quarta-feira, 29 de abril de 2009

E o que é cultura popular?


Vanessa Barros de Lucena (Estudante Faculdade Pernambucana): É a cultura do povo para o povo, produzida pelo povo. Neste sentido, o povo significa a camada menos favorecida da sociedade, aquela que não se enquadra na classe dominante, que não conhece e não tem acesso à chamada cultura erudita. Alguns vêm cultura popular como o conjunto de conhecimentos e práticas vivenciadas pelo povo, muito embora possa ser vivida e instrumentalizada pela elite. Outros entendem como tudo que acontece no País por tradição e que merece ser preservado.

LUIS DA CÂMARA CASCUDO (Folclorista): Cultura popular é a que vivemos. É a cultura tradicional e milenar que nós aprendemos na convivência doméstica. A outra é a que estudamos nas escolas, na universidade e nas culturas convencionais pragmáticas da vida. Cultura popular é aquela que até certo ponto nós nascemos sabendo. Qualquer um de nós é um mestre que sabe contos, mitos, lendas, versos, superstições, que sabe fazer caretas, aperta mão, bate palmas e tudo quanto caracteriza a cultura anônima e coletiva.



DJ MARLBORO: Assim como o forró e o samba, o funk foi marginalizado. Mas agora ele conquistou o seu espaço. Sabia que uma hora isso ia acontecer. Digo que o Brasil é o país do futuro porque aqui as diferenças são facilmente digeridas. Funk virou world music. Tinha medo de ele ficar descaracterizado. Todo mundo olhava torto, mas sempre foi muito original e à parte de tudo que era feito. Mistura música eletrônica e hip-hop. O engraçado é que lá fora o funk sempre foi considerado como música eletrônica brasileira. Lá eles dizem que nesse ritmo é onde o hip hop conserva mais as suas origens. Só o brasileiro que não via isso.

ROSANE MARTINS (Jornalista): Para mim, cultura popular são manifestações populares que persistem no tempo e mantêm-se vivas na sociedade, sejam essas manifestações materiais, sejam imateriais. E, é importante salientar, para ser classificada como popular uma manifestação tem que ter circulação em diversas classes sociais, e não apenas na chamada classe popular em oposição à classe dominante.


JUCA FERREIRA (Ministro da Cultura): O Movimento Modernista aprofundou radicalmente esse interesse. Diante de uma industrialização crescente, não viam a cultura popular mais como um “paraiso perdido”, mas foram profundamente marcados por ela na busca por entender o país de um outro ponto de vista. Podemos citar ainda o surgimento de uma “geração de 30” na literatura (regionalista), o Movimento de Cultura Popular e os Centros Populares de Cultura nas décadas de 50 e 60, e o Tropicalismo, também em 60, que marca uma radicalidade na incorporação dos elementos populares. A ditadura militar também se utiliza da cultura popular, os anos 80 vêem uma tímida retomada do debate, o Mangue Beat explode no início dos anos 90.

Ariano Suassuna (Escritor): Tem uma frase de Thomas Mann que me tocou profundamente. Ele disse: ninguém pode sofrer influência daquilo que lhe é estranho, que lhe é alheio. Você só vai se influenciar por uma coisa que você já tem dentro de si e que talvez você não soubesse que ia se revelar. A arte popular é profundamente dinâmica, é formidável nela a capacidade de absorver elementos estranhos. Dou sempre esse exemplo: quando o homem chegou à Lua pela primeira vez eu não vi nada que se aproveitasse. Quando menino vi um seriado chamado Flash Gordon no Planeta Mongo, que me deu muito mais sensação de conquista do espaço do que aquela porcaria.

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