terça-feira, 17 de agosto de 2010

Música + máquina vai parar na cabeça via palma da mão, Lucas Santtana.

A música é uma necessidade humana e existencial? Ecos dos nossos antepassados? Um calmante para o cotidiano feroz e barulhento das grandes cidades?, ou uma compulsividade atrelada à tecnologia? Me arrisco a dizer que tudo ao mesmo tempo e muito mais.

Seja no carnaval, no elevador, na sala de espera do dentista, na tv, no carro, na academia, no cinema, na bicicleta, na corrida, no bar, e toda hora e sempre, sua presença é tão onipresente que entendo quando o poeta Antônio Cícero reclama da falta de um pouco mais de silêncio.

Mas mesmo “todo silêncio é grávido de som”, como pregou John Cage. O compositor Erik Satie, já no século 19, considerava os sons ambientes que estão a nossa volta como música.
A questão que se coloca nos dias de hoje é que nunca foi tão fácil e barato (para não dizer de graça) o acesso à música e à portabilidade em relação a ela. Até bem pouco tempo não era possível carregar todos os cds da sua casa dentro de um bolso. E com isso nunca se ouviu tanta, e todo tipo, de música no mundo.

A audição hoje em dia é feita sobretudo em aparelhos portáteis e móveis como o celular e o ipod. As pessoas agora ouvem música dentro de suas cabeças.

O que antes era fácil para a indústria fonográfica, hoje se tornou mais complexo. Não basta apenas por os meninos para ver televisão e gastar sua mesada na loja de Cds do shopping(até porque essas lojas estão acabando) consumindo o que dizem ser o artista ou banda do momento.

Agora todos eles sabem de cor todos os códigos da cultura digital, e para quem convive ou conhece qualquer adolescente hoje em dia, sabe que o conhecimento musical deles explodiu. Nem precisamos ir tão longe, pense na quantidade de artistas e estilos que você teve acesso nos últimos anos e quanto tempo demoraria para isso acontecer se dependêssemos apenas de lojas e discos.

As músicas que nos seduzem agora não precisam mais ser hits de mercado, elas estão cotidianamente passando de blog em blog, email em email, msn para msn, twitter a twitter, e vão invariavelmente desaguar num aparelho na palma da mão.

Uma música para ser um hit só precisa ser boa. E rodar e rodar e rodar dentro da sua cabeça e do seu coração.

Os médicos reclamam que tantas horas com fones no ouvido causam danos a audição. Mas assim como o ar que respiramos, a comida que comemos e o trânsito que fazemos, nós também somos produto das merdas que criamos. E não desfrutamos apenas do lado negativo disso não é mesmo?

Felizmente a música não vive só de merda. Muito pelo contrário, com o acesso fácil, a deusa roda o mundo.

Hoje é comum ouvir o grupo Buraka Som sistema tocar Kuduro (música eletrônica angolana) em qualquer boate de Lisboa; ouvir Hiplife (mistura de Highlife e Hip hop), espécie de Dance hall africano, no Canadá ou Reino Unido. O Afrobeat da banda Nomo, composta por jazzistas brancos do Michigan-u.s.a, ou baixar os mp3 da gravadora alemã Man recordings, especializada em funk carioca.

Hoje o som chega primeiro que a imagem, que a indústria, que o marketing. É só um amigo dar um copy e paste e é você que irá decidir sozinho se aquela música vai para o trono do seu itunes ou para a lixeira.

Hoje é assim, máquinas fazem cópias, fones nos ouvidos, música fazendo a cabeça e a imaginação indo longe.....

Ou como diz uma letra minha:

“Get out of hand
it’s all mixed up
free copy machine
count me in
go go go go go
who can say which way”

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