“Escolhi
Cuba pelo ineditismo, um país quente. Já conhecia e quis essa ideia. Lá nada é
fácil, tinha dificuldade para comer. Quando fomos jantar, caiu uma chuva que
alagou tudo... Quando a gente chegava para fazer as fotos, não falávamos que
era a 'Playboy'. Eu olhava os cenários e decidia, 'quero essa escada'. Foi uma
coisa mais ousada, com fotos nas ruas e em uma barbearia. O mais legal de Cuba
é que não tem internet, celular... No máximo chamavam os vizinhos para ver. A
polícia até nos parou em uma das fotos, minha sorte é que o policial já tinha
visto a novela ('Salve Jorge') e me reconheceu. Aí pediu para tirar uma foto
comigo depois que tirasse a farda”
sábado, 14 de setembro de 2013
quarta-feira, 20 de março de 2013
Antonio Zambujo, Guia [2010].
A choradeira dos fados sempre me soou um exagero – como atuações teatrais. Grata surpresa ter conhecido a voz, a melancolia na medida certa, do Antonio Zambujo. Se sei como tive acesso ao bom moço português? Não sei. Lembro bem que, assim que passei a escutá-lo, soube, de link em link, da declaração do Caetano Veloso: “Quero ouvir muito, mais vezes, mais fundo. No caso do Zambujo, muito mais ainda. É a língua portuguesa. É a história do fado. É o fato de eu ter sempre só gostado de cantoras de fado, nunca verdadeiramente de cantores.”
Sem mesmo ter lido nada a respeito, encontrei no estilo do Zambujo a entonação acertada que há na interpretação do Chet Baker. Algum tempo depois, em busca incessante por mais e mais deste achado, o vi em entrevista confirmar a impressão que tive. Nunca tinha escutado, de verdade, fados. Assim como americano associa futebol a Pelé, sempre ouvi dizer de Amália Rodrigues se o assunto era fado. Ainda é assim hoje. Escutar, sem cansaço, o disco do Zambujo não me levou aos grandes intérpretes da música lusitana. Até então me basto com as canções de “Guia”.
Classe média decadente para sentir gostinho de alguma sofisticação, nos anos 80, tinha por costume encher a estante de casa com whisky [de Chivas Regal a Ballantines] e assinar, sem ler, a revista Seleções [tradução para a americana Readers Digest].
Lá em casa, por curto período,
recebíamos tal artefato mensalmente. Ainda criança, já achava aquilo enfadonho.
Adolescente, tentei ler algo e achei realmente enfadonho. Hoje, passo a vista,
de longe, e afirmo, veemente: Enfadonho”. Diferente do que soa aos meus ouvidos
a voz do Zambujo.
Todas as resenhas sobre a obra de Antonio Zambujo, unânimes, citam a tal renovação no fado a partir deste cantor. Informação que pouco acrescentou influência sobre mim. Música portuguesa, desde minha televisiva infância, era programas de auditório vibrantes ao som de Roberto Leal. Diferente disso, somente Mamonas Assassinas a parodiar o moço loiro. Dado a gostar profundamente de música brasileira, quando ouvi versões de Zambujo para nosso cancioneiro, defendi, como um Policarpo Quaresma, as canções da nossa gente.
Quando mostrei Zambujo a Neila [Minha], ela, de cara, gostou. Se cito Zambujo, pouco barulho isso causa nas rodas de conversa. Uma pena. Neila apresentou Zambujo aos ouvidos de amigas e recebeu destas a alcunha taxativa: “Classuda.” Carlene [minha irmã] tem uma lista interminável de mortos que lhe soam bem aos ouvidos a ponto de sofrer o desejo, que jamais se realizará, de presenciar The Doors, Janis Joplin, Nat King Cole. Fico triste porque Chet Baker já não está no meio de nós. Pelos vivos, tenho pouca simpatia. Só Zambujo me tiraria de casa.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Hitler em Viena [Voltaire Schilling]
Em 1907, um
jovem provinciano recém-chegado a Viena, vindo de Linz, inscreveu-se para o
concurso de admissão na Escola de Belas-Artes da Schillerplatz. Adolf Hitler,
então com 18 anos, desembarcara na capital austríaca com vários rolos de
desenho embaixo do braço e com uma enorme esperança de se ver no futuro um
artista consagrado. O resultado foi-lhe um choque. "Com pouca
inventiva" e "insuficiente experiência de desenho" disseram. No
ano seguinte, em 1908, renovaram-lhe a frustração.
Começava ali
o que ele, no Mein Kampf (Minha Luta), chamaria de "os
cinco anos mais tristes da minha vida". Mas não foram tão infelizes assim.
Viena antes da Guerra de 1914 era uma das cidades mais fascinantes da Europa.
Na Ringstrasse, a avenida-anel que a envolvia, podia admirar-se as belíssimas
construções, privadas ou públicas, tais como a Ópera, a Universidade, o
Parlamento ou aRathaus, erguidas em estilos diversos, do barroco, ao
neorenascentista. Os cafés de Viena eram envolventes redemoinhos de idéias e
modas. Como pode-se ver na aquarela de Reinhold Volker do Griensteidl Café,
sede da Jung Wien, que era
freqüentada por escritores, artistas, estudantes, e um número diverso e
impreciso de curiosos que vinham usufruir do convívio com aquela gente
talentosa, disfarçando a presença lendo jornais.
Neles, não
era difícil deparar-se com o poeta Hugo von Hofmannsthal, que compunha os
libretos de Richard Strauss, com Stefan Zweig, ou com o teatrólogo Arthur
Schnitzel, o favorito de Sigmund Freud, e mesmo, eventualmente, com o próprio
dr. Freud. Além deles, mantendo a tradição de ser a cidade mais musical de toda
a Europa, Viena orgulhava-se do grande Gustav Mahler, dos compositores
vanguardistas Arnold Schöenberg e Alban Berg, e dos pintores Gustav Klimt e
Oskar Kokoschka, voltados a enaltecer o sensorialismo e o psiquismo tão em moda
naqueles tempos.
O esticismo
dos vienenses era quase doentio (é de F. Wickhoff, o historiador da arte, o
conceito de Kunstwissenschaft,
o conhecimento pela arte). O culto à opera, às belas-letras e à música em geral
era generalizado. Num conhecido ensaio, o psicanalista Bruno Bettelheim
atribuiu aquilo tudo a uma espécie de fuga coletiva da decadência. Por detrás
dos ouropéis da capital austríaca, sentia-se a inapelável decomposição do
Império dos Habsburgo, abalado por toda a ordem de agravos. Desde a Revolução
de 1848, e mais ainda depois da derrota perante a Prússia em 1866, ninguém mais
duvidava do seu fim próximo.
Perambulando
embevecido pela cidade, o jovem Hitler também percebeu que aquilo não iria
durar muito. O império era "uma vaso rachado". Ao lado da bonomia e
da tolerância da elite refinada, grassava entre as massas um profundo
sentimento de ódio racial e étnico. Os austro-alemães, ainda que majoritários
em cargos e postos, sentiam-se ameaçados, pois a progressão do avanço
democrático reduzia-lhes o controle sobre as instituições políticas. As
minorias nacionais, e suas dez línguas reconhecidas, que compunham aquela
colcha de retalhos étnica que era o Império Austro-húngaro - para Hitler, um
gigantesco mosaico incestuoso -, batiam os alemães em cinco por um. O futuro,
segundo os racistas, era-lhes adverso. Seus líderes maiores, Karl Lueger, o
prefeito social-cristão da cidade, e Georg Schönerer, o chefe dos
pangermanistas anti-semitas, foram os inspiradores diretos de Hitler, a quem
imitou inclusive na adoção do tratamento de Führer (líder), e o cumprimento "Heil"
(salve!).
De tanto
freqüentar o Burgteather (Hitler disse que assistiu "Tristão e
Isolda" de Wagner mais de 30 vezes!) veio-lhe, depois, a idéia de levar a
estética wagneriana à política, com a organização de atordoantes desfiles
embandeirados, com fanfarras e címbalos ao fundo, à luz das tochas, que ele
incorporou à liturgia nazista. A cruz suástica, ele tomou da revista racista Ostara, que era vendida na
esquina da Felberstrasse, onde ele tinha um quarto alugado. Quando decidiu-se
enfim ir para a Alemanha e tentar a vida em Munique, em 1912, Hitler carregava
na algibeira de pintor pobre e de arquiteto imaginário o explosivo arsenal
ideológico e cenográfico da sua revolução do rancor.
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