sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Aspas para Seu Rocha [Saúde pra ti, meu velho!]


“Aí, rapaz, eu já com a roupa suada mermo, no mermo pique que a gente veio, voltou, que descemos, subimos ladeira, eu de cá, longe vi a água, chega tava brilhando, eu vi de cá: “Vou tomar um banho.” O outro disse: “Num vou levar defunto nas costa, não.” Eu peguei e meti o pé, fui pra dentro da água, cheguei mais no meio, a água por aqui assim, e aí baixei, bebi da água e lavei o rosto... eu sei que quando eu saí daí, rapaz, que eu olhei assim, o mundo tava assim todo vermelho. Aí, passei por cima da ponte, passei debaixo dos pé de braúna, e logo que chegou do outro lado da cancela, escureceu o mundo todo. Adormeci.”




“Eu me sinto até um pouco acabrunhado, quando to dentro do ônibus, que entra um cego pedindo esmola, como se não pode trabalhar... aquilo me revolta, rapaz, eu penso assim, porque, imagine, aqui tinha um bocado de cego, e esses cego foi tudo contra mim, eu trabalhava pra Odebrecht, eu fazia aquelas vassourona, aquelas de asfalto, de todo tipo, eles estiveram aqui, mandaram o engenheiro aqui pra medir, que queria levantar um prédio aqui, iam fazer uma moradia pra mim e eu ia pagando eles, mas eu achei que podia ter uma diretoria, peguei uma advogada, chamei pra ser sócia... eu morava lá no Retiro... eu sei que essa advogada foi lá falar com eles e eles disseram que eu não dava pra tomar conta não porque eu sou cego...”

“Rapaz, eu num tenho nada pra dizer sobre essa parte... porque de qualquer maneira, queira que não queira, tem que ir. Só num quero morrer, mas se Deus quiser eu mais um tempo aqui, to aqui, mas se me chamar, o que é que eu vou fazer?”

Nenhum comentário:

Powered By Blogger