sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

PEDRA POUND RAP


“A arte de Arnaut Daniel não é literatura. É a arte de combinar palavras e música numa sequência onde as rimas caem com precisão e os sons se fundem ou se alongam. Arnaut tentou criar quase uma nova língua, ou pelo menos ampliar a língua existente e renová-la.” (Ezra Pound)


Noigandres

Er vei vermeils, vertz, blaus, blancs, groucs
Vergiers, plans, plais, tertree e vaus;
Ei l votz Del auzeuls sona e tint
Ab doutz acort maitin e tart.
So m met em cor qu’ieu colore mon chan
D’um’ aital flor Don lo fruitz sai amors,
E jois lo grans, e l’olors de noigandres.

Vejo vermelhos, verdes, blaus, brancos, cobaltos
Vérgeis, plainos, planaltos, montes, vales;
A voz dos passarinhos voa e soa
Em doces notas, manhã, tarde, noite.
Então todo o meu ser quer que eu colora o canto
De uma flor cujo fruto é só de amor,
O grão só de alegria e o olor de noigandres.


(Arnaut Daniel/Trad.: Augusto de Campos)


Teoria de Pound fundamenta trabalhos.

Em inglês, rap é a sigla de rhythm and poetry (ritmo e poesia). Ou seja, o gênero musical que nasceu na Jamaica nos anos 60 e se fortaleceu nos Estados Unidos uma década depois, mais precisamente nos bairros periféricos de Nova York, tem sua gênese fundada na expressão poética. Mas e o rap brasileiro, ele reúne recursos formais que podem caracterizá-lo como uma manifestação da poesia oral contemporânea? Para a estudante de Letras da Unicamp Marília Gessa, a resposta é afirmativa. De acordo com ela, que pesquisou o tema em trabalho de iniciação científica, o rap apresenta os três elementos fundamentais do texto poético: sonoridade, ideia e imagem.

Orientada pela professora Anna Christina Bentes da Silva, Marília se aprofundou no universo do rap, pesquisando a produção musical dos principais grupos e rappers brasileiros. Para sustentar sua análise, a estudante foi buscar amparo na teoria do poeta norte-americano Ezra Pound. De acordo com ele, para que possa ser classificado como poético, o texto precisa reunir ao menos dois de três elementos essenciais: sonoridade, ideia e imagem. “O rap apresenta essas três características, além da rima, que também faz parte da poesia. As letras são normalmente autobiográficas. Com freqüência, elas falam da história de uma pessoa, cuja trajetória está associada à realidade de toda a comunidade onde ela vive. Os rappers fazem uso da rima para condensar o texto e de imagens para reforçar as mensagens carregadas de ideologia. Os temas mais explorados são exclusão, preconceito racial, violência policial e a carência de infra-estrutura social e urbana das periferias”, afirma.


Antigamente, conforme a professora Anna Bentes, a maioria dos rappers enxergava a sua música apenas como um recurso para protestar contra a desigualdade e a exploração. Atualmente, vários deles já reconhecem a expressão poética presente em suas letras e entendem que um aspecto não exclui o outro. Conforme Marília, Mano Brown, líder do grupo paulistano Racionais MCs, um dos mais importantes do movimento rap brasileiro, tem caminhado nesse sentido. “Num debate do qual participei com ele, Brown admitiu que, no início da carreira, não aceitava ser chamado de poeta. Para ele, o rap era uma arma para lutar contra a opressão. Atualmente, após reconhecer que amadureceu e construiu outros olhares, ele afirma que já consegue se aceitar como poeta, sem que isso acarrete na valorização da forma em detrimento da mensagem e, muito menos, na mudança de conteúdo de suas letras”, conta.

A professora Anna Bentes considera que, ao construir sonoramente imagens visuais, o rap contribuiu para o surgimento de um novo tipo de arte no século 20, baseado numa estética igualmente inovadora. Ao ser indagada se o gênero musical terá vida longa, ela responde que sim. Por uma razão muito clara, conforme a docente. “O rap é um modo de comunicação, do qual qualquer um pode se apropriar. Uma das regras do rap é a seguinte: ninguém diz nada por você. Nesse sentido, ele tem um compromisso muito mais profundo com a mensagem do que com a estética. Por conta dessas características, penso que ele permanecerá por muito tempo”.


PASSARINHO QUE COME PEDRA...

Uma espécie de passarinho que vive em cidades canta um tipo de "rap", enquanto exemplares da mesma espécie que vivem em áreas rurais cantam em um estilo mais tradicional, diz um estudo.

Pesquisadores da Universidade de Leiden, na Holanda, descobriram que o canto do chapim-real (Parus major) que vive regiões urbanas é mais curto e rápido, em comparação com o dos pássaros do interior.

Os pássaros urbanos também cantam mais agudo e são mais experimentais, arriscando formas diferentes de cantar. Segundo os especialistas, os pássaros urbanos se adaptaram para contrabalançar o barulho e aumentar suas chances de encontrar um parceiro. O estudo foi publicado na revista científica Current Biology.



Os pesquisadores observaram o chapim-real em dez grandes cidades europeias, entre elas Londres, Paris, Amsterdã e Praga, e comparou os cantos dessas aves com os de passarinhos da mesma espécie que vivem em florestas. Em todos os países pesquisados, os chapins da cidade grande cantam uma maior variedade de canções, que são mais curtas e têm frequências mais agudas. Os chapins urbanos tendem a cantar de forma pouco comum. Seus cantos podem conter apenas uma nota, ou combinações de cinco ou mais notas. Já os da floresta preferem cantos mais "normais" com combinações de duas, três e quatro notas, diz o estudo. A pesquisa cita o exemplo de um chapim-real de Rotterdam que arriscou uma canção com 16 notas, possivelmente copiada de um chapim-azul (Parus caeruleus).

Este é o primeiro estudo a estabelecer um padrão europeu de canto de pássaros. O coordenador do estudo, Hans Sabbekoorn, e seus colegas disseram que os pássaros urbanos desenvolveram cantos mais curtos, variados e agudos para que possam se sobressair ao som de trens, aviões e do tráfego.


Os pássaros machos usam seu canto para demarcar território. Se suas canções não são ouvidas, podem se deparar com rivais. Se isso acontece, podem se ver forçados a brigar com o invasor, dizem os especialistas. Eles também usam canções pra atrair parceiras e tiveram de se adaptar para garantir que as fêmeas os ouçam. "Nossas informações mostram que o ajuste do chapim-real às condições de ruído locais não é um fenômeno localizado, mas ocorre por toda a Europa e provavelmente em todas as áreas urbanas", diz o estudo. "Pássaros urbanos enfrentam muito ruído quando cantam, o que pode influenciar a eficácia de seus sinais acústicos."

2 comentários:

Anônimo disse...

Radio Tube também é cultura!

sanjesp

Isabel disse...

hur-ruh!

Artaud Daniel, eu nem conhecia.
Muito bom!

Vou voltara acompanhar reu blog!

Bjs

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