terça-feira, 11 de novembro de 2008

PAUSA: JOÃO DONATO


Depois de 15 anos, você está concluindo um projeto que conseguiu amadurecer quando conheceu um teclado no estúdio do Ritchie. O que tem de especial nesse instrumento?
O negócio é que tenho admiração por Debussy e Ravel e músicas clássicas francesas. Comecei a estudar as partituras para orquestra com muita facilidade nesse teclado, que imita diversos instrumentos, e acabei fazendo umas experiências em casa.

Sampler?
É um tipo sampler: imita flauta, violino, piano. Transferi pro teclado toda a escrita que seria dedicada à uma orquestra sinfônica e acrescentei um ritmo ampliado. O resultado ficou muito bom. Pretendo lançar em disco essas experiências com Debussy e Ravel, com um pouquinho de música popular brasileira misturada à receita.Os demais instrumentos são tocados por uma banda?Não, tocados por uma orquestra!

E esse lance de ter um público fiel no Japão. Não é louco pra sua cabeça, que veio do Acre, ir tão longe?Não...Às vezes você não pára pra pensar nisso?
Já perguntei por que gostam tanto da música brasileira, e me falaram que traz alegria pra eles, os deixa contentes. É das qualidades que talvez eu tenha na minha música que admirem tanto e os fazem felizes.

Nas vezes que vai lá sente que rola um "frisson" japonês?
É, os japoneses são entusiastas e carinhosos, e demonstram isso publicamente com presentes e aplausos cada vez mais intensos. É surpreendente.

Na Rússia acontece a mesma coisa?
A mesma coisa. As apresentações foram melhorando com o tempo, e o público também melhorou. O público vai crescendo a cada temporada de shows.

Me fala um pouco sobre a tua rotina. Dá pra notar que seus horários são completamente distintos...
Gosto de trabalhar à noite e ficar estudando até cansar e dar sono, até enjoar. Principalmente as partituras de Debussy; esse é o feijão com arroz, o alimento diário. Estou tão influenciado por Debussy e Ravel que já acho que minha música tem uma parte deles na irrealidade que ela possa ter. Já vem com esse efeito. É como se fosse vírus, o negócio. Acho que peguei o vírus do Debussy e do Ravel.

Onde você pegou esse vírus?
Na minha música... Primeiro, de tanto gostar de ler e de comprar tudo quanto é livro de partitura deles, os arranjos das grandes orquestras. Com esse estudo, passei a saber tudo o que acontece dentro de uma orquestra.

Qual é a lembrança mais longínqua com a música?
Um nativo e sua canoa passando na beira do Rio Branco, alguém assobiando uma melodia (assobia "Lugar Comum")... Depois o Gilberto Gil botou letra. É a lembrança mais remota que tenho, a música que "passou pela minha infância". Devia ter 6 ou 7 anos. Na época fiz uma música para minha namorada, a Nininha. Eu tinha 7 anos, ela tinha 8.Foi aí que viu que música era seu negócio?Nem sabia! Apenas tinha mania de música, não sabia que viria a ser minha profissão. Profissão mesmo, só depois dos 18, quando fui reprovado pra ser piloto da aeronáutica, como meu pai. Tenho problema de daltonismo e disse pra mim mesmo: "Se não dá pra ser piloto, vou ser músico. Mas não foi decisão tomada...Foi a reprovação de um sonho que eu tinha de ser aviador.

Qual foi o primeiro instrumento que você tocou?
Acordeom, que eu ganhei de Papai Noel, ainda aqueles de papelão.

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