terça-feira, 29 de setembro de 2009

APOCALIPSE [ONE MORE TIME] NOW!

“Depois apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. Estava grávida, e clamava com dores de parto e sofria tormentos para dar à luz.

Foi visto ainda outro sinal no céu: era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez pontas, e nas suas cabeças sete diademas; a sua cauda arrastou a terça parte das estrelas do céu, e precipitou-as na terra. Depois o Dragão parou diante da Mulher, que estava para dar à luz um filho varão, que havia de reger todas as gentes com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde tinha um retiro que Deus lhe tinha preparado, para aí a sustentarem durante mil duzentos e sessenta dias.

Houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o Dragão, e o Dragão com os seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na terra, e foram precipitados com ele os anjos. Ouvi uma grande voz no céu, que dizia: agora foi estabelecida a salvação, a força, o reino do nosso Deus e o poder do seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os acusava de dia e de noite diante do nosso Deus. Porém eles venceram-no pelo sangue do cordeiro e pela palavra do seu testemunho e desprezaram as suas vidas, até morrer. Por isso, ó céus, alegrai-vos, e vós, os que habitais neles. Ai da terra e do mar, porque o demônio desceu a vós com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo.

Quando o dragão se viu precipitado na terra, perseguiu a Mulher que tinha dado à luz o filho varão, mas foram dadas a Mulher duas asas de uma grande águia, a fim de voar para o deserto, ao lugar do seu retiro, onde é sustentada por um tempo, por dois tempos e por metade de um tempo, fora da presença da serpente. Então, a serpente lançou da sua boca, atrás da Mulher, água como um rio, para fazer que Ela fosse arrebatada pela corrente. Porém a terra ajudou a Mulher e a terra abriu a sua boca e engoliu o rio que o dragão tinha vomitado da sua boca. O dragão irou-se contra a Mulher e foi fazer guerra aos outros seus filhos, que guardam os mandamentos de Deus e retém a confissão de Jesus Cristo. E parou sobre a areia do mar.” (Apocalipse 12, 1-18).


VOAR, VOAR. SUBIR, SUBIR.

O voo livre encanta o homem desde a mitologia grega com Ícaro, porém, foi por volta de 1871 que o alemão Otto Liliental construia planadores os quais ele próprio testava, vindo a realizar mais de 2000 vôos em sua vida. Faleceu em um acidente em 1896.


No final da segunda guerra mundial Francis Rogallo passa a estudar um novo tipo de asa que não era rígida. Rogallo defendia a idéia de que as asas flexíveis eram mais estáveis. Seus primeiros trabalhos ele realiza em casa, com sua esposa Gertrude, e para isso teve de instalar grandes ventiladores em sua sala. Em 1951 Rogallo e sua esposa registram a patente da primeira asa flexível.

Nesta época, a Nasa estava buscando uma forma de reintroduzir suas cápsulas espaciais na atmosfera através de um pára-quedas direcionável. A invenção de Rogallo deu origem ao projeto denominado PARASEV (Paraglider Rescue Vehicle).

No Centro de Investigação Langley, na Virgínia, Rogallo estuda a estrutura metálica das asas flexíveis, que nesta época ficavam apoiadas em um triciclo, que era rebocado por um avião. Uma vez em vôo, desconectava e seguia o vôo planando até o solo.

Em Grapton, na Austrália, John Dickenson ouve falar da asa de Rogallo e desenha sua própria asa, que foi construida com varas de bambu e vela de plástico, que mais tarde seriam substituídos pelo alumínio e nylon. Em 1963 realiza o primeiro vôo rebocado por um barco.

Porém, o primeiro desenho de uma asa delta como conhecemos atualmente se deve a Al Hartig, em 1966. Ele a batizou de Valkyrie. Bill Moyes, em 1968 foi o primeiro a voar no lift, também com uma asa do tipo Rogallo, na Austrália.

Em 1974 o vôo livre chega ao Brasil através do francês Stephan Dunoyer que realizou a primeira decolagem no Cristo Redetor e também realizou vários vôos em diversar cidades do Brasil.

O primeiro brasileiro a voar foi o carioca Luis Claudio Mattos. O primeiro brasileiro a conquistar um campeonato mundial foi Pedro Paulo Lopes, o Pepê, em 1981, no Japão.


HENFIL DIZ: “NÃO HÁ CONDIÇÕES DE EXISTIR NO HOMEM O LADO FEMININO.”

Descobri que realmente existem homem e mulher, duas coisas, completamente distintas. Os homens que se fazem mulheres, no caso dos travestis, são bem diferentes delas, são como homens vestidos de mulher, tomam a forma de mulher mas são homens, não adianta, isso faz parte de uma coisa que a natureza nos dá a todos, mas com muita diferença. Por exemplo, esse comportamento infantil é típico do homem... é... a criancice é típica do homem. A mulher nunca foi criança, nunca será criança. Ela vem preparada pra ser algo especial no mundo, que, no caso, é uma coisa irreversível, não há nada que possa evitar isso que é o gerar filhos. Ela é mais preparada numa série de coisas. O filho do homem é a bomba atômica, é o plástico, quer dizer, ele tem que arrumar uma outra forma. Tanto que Deus, que é homem, arrumou barro pra brincar de fazer a Terra, os seres humanos, deu o sopro, aquelas coisas... Nossa Senhora não precisou fazer nada disso. Simplesmente gerou Jesus Cristo, só isso e já fez tudo. O fato de ter um filho torna a mulher um ser adulto desde que nasceu, inclusive ela está pronta pra ter o filho, as meninas desde criança são especiais, você nota. Uma menina é muito mais viva, muito mais rápida, muito mais agressiva, muito mais inteligente do que um menino. Depois, como a disparidade é muita, o que a sociedade faz através das mães, da mulher? Ela paralisa o desenvolvimento da menina. Como? Desviando pra tarefas menores, como cozinhar, lavar, varrer chão, que é uma coisa obrigatória pra qualquer menina, ou desenvolver uma outra sensibilidade, mas fora da convivência social, como balé, piano, violino, quer dizer, paralisam a menina. O menino, por outro lado, é superativado porque em geral ele é muito bobo, é muito devagar, é mais burrinho; ele não é agressivo, é chorão, é superdevagar. Então, o que fazem? Esporte pra que ele fique mais rápido porque, se deixar, o homem fica mais fraco do que a mulher. O homem não tem estrutura física nenhuma; só tem osso, mas é através do esporte que ele fica mais forte, tanto que o intelectual, aquele que não teve uma atividade física, é muito frágil, magrinho, aquela coisa desprotegida, qualquer mulher com um tapa derruba ele. Então, o homem vai desenvolvendo, através do esporte, através do jogo, através do exército, agressividade que não tem. Ele é treinado tanto, que os primeiros dias no exército são um terror pra qualquer homem, mas depois ele é condicionado. À escola, só o homem ia, só o homem tinha conhecimento, lia pra que, quando chegasse aos 30 anos, fosse igual a uma menina de 15. Tanto que, antigamente, homens de 30 se casavam com mulher de 15, porque, se casassem com mulher de 30, eles estavam esmagados. Quando eles chegavam nos 50 anos, a mulher estava chegando nos 30, e eles estavam iguais, o homem era capaz de perceber. É por isso que os casamentos davam mais certo, porque não havia tanta distância de inteligência entre o homem e a mulher. No entanto, ainda assim a mulher efetivamente é mais adulta. O homem endurece o corpo à força dos exercícios físicos, através de um comportamento que a mãe influencia; se vê ele brincando de boneca, de casinha, vai dizer “mariquinha” – a mãe é que fala, o pai nem passa isso pela cabeça, o pai é o meninão que está no bar dando cuspe na parede, bebendo, se exibindo feito qualquer criancinha. Todos os pais são meninos, vão pra campo de futebol, ficam torcendo, gritando e, na hora do gol, carregam os jogadores... isso é o pai. Mas a mãe está ali vigilante, endurece o jogo com o menino, então esse menino vira o que eles chamam de homem, esse homem cumpre as suas funções, mas jamais deixará de ser menino... Ah, sim, a parte mulher, então esse homem se transforma, se embrutece, é morto como ser humano e é capaz inclusive de virar um Fleury, vira um cara esquadrão da morte. Devido a esse treinamento, mataram o menino que ele vai ser até o fim... se deixassem, a gente teria um bando de homens meninos por aí e as mulheres cuidando de tudo. Bem, quando você disse que existe a parte mulher, não é justamente essa coisa a parte menino, essa parte que dizem feminina só existe naqueles meninos que não viraram homem, que não foram transformados, torneados, exercitados para serem homens, homens fortes, homens soldados, homens músculos, homens atletas, homens massa. Só terão essa parte chamada mulher ou chamada menino os homens que escaparam do treinamento. E as mulheres permanecem nas suas funções normais, que é menina que vai ter criança e que, portanto, vai continuar convivendo com os meninos e meninas dentro dessa convivência de sensibilidade, de ter de perceber tudo pra saber se vai chorar ou não vai chorar. O homem que permanece menino, dizem que isso é a parte feminina, não tem nada a ver, apenas eles se salvaram. Agora, os homens estão sendo dispensados gradativamente dessa tarefa de lutar, porque as armas estão substituindo os homens, o soldado não está com nada; hoje, o míssil substitui milhões de soldados, então não precisa preparar o homem pra ser soldado, e com a entrada, por fatores econômicos, da mulher no mercado de trabalho produzindo riquezas etc., essas mulheres começam a deixar de ser infantis, a deixar de ter sensibilidade e, apesar de estarem preparadas biologicamente pra ser mulheres, elas se transformam violentamente, elas se transformam em seres que têm a mesma brutalidade dos chamados homens. Por exemplo, Golda Meir em Israel fez todas as guerras; Indira Ghandi fez todas as guerras e continua com o poder na Índia; guerras, massacres incríveis em cima daquelas tribos. A mulher mais perigosa na política internacional, hoje, é a Margaret Thatcher na Inglaterra, que invadiu as Malvinas, que invade o que for, que tem uma política agressivíssima, está rearmando a Inglaterra internamente, leis de exceção etc. E temos no Brasil uma série de mulheres muito mais perigosas, em todas as áreas, do que os homens; e os homens, como foram dispensados disso, tem muitos homens meninos aí. Então, o homem que está surgindo, o novo homem, é muito mais frágil fisicamente do que o homem de dez anos atrás, e temos aí uma série de mulheres fortes fazendo cooper, musculação; a dança é praticamente um treinamento físico, talvez mais rigoroso que o exército. São mulheres fortíssimas fisicamente e vão virando aquilo que o povo na sua ignorância e sabedoria diz, a mulher está virando homem e é neste sentido: endurecimento, embrutecimento, rigidez, está tendo enfarte, vão ficar carecas, está tendo todos os problemas que o homem tinha quando passava por isso. E diz o povo, na sua sabedoria, que os homens estão virando mulher e, então, sim, aquilo que se chamava mulher, que é menina, a sensibilidade, a brincadeira, você pega qualquer grupo de rapazes, parecem meninos indefesos. Eu vou fazer conferências e descubro que 99 por cento da platéia são mulheres; lançamento de livros, mulheres; quem lê os livros, mulheres; quem está no comando médio das empresas hoje, mulheres; daqui a pouco elas estão no comando total. E veja como esse negócio de lado feminino é uma brincadeira dos meninos cantores que inventaram isso pra serem mais agradáveis à platéia musical, que é constituída de mulheres. São elas que compram discos, então eles ficam paparicando as mulheres com isso “ser menino e menina”, “o meu lado feminino”, e vem o Gil, o Caetano, todas essas pessoas que são fisicamente frágeis são meninos brincalhões, daí as mulheres fortes musculadas ficam adorando e até incentivando isso, porque o homem vai ser desarmado. A mulher percebeu – a mulher especial chamada mãe – que aquele menino que era inofensivo e brincalhão e que ela ajudou a transformar em soldado perigoso, esse homem ameaçava a vida das mulheres, então parece que elas resolveram desativar isso e só vamos ter homens frágeis, pianistas. Os homens ficam estudando estrelas e as mulheres vão trabalhar, vão dominar o esquema financeiro, econômico e vão à guerra, inclusive porque vão estar mais preparadas fisicamente. Quer dizer, há uma questão aí, que falo em termos caricaturais, mas isso que é muito próximo do real e que não há condições de existir no homem o lado feminino.



Versinhos de Millôr

Nos dias quotidianos
É que se passam
Os anos.

Olha,
Entre um pingo e outro
A chuva não molha.

Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.

Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a Lua.

Meu dinheiro
Vem todo
Do meu tinteiro.

O veludo
Tem um perfume
Mudo.



BEBA MART’NÁLIA!

O que não pode faltar no camarim de Mart’nália?

Cerveja e toalha branca.

Você veio de uma família de músicos. Desde criança sonhou em trabalhar com música ou foi influência da família?

Na verdade nunca pensei em ser ou não ser músico. Aconteceu…foi acontecendo desde criança nesse meio, eu nem sabia o que era ser artista, para mim era tudo muito normal todos eles em volta de mim…

De suas canções, qual representa melhor seu estilo de vida?

Chega, Entretanto, Tava por aí…todas tem um pouquinho de mim em tudo… Inclusive a que foi feita para mim pelo meu padrinho Caetano Veloso que se chama Pé do meu samba.

Faça um balanço de sua carreira desde que lançou seu primeiro álbum em 1987 (Mart’nália).

Foi acontecendo, depois desse LP, fiz o cd Minha cara, mais um de curtição…rs Aí fui para o Pé do meu samba…aí o bagulho começou a ser levado a sério… rs... Fiz um dvd e um cd, como se fosse o Pé do meu samba ao vivo que se chama Mart’nália ao vivo e tem participações especiais de meu pai, Djavan, Zélia Duncan, Moska e Caetano.Despois deste fui pro colo da minha cabocla Maria Bethânia que fizemos o Menino do Rio…deste veio o ao Vivo Mart’nália em Berlim. Agora o ultimo cd Madrugada veio com minha produtora e empresária desde sempre Marcia Alvarez, junto com Arthur Maia e Celso Fonseca dividindo a produção musical de faixas…e agora a caminho estamos gravando um dvd nas Africas.Já gravamos em Maputo/Moçambique e Luanda/Angola. Até o final do ano iremos para o Senegal terminar lá esse mais novo projeto para ser lançado em 2010.

Você tem planos para gravar um CD ou DVD dueto com seu pai?

Não, não tenho planos para isso.

Mart’nália está sempre bem-humorada, de bem com a vida. O que faz você perder a calma?

Cerveja quente!

PRA QUE SERVEM AS CRIANÇAS?

Uma coleira, um medidor de mastigadas e até um colete com controle remoto. Esses são alguns dos apetrechos tecnológicos aos quais os pais recorrem com o objetivo de controlar os filhos.

Parece estranho? Pois, os equipamentos são cada vez mais comuns, principalmente nas famílias em que a falta de tempo e o estresse da rotina diária acaba dividindo espaço com a criação dos pequenos. "Todo esse aparato ajuda a reduzir o tempo que os pais passariam correndo atrás dos pequenos ou supervisionando suas atividades, assim sobra mais horas (ou minutos) para dar conta de outras tarefas", explica a psicóloga Mariana Chalfon.



Para ela, os acessórios para os cuidados com as crianças surgem por conta da transformação da sociedade, em que o indivíduo assume multifunções. "A indústria mobiliza o marketing para as pessoas terem novas necessidades, que vão sendo incorporadas à vida delas", explica. Porém, será que tudo isso realmente é necessário? A especialista comenta três artigos à venda nas lojas.


Kami-Kami Sensor (o mastigador)

Lançamento da empresa japonesa Nitto Kagaku Co., o Kami-Kami Sensor monitora a movimentação da mandíbula da criança para garantir que ela mastigue os alimentos de forma adequada, ou seja, numa quantidade suficiente que não o faça engasgar.

O método pode até poupar os pais de assistirem com atenção o ritual da alimentação dos filhos, mas antes de partir para medidas extremas, a psicóloga explica que fazer uso desse tipo de objeto pode deixar transparecer que os pais não confiam na capacidade de entendimento do filho e que subestimam que ele possa seguir uma orientação simples como mastigar. "Quando a criança cria problemas na hora de comer, a mãe deve explicar por que é importante que ela mastigue os alimentos, incentivando o processo", completa.



Child Harness (a coleira)

A novidade Child-Harness parece ser a solução para os pais que vivem correndo atrás das crianças em um passeio no shopping ou no supermercado, sem falar os pequenos que "fogem" da vista dos pais em qualquer outro lugar. A vantagem é que a peça pode ser útil quando o assunto é garantir a segurança dos filhos em situações como atravessar a rua ou no meio da multidão dos parques de diversão.


O problema é a que preço essa troca é feita. Segundo Mariana Chalfon, a "coleira" pode bloquear a fase de aprendizado da criança. "Os pais podem passar a ideia de que não confiam nos filhos", diz ela.


Child Guardian (o colete)

Com a mesma proposta de não deixar a criança escapar de vista, o Child Guardian usa um
controle remoto para imobilizar imediatamente a criança desgarrada. Um alarme de 105 decibéis é disparado pelo colete que a criança usa, causando o efeito paralisante no corpo. Além do dispositivo para localizar a criança, há também um alarme que soa caso a criança se sinta ameaçada enquanto não está na companhia dos pais. De acordo com a psicóloga, o correto é que os pais passem orientações para os filhos para que, por exemplo, eles não corram na rua sem olhar para os lados ou que conversem com estranhos. "Trata-se de mais um caso em que os pais deixam parecer que não confiam na capacidade de aprendizado do filho. Uma orientação como “não atravesse a rua sem olhar para os dois lados” pode garantir a segurança da criança sem precisar desses acessórios", completa.

PEÇA QUE A GENTE PASSA: JONH FRUSCIANTE

A canção Going inside foi gravada no disco solo “Ten record only water for ten days”, do talentoso guitarrista do Red Hot Chili Peppers, quando de sua aventura fora da banda. Jonh Frusciante (nascido no Queens, Nova York, no ano de 1970) escreveu uma letra marcada pela introspecção, pelo conflito diante da transitoriedade da vida. O guitarrista vivia, à época em que compôs a canção, um de seus momentos mais difíceis, quando se viu dominado pela heroína – consta que chegou a passar fome e nem mesmo tinha onde morar –, repetindo a experiência infeliz de Anthony Kiedis, vocalista do Red Hot, e, sobretudo, a morte trágica por overdose de heroína de um dos primeiros integrantes da banda, Hillel Slovak. Frusciante resolveu usar da tecnologia para tornar sua voz apocalipticamente metálica ou eletrônica, assim como a música inteira tem um capeamento “mecânico”, apontando para a distopia, comum em obras de ficção científica como “Crash”, de J.G. Ballard, “1984”, de George Orwell, “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley e “Do androids dream of eletric sheen?”, título pobremente traduzido para o português como “Blade Runner, O Caçador de Andróides”, dentre outros; contraria-se, portanto, a utopia de Thomas Morus. Um dos versos que melhor representam o estado de espírito do compositor, à época da composição de Going Inside é: “You don’t throw your time away sitting still/ I’m in a chain of memories”. Frusciante voltou ao Red Hot Chili Peppers depois de passar por um tratamento de desintoxicação. Mas continua o mesmo. Ou seja, “continua melhor”.
(Henrique Wagner)


ASSIM SE DIZ AXÉ: MÃE HILDA

Axé - Que volte a encerrar as nossas bênçãos, as nossas preces, que aquele que ouvir a palavra Ase sinta-se abençoado e pleno de graça. Que um homem de Ase seja um Sacerdote e não um símbolo sexual.

Para o yorùbá, o verbo mais importante é realizar. Um homem vem a Ilu Aiye, o Planeta Terra, para realizar, para fazer algo, para deixar sua marca e sua lembrança.

É assim que ele será recordado por sua descendência, através de suas realizações. Nada é feito sem o apoio dos Òrìsà, porque é através da força que flui deles para nós que esta realização ocorre.


Ase significa isso: Awa - nós / se - realizar. Ase, nós realizamos, com a ajuda, a força e o poder de nossa crença nos Òrìsà e nos nossos Ancestrais. Hoje esta nossa palavra de significado mágico se banalizou, virou música chula, de bom ritmo e de forte apelo sexual.

É uma palavra sagrada, tão importante quanto Amem, Inshallah, Maktub, Aleluia, Salam, Shalon, Om Shanti, Assim Seja e tantas outras, em tantas línguas, está por aí desvirtuada, destituída de seu significado religioso, servindo de apelo comercial e chamariz sexual.

Conclamamos os Sacerdotes afro descendentes a sair em campo esclarecendo, defendendo, e se reapossando de nosso Ase! Asé, palavra yorubá, significa: Nós realizamos, e não podemos mudar a semântica da palavra, alterar a semiótica do idioma yorubá apenas para agradar teimosos que insistem em discutir publicamente seu significado. Que o Axé dos orixás atinja a alma de cada um buscador de verdades absolutas.


A multa municipal para o lirismo sentimental [Eça de Queiroz]


No folhetim do Diário Popular de 24 de Junho lêem-se notáveis considerações de ordem moral. São em verso. O poeta dirige-se, na sua declamação solitária, a uma mulher.Numa prosa anterior (prelúdio) escreve que a missão da arte é ensinar a amar (!) — e que na arte não entra realidade, justiça ou moral pública porque (acrescenta) a arte nada tem com os direitos civis. Colocado assim à larga, na anarquia da voluptuosidade e do lirismo, aí está o que o poeta expõe e ensina num jornal popular, com uma tiragem de 20.000 exemplares, que anda por cima das mesas e nos cestos de costura!


Começa por dizer:

— Que é bom amar no campo, à tarde e a sós!

Depois continua:

— Que prefere o campo, porque nas salas do mundo não lhe é dado beijar a mão dela às largas! Que o campo é livre e as sombras dão refúgio!....

Por fim acrescenta:

— Que queria que os raios cintilantes os cingissem a ele só com ela, erguidos em êxtase, longe de quanto é vil...

(Quanto é vil, na gíria da poesia lírica, é o mundo real, a família, o trabalho, as ocupações domésticas, etc.).

Dispensamo-nos de citar mais estrofes lascivas.

Aquelas bastam para legitimar as seguintes observações:

Nenhum jornal publicaria semelhantes teorias em prosa;

Nenhum homem que as escrevesse ousaria lê-las a sua filha, sem gaguejar, e sem comer palavras;

Nenhuma senhora que por acaso as tivesse lido ousaria citá-las.

Como se consente então a sua publicação em verso? A higiene não é só a regularização salutar das condições da vida física; nela devem também entrar os factos da moralidade. Se é proibido que um monturo imundo ou um cão morto corrompam o ar respirável das ruas — porque há-de ser permitido que um poeta, com as suas endechas podres, perturbe o pudor e a tranqüilidade virgem?

Há uma postura da Câmara que impõe uma multa a quem pronuncia palavras desonestas: porque não há-de ser igualmente proibido publicar idéias desonestas?

Um ébrio, um pobre homem a quem se não deu educação, a quem se não pode dar leitura, a quem quase se não dá trabalho, diz uma praga numa rua, ouvida apenas de três ou quatro pessoas, e vai para a cadeia ou paga uma multa de 3$000 réis. Um poeta lírico, esclarecido, aprovado nos seus exames, empregado nas secretarias, publica num jornal de cinqüenta mil leitores em letra impressa, permanente e indelével, uma série de desonestidades, e é apreciado, cumprimentado no Martinho, indigitado para uma candidatura!

Pedimos pois:

Ou que seja permitido livremente dizer na rua e no jornal pragas e desonestidades;

Ou que a multa da Câmara Municipal seja aplicada a todos — e que tanto o ébrio que não sabe o que diz à esquina de uma rua, como o poeta lírico que escreve, com reflexão e rascunho duma semana, ao canto dum jornal, paguem os 3$000 réis à Câmara, um pela sua praga, outro pela sua endecha.


sábado, 19 de setembro de 2009

Alguns Toureiros [João Cabral de Melo Neto]



A Antônio Houaiss

Eu vi Manolo Gonzáles
e Pepe Luís, de Sevilha:
precisão doce de flor,
graciosa, porém precisa.
Vi também Julio Aparício,
de Madrid, como Parrita:
ciência fácil de flor,
espontânea, porém estrita.
Vi Miguel Báez, Litri,
dos confins da Andaluzia,
que cultiva uma outra flor:
angustiosa de explosiva.
E também Antonio Ordóñez,
que cultiva flor antiga:
perfume de renda velha,
de flor em livro dormida.
Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,
o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,
o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,
o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,
sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:
como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida,
e como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor,
sem poetizar seu poema.



WIKIPEDIA EXPLICA ARROCHA

Bordel (Di Cavalcanti)

O arrocha é um gênero musical e dança brasileiro originário da Bahia. Ele veio proveniente da seresta, influenciado pela música brega e o estilo romântico, com modificações que o tornaram, segundo seus adeptos, mais sensual. Estilo musical originário da Bahia, nasceu na cidade de Candeias. Não é necessário ser tocado por uma banda completa. Normalmente são usados: um teclado arranjador, um saxofone e uma guitarra.


Trata-se de um movimento social focado nas classes inferiores. Assim como no Rio, os bailes de Arrocha acontecem geralmente em clubes sociais de bairros mais humildes de Salvador e das cidades do interior da Bahia e de outros estados do nordeste. Atualmente esse movimento começa a se espalhar também para o centro-sul do 
Brasil.

Por tratar-se de um estilo musical apreciado pela população da periferia, começou logo a ser recriminado pela parte elitizada da sociedade, que marginalizou o Arrocha rebaixando o ritmo/movimento restrito ao povo "ignorante das feiras populares". Esse foi o começo do Arrocha. Com sua popularização e, principalmente após um grande canal de TV do estado da Bahia ter realizado um festival nominado "Reino do Arrocha"[1], no Parque de Exposições de Salvador, muitas emissoras de rádio chamadas "de elite" passaram a incluir em suas programações a "nova onda", como também é conhecido o ritmo musical. Muitos cantores se destacaram cantando Arrocha, como Nara Costa "[2], Silvano Salles, Márcio Moreno, Asas Livres, Grupo Arrocha, Tayrone Cigano, Toque Novo, Sandro Lúcio, Latitude 10, Bonde do Maluco, Trio da Huanna, entre outros.


Hoje, assim também como o Funk no Rio, o Arrocha já conseguiu mais espaço na mídia e vem ganhando mais adeptos em outras classes sociais principalmente por se tratar de um produto que vende e que faz muito sucesso.


Minha Boêmia [Arthur Rimbaud]

Eu caminhava, as mãos nos bolsos desgastados;
também meu paletó fazia-se ideal;
ía sob o céu, Musa! e era o amante leal!
Ah que esplêndido amor que então foi sonhado!

Meus únicos calções tinham um grande furo.
- Pequeno Polegar que entre rimas discursa,
via minha taverna às margens da Grande Ursa,
no escuro!

Sentado eu escutava, à beira dos caminhos,
as meigas noites de setembro; e tinha o vinho
do orvalho sobre a fronte – ó tônico perfeito!

E ali rimas tecia entre vultos fantásticos,
com a minha lira – meu sapato e seus elásticos
que eu fazia vibrar, tendo um pé contra o peito.



O Intelectual Anônimo [Milton Santos]

Por definição, vida intelectual e recusa a assumir idéias não combinam. Esse, aliás, é um traço distintivo entre os verdadeiros intelectuais e aqueles letrados que não precisam, não podem ou não querem mostrar, à luz do dia, o que pensam.O intelectual verdadeiro é o homem que procura, incansavelmente, a verdade, mas não apenas para festejar intimamente, dizê-la, escrevê-la e sustentá-la publicamente.


É um fato conhecido que, em épocas de obscuridade, os mandões do momento o proíbam ou o inibam de fazê-lo, gerando como conseqüência a listagem daqueles que se tornam mártires do seu próprio pensamento, como Unamuno, durante a Guerra Civil Espanhola, e dos que não renunciam ao dever da verdade, ainda que deixando para pronunciá-la quando retornam os regimes de liberdade. Mas é isso mesmo o que distinguiu a universidade de outras instituições. Por isso, a atividade intelectual jamais é cômoda e a exigência de inconformismo, que a acompanha, faz com que a sociedade reconheça os seus portadores como porta-vozes das suas mais profundas aspirações e como arautos do futuro. Por isso mesmo, observadores da universidade, no passado e no presente, temem por seu destino atual, já que são raras as manifestações de protesto oriundas de suas práticas, deixando, às vezes, a impressão de que a academia pode preferir a situação de mera testemunha da história, em lugar de assumir um papel de guia em busca de melhores caminhos para a sociedade.Quando os intelectuais renunciam a esse dever - sejam quais forem as circunstâncias -, um manto de trevas acaba por cobrir a vida social, uma vez que o debate possível torna-se, por natureza, falso.

Essa poderia também ser a definição mais desejada da vida acadêmica em todos os lugares. Mas a verdade é que a forma como, nos últimos tempos, se está organizando a convivência universitária acaba por reduzir dentro dela o número de verdadeiros intelectuais, mesmo se aumenta o de cientistas e de letrados de todo tipo. A vida universitária é cada vez mais representativa de uma busca de poder sem relação obrigatória com a procura do saber. E isso corrompe, de alto a baixo, as mais diversas funções da academia, inclusive ou a começar pela trilogia agora ambicionada pelas atividades de ensinar, pesquisar e transmitir à sociedade o trabalho intelectual.

Um primeiro resultado é, sem dúvida, o encolhimento do espaço destinado aos que desejam produzir o saber, e não é raro que esse movimento seja acompanhado por uma verdadeira hostilização, da parte dos que mandam, em relação aos que teimam em colocar em primeiro plano a busca da verdade. Constata-se, desse modo, uma separação, cada vez maior, entre estes e o conjunto de docentes viciados em poder e que a ele se agarram por longos e longos anos, formando um grupo com tendência ao isolamento e à auto-satisfação, bem mais preocupado com as perspectivas de manter esse poder do que com a construção de uma universidade realmente independente e sábia. A esses colegas preferimos chamar de buroprofessores. Na medida em que a noção de poder se arraiga como algo normal, tais comportamentos parecem banalizar-se, tomando diferentes feições no processo de reduzir as possibilidades de um trabalho independente e de convocar, até mesmo, espíritos promissores para a aceitação de um trabalho viciado, exatamente pela ingerência cada vez mais generalizada das lógicas de poder. Não sabemos em que medida será útil buscar a relação entre as ações acima enumeradas e incluí-las no conjunto das realidades que atualmente produzem o grande mal-estar ressentido nas universidades brasileiras. O certo é que esse conjunto de fatos conduz, com mais ou menos força, segundo os lugares, ao enfraquecimento do espírito acadêmico, e isso acaba por contaminar o ensino, a pesquisa, as relações entre colegas e as relações das faculdades frente à sociedade. A força autêntica da universidade vem do espírito acadêmico partilhado por professores e alunos e cuja preservação seria de esperar que as autoridades universitárias sejam capazes de conduzir. É essa fortaleza da instituição acadêmica o garante da autonomia na produção do saber, assegurada através da liberdade de cátedra e da liberdade acadêmica efetiva, conferida a cada professor, a despeito da vocação, às vezes, autoritária dos colegiados e da prática de falsificação da democracia acadêmica. A força exterior da universidade deriva de sua força interior e esta é ferida de morte sempre que a idéia e a prática do espírito acadêmico são abandonadas em favor de considerações pragmáticas. Na grande crise em que o país agora se confronta, torna-se evidente e clamorosa a ausência de uma discussão mais intensa e mais profunda, partindo da academia, em suas diversas instâncias, e que, como em outras ocasiões na vida de todos os povos, mostra o papel pioneiro da universidade na construção dos grandes debates nacionais. A apatia ainda está presente na maior parte do corpo professoral e estudantil, o que é sinal nada animador do estado de saúde cívico dessa camada social cuja primeira obrigação é constituir, como porta-voz, a vanguarda de uma atitude de inconformismo com os rumos atuais da vida pública.

ALEGRIA!

A alegria é a exteriorização de um sentimento, que pode ser verdadeiro ou falso. É verdadeiro quando o que se manifesta corresponde ao que se sente. Quando nos sentimos felizes e satisfeitos e exteriorizamos essa satisfação com alegria que contagia os outros. E é falso quando o que se manifesta não corresponde ao que se sente. Quando nos sentimos deprimidos ou preocupados, mas na presença dos outros exprimimos alegria.

A alegria é então uma manifestação social, um modo de ser ou de estar permanente — conforme as características psicológicas de cada um — ou ocasional — conforme as circunstâncias do momento —, que se opõe à tristeza, e que se considera apenas na relação de uma pessoa perante as outras.

A alegria íntima, individual e pessoal, não é alegria, mas sim felicidade, da mesma forma que a igual tristeza não é tristeza, mas sim infelicidade.

Mas existe diferença entre o que nós sentimos e aquilo que queremos que os outros pensem que sentimos. Por isso falsificamos a exteriorização e podemos estar felizes e expressar tristeza ou estar infelizes e expressar alegria. Esta falsificação pessoal dos sentimentos é tão comum e em algumas pessoas tão intensa que elas próprias acabam por serem influenciadas pela mentira criadas por elas mesmas. E ficam sem saber se estão felizes ou infelizes, nem tristes ou alegres.

Existem momentos — raros — em que a nossa felicidade é tanta que não nos preocupamos com o que a nossa alegria possa causar nos outros. E existem — também raros — momentos em que inversamente é a nossa infelicidade que nos preenche a ponto de esquecermos os outros. O excesso de alegria, quando real, causada pela felicidade, provoca inveja, pois todos desejam ser mais felizes que os outros, e quando falsa causa dó, pois ninguém tem muito apreço por alguém que está excessivamente alegre. O excesso de tristeza, quando provocado por uma infelicidade, causa compaixão, porque ninguém gosta de ver os outros sofrerem, mas quando falsa, causa ódio, porque ninguém gosta de ver os outros apelarem ao sentimentalismo para alcançarem os seus fins.

Como os sentimentos e emoções estão na nossa natureza física também os sentimentos humanos estão na nossa natureza humana, e por isso, todos nós, uns mais outros menos, temos momentos de felicidade e momentos de infelicidade que podemos exteriorizar, ou não, com alegria ou com tristeza, porque vivemos em sociedade e sabemos que tal como nós, os outros também sentem inveja, dó, compaixão, ódio e muitos outros sentimentos que nos poderão ser benéficos ou maléficos, e que por isso os usamos de uma forma interessada dentro das nossas capacidades, sem esquecer que todos eles existem naturalmente, mas em contraposição à razão.

Trecho: Sermões, Antônio Vieira.

Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda.


Considerai, Deus meu, e perdoai-me se falo inconsideradamente. Considerai a quem tirais as terras do Brasil, e a quem as dais. Tirais estas terras aos portugueses, a quem nos princípios as destes, e bastava dizer a quem as destes, para perigar o crédito de vosso nome, que não podem dar nome de liberal mercês com arrependimento. Para que nos disse S. Paulo, que vós, Senhor, quando dais, não vos arrependeis: Sine poenitentia enim sunt dona Dei? Mas, deixado isto a parte, tirais estas terras àqueles mesmos portugueses, a quem escolhestes, entre todas as nações do mundo para conquistadores da vossa fé, e a quem destes por armas, como insígnia e divisa singular, vossas próprias chagas. — E será bem, supremo Senhor e Governador do universo, que às sagradas quinas de Portugal, e às armas e chagas de Cristo, sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes a seu rei e a Deus? Será bem que estas se vejam tremular ao vento vitoriosas, e aquelas abatidas, arrastadas e ignominiosamente rendidas? Et quid facies magno nomini tuo (Jos. 7,9)? E que fareis — como dizia Josué — ou que será feito de vosso glorioso nome em casos de tanta afronta?

Tirais também o Brasil aos portugueses, que assim estas terras vastíssimas, como as remotíssimas do Oriente, as conquistaram à custa de tantas vidas e tanto sangue, mais por dilatar vosso nome e vossa fé — que esse era o zelo daqueles cristianíssimos reis — que por amplificar e estender seu império. Assim fostes servido que entrássemos nestes novos mundos tão honrada e tão gloriosamente, e assim permitis que saiamos agora — quem tal imaginara de vossa bondade — com tanta afronta e ignomínia. — Oh! como receio que não falte quem diga o que diziam os egípcios: Callide eduxit eos, ut interficeret et deleret e terra
: Que a larga mão com que nos destes tantos domínios e remos não foram mercês de vossa liberalidade, senão cautela e dissimulação de vossa ira, para aqui fora, e longe de nossa pátria, nos matardes, nos destruirdes, nos acabardes de todo. Se esta havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? Para que abrimos os mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões e os climas não conhecidos? Para que contrastamos os ventos e as tempestades com tanto arrojo, que apenas há baixio no oceano, que não esteja infamado com miserabilíssimos naufrágios de portugueses? E depois de tantos perigos, depois de tantas desgraças, depois de tantas e tão lastimosas mortes, ou nas praias desertas sem sepultura, ou sepultados nas entranhas dos alarves, das feras, dos peixes, que as terras que assim ganhamos, as hajamos de perder assim? Oh! quanto melhor nos fora nunca conseguir nem intentar tais empresas!
Mais santo que nós era Josué, menos apurada tinha a paciência, e contudo, em ocasião semelhante, não falou — falando convosco — por diferente linguagem. Depois de os filhos de Israel passarem às terras ultramarinas do Jordão, como nós a estas, avançou parte do exército a dar assalto à cidade de Hai, a qual nos ecos do nome já parece que trazia o prognóstico do infeliz sucesso que os israelitas nela tiveram, porque foram rotos e desbaratados, posto que com menos mortos e feridos do que nós por cá costumamos. E que faria Josué à vista desta desgraça? Rasga as vestiduras imperiais, lança-se por terra, começa a clamar ao céu: Heu, Domine Deus, quid voluisti traducere populum istum Jordanem fluvium, ut traderes nos in manus Amorrhaei (Jos. 7,7)? Deus meu e Senhor meu, que é isto? Para que nos mandastes passar o Jordão, e nos metestes de posse destas terras, se aqui nos havíeis de entregar nas mãos dos amorreus, e perder-nos? Utinam mansissemus trans Jordanem! Oh! nunca nós passáramos tal rio! — Assim se queixava Josué a Deus, e assim nos podemos nós queixar, e com muito maior razão que ele. Se este havia de ser o fim de nossas navegações, se estas fortunas nos esperavam nas terras conquistadas: Utinam mansissemus trans Jordanem! Prouvera a vossa divina Majestade, que nunca saíramos de Portugal, nem fiáramos nossas vidas às ondas e aos ventos, nem conhecêramos ou puséramos os pés em terras estranhas. Ganhá-las para as não lograr desgraça foi, e não ventura; possui-las para as perder, castigo foi de vossa ira, Senhor, e não mercê nem favor de vossa liberalidade. Se determináveis dar estas mesmas terras aos piratas de Holanda, por que lhas não destes enquanto eram agrestes e incultas, senão agora? Tantos serviços vos tem feito esta gente pervertida e apóstata, que nos mandastes primeiro cá por seus aposentadores, para lhes lavrarmos as terras, para lhes edificarmos as cidades, e, depois de cultivadas e enriquecidas, lhas entregardes? Assim se hão de lograr os hereges e inimigos da fé dos trabalhos portugueses e dos suores católicos? En queis consevimus agros: Eis aqui para quem trabalhamos há tantos anos! — Mas, pois vós, Senhor, o quereis e ordenais assim, fazei o que fordes servido. Entregai aos holandeses o Brasil, entregai-lhes as Índias, entregai-lhes as Espanhas — que não são menos perigosas as conseqüências do Brasil perdido — entregai-lhes quanto temos e possuímos como já lhes entregastes tanta parte — ponde em suas mãos o mundo, e a nós, aos portugueses e espanhóis, deixai-nos, repudiai-nos, desfazei-nos, acabai-nos. Mas só digo e lembro a Vossa Majestade, Senhor, que estes mesmos, que agora desfavoreceis e lançais de vós, pode ser que os queirais algum dia, e que os não tenhais.

Não me atrevera a falar assim, se não tirara as palavras da boca de Jó que, como tão lastimado, não é muito entre muitas vezes nesta tragédia. Queixava-se o exemplo da paciência a Deus — que nos quer Deus sofridos, mas não insensíveis — queixava-se do tesão de suas penas, demandando e altercando porque se lhe não havia de remitir e afrouxar um pouco o rigor delas, e como a todas as réplicas e instâncias o Senhor se mostrasse inexorável, quando já não teve mais que dizer, concluiu assim: Ecce nunc in pulvene dormiam, et si mane me quoesieris, non subsistam (Jó 7,21): Já que não quereis, Senhor, desistir ou moderar o tormento, já que não quereis senão continuar o rigor, e chegar com ele ao cabo, seja muito embora, matai-me, consumi-me, enterrai-me: Ecce nunc in pulvere dormiam. Mas só vos digo e vos lembro uma coisa, que se me buscardes amanhã, que me não haveis de achar: Et si mane me quoesieris, non subsistam. Tereis aos sabeus, tereis aos caldeus, que sejam o roubo e o açoite de vossa casa, mas não achareis a um Jó que a sirva, não achareis a um Jó que a venere, não achareis a um Jó que, ainda com suas chagas, a não desautorize. — O mesmo digo eu, Senhor, que não é muito rompa nos mesmos afetos que se vê no mesmo estado. Abrasai, destruí, consumi-nos a todos; mas pode ser que algum dia queirais espanhóis e portugueses, e que os não acheis. Holanda vos dará os apostólicos conquistadores, que levem pelo mundo os estandartes da cruz; Holanda vos dará os pregadores evangélicos, que semeiem nas terras dos bárbaros a doutrina católica e a reguem com o próprio sangue; Holanda defenderá a verdade de vossos Sacramentos e a autoridade da Igreja Romana; Holanda edificará templos, Holanda levantará altares, Holanda consagrará sacerdotes, e oferecerá o sacrifício de vosso Santíssimo Corpo; Holanda, enfim, vos servirá e venerará tão religiosamente, como em Amsterdã, Meldeburg e Flisinga, e em todas as outras colônias daquele frio e alagado inferno, se está fazendo todos os dias.

TOM ZÉ EXPLICA O BERIMBAU


O coordenador do curso de medicina da UFBA declarou que...


Tom Zé - Fale devagar que eu ouço mal. 

O curso de medicina da UFBA teve um resultado ruim no Enade. O coordenador do curso, Antônio Dantas, atribuiu isso ao "baixo QI" dos baianos. O que o senhor acha disso? 

Tom Zé - (às gargalhadas) Que maravilha. E ele não é baiano, não? 

É baiano. 

Tom Zé - Essa declaração não merece nem...é uma coisa inocente, completamente sem base em coisa nenhuma. Nenhuma população de nenhum canto do Brasil pode ser avaliado como (tendo) baixo QI. O que acontece é que em alguns momentos alguns grupos são particularmente influenciados pela filosofia do niilismo americano que tá na televisão e aí aparecem esses fenômenos. Mas aí pode aparecer na Bahia, em qualquer lugar; isso é bobagem. 

Ele também disse que o baiano só toca o berimbau porque tem um corda só; se tivesse mais de uma, não conseguiria tocar. O senhor ao que parece toca outros instrumentos além do berimbau, não? 

Tom Zé - (risos) É...naturalmente. Não é só isso. Primeiro que o berimbau que compõe uma....tá gravando? 

Sim, estamos. 

Tom Zé - Deixa eu dizer editado pra você botar aí: o berimbau faz parte de uma cultura que enriquece a Bahia e o fato dele ter uma corda só é um dado complicador que fala bem dos que tocam esse instrumento ao invés de falar mal. É uma exigência maior de sensibilidade para tocar o berimbau, é uma exigência maior de sensibilidade e adequação. Precisa compreender qual é a função dele dentro da mítica da capoeira porque o berimbau tem uma microtonalidade especialmente difícil para pessoas educadas na escala diatônica ocidental. O berimbau é uma coisa muito mais complexa do que essa coisa de uma corda só. A riqueza timbrística dele e a funcionalidade dele...o berimbau não foi feito para tocar música ocidental, foi feito para outra concepção de mundo. É isso que se precisa compreender. 

Há um certo preconceito ao dizer isso, que o baiano toca o berimbau só porque tem uma corda? 

Tom Zé - Não, tem uma falta de entendimento da delicadeza da matéria (risos).



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