O homem é programado, desde pequeno, para que seja agressivo.
Ganha armas de brinquedo, espadas, luvas de boxe. Raramente a ele é dado o
direito que considere normal oferecer carinho e afeto para outro amigo em
público. Manifestar seus sentimentos é coisa de mulherzinha. Ou, pior, de
bicha. De quem está fora do seu papel.
Já atravessamos uma revolução sexual. Podemos fazer sexo de forma
mais livre e com menos culpa que antes. Mas expressar nossos sentimentos é algo
longe de acontecer livremente. Como já disse o psicanalista Claudio Picazio, chegou
a hora de passarmos por uma transformação afetiva, começar a entender que tem
direito ao afeto, às emoções, a sentir. Passar a ser homem e não macho. Em
outras palavras, o homem hetero precisa fazer sua revolução masculina.
Com isso, talvez entendessemos melhor o outro. Hoje, bater em “vadia” e
“bicha” pode. Assim como em índio e “mendigo”. E, na maioria das vezes, a culpa
recai sobre a própria vítima. Afinal de contas, quem são eles para não se
encaixarem? Quem são eles para acharem que podem ser melhores do eu, sendo
diferentes do que aprendemos como o “certo”? Bem-feito. Vestida assim, ela
estava pedindo.
As pessoas
envolvidas em casos de violência contra mulheres colocam em prática o que devem
ter ouvido a vida inteira: quem não se enquadra em um padrão moral que nos foi
empurrado – e que obedece aos parâmetros masculinos, heterossexuais e cristãos
– é a corja da sociedade e age para corromper o nosso modo de vida e tornar a
existência dos “cidadãos pagadores de impostos” um inferno. Seres que nos ameaçam
com sua liberdade, que não se encaixa nos padrões estabelecidos pelos homens de bem. Sim, quando uma mulher
não pode escolher como se vestir sem medo de ser importunada, ofendida ou
violentada toda a sociedade tem uma parcela de culpa. Pelo que fez. Pelo que
deixou de fazer.
Muitas mulheres são vítimas de violência doméstica, enfrentam
jornadas triplas (trabalhadora, mãe e esposa), não têm a mesma liberdade que os
meninos quando pequenas – que dirá conduzir livremente sua vida e suas roupas,
pressionadas não só por pais e companheiros ignorantes mas também por uma
sociedade que vive com um pé no futuro e o corpo no passado. A qual todos nós
pertencemos e, portanto, somos atores da perpetuação de suas bizarrices.
Discutimos muito sobre as mudanças estruturais pelas quais o país tem que
passar, citando saúde, educação, transporte, segurança, mas esquecemos do
respeito mínimo aos direitos fundamentais. Problemas que não conhecem classe
social, cor ou idade. Como as mulheres que são maioria – e minoria.
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