quarta-feira, 22 de abril de 2009

UM AMOR SEM LIMITES [DE IDADE]!


Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.

Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.


Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial. Num principado à beira-mar. Quando foi isso? Cerca de tantos anos antes de Lolita haver nascido quantos eu tinha naquele verão. Ninguém melhor do que um assassino para exibir um estilo floreado. Senhoras e senhores membros do júri, o item número um da acusação é aquilo que invejavam os serafins - os desinformados e simplórios serafins de nobres asas. Vejam este emaranhado de espinhos.


Sentia-me orgulhoso de mim mesmo. Provara o mel de um espasmo sem comprometer as virtudes de uma menor. Não lhe causara nenhum dano. (...) Eu havia delicadamente dado vazão a meu sonho ignóbil, ardente e pecaminoso, mas Lolita estava sã e salva — e eu também. O que eu possuíra apaixonadamente não tinha sido ela e sim minha própria criação, uma outra Lolita, uma Lolita inventada e talvez mais real que a de carne e osso, que se sobrepunha a ela, envolvendo-a, flutuando entre mim e ela [sic] — sem vontade e sem consciência, de fato sem vida própria.

(do livro Lolita, de Vladimir Nabokov)



Um comentário:

Anônimo disse...

sem limite mesmo!!!

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