quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

SALA DE RASGAÇÃO DE SEDA: JACKSON DO PANDEIRO.


"A vida toda eu gostei de ser assim, do segundo pro primeiro. Então eu era um baterista que só gostava de tocar a nossa música. Então abandonei a bateria e fui treinar um pouco de pandeiro. E sempre cantando, cantando samba, arrasta-pé, coco, essas coisas todas. Na época eu brincava de artista, era o tempo do cinema mudo, tinha aquele pessoa do faroeste, e todo menino fazia as suas quadrilhas, de bandido, e eu era o Jack Perry. Comprei um chapelão de pallha, um revólver de madeira e a gente brincava. Parei com as brincadeiras mas ficou o apelido Jack, era só Jack. Comecei a tocar pandeiro e os caras: “Comequié, e aí, Jack, Jack do Pandeiro. Fiquei sendo Jack do Pandeiro."

Guinga: Eu tenho uma relação muito forte com a música dele. Quando eu era criança ia passar as férias numa pequena casa de pescador, no litoral do Rio. Lá não tinha luz elétrica, e a diversão dos garotos era jogar baralho e escutar Jackson, que meu pai colocava pra tocar numa vitrola de manivela. Depois, já profissional, encontrei-me diversas vezes com ele no estúdio. Eu ficava admirado, olhando aquela figura simples, humilde, que não tinha muita noção de sua genialidade.


João Bosco: Sempre fui fascinado por ele. O som dele tinha muito de Rock n’ Roll. Já vinha com bebop. Acho que a música dele devia ser mais divulgada, chegar até esses músicos mais jovens. Fico imaginando como seria maravilhoso esses grupos de rock pauleira gravando com influência do coco do Jackson do Pandeiro.

Tom Zé: No Nordeste, os três principais alimentos são a farinha, a carne seca e o ritmo, que é um verdadeiro deus e o seu sacerdote é o Jackson do Pandeiro. Temos hoje essa malandragem rítmica porque ouvimos muito Jackson do Pandeiro quando crianças.

Elba Ramalho: Na minha opinião existem duas escolas de canto no Brasil: uma é João Gilberto, a outra é Jackson do Pandeiro.

Gilberto Gil: A influência do Jackson na música popular é profunda, é fundamental. Ele é um dos grandes mestres da música nordestina, vista como esse grande projeto que se instalou na música brasileira a partir da década de 50. Primeiro com Luiz Gonzaga, que foi o primeiro grande codificador, o homem que trouxe os elementos da música nordestina para a música popular, para o disco, para o rádio... mas ainda assim o fazia dentro da vertente ortodoxa, rural, com a paisagem típica do campo. Jackson é Campina Grande, é Copacabana no Nordeste Brasileiro, já é o chiclete com banana. Ele já trazia no seu modo de cantar, na forma de dividir, na pronúncia, na articulação das palavras, na gíria, na insinuação do ritmo, ele já trazia esse sentimento cosmopolita que Campina Grande tem, esse anseio de ser Nova Iorque, essa característica de ser entreposto, eixo, cruzamento da feira, cidade do mercado, cidade do negócio, símbolo da modernidade, essa efervescência, essa volatilidade, essa capacidade de tudo ser e de tudo não ser ao mesmo tempo.


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