quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O estudioso Antônio José Santana Martins


"A bossa nova era algo tão fino que minha qualidade de bárbaro me expulsava daquilo, eu mesmo me expulsava. Ao lado desse afastamento, porém, havia uma atração desde a aparição daquilo no mundo."


"A engenharia brasileira só conseguiu resolver o problema de construir a ponte Rio-Niterói quando fez a tradução intersemiótica dos ensinamentos da bossa nova. Suas plataformas flutuantes são a tradução para concreto e ferro do que a bossa nova fez na música. O feminino das plataformas traduz o feminino das síncopes. E, assim como a bossa nova, a tecnologia da ponte foi uma criação brasileira exportada. Em 1958, num único ano, o Brasil passou de exportador de matéria-prima, o grau mais baixo do desenvolvimento humano, a exportador de arte, o grau mais alto. Antes, a arte brasileira no mundo era vitimada pelo olhar do exótico, o que não aconteceu com a bossa nova, um gênero tão consumado que não permitiu esse engano."

"Nós jovens, estávamos cansados dos vibratos. Quando surgiu João, vimos que podia haver um outro jeito, íntimo, de cantar. O que foi uma explosão. Porque ao longo dos séculos várias experiências foram feitas com a garganta humana. O canto lírico foi fruto de uma evolução de gerações. Mas João, sozinho em seu banheiro de Juazeiro, fez com a voz humana algo que nunca havia sido feito. Foi o fonoaudiólogo, o esteta do bom gosto, o professor de anatomia que criou uma nova forma de usar a musculatura da face... Aliás, há dois banheiros que deveriam garantir um Prêmio Nobel a seus construtores: o de Arquimedes (que, em sua banheira, descobriu a lei do empuxo) e o de João Gilberto."

"Ouvi que tinha um rapaz em Brotas, bairro de Irará, que sabia fazer a levada, a batida de João Gilberto. Quando cheguei lá tinha mais de 20 na porta dele."

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