sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

BATE PAPO: CÁSSIA ELLER E NOITE ILUSTRADA



Noite Ilustrada - No início de minha carreira faria um show no interior de Minas. O apresentador era Zé Trindade, que esqueceu meu nome e não sabia como me anunciar. Eu carregava no bolso da calça um exemplar da revista Noite Ilustrada. Criativo, Zé Trindade usou-a como inspiração para me chamar.

Cássia Eller - Eu não sei me definir. Nunca soube muito bem dizer quem eu sou. Só sei que sou alguém que gosta de escutar todo tipo de música. Gosto de música em geral. Gosto demais de blues e rock e também gosto de baladas. A música clássica também me comove. Na verdade, escuto de tudo. Meu repertório surge a partir do momento que estou vivendo.

Noite Ilustrada - Foi estranho , no início. Não é nada agradável ter seu nome trocado pelo de uma revista. Com o tempo acabei me acostumando.


Cássia Eller - Já me definiram de tudo. Eu acho engraçado me definirem, porque nem mesmo eu sei me definir. Eu, por exemplo, não me rotulo nem como roqueira ou blueseira ou isso ou aquilo. Eu acho que sou um pouco de cada coisa.

Noite Ilustrada - Eu cantava em duas boites na noite de São Paulo. Um jornalista famoso convidou-me para sua festa de aniversário. Na recepção, estrelas da tv, cinema e cantores, além de empresários e produtores do mundo artístico. No meio da noite comecei a cantar. Entusiasmado, Eduardo S. Costa, anunciou que eu estava contratado por sua gravadora, a Mocambo. Agradeci e segui com meu improvisado show. Pouco tempo depois, Edmundo Souza , da Rádio Nacional, também anunciava minha contratação. Achei graça pois pensei que tudo aquilo acontecia devido as generosas doses de whiskie que circulavam pelo ambiente. Dias depois assinava contrato com a Mocambo e a Rádio Nacional.



Cássia Eller - Muitos músicos e artistas não suportaram e ainda não suportam as cobranças babacas. Tem que ser um bom ator nessa vida para ser feliz.


Noite Ilustrada - Eu fiquei famoso mesmo quando gravei em 1963, pela Philips, "Volta por Cima".

Cássia Eller - Não sei... acho que esse negócio de geração é muito engraçado. Esse rótulo, essa expressão, é só pra gente se identificar, se situar. Nem sempre estamos no lugar certo, com a turma certa ou num tempo que tem a ver com nossas idéias. Não creio que todo mundo seja igual ou que determinada faixa etária pense igualzinho. Ninguém é igual a ninguém. Graças a Deus. Geração é só um momento que a gente vive.

Noite IlustradaHouve um episódio ocorrido comigo em Washington. Estava acompanhado por três brasileiros brancos e saímos para fazer compras próximo ao hotel. Na porta do mercado nossa movimentação foi acompanhada atentamente por alguns negros. Percebi que desaprovavam minha presença no grupo. Fiz questão de falar bem alto para que percebessem que éramos brasileiros, com outros costumes. De nada adiantou. Ao retornarmos ao hotel, eles passaram velozmente com seus carros, lançando propositalmente lama e água sobre nós. Não quero com isso dizer que não temos racismo no Brasil. Mas é bem menos violento que nos Estados Unidos.

Cássia Eller - Não sei explicar isso. Eu viajo muito quando estou cantando. Não acho que cantar seja espantar espíritos ou fantasmas. Cantar é conversar com os outros, afinar o papo com os outros. É uma viagem muito louca e muito distante. Eu não sei te dizer se é bom ou ruim, só sei que na hora de cantar não estou aqui, estou viajando pra algum lugar que não sei dizer aonde.

Noite Ilustrada - É impossível contestar os números das gravadoras, nunca receberemos o correto, o justo. O artista se conforma com o que recebe.

Cássia Eller - Eu já enfiei muito meu pé na jaca por aí, já fiz muita besteira, muita loucura.

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