"A bossa nova era algo tão fino que minha qualidade de bárbaro me expulsava daquilo, eu mesmo me expulsava. Ao lado desse afastamento, porém, havia uma atração desde a aparição daquilo no mundo."
"A engenharia brasileira só conseguiu resolver o problema de construir a ponte Rio-Niterói quando fez a tradução intersemiótica dos ensinamentos da bossa nova. Suas plataformas flutuantes são a tradução para concreto e ferro do que a bossa nova fez na música. O feminino das plataformas traduz o feminino das síncopes. E, assim como a bossa nova, a tecnologia da ponte foi uma criação brasileira exportada. Em 1958, num único ano, o Brasil passou de exportador de matéria-prima, o grau mais baixo do desenvolvimento humano, a exportador de arte, o grau mais alto. Antes, a arte brasileira no mundo era vitimada pelo olhar do exótico, o que não aconteceu com a bossa nova, um gênero tão consumado que não permitiu esse engano."
"Nós jovens, estávamos cansados dos vibratos. Quando surgiu João, vimos que podia haver um outro jeito, íntimo, de cantar. O que foi uma explosão. Porque ao longo dos séculos várias experiências foram feitas com a garganta humana. O canto lírico foi fruto de uma evolução de gerações. Mas João, sozinho em seu banheiro de Juazeiro, fez com a voz humana algo que nunca havia sido feito. Foi o fonoaudiólogo, o esteta do bom gosto, o professor de anatomia que criou uma nova forma de usar a musculatura da face... Aliás, há dois banheiros que deveriam garantir um Prêmio Nobel a seus construtores: o de Arquimedes (que, em sua banheira, descobriu a lei do empuxo) e o de João Gilberto."
"Ouvi que tinha um rapaz em Brotas, bairro de Irará, que sabia fazer a levada, a batida de João Gilberto. Quando cheguei lá tinha mais de 20 na porta dele."
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