terça-feira, 17 de agosto de 2010

Celso Masson comenta OK COMPUTER, Radiohead.

O rock está se recuperando das bordoadas que tem levado da música eletrônica. Nos últimos tempos, o som feito por computadores virou uma coqueluche mundial, com novos grupos do gênero quebrando recordes de vendagem. A vingança roqueira apareceu através de um excelente disco, OK Computer, o terceiro do grupo Radiohead, de Oxford, Inglaterra. Lançado no Brasil no início d 1997, o CD ganhou a cotação "excelente" da revista Rolling Stone, a bíblia do rock, e agitou o mercado.

Numa decisão pouco habitual por parte dos executivos da indústria fonográfica, a gravadora do grupo concordou em lançar, como prévia do CD, uma faixa de seis minutos e meio de duração, cheia de alternâncias de ritmo e sem refrão algum. Fora dos padrões radiofônicos, a música, Paranoid Android, foi recebida com entusiasmo.

OK Computer, disco que traz no título uma ironia à atual febre eletrônica na música, é uma daquelas obras-primas que custam a aparecer no rock. Por ter saído justamente numa época em que o gênero cambaleava e por conter munição suficiente para enfrentar a hegemonia da dance music, ele é ainda mais importante.
Sem a ambição de tornar-se um estouro de vendas no mundo todo, e sem falar besteiras em nome do marketing, como fez o guitarrista do grupo Oasis, o Radiohead sabe que gravou um CD pouco convencional. Ainda assim, ele é capaz de agradar logo à primeira audição. "A reação unânime a esse disco é algo especial.

O Radiohead está mudando a costumeira aceitação a certos tipos de música", disse um diretor da gravadora Parlophone à revista Billboard. Ele se refere ao resgate de coisas que já existiram no rock mas andavam fora de moda, como a idéia de "álbum conceitual" ou o termo "art rock", atualmente vistos com desdém.

Surpresas -- O que há de tão especial em OK Computer para reabilitar aquilo que já havia sido enterrado no cemitério do rock é a maneira criativa como o Radiohead reprocessa suas influências -- pouco óbvias, diga-se. Incorporando a sofisticação dos arranjos que se ouvem nos discos do grupo King Crimson, a narrativa épica das trilhas sonoras de Ennio Morricone e a densidade orquestral das sinfonias do polonês Penderecki, o Radiohead não padece da falta de idéias próprias.
Pelo contrário, assume que um caminho viável para o rock é beneficiar-se de contribuições oriundas de outros estilos. O líder do grupo, Thom Yorke, costuma dizer que colocou instrumentos de corda no CD porque não se conformava com a idéia de esse tipo de sonoridade ser usada de forma imutável desde que os Beatles gravaram Eleanor Rigby, nos anos 60.

Ao propor novas soluções sonoras para o rock, o Radiohead traz o gênero de volta ao palco das experimentações, rompendo com a crueza que sobrevivia mesmo à derrocada do som grunge. É algo novo, não uma volta ao passado.

Uma prova de que o Radiohead olha para o futuro está na faixa Climbing Up the Walls, em que o acompanhamento é feito por uma combinação de ruídos. Em vez de torturar o ouvinte, esse recurso torna a música mais envolvente. Com melodias que entusiasmam e arranjos que guardam surpresas a cada faixa, OK Computer é o grande disco de rock dos últimos tempos.

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