sábado, 9 de outubro de 2010

A ilha de Gorée



Bem sabemos sobre a vinda do povo negro para as terras do Brasil, a partir de um ponto do extremo oeste no continente africano, em Dacar, capital do Senegal. Foi também a partir da pequena ilha de Gorée que cerca de 15 milhões de homens, mulheres e crianças foram embarcados para as diversas nações escravagistas, cabendo ao Brasil o número aproximado de 1/3 desse total.


A pequena ilha servia como porto comercial para os portugueses, onde o “produto” era alocado em construções especialmente feitas para armazenar, pesar, vender e deportar os negros para os países distantes. Como “mercadoria”, “peça”, muitos morriam ou ficavam tão doentes que não serviam mais para serem comercializados e eram (simplesmente) jogados ao mar. Todos os números são de estimativas e também o número de mortos (na ilha ou nas viagens): em torno de 6 milhões, para mais.

Homens, mulheres e crianças muitas vezes formavam famílias inteiras que tiveram o trajeto até Gorée como última convivência. Negros eram “peças”; por isso nunca foram tratados como “família”, nem mesmo quando, depois, no cativeiro, nas senzalas, se aproximavam por laços de afeto. São inúmeros os relatos (históricos) sobre o estupro de mulheres negras; sobre o uso de homens negros como reprodutores de “escravos”. A tão falada “miscigenação” que temos no País se deve, originalmente, aos filhos “bastardos” dos “senhores” com as mulheres negras escravizadas.

Passando pela “porta do não retorno” (**) ou girando em torno da “árvore do esquecimento” (***), para que não guardasse lembrança de sua terra e de sua identidade cultural, cada criatura era (simplesmente) filho de um par de seres humanos que por sua vez eram igualmente filhos de outros pares, formando a linha da ancestralidade de cada um, de cada uma.

Aqui chegando – despojados de tudo – o que aproximava cada negro, cada negra, era a história comum, inclusive a do despojamento. A solidão de “eu comigo mesmo”, sem pai, mãe, esposa, marido, filho, filha (porque cada um/a foi vendido para um lugar diferente) fez com que a experiência do Supremo fosse resgatada. O Supremo que, em todas as culturas é a referência do significado dos valores e do sentido da vida.


Ana Maria Felippe

Um comentário:

Israel disse...

O que é que é isso?!
Per-fei-to!!!
Abraços colecionador de almas

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