabalho de Nicholas Ray provoca por ser uma ruptura com a formalidade da época, serve como um basta ao puritanismo norte-americano. Sim, é um convite à rebeldia sem causa como forma de verbalizar uma busca pela identidade e pela auto-afirmação. Os personagens jovens do filme subvertem, questionam e são imersos na rebeldia - estes que condicionam a vida na mais pura fidelidade de um para o outro. James Dean representa o jovem carente, marginalizado e inconseqüente. A juventude ali é passional, emocional e imatura. A rebeldia é necessária para evidenciar a insatisfação generalizada, contextualizada. Mais que uma busca existencial: uma maneira de atrair a atenção da sociedade, chamar atenção ao seio familiar. Há uma relação nítida de homossexualidade e carência intensa de Plato ao Jim, sua admiração beira ao misto da devoção e do desejo juvenil. Plato sentia a necessidade de ter Jim como uma figura paterna, eis a contradição. Jim é o centro da atenção: é desejado por Plato e Judy - seu charme, seu comportamento e atos rústicos geram desejo alheio, seu comportamento e personalidade contagia proporcionando o tesão aos dois amigos. Seria Jim um modelo a ser seguido? Havia nele um desejo de consumir os outros e ser consumado de desejo. Jovens no turbilhão de questionamentos, desejos e delícias sexuais da puberdade. O filme é, portanto, um aprofundado estudo da juventude transviada, magistralmente interpretado pelos trio central: James Dean, Natalie Wood e Sal Mineo. E s charmosa trilha sonora de Leonard Rosenman acentua o tom saboroso das cenas. Os personagens masculinos têm um sexy-appeal com o look das jaquetas pretas, camisetas brancas e jeans - além de astutos, altivos e instintivamente rebeldes. Fatalmente os três atores principais vieram a falecer de maneira trágica.

ÍTALO CALVINO NASCEU EM CUBA!


“Não é verdade que já não me lembro de nada, as lembranças ainda estão lá, escondidas no novelo cinzento do cérebro, no úmido leito de areia que se deposita no fundo da torrente dos pensamentos...” Os pensamentos de Italo Calvino, mergulhados na vivência e saber, nos assombram e demarcam caminhos que iluminam a sabedoria. Calvino traçou muitos caminhos pela vida afora. Um deles é “O Caminho de San Giovanni” (Ed. Cia. das Letras), composto por narrativas escritas entre 1962 e 1977, ou seja, fragmentos, lampejos que transitam entre a memória e a reflexão.

“O Caminho de San Giovanni”, que abre o livro, evoca a adolescência passada em San Remo, as divergências entre pai e filho, a natureza bucólica e a paixão pela cidade. “Autobiografia de um espectador” é o escritor descobrindo o cinema, sua adoração pelo imaginário de Hollywood. Calvino ainda revela a confluência do seu mundo com o mundo do circo de Fellini, mundo desenhado a partir do humor poético, crepuscular e angélico.

“Lembranças de uma batalha” narra os tempos de guerrilheiro antifascista na Ligúria. Calvino volta-se no tempo, “perscrutando o fundo do vale da memória”, para recuperar os sons, imagens e palavras que o infernizaram na época da Segunda Guerra. Em “La poubelle agrée” descobrimos o humor de Calvino a partir dos gestos banais, como pôr o lixo fora de casa. Para encerrar, “Do opaco”, um texto poético que tenta desvendar “o lugar geométrico do eu” no mundo, “o eu que só serve para que o mundo receba continuamente notícias da existência do mundo, um engenho de que o mundo dispõe para saber se existe”.

Os exercícios de memória de Calvino não apresentam a verve do ficcionista, do fabulista que se encontra em “Palomar” ou nas “Cidades Invisíveis”, quando o autor dedica-se a renovar a arte literária. Em “O castelo dos destinos cruzados” ou em “Se um viajante numa noite de inverno”, o ficcionista reflete sobre o ato de escrever num mundo já conquistado, “colonizado por palavras”.

Italo Calvino é discípulo espiritual de Jorge Luis Borges. Calvino, ao decifrar Borges, decifra-se como uma esfinge: “Em cada texto, por todos os meios, Borges fala do infinito, do inumerável, do tempo, da eternidade ou da presença simultânea ou da dimensão cíclica dos tempos”. Calvino também reflete sobre as coisas que acontecem no tempo múltiplo, templo plural, tempo de uma ação que acontece no presente, mas que se bifurca entre o passado e o futuro.

As narrativas do autor de “Os amores difíceis” são reinvenções de um aventureiro da literatura. Calvino é autor de idéias, cerebral e livresco. Reinventor de lendas medievais. Toda sua literatura é uma reescritura (paródia). Adepto da ficção absurdamente elaborada. De estilo imprevisível, alterna humor, erudição, deslumbramento e ironia. É um descobridor do fantástico no real. A ficção mapeia a história de humor e amor. Nada que não esteja fora dos interstícios da realidade. Apesar de que toda literatura aspira ao fictício.

FUDENDO A RECEPCIONISTA, por Felipe Negão.

BOM, GENTE, O QUE PASSO A LHES CONTAR ACONTECEU COMIGO NO FIM DE 2008, QUANDO EU TRABALHAVA EM UMA SECRETARIA DE ESPORTES, E ERA A SEGUNDA PESSOA DO SECRETÁRIO. LOGO APÓS A CAMPANHA ELEITORAL VEIO TRABALHAR NA SECRETARIA UMA MOÇA DE SEUS 23 ANOS, BRANQUINHA, OLHOS CASTANHOS CLAROS, BUNDA REDONDINHA, PEITOS MÉDIOS. LOGO QUE ELA CHEGOU QUIS ME CONHECER, POIS OUVIU FALAR MUITO DE MIM PELA MANEIRA QUE EU TRATAVA OS MEUS COMANDADOS, E ASSIM QUE EU CHEGUEI E FUI PARA A MINHA SALA ELA INVENTOU UMA DESCULPA E FOI ATÉ MINHA SALA. CONVERSAMOS E DEPOIS DE ALGUNS DIAS ESTÁVAMOS ÍNTIMOS, ELA PEDIU MEU NÚMERO DE TEL E ME LIGAVA DE NOITE E CONVERSÁVAMOS MUITO. NA NOSSA CONVERSA FIQUEI SABENDO QUE ELA ERA CASADA E QUE TINHA UM FILHO DE 1 ANO, MAS QUE SEU CASAMENTO ESTAVA INDO MUITO MAL. TROCAMOS MSN E FICAMOS TECLANDO DE NOITE. FOI QUANDO ELA ME DISSE QUE ME ACHAVA UM NEGÃO BONITO E COM CARA DE SACANA, ME DISSE QUE PARECIA QUE EU TINHA O PAU GRANDE. EU DISSE A ELA QUE MATARIA SUA CURIOSIDADE O DIA QUE ELA QUISESSE.

NO DIA SEGUINTE, QUANDO CHEGO DO ALMOÇO, ELA ESTAVA NA RECEPÇÃO E ME CUMPRIMENTOU. CONVERSAMOS, EU FUI PARA MINHA SALA E ELA INTERFONOU, DIZENDO QUE ANTES DE IR EMBORA QUERIA MATAR A SUA CURIOSIDADE. COMO O SECRETÁRIO JÁ TINHA IDO EMBORA, EU PEDI A ELA PARA FAZER UM DOC. NA MINHA SALA. QUANDO ELA ENTROU, EU SAI E DISPENSEI O RESTANTE DO PESSOAL , FICANDO SÓ NÓS DOIS NO PRÉDIO DA SECRETARIA. QUANDO EU ENTREI NA SALA, ELA ME OLHOU E FALOU QUE QUERIA VER A TORA DO NEGÃO. EU FUI AO SEU ENCONTRO, BEIJEI SUA BOCA, COMEÇAMOS A NOS ACARICIAR, LOGO ELA TAVA SEGURANDO MEU CACETE E APERTANDO, ALISANDO, E EU BEIJAVA SEU PESCOÇO, PERCORRIA MINHA MÃO SOBRE O SEU VESTIDO E PUDE PERCEBER QUE ELA TAVA COM UMA CALCINHA DE RENDA, ISSO ME DEU O MAIOR TESÃO, ENTÃO ELA SENTA EM UMA CADEIRA, ABRE MINHA CALÇA E LIBERA MEU CACETE QUE JÁ ESTAVA DURO FEITO PEDRA, TODO MELADO LATEJANDO, ELA OLHA E DIZ: “É DO JEITINHO QUE EU IMAGINAVA”.

SEM DIZER MAIS NADA, COMEÇA A LAMBER A CABEÇA, SUGAR E PUNHETAR DE LEVE, EU PEGUEI NO SEU CABELO E LEVANTEI SEU ROSTO COM A OUTRA MÃO, BATI NA CARA COM A MINHA PICA, ELA FICOU ALUCINADA, SOCOU MINHA PICA NA BOCA E CHUPOU COM VONTADE E MUITO TESÃO, EU A DEIXEI FICAR BEM À VONTADE, FIZ ELA FICAR DE PÉ, BEIJEI SUA BOCA COM MUITO TESÃO E FUI APERTANDO SUA BUNDA, ALISANDO SEU PEITO, NÃO AGUENTANDO MAIS TIREI SEU VESTIDO, COMECEI A CHUPAR SEU SEIO, ALISANDO SUA BUCETA POR CIMA DA CALCINHA, FUI DESCENDO MINHA BOCA PELA SUA BARRIGA, UMBIGO,VIRILHA, LAMBI SUAS COXAS E COMECEI A TIRAR SUA CALCINHA COM OS DENTES, ELA FICOU LOUCA DEITADA NA MINHA MESA, QUANDO TIRO A CALCINHA VEJO UMA BUCETA DEPILADA, CHEIROSA COM UM GRELO DEICIOSO VERMELHINHO, ENTÃO ENCOSTEI 2 DEDOS NO SEU GRELO E COMECEI UMA SIRIRICA.

ENQUANTO IA COLOCANDO MINHA LÍNGUA NO SEU GRELO, ELA GEMIA, FALAVA QUE GOSTA DE GRITAR E EU DISSE PARA ELA FICAR À VONTADE, POIS NA MINHA SALA TEM FORRO, ENTÃO ELA COMEÇOU A FALAR: “CHUPA MINHA BUCETA, SEU FILHO DA PUTA GOSTOSO! AI , PORRA QUE TESÃO! CHUPA, SEU SACANINHA, VAI PORRA!” ENTÃO COMECEI A COLOCAR 1 DEDO NO SEU CU, ELA FICOU MAIS LOUCA AINDA E GRITOU: “QUE DELICIA!!!” ELA COMEÇOU A EMPURRAR MINHA CABEÇA NA SUA BUCETA E GOZOU, GOZOU AOS BERROS, EU PEGUEI UMA CAMISINHA, PASSEI PRA ELA COLOCAR COM A BOCA, E ASSIM ELA FEZ. FICOU DE 4, EU COLOQUEI A CABEÇA DA PICA NA SUA BUCETA E FUI EMPURRANDO. A VAGABUNDA COMEÇOU A GEMER E MANDANDO EU TRATAR ELA COMO PUTA, COMECEI A PEGAR EM SEU CABELO, BATER NA SUA BUNDA, NA SUA CARA, CHAMAR ELA DE VAGABUNDA, CACHORRA , PIRANHA, VADIA, E DEI ESTOCADAS VIGOROSAS NELA, LOGO ELA SE TREMEU TODA E TEVE UM ORGASMO, DIZENDO QUE ISSO SIM É UMA FODA DE VERDADE,TIREI MINHA PICA DA SUA BUCETA E, SEM CERIMÔNIA, COLOQUEI NA ENTRADA DO SEU CU, ELA FALOU QUE ESTAVA LOUCA POR ISSO E FUI METENDO DEVAGAR, ELA GRITAVA, FALAVA: “ARROMBA MEU CU, SEU SACANA, SEU NEGÃO TARADO, SEU GOSTOSO!” E GRITAVA: “AI, PORRA!!!”

ISSO TUDO ME DEIXOU A MIL E COM POUCAS ESTOCADAS EU GOZEI NAQUELE CU QUE ME DEIXOU LOUCO. SAÍMOS MAIS UMAS 20 VEZES E ELA TEVE QUE SAIR DO EMPREGO. MAS SEMPRE NOS FALAMOS E JÁ MARCAMOS PARA NOS ENCONTRARMOS SEMANA QUE VEM. SE REALMENTE ACONTECER, EU VOU CONTAR A VCS.

DESCULPE POR SER TÃO COMPRIDO MEU CONTO.

ENDEREÇO PARA CONTATO: seupreto80@hotmail.com

Reconheça: Krishnamurti.

A essência dos ensinamentos de Krishnamurti está contida na declaração feita por ele em 1929: ''A verdade é uma terra sem caminho". O homem não chegará a ela através de organização alguma, de qualquer crença de nenhum dogma, de nenhum sacerdotal ou mesmo um ritual, nem através de nenhum conhecimento filosófico ou técnica psicológica. Ele vai encontrá-la através do espelho do relacionamento, através do entendimento dos conteúdos de sua própria mente, através da observação, e não através de análise intelectual ou dissecação introspectiva".Em 1980, o próprio Krishnamurti escreveu uma declaração que pode ser lida no volume dois de sua biografia "Krishnamurti, os Anos de Plenitude", por Mary Lutyens: "O ser humano não pode construir imagens dentro de si mesmo, como uma cerca de segurança - religiosa, política, pessoal. Elas de manifestam como símbolos, idéias, crenças. O peso dessas imagens domina o pensamento humano, seus relacionamentos e sua vida diária. Essas imagens são as causas de nossos problemas porque elas separam as pessoas umas das outras. A sua percepção da vida é moldada pelos conceitos já estabelecidos em sua mente. O conteúdo de sua consciência é a sua consciência total. Esse conteúdo é comum a toda humanidade. A individualidade é o nome, a forma e a cultura superficial que o homem adquire da tradição e do meio ambiente. A singularidade do homem não se encontra no superficial, mas na completa libertação dos conteúdos de sua consciência, comum a toda humanidade. Assim, ele não é um indivíduo.
O indiano dizia que " a liberdade não é uma reação, nem tão pouco uma escolha. É pretensão do ser humano achar que, por ter escolha, ele é livre. A liberdade é pura observação sem direção, sem medo de punição e recompensa. A liberdade é sem nenhum motivo, a liberdade não está no fim da evolução humana, mas se encontra no primeiro passo da sua existência. Pela observação, a pessoa começa a descobrir a falta de liberdade. A liberdade é encontrada no estar atento, sem escolha, à nossa existência e atividades diárias.

Para ele, o pensamento é tempo. "O pensamento nasce da experiência e do conhecimento, que são inseparáveis do tempo e do passado. O tempo é o inimigo psicológico do ser humano. Nossa ação é baseada no conhecimento e, portanto, no tempo. Assim, o ser humano é sempre escravo do passado. O pensamento é sempre limitado e assim nós vivemos em conflito e luta constantes. Não há evolução psicológica.

Em 1980, seis anos antes de morrer, Krishnamurti estava fazendo uma palestra em Brockwood, na Inglaterra, quando foi questionado sobre os motivos que o levaram a continuar falando, após 50 anos, como mensageiro, gastando energia, quando ninguém parecia mudar.Ele sábia e serenamente respondeu: "Antes de mais nada, eu não dependo de vocês como um grupo que vem ouvir o palestrante. O orador não está ligado a nenhum grupo em particular, nem está precisando de uma assembléia. Penso que quando alguém vê algo verdadeiro e belo, ele quer contar às pessoas sobre isso, por afeição, por compaixão, por amor. E, se não houver quem esteja interessado, tudo bem, mas aqueles que estão interessados, talvez eles possam reunir-se. Você pode perguntar à flor por que ela cresce, por que ela tem perfume? É pela mesma razão que o orador fala".

Krishnamurti defendia a qualidade das amizades, do afeto. "Existe uma forma de comunhão que não é verbal, que necessita aquela peculiar qualidade de atenção e sossego. Assim como dois amigos muito íntimos que não têm que falar muito, que não têm que entrar em longas e complicadas explicações, que compreendem um ao outro naquele próprio silêncio em que existe a comunhão da amizade. Dois amigos muito íntimos podem ficar muito quietos, cada um com seus próprios problemas e, nessa quietude, nesse silêncio, acontece uma outra atividade que pode resolver o problema".

Sobre o medo ele escreveu: "Enfrente o medo, convide-o, não o deixe chegar de repente, inesperadamente, mas encare-o constantemente, busque-o com diligência e determinação. Não deixe os problemas criarem raiz. Passe por eles rapidamente, atravesse-os como se estivesse cortando manteiga. Não permita que eles deixem uma marca, acabe com eles assim que eles apareçam. Você não pode evitar ter problemas, mas acabe com eles imediatamente".


Linhas iniciais de “A Polaquinha”, Dalton Trevisan.



Bobinha, de mim já não falo. Me enxugava no banheiro. Puxa, que susto.
- Está nascendo cabelo…
Um por um, tentei arrancar - doía muito. Confessei o medo para minha irmã.
- Lá embaixo.
Ela me acalmou:
- Sua tonta, é assim mesmo. Quando veio a primeira vez, bem me apavorei.
- Estou sangrando. Acho que vou morrer.
Correndo a toda hora ao banheiro.
- Estou me esvaindo… De novo, minha irmã:
- Agora você sabe. O que é moça. Daqui a um mês. Todo mês.
Me ensinou a usar toalhinha, ainda o tempo da toalhinha. Esquecida horas no banheiro, lavando, lavando. Para a mãe não ver.
O seio aflorando, o biquinho doendo - de sete novenas fiz promessa.
- Meu Deus, me acuda. Se aperto o biquinho, sai leite?O primeiro namorado, sabe o quê? Ah, o beijo único na boca. Já era pecado: duas línguas na boca. Me abraçava, eu tremia de gozo. Tanto medo: duro, grande, furando a calça. O tempo das primeiras calças justas. Ele descia reto: o começo ali no umbigo? Como adivinhar que se dobrava para cima?
Os dois de pé, na varanda, naquelas tardes fagueiras. Qual era o versinho antigo? À sombra das bananeiras, agarradinhos, debaixo dos laranjais. Pelos cantos, a sua terceira mão, na escola noturna. Oh, João.
Passamos o domingo na praia. Galinha com farofa, a descoberta do mar, o rosto em fogo do sol. De volta, no ônibus, minha mãe dormia ao lado. Começamos a nos beijar ali no escuro.
- É um jogo - eu disse. - O que faço em você, faz em mim.
Morria de vontade que me pegasse no seio. Qual seria a sensação? Primeiro um beijinho no nariz. Alisei o queixo, a penugem do braço. Abri-lhe a camisa, achei um cabelo crespo no peito. Um olho nele, outro na mãe dormindo. Se ela acorda, já pensou?

Versos Amorosos do Mário Quintana.


Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.
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DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
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Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...
Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar! Pobre vida que toda depende
De um sorriso.. de um gesto.. um olhar...

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

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"Mas onde já se ouviu falar num amor á distância,
Num teleamor ?! Num amor de longe…
Eu sonho é um amor pertinho… E depois
Esse calor humano é uma coisa que todos - até os executivos têm
É algo que acaba se perdendo no ar
No vento
No frio que agora faz… Escuta!
O que eu quero
O que eu amo
O que eu desejo em ti
É teu calor animal… "


BILHETE
Se tu me amas,
ama-me baixinho.
Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,
.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

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POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

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Nunca diga te amo se não te interessa. Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti.
A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo.

Amar:
Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no outro.

domingo, 23 de maio de 2010

Femme Nue Devant sa Glace, Toulouse-Lautrec.



No Brasil, é praticamente impossível falar de Shakespeare sem falar de Bárbara Heliodora. Como surgiu o seu interesse e a sua paixão pelo escritor?

Bárbara Heliodora: Gosto muito de teatro e, em matéria de bom teatro, não há outro igual. Comecei a ler Shakespeare, me habituei e cada vez que leio gosto mais. O texto é de uma riqueza muito grande, sugerindo sempre a cena. Quando lemos, é possível ver aquela ação viva, os personagens são maravilhosos. De maneira que, quando me perguntam porque gosto de Shakespeare, sempre digo: “já leu?”. Para mim, basta ler para ver o quanto ele é maravilhoso.

Quando você ganhou a sua primeira obra de Shakespeare, aos 12 anos de idade, você mal compreendia a língua inglesa. Com o passar do tempo, você ficou fascinada com a beleza e a imaginação das obras dramáticas de escritor. Qual o segredo de Shakespeare?

Heliodora: Exatamente, havia aprendido um pouco de inglês no colégio, mas estava muito por fora, só mais tarde pude ler realmente. Sempre digo que o segredo de Shakespeare é que ele passou a vida tendo um grande caso de amor com a humanidade. Esta paixão pelo ser humano me admira. Quando ele cria um personagem “mal”, ele tenta compreendê-lo, o que é fantástico. Ele não justifica a maldade, mas cria um personagem que tem algum tipo de problema na personalidade. Não é piegas nunca, nem quando gosta, nem quando não gosta. A compaixão pelos sofrimentos, alegrias e amores do ser humano é que o fazem de tal modo fascinante.

Você diz que Shakespeare é considerado um autor popular. No entanto, criou-se em torno dele a reputação de ser difícil e inacessível. O que deu origem a essa compreensão errônea de Shakespeare?

Heliodora: Ele era um autor popular. Escrevia numa cidade de 300 mil habitantes, com um teatro de dois mil lugares. Todo o espectro social da Inglaterra assistia às peças dele. Acontece, em primeiro lugar, que tivemos uma tradição lamentável, que durou até relativamente poucas décadas. No sistema de ensino, o professor dizia: “eu entendo, mas você não pode entender, porque é muito difícil para você, meu aluno”. Foi criada esta barreira artificial. E, além disso, não havia montagens. As traduções eram pouquíssimas. Tudo isso resultou em um falso mito de dificuldade e distância quando, na realidade, ele sempre escreveu para os atores e para o público.

Uma vez te perguntaram, em uma entrevista, se você seria uma boa atriz e você respondeu que não. Por que?

Heliodora: Porque não tenho vontade de pisar ao palco e ser olhada por todo mundo. Sou uma espectadora nata. Nasci para olhar, e não para ser olhada pelos outros. Para mim, o grande prazer é ver o espetáculo. Nunca tive nenhuma vontade de ir para a cena. Para ser um bom ator, a pessoa tem que ter um imenso prazer em pisar no palco. E esta não é a minha praia.

No site que criou para você na Internet, sua filha diz ter sido educada por uma mãe fantástica, que a criou sob o signo da palavra generosidade. Como crítica de teatro, você se considera uma mulher generosa?

Heliodora: Acredito que sim. Quando gosto, sou até excessiva nos elogios. A generosidade tem que aparecer exatamente para estimular o que é bom. Lembro-me que, desde o início da minha carreira como critica, discutia muito com o Pascoal Carlos Magno. Ele dizia: “é preciso estimular estes moços”. E eu respondia: “Pascoal, não podemos elogiar o que é ruim, estaremos prejudicando. Eles vão reincidir no erro, pensando que está certo”. Se você elogiar tudo, você realmente não está colaborando para que a pessoa tome consciência de certos enganos e tente melhorar. A generosidade deve ter limites, mas quando gosto do espetáculo, me derramo em elogios.

Como e por que alguém se transforma em crítico? Para que serve a crítica?

Heliodora: A crítica é a última fase da criação artística. Sempre me lembro de uma coisa: a arte é artificial. Você só não pode criticar a natureza. A natureza “é”, não foi criada. Todo o resto, se foi criado, é passível de análise. É claro que, se a crítica for negativa, a pessoa pode ficar chateada. Mas os artistas, em todas as artes, esperam que sua obra seja apreciada e comentada. Não tenho dúvida de que eles querem. A crítica é: “isto aqui foi criado e teve este resultado”. É uma apreciação necessária que completa o ciclo criativo da obra.

Um recado de Jung.

Tudo aquilo que quisermos mudar nas crianças, devemos primeiro examinar se não é algo que é melhor mudar em nós mesmos, como por exemplo, nosso entu­siasmo pedagógico. Talvez devêssemos dirigir esse en­tusiasmo pedagógico para nós mesmos. Talvez estejamos entendendo mal a necessidade pedagógica, porque ela nos recorda, de modo incômodo, que de qualquer ma­neira somos crianças e precisamos muitíssimo da edu­cação.

Em todo caso, essa dúvida me parece bastante adequada, se nossa pretensão for educar as crianças para que sejam "personalidades". A personalidade já existe em germe na criança, mas só se desenvolverá aos poucos por meio da vida e no decurso da vida. Sem determinação, inteireza e maturidade não há personalidade. Essas três qualidades características não podem ser algo próprio da criança, pois por meio delas a criança perderia sua infantilidade. A criança se tornaria uma imitação de adul­to, desnatural e precoce. Mas a educação moderna já pro­duziu tais monstros. Isso ocorre naqueles casos em que os pais colocam verdadeiro fanatismo no esforço de dar aos filhos "o melhor" de si próprios e de "Viver exclu­sivamente para eles".

Esse ideal, apregoado tão freqüen­temente, é empecilho enorme para o desenvolvimento dos pais, e faz com que os pais imponham aos filhos o que eles próprios consideram "o melhor" para si. Mas isso que chamam de melhor consiste na realidade em algo que os pais negligenciaram em grau extremo em si mesmos. Os filhos são estimulados para aquelas realiza­ções que os pais jamais conseguiram; a eles são impostas as ambições que os pais nunca realizaram. Tais métodos e ideais produzem monstruosidades na educação. Ninguém pode educar para a personalidade se não tiver personalidade. E não é a criança, mas sim o adulto quem pode atingir a personalidade como o fruto ama­durecido pelo esforço da vida orientada para esse fim. Atingir a personalidade não é tarefa insignificante, mas o melhor desenvolvimento possível da totalidade de um indivíduo determinado.


Jornal Apocalipse Now: “Bebê faz sinal de positivo em exame de ultrassonografia.”

A grávida Marie Boswell, de 35 anos, recebeu uma garantia de que o bebê que espera está em ótimo estado de saúde. E não foi nenhum médico que deu a notícia para a britânica. O próprio pimpolho, dentro da barriga da mãe, fez um sinal de positivo durante um exame de ultrassonografia no Hospital Wythenshawe, em Manchester, na Inglaterra.

Marie, que está no quinto mês de gestação, ficou espantada com a coincidência durante o exame:

- Nós amamos! A imagem é muito clara, o polegar está bem visível. Nem acredito!
Segundo a reportagem do jornal britânico The Daily Mirror, a ultrassonografia surpreendeu até os médicos do hospital. Gerry Jackson, que fez o exame na grávida, afirmou nunca ter visto nada igual.

- É muito raro ver o polegar de bebês de forma tão clara. É ótimo termos captado uma imagem tão clara na ultrassonografia desta paciente - disse o ultrassonografista.

A mamãe Marie, que já tem uma filha de 10 anos, também ficou impressionada com o tamanho das mãos do bebê.

- Ele parece que está usando luvas de boxe. Achamos que ele poderá ser um bom goleiro - diverte-se a britânica, que vai guardar a imagem incrível num livro para mostrar ao filho quando ele crescer.


Reconheça: Guilherme Arantes

Chorar em público nunca foi problema para Guilherme Arantes. "Fui crucificado nos anos 80 por ser doce, e ter raiz romântica. Rasgava o peito e me chamavam de brega. Mas o mundo precisa dos angustiados. A nova geração traz de volta a doçura perdida na cocaína dos anos 80. Eu ia ver os Titãs e só tinha homem de preto gritando 'ô, ô, ô, ô'. Pensava: 'Que é isso? Hitler venceu?'"

Caminhando pela rua Santa Efigênia, perto do Bar Brahma, em SP, onde estreou temporada de 11 shows na semana passada, ele defende a tese: o capitalismo absorveu os métodos do fascismo para vender cultura de massa. Está preocupado. "Como é que um nazista homofóbico [Dourado] vence o Big Brother [reality show da TV Globo]? Que sociedade é essa? As raízes de um holocausto permanecem latentes." Torceu pela vitória de Dicesar, mas acha que o grande vencedor dessa edição do programa global foi Serginho. "É o único que vai trilhar carreira de artista. É uma figura talentosa, amorosa, carinhosa, querida."

No palco do Brahma, na esquina da avenida Ipiranga com a avenida São João ("comia muita salsicha por aqui com a minha primeira namorada"), o mesmo que abriga velhos e até então esquecidos ícones como Cauby Peixoto e Demônios da Garôa, o cantor espera reencontrar, nos shows às quartas-feiras, os seus fãs mais antigos e fiéis. "Eu estava com o público errado. Fazia shows em casas grandes, como o antigo Palace [atual Citibank Hall], em que os ingressos custam pra cima de R$ 100. A grã-finada que tem esse dinheiro vai ver Coldplay, não o Guilherme Arantes." Na temporada atual, que vai até julho, os ingressos custam R$ 60.

"Outro dia, o [cantor de rap] Mano Brown me falou: 'Os pobres amam você, mano! Cê nunca foi engomadinho de Ipanema, do Leblon. Cê é o cara que não tinha medo de sentimento. A gente te ama'."

Há dez anos, foi convidado para ser executivo de gravadora. Não topou. "Tem gente que não serve pra ser do mundo corporativo. Eu sou um livre atirador." Montou seu próprio estúdio, o Coacho do Sapo, na Bahia. "Sempre que eu cantava 'Pedacinhos', o [senador] ACM chorava. Era a música preferida do filho dele [Luís Eduardo Magalhães, morto em 1998]. Ele deve chorar até hoje, não sei se lá em cima ou se lá embaixo". Guilherme vive em Salvador desde 2000.

"A Bahia tinha uma tradição de ser o lugar gerador de transgressão estética. Não só na música como no cinema, em outras áreas. Mas a transgressão baiana saiu do cérebro e foi pro sexo. O baiano aceitou um papel atribuído pelo sudeste. Topou ser o bobo da corte da playboyzada, que vai pra lá beijar na boca. Ficou rasteiro."

Wanessa Camargo devia fazer um disco country, opina. "Mas os filhos do agronegócio só querem cantar em inglês, esse é o problema. É uma molecada da burguesia, da qual fazem parte Sandy e Junior, Wanessa e todos esses filhos dos sertanejos. Os pais não têm problema nenhum de serem jecas porque vendem a jequice. Mas os filhos querem ser americanos."

Em seu estúdio, deve gravar um trabalho dos sumidos Antonio Carlos e Jocafi. A base instrumental do CD vai ficar por conta do cantor revelação Marcelo Jeneci e dos também novatos Curumin e Gustavo Ruiz. "Queria virar estrategista da música, um cara que faz a diferença, que propõe o novo nesse mercado em ruínas."

Os olhos ficam molhados pela primeira vez quando fala em Jeneci, que considera "meu primeiro sucessor". Estão compondo uma música em dupla. "A gente só teve uma primeira reunião, mas passamos mais tempo chorando do que qualquer coisa. Eu me vi com a idade dele, lembrei dos meus 20 anos. Foi muito forte."

Aos 56 anos, os fios na cabeça parecem ainda mais ralos para quem tem na memória a cabeleira que ele ostentava nos anos 80. "Usei o cabelo enquanto teve. Devia ter cortado no auge, marcaria um estilo. Eu era lindíssimo. Não só fiz músicas lindas, mas era um cara lindo."

Guilherme Arantes está no terceiro casamento. Tem cinco filhos. "Nunca assumi a persona do pegador. Era um cara chorão, emotivo." Namorou Elis Regina, para quem compôs o hit "Aprendendo a Jogar".

"Adoro essas confusões, são coisas que mexem com a tua vida. Minha paixão por Rita Lee também foi assim. Estive ali no começo dos anos 90, ela estava separada do Roberto [de Carvalho]. Mas logo me afastei, eles voltaram. Têm uma relação karmica, anterior a essa vida. Resolvi ser solidário a ambos e me afastei naturalmente."

Diz ter mais "orgulho" das mulheres que "me deram oportunidade, mas eu não peguei." Uma das últimas, ele diz, foi a inglesa Lisa Stansfield. "Saltei fora. Essas divas são um perigo, mexem com a nossa vaidade. É como ter uma Ferrari. Você se sente o super-homem, mas a manutenção é cara."

Compôs, com Nelson Motta, "Marina no Ar" para Marina Lima. "Quem pegou ela foi o Nelsinho, que também adora uma encrenca. Em 1979, na praia, ela deitou na canga e tirou a parte de cima do biquíni. Meu organismo de paulistano bobão deu resposta imediata. Pediu pra eu passar óleo de coco nas costas dela. Fiquei num estado... Mas não avancei. Tinha certeza que ia dar na trave."

"Lotus", seu último CD, vendeu pouco. "Hoje, sem jabá, até Ana Carolina venderia como eu." Mas, diz, cantoras como Vanessa da Mata e Adriana Calcanhoto gostam de suas canções. "Eu tô virando cult". Maria Bethânia pediu a Guilherme uma música inédita. Ele demorou, e "Eu em Você", a tal canção, ficou de fora do último disco dela. "Como Bethânia, de quase 70 anos, falaria de amor? Fiquei somando todos os amores da minha vida para tentar entender, e por isso demorei." Bethânia gravou a música depois, e ela pode entrar numa novela. "Se eu conseguir emplacar outro sucesso na voz dela, sou capaz até de chorar."

[Folha de S. Paulo, "Ilustrada" - Mônica Bergamo, 25/04/10]


... E Deus criou [Brigitte Bardot] a mulher.

Quando lançou um curso sobre a arte da sedução, a professora Regina Racco não imaginava o sucesso que seria. Após passar por Brasília, São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, o curso é a prova de que não há idade para se amar. Suas salas de aula reúnem, harmoniosamente, desde jovens de 20 anos a senhoras de 70, um grande exemplo de que estamos todas em busca da mesma coisa: alguém para dividir o cobertor.

Regina vê na solteirice sintomas dos tempos modernos. "As conquistas femininas no mercado de trabalho nos afastaram de nossa sensualidade. Mas somos sensuais por natureza e nascemos para seduzir", acredita. No curso, Regina ensina o caminho de volta, mas nada de dicas para seduzir um homem. “O segredo é seduzir a si mesma. Resgatando a feminilidade, qualquer mulher é capaz de encantar o parceiro que quiser”, afirma. E, na hora do bote, a auto-estima é obrigatória. “Sedução é pura energia. Se você se sente capaz, torna as pessoas ao seu redor receptivas. As mulheres precisam entender que o que atrai não é a beleza, é o poder de atração. Esse poder está intimamente ligado a relação que você tem com sua energia sexual”, diferencia. Regina garante que as mulheres cientes de seu poder de sedução não precisam nem ao menos se preocupar em procurar. “O único trabalho será escolher”, brinca. Se você está cansada de escutar sobre a importância da auto-estima na hora da sedução, pare de pensar e sinta. “Vá para frente do espelho e se apaixone por si mesma. Você só terá o amor de alguém depois que se amar. Tenha consciência de que é única, uma expressão divina que não se repetiu no planeta. E, acima de tudo, respeite sua individualidade, pois ninguém tem que ser escrava da beleza ou da balança para ser feliz. Tudo está na forma como nos vemos, e cada uma de nós é responsável por estar vivendo sua capacidade enquanto mulher. Assim, os parceiros chegarão”, garante. Só não vale ficar trancafiada dentro de casa, esperando o príncipe encantado tocar a campainha. Ver e ser vista é fundamental.

À procura

Aceite o fato de que não se fazem mais príncipes encantados como antigamente. O jeito é ir para as ruas e partir para a paquera. Mas será que você tem procurado o homem certo no lugar errado? A dica é ir atrás do que se gosta. A personal sex trainer Fátima Moura aconselha: “Quem gosta de balada, deve procurar na balada. Mas se você é sossegada, e, por acaso, ficou com um rapaz que conheceu numa noitada, possivelmente terá problemas se o relacionamento prosseguir”.

E já que a primeira impressão é a que fica, na hora da aproximação, todo o cuidado é pouco. Do primeiro olhar à troca de palavras, cada minuto é precioso, e uma bola fora é suficiente para perder o candidato de vista. Ministrando um curso sobre paquera e conquista há doze anos, Fátima atenta para a importância do visual: “Na paquera, não tem jeito! Tem que se arrumar. Seja na festa, na praia ou num bar, deve-se cuidar da apresentação. As pessoas se atraem pelo que vêem, para então o conteúdo segurar a conversa. Busque ser feminina no modo de andar, falar e olhar. Assim você demonstra interesse, abrindo caminho para que ele a procure”. E é nesse momento em que as primeiras diferenças aparecem. Diferentes em tudo, a hora da paquera não foge à regra. “São universos completamente distintos. Enquanto a mulher seduz, o homem caça. Mas uma coisa é certa: quem escolhe, somos nós. E já que eles têm o instinto de caça, deixe pensarem que estão conquistando”, sugere.

Olhar 43

Quem nunca foi vítima de um olhar sedutor? Mais do que conferir a bagagem do sexo oposto, os olhos são um aliado e tanto na hora da conquista. “Tudo começa no olhar. Demonstrar nosso interesse pelo outro dura exatamente três segundos. Basta olhar nos olhos dele, contar lentamente até três, e desviar o olhar. Se for correspondida, olhe novamente, por mais três segundos, e volte a conversar com as amigas. Mas não pode ser qualquer olhar. Precisa ser carregado, intenso, mostrando que está interessada em conhecê-lo”, descreve a personal sex trainer.Se a troca de olhares se intensifica, é hora da ação. “Acenar levemente com a cabeça na direção dele, fazendo um discreto cumprimento com um pequeno sorriso – na verdade, um convite para se conhecerem. Pode ter certeza de que partirá dele a iniciativa da abordagem”, promete Fátima. A partir daí, fica por sua conta, mas a personal ainda dá uma última dica: “Seja você mesma. De nada adianta montar um personagem, correndo o risco que ele se apaixone por uma máscara que você poderá não sustentar futuramente”.

Mil e uma desculpas

Para as que vivem justificando a solidão com a famosa “antes só do que mal acompanhada”, a consultora em relacionamentos Rosana Braga alerta: “Estar só pode ser saudável, mas há muitas mulheres machucadas, com medo de se envolver. São as que vivem dizendo que desistiram de procurar porque o homem ideal não existe. É muito fácil generalizar. Mas, assim como nenhuma de nós gostaria de se sentir igual a todas as outras, devemos saber que os homens também não são. Amar é um risco, só que, antes de qualquer coisa, é necessário acreditar que encontrar um parceiro é possível”, ensina Rosana, autora do livro “10 passos para um grande amor”, editora Mercurya.

Se suas amigas vivem dizendo que você não está aberta às possibilidades, está na hora de mudar de conselheira. Rosana avisa: “Deve-se estar aberta sim, principalmente a si mesma. Aos seus anseios e desejos, às suas qualidades e limitações, àquilo que se é, sem tentar ser outra pessoa. Aberto a ceder, a se olhar e a olhar o outro. Quando abrirmos mão da idéia fixa de conseguir algo, poderemos usufruir daquilo que já conquistamos”.Em meio a tantos conselhos, pedimos para Rosana algumas dicas especiais para as leitoras do Bolsa, que merecem, como toda mulher, apaixonar-se e amar. “Que elas acolham sua natureza fundamentalmente feminina. Que sejam mulheres inteiras, sem acreditar que isso seja sinônimo de fragilidade. Que elas compreendam que a força não está em ser igual aos homens. Diria também para que parem de buscar certezas e fantasias, e se permitam viver mais a realidade. Vejo as mulheres se entregando a relações que só lhes fazem mal, criticando esses homens, mas se dizendo incapazes de terminar essa relação para se permitirem algo mais construtivo. Sobretudo, sugiro que antes de sair procurando por um amor, percebam o que realmente querem, porque quando a gente sabe o que quer, todo o universo se movimenta na mesma direção”. Use e abuse das dicas dessas profissionais, mas nunca deixe de lado sua receita secreta para a conquista. É ela quem faz de nós únicas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Famigerado, Guimarães Rosa.



Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranqüilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.


Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

"Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada..."

Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.— "Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras... Estou vindo da Serra..."Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— "Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso... Saiba que estou com ele à revelia... Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade... O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado..."

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, inseqüentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-megerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?


Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— "Saiba vosmecê que saí ind'hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro..."

Se sério, se era. Transiu-se-me.

— "Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam... A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:
— Famigerado?

— "Sim senhor..." — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— "Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho..." Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.
— Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...

— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"

— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...

— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"

— Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...

— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"

Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...

— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.

Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — "Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição..." — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse: — "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!" Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — "Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças... Só pra azedar a mandioca..." Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.

Caso do Vestido, Carlos Drummond de Andrade.

Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?


Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa
que vestido é esse vestido.


Minhas filhas, mas o corpo
ficou frio e não o veste.

O vestido, nesse prego,
está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne,
bebeu, brigou, me bateu,

me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou.

Dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência
e fosse dormir com ele...


Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio. Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,

só pra lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,
de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei... disse que sim.

Sai pensando na morte,
mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes,
não comia, não falava,

tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,
perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.

Vosso pais sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.


Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido,

última peça de luxo
que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,
da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado
confessou que só gostava

de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito

de ofender dona casa
dapisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.


Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.
Olhou pra mim em silêncio,

mal reparou no vestido
e disse apenas: — Mulher,

põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado
e nem estava mais velho.

O barulho da comida
na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.

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